É considerado o mal do século XXI. Será que os antigos eram imunes a esse terrível mal? Ou ele é produto não desejável da longevidade e da sociedade de consumo?
O estilo de vida altamente competitivo, os fatores genéticos, o espichamento da expectativa de vida, associado a uma educação reprimida e fortemente direcionada à produção de bens materiais, acredito serem os fatores principais dessa patologia.
Quando, no crepúsculo da existência, constatamos que os valores pelos quais tanto lutamos ao longo da vida foram substituídos por outros que não nos dizem respeito, o conflito fatalmente se instala, e vem a depressão.
A sensação de necessidade do trabalho braçal costuma permanecer nessa fase da vida, que deve ser encarada como um prêmio para aqueles cujo passado faz jus a uma nova etapa sem os deveres e obrigações do dia a dia.
Mas, isso é difícil para nós que fomos condicionados pelo sistema a produzir como máquinas, na ânsia cada vez maior de acúmulos de bens materiais.
As emoções que afloram abundantemente nesse período não encontram guarida nesse contexto de ganhos materiais.
O sofrimento é imediato, o fechamento com relação ao convívio social fica maior, às vezes por pura proteção das agressões do mundo moderno.
A depressão vai ocupando os espaços existenciais encontrados, encurtando a proximidade dos extremos da grande aventura que é a vida.
Sabemos o mecanismo do processo, mas, muitas vezes não suportamos a realidade.
Neste momento a importância de pessoas cúmplices é muito mais eficaz que fármacos de última geração, embora estes sejam mais fáceis de serem encontrados.
Thiago de Melo quando diz em seus versos que uma criança apenas confia em outra criança, sabia do que estava falando.
Infelizmente, o mesmo não acontece com os adultos que, com a idade, vão precisando cada vez mais e recebendo cada vez menos.
Talvez aí esteja a semente que costuma contribuir para o estado depressivo comum na velhice.
Gabriel Novis Neves
16-11-2015
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
A arte de mentir nos acompanha desde o nosso “achamento”. Por isso, na semana passada, talvez a maioria de nosso povo tenha assistido, sem constrangimentos, às acusações trocadas entre o Cunha e Dilma. Aquele, sem pejo, diz que essa mentiu, e cita exemplos. Essa, na cara dura, diz que quem mente é aquele, e cita exemplos.
No meio das acusações, só não sabemos qual dos dois, à lá Pinóquio, terminará com o nariz mais comprido.
Em meio aos destemperos verbais, o Congresso aprovava uma lei que dá licença ao governo de terminar o ano fiscal com um déficit de 120 bi! A camada popular pagará por mais essa.
Mas se a semana já era deprimente por tudo isso, a morte de Marília Pêra acentuou a tristeza do olhar dos que se preocupam com o futuro. Com sua morte, não as jogatinas políticas, para as quais não tinha habilidade alguma, mas a cultura brasileira perde um de seus mais importantes sujeitos que atuava como atriz, cantora, bailarina, coreógrafa... Era completa.
Como fã de seu trabalho, destaco duas de uma série de características positivas suas: o rigor e a disciplina no trabalho. Logo, mais adepta da arte pela arte, e por isso mesmo sempre buscando fazer arte da melhor maneira possível, fosse na dança, no canto, na dramaturgia..., Marília não abria mão de aprender; e sabia que para aprender algo sério, o rigor e disciplina são indispensáveis. Sem isso, só nos enganamos. Enganamos o outro. Ao enganarmos o outro, nos transformamos em atores de um teatro decadente.
Mas para não dizer que, neste artigo, não falei de “flores vencendo os canhões”, em meio à depressão da semana que passou, eis que surge uma esperança: adolescentes e jovens – todos pobres – de São Paulo venceram o governo Alckimin. De chofre, derrubaram o secretário de Educação, que insistia, sem diálogo com a sociedade, numa reformulação administrativa pela qual se fechariam unidades escolares.
Mas até que o decreto suspendendo a reformulação administrativa viesse a ser anunciado, os estudantes mostraram a cara e foram à luta. Um dos primeiros passos dados por eles – que terminaram ocupando ruas e avenidas da capital, enfrentando policias municiados com muito gás de pimenta, bomba de efeito moral, cassetetes etc – começou em uma sala de aula.
E começou com arte! Com um filet musical.
No início de outubro, quando a reformulação foi anunciada, estudantes em uma sala de aula cantaram, dramatizando, alguns versos de “Cálice” – na verdade, “cale-se” – de Chico Buarque e Gilberto Gil (https://www.youtube.com/watch?v=T7MUd11laTI), música feita para denunciar as torturas praticadas pelos golpistas de 64. Ver esse vídeo é pra lá de emocionante.
Quatro estudantes, virados para a parede do fundo da sala, tocam instrumentos de percussão para os demais – todos sentados, virados para a frente da sala, com as mãos postas sobre as carteiras e com olhos vendados – cantarem os seguintes versos:
“Como é difícil acordar calado// Se na calada da noite eu me dano// Quero lançar um grito desumano// Que é uma maneira de ser escutado// Esse silêncio todo me atordoa// Atordoado eu permaneço atento// Na arquibancada pra qualquer momento// Ver emergir o monstro da Lagoa”.
Depois, em cima da mesma melodia, os estudantes adaptaram versos para este momento, denunciando o descaso com as crianças, adolescentes e jovens, o que compromete o futuro.
O recado é forte. Ele vem artística e anonimamente verbalizado pelos interessados diretos em um futuro melhor. Que os governantes não brinquem com esse tipo de recado.
JUACY DA SILVA*
Hoje é o último domingo de novembro de 2015. De amanhã até dia 11 de Dezembro estará sendo realizada a COP 21 – Conferência do Clima em Paris, já estamos entrando no clima do Natal e da festividades de final de ano. Como o tempo está passando tão rápido.
No mundo inteiro e também no Brasil muitas coisas tem acontecido, a operação LAVA-JATO, a prisão de empresários importantes e de políticos poderosos marcaram o país, ao lado da corrupção, da crise econômica e financeira, do desemprego, da violência, do caos na saúde, da recessão e das crises setoriais.
Nos Estados também o combate à corrupção corre celeremente e tem muita gente importante com as “barbas” de molho, além de outr@s que estão pres@s. O Governo Dilma segue acuado e paralisado, nada funciona em Brasília, tudo gira em torno das operações policiais e do MP que vasculha gabinetes de parlamentares e de ministérios.
Os presidentes da Câmara Federal e do Senado, juntamente com vários deputados e senadores, estão na berlinda e na “Lista do Janot”, suspeitos e investigados por corrupção, alguns por suposto envolvimento na roubalheira da PETROBRÁS.
Os partidos estão em polvorosa, principalmente os três grandes que ao longo desses 26 anos estiveram no comando do país: PMDB, PSDB e PT. Parece que o fio que liga tudo isso é a corrupção, a demagogia, a mentira e a manipulação das massas pela propaganda e o “marketing” politico, custeado com o suado dinheiro do contribuinte.
O povo perplexo diante de tanta corrupção começa a se indagar, será que o Brasil merece esta democracia corrompida no lugar da tão odiada ditadura que levou milhões `as ruas? Esta sensação está refletida nas pesquisas de opinião quando as Forças Armadas e os militares no topo das avaliações e os partidos políticos, classe políticas e o Governo beirando a zero!
Oxalá, no NOVO ANO que se aproxima, Deus ouça as preces do povo brasileiro e se apiede do nosso sofrimento e que PAPAI NOEL nos traga de presente novos governantes que atuem com eficiência, eficácia, efetividade e,
acima de tudo, com honradez , lisura e ética no uso dos recursos públicos e que os corruptos sejam guardados na cadeia por vários anos.
O tempo passa rápido e o sofrimento do povo não pode esperar.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de Jornais, Sites e Blogs. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
A Presidente da República vetou o financiamento empresarial de campanhas eleitorais e partidos políticos.
Essa decisão já tinha sido tomada pelo Senado Federal e Supremo Tribunal Federal (STF).
Pesquisas realizadas sobre o assunto revelam que três em quatro brasileiros são contra essas doações (?). A maioria quase absoluta dos entrevistados diz que elas estimulam a corrupção.
“Empresa não vota, investe”, diz o povo nas ruas.
Financiam certos candidatos de dois em dois anos e depois de eleitos recuperam o investimento feito em suas candidaturas, cobrando faturas com juros e correções monetárias.
Muitos acreditam que com o fim do financiamento empresarial fica extinta a corrupção neste país em liquidação.
Não acredito nessa mudança de conduta com apenas esse método.
Nosso sistema político está tão viciado e sofisticado tecnologicamente para roubar nosso dinheiro, via empresas e agentes públicos, que outros planos já foram testados e aprovados para manter o status quo do poder.
Sem dinheiro não há eleições livres neste país.
Sabemos que nas últimas eleições, para eleger um deputado federal, foram necessários pelo menos cinco milhões de reais, salvo raríssimas e honrosas exceções.
Infelizmente, sem “molhar a mão do eleitor”, será muito difícil conseguir o seu voto.
A imagem do político brasileiro é a pior possível em termos de ética com o nosso dinheiro.
Um Congresso que aprova a construção de um Shopping Câmara de quatrocentos milhões de reais, e ainda diz que o dinheiro é da Instituição de Leis, não possui credibilidade para propor o fim da imoralidade nas eleições.
No Brasil todo poder emana das empresas, e o poder exercido pelos privilegiados nesse sistema político não tem legitimidade.
Investir maciçamente na educação de qualidade para todos é a saída democrática em médio prazo para o combate à corrupção e às eleições livres, com o poder emanando do povo.
Mas isso é outra história.
Gabriel Novis Neves
05-11-2015
JUACY DA SILVA*
No ultimo dia 15 deste mês de novembro, no Brasil comemoramos a Proclamação da República, quando civis e militares positivistas colocaram fim ao Império, forma de governo já naquela época denunciada por muitos, inclusive por Rui Barbosa, como a quintessência da corrupção.
Passados exatamente 126 anos de vida republicana, a praga da corrupção parece estar muito maior do que quando do fim do Império. Mas esta é outra estória que pode estimular melhores reflexões de como a corrupção é o fio de Ariadne, tecendo o pano de fundo da vida nacional por vários séculos, desde o descobrimento até os escândalos do MENSALAO, DO PRETOLÃO/LAVA-JATO, e outros que ainda estão aguardando que sejam decifrados pelas investigações nos Estados e no país como um todo.
O dia 15 de novembro também é dedicado, pela ONU, através da Organização Mundial da Saúde, para reverenciar milhões de mortos cujas vidas preciosas são ceifadas todos os anos em acidentes de trânsito, nas estradas, rodovias, ruas e avenidas do mundo todo, inclusive em nosso pais, como bem atestam as estatísticas tanto de organismos internacionais quanto de entidades brasileiras.
De acordo com o relatório mais recente, de 2015, da OMS-Organização Mundial de Saúde, intitulado Rodovias seguras, os acidentes de trânsito foram responsáveis em 2014 por 1,25 milhões de mortes, ou seja, 3.425 pessoas perderam a vida nesses acidentes. Enquanto o mundo todo, principalmente a grande mídia ficaram consternados pelos atentados do último final de semana quando foram assassinados pelo terrorismo 129 pessoas, todos os dias, todos os anos, os acidentes de trânsito matam 26,6 vezes mais do que atentados terroristas. Isto é como se todos os dias, durante vários anos seguidos acontecessem 27 atentados como os últimos ocorridos em Paris, mas pouca ou praticamente nenhuma comoção é notada quando milhões de pessoas são mortas em acidentes de trânsito.
Só no Brasil, que está entre os cinco países com maiores taxas e número de mortes, verdadeiros assassinatos ao volante, em 2013 morreram 46.935 pessoas. Entre 1980 e 2013, o total de mortes no trânsito em nosso país chega a 1.070.773, uma verdadeira chacina que não comove nem nossas autoridades e nem a opinião pública, deixando apenas sofrimento e saudades para as famílias que tenham perdido seus entes queridos e a certeza de que a impunidade para este tipo de crime vai continuar seu caminho.
Cabe também destacar que as taxas de mortalidade em acidentes de trânsito são maiores nos países e nas regiões mais pobres e subdesenvolvidas do que em países e regiões do mundo mais rico e desenvolvidos, tomando-se como referências o PIB , população e número de veículos. A média mundial de mortes em acidentes de trânsito por 100 mil habitantes é de 17,4; sendo a maior na África com 26,6 e a menor na Europa com 9,3. Neste aspecto, o Brasil está muito mais próximo dos países africanos do que dos europeus, pois tem uma taxa de 23,4 para cada grupo de 100 mil habitantes.
Segundo o relatório da ONU/OMS as mortes por acidente em trânsito representam uma grande perda em termos de vidas humanas, principalmente se considerarmos que a maioria das vítimas estão em plena juventude ou idade produtiva, além de perdas econômicas, em torno de 3% do PIB mundial e , no caso do Brasil, essas perdas representam 5% do PIB.
Considerando o ano de 2015, quando o PIB mundial nominal deverá ser de US$78,28 trilhões de dólares as perdas ou custos por mortes em acidentes de trânsito deverão ser US$ 2,35trilhões de dólares. Tais custos para o Brasil neste ano (2015), tendo em vista a recessão nosso PIB, mesmo assim, será de US$1,8 trilhões de dólares, caindo para a nona posição no ranking mundial, os custos das mortes por acidente de trânsito serão de US$ 90 bilhões de dólares ou R$ 350 bilhões de reais, mais do que a soma dos orçamentos dos ministérios da saúde, da educação e do desenvolvimento social.
Uma última informação, os dados do relatório da OMS deste ano indicam que os acidentes de trânsito representam a principal causa de mortalidade para pessoas com idade entre 15 e 29 anos, seguindo-se pelos suicídios, a Terceira HIV/AIDS e a quarta assassinatos. Todas essas causas passíveis, principalmente de mortes no transito, de serem reduzidas e evitadas, desde que existam leis com penalidades mais pesadas, maior fiscalização, menos corrupção e maior responsabilidade, principalmente por parte de condutores, além, é claro de infra estrutura urbana e nas rodovias para garantirem um tráfego seguro.
Convenhamos. além de reverenciarmos mais de um milhão de pessoas que morreram em acidentes de trânsito no Brasil nas últimas três décadas, e mais de 12 milhões no mundo nos últimos dez anos, devemos fazer um grande esforço para que essas taxas absurdas de mortalidade em nosso país sejam reduzidas drasticamente como fizeram vários países como a China, os EUA, a Austrália, a Coréia do Sul, o Japão e praticamente todos os países europeus.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de jornais, sites e blogs.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Mesmo que os pós-modernos façam de tudo para jogar no lixo o legado da antiguidade greco-romana, isso ainda não foi conseguido.
Que bom, pois, na semana passada, todos, inclusive os destruidores das elaborações antigas, viram a ministra Cármen Lúcia do Supremo Tribunal Federal (STF) enunciar – à lá retórica dos clássicos – um dos mais importantes discursos dos últimos tempos no “país das delicadezas perdidas”, como já dissera Chico Buarque.
Cármen Lúcia – em sessão do STF que manteve a decisão de Teori Zavascki de prender o senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo Dilma/PT –, ao ler seu voto, lembrando o jingle do PT/Lula nas eleições de 1989, emocionou o país ao dizer:
“Na história recente de nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote de que a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 (mensalão) e descobrimos que o cinismo venceu a esperança. E agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. Quero avisar que o crime não vencerá a Justiça. A decepção não pode vencer a vontade de acertar no espaço público. Não se confunde imunidade com impunidade. A Constituição não permite a impunidade a quem quer que seja”.
Na mesma linha de se buscar nas figuras de retóricas a lógica do raciocínio tão bem trabalhada pelos antigos gregos e romanos, o ministro Celso de Mello também fez um incisivo discurso contra a corrupção no Brasil. Para ele, “a corrupção age como a ferrugem em relação ao ferro: é o agente decompositor das instituições democráticas”.
Mais adiante, a metáfora da “ferrugem” se explicita em seu discurso. Ela seria a incorporação dos “...marginais que se apossaram do aparelho de Estado...” A ferrugem, para Mello, teria se tornado “...realidade perigosa, que vilipendia, que profana e que desonra o exercício das instituições e deforma e ultraja os padrões éticos. É preciso esmagar e destruir com todo o peso da lei esses agentes criminosos que atentaram contra as leis penais da República e contra os sentimentos de moralidade e de decência...”.
Na contramão desses raciocínios, que nos elevam como seres humanos e nos fazem pensar que um dia poderemos ter um país melhor, vem a resposta debochada do senador preso: agira por “questões humanitárias”; o senador estaria consternado pela dor da família de um amigo preso na operação Lava-Jato.
Essa resposta, que continua a sustentar a mesma forma de agir dos “marginais que se apossaram do aparelho de Estado...”, parece confirmar que o senador estava mesmo desligado do mundo: sem internet, sem TV, sem comunicação alguma. Se estivesse conectado, teria sabido dos discursos acima citados. Teria sabido que Cármen Lúcia já tinha alertado que o cinismo, o escárnio e o crime não venceriam; talvez o senador tivesse sido mais cuidadoso para não se apresentar como debochado.
Mas já que dei a importância à estruturação mental para a construção da retórica dos dois ministros citados, que se ancoraram em conhecimentos da antiguidade clássica, recordo que li, na Folha de São Paulo, de 22/11/2015, que o MEC proporá mudança no ensino médio de História: estudantes deixarão de ver a história antiga europeia, incluindo Grécia e Roma.
Lamentável. Somos também descendentes da Europa. Assim, é preciso que encontremos formas equilibradas de estudar as contribuições de todos os povos dos quais descendemos. Esse tipo de subtração nos currículos escolares também é artimanha dos “marginais que se apossaram do aparelho de Estado...”.
Fiquemos atentos.
Por mais absurdo que possa parecer estamos hoje sendo governados por forças que apenas buscam escapar dos camburões policiais.
Os reais problemas do país são delegados a segundo plano, já que grande parte da nossa classe governante está apenas empenhada em se desvencilhar de seus próprios imbróglios éticos, que se avolumam dia a dia.
Essa é a razão fundamental da nossa absoluta falta de perspectiva com relação a essa crise econômica, política e social, a mais longa de todas que já vivemos.
O resultado de toda essa irresponsabilidade é a inércia maldita que a todos angustia. Essa sensação de labirinto de areias movediças em que nos movemos atônitos sem encontrar uma saída.
As crises mundiais apregoadas como causadoras de muitos estragos, principalmente no tocante ao desemprego, nem de leve causaram os efeitos devastadores que essa nossa agrura vem causando, em especial nos menos abastados.
Com o desprestígio internacional nos tornamos reféns das atuais agências de avaliação de risco, ou seja, as que vão determinar a credibilidade do país para o qual deve migrar o capital.
Diante dessas condições ditadas pelas economias fortes de mercado, estamos cada vez mais tendo as nossas notas rebaixadas no quesito “bom pagador”, fator esse estimulante para uma economia já agonizante.
Enquanto isso, nossos governantes comportam-se como se estivessem num baile da Ilha Fiscal, com suas viagens megalômanas, seus privilégios escancarados, todos procurando salvar suas próprias peles chamuscadas, indiferentes ao circo que já mostra as suas lonas despencadas.
Ao que tudo indica somente a sociedade civil unida pela indignação será capaz de encontrar uma solução rápida e eficaz para resgatar os valores éticos perdidos e colocá-los novamente na direção desse país.
Gabriel Novis Neves
02-11-2015
JUACY DA SILVA*
Em um mundo marcado pelo egoísmo, pelo descaso em relação às outras pessoas, pela falsidade, pelo engodo, manipulação, pela mentira, pelas “amizades” superficiais e interesseiras, pela virtualidade enganosa, onde a “lei de Gerson” é a base de valores imediatistas, sempre é bom a gente refletir sobre o sentido e significado desta virtude, tão pouco praticada ou quase fora de moda, que é a gratidão.
Nesta reflexão me vem à mente uma passagem relatada na Bíblia Sagrada que registra uma estória/parábola interessante contada por Jesus sobre a questão da GRATIDÃO. É a estória dos dez leprosos.
Indo o Mestre de Samaria para a Galiléia, ao passar por uma aldeia dez leprosos, que era a pior doença física e social de todos os tempos, correram em sua direção mas não se aproximaram tanto devido os costumes e proibições em relação a quem sofria daquela doença, que deviam se manter longe das demais pessoas, e, aos gritos e lamentos, imploravam a Jesus que os curasse.
O Mestre compadecido e amoroso como eram duas de suas características, disse-lhes…”ide e apresentai-vos aos sacerdotes” e eles assim o fizeram. Ao caminharem perceberam que estavam curados. Um deles, então, decidiu retornar para agradecer a Jesus.
Ao ver este leproso que fora curado e vinha em sua direção, Jesus perguntou-lhe: “não eram dez? Onde estão os outros nove”. Isto demonstra que ainda hoje 90% das pessoas que recebem algum tipo de ajuda, de apoio, seja material, financeiro, moral ou até mesmo espiritual são tão egoístas que jamais tem sequer uma palavra de agradecimento. De seus dicionários não constam as expressões: MUITO OBRIGADO, valeu, você me tirou do sufoco quando eu mais precisava e por isso sou-lhe grato ou grata.
Por isso existe um provérbio que diz…”faça o bem e não olhe a quem”. Pessoas que cultivam virtudes como justiça, solidariedade, amor ao próximo, altruísmo, sinceridade, lealdade, jamais podem esquecer que existe também uma outra grande e importante virtude que é a GRATIDÃO.
Todavia, essa virtude precisa ser cultivada e cuidada como uma plantinha, desde nossa infância, para que quando chegamos a idade adulta possamos praticá-la como algo corriqueiro em nosso dia-a-dia. Gratidão ajuda a construir relações de amizade sincera e de amor verdadeiro, não meras palavras vazias para impressionarem com quem mantemos contato, virtual ou real.
Por ultimo, gostaria de fazer referência a uma outra estória que escutei de uma pessoa referindo-se como foi importante uma ajuda financeira que recebeu em meio a um problema difícil que estava passando de um amigo recente, quase desconhecido que veio em seu apoio, tirando-a do sufoco.
Essa pessoa disse a outra que havia lhe ajudado: “Eu não me canso e jamais deixarei de reconhecer e agradecer o que você fez por mim no momento em que eu mais precisava, quando eu estava no maior sufoco, quando eu desesperada pedia por socorro, e a maioria de meus amigos e amigas viraram as costas. Você me ajudou, por isso sou-lhe muito e eternamente grata”
Esta é uma atitude digna de registro, apesar de representar exatamente igual aquele único leprozo que voltou para agradecer a Jesus, enquanto os outros nove rapidamente esqueceram de agradecer. Existem muito mais casos de falta de Gratidão do que de pessoas que agradecem a quem lhes ajudam ou apoiam.
Talvez a vida, em novos momentos de dificuldades e sufoco, acabe sensibilizando essas pessoas que não costumam praticar ou cultivar a virtude da gratidão. E você, caro leitor ou leitora, como anda em termos da prática da gratidão? Faça um exame em sua consciência e responda a si próprio ou própria. Talvez você tenha recebido algo e tenha se esquecido ou esquecida de dizer muito obrigado, muito obrigada meu amigo, minha amiga.
Pense nisso. O mundo seria muito mais belo se todos nós praticássemos esta virtude que se chama Gratidão, vale a pena tentar, comece hoje mesmo. Se você recebeu apoio, compreensão, atenção, solidariedade e, por alguma razão, não tenha agradecido ou agradecida, ainda é tempo de corrigir esta falha e restabelecer pontes que possam ter sido danificadas. Gratidão está para uma amizade verdadeira como alimento está para uma pessoa faminta.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de jornais, sites e blogs. EmailO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
Vivemos em um período de muitas transformações e contradições, onde o certo e o errado se confundem no imaginário popular.
Com o sucesso do Plano Real na segunda metade da década de noventa, foram fincadas as bases da estabilidade econômica no nosso país.
Isso permitiu maior oferta de empregos, tanto nas atividades ditas tradicionais, quanto nas novas.
Entretanto, a qualidade da mão de obra, pela nossa deficiência educacional, dificultou o crescimento do emergente mercado de trabalho.
Ficamos com um problema de difícil solução, que era atender ao crescimento do Brasil.
Como resolver em brevíssimo espaço de tempo a qualificação dos trabalhadores com pouca escolaridade?
A missão é difícil, mas não impossível, desde que se torne um programa de prioridade nacional.
Com vontade política dos nossos governantes em realmente investir pesado e sem erros em educação básica e técnica, teremos a tão desejada mão de obra necessária ao nosso desenvolvimento.
O governo, contudo, está mais interessado no ensino superior que, quando de qualidade, dá maior visibilidade ao país pelas suas conquistas e inovações.
Atualmente, temos no país um ensino superior público caríssimo e que consome grande fatia do orçamento do Ministério da Educação, formando profissionais de qualidade duvidosa, quando não, maus profissionais.
Um bom ensino técnico é prioridade para esta nação. É bom lembrar que profissionais de ensino técnico conseguem, inclusive, salários melhores em relação aos de nível superior.
É triste verificar a quantidade de pessoas com nível de escolaridade superior sem emprego, com desvio ocupacional para baixo e com salários irrisórios.
O país investe maciçamente no ensino universitário, muitas vezes com cursos ornamentais e ociosos quando a nossa prioridade e o mercado estão a nos mostrar a necessidade premente de excelentes profissionais de nível técnico.
Temos de continuar a buscar novos conhecimentos científicos para conquistarmos nosso espaço entre os países desenvolvidos, porém, nunca esquecendo os bons técnicos para conquistar o seu espaço no mercado de trabalho.
Gabriel Novis Neves
02-11-2015
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
A publicidade brasileira sabe ser sedutora. Todavia, de forma geral, ela ainda protege velhos conceitos sociais e reforça preconceitos.
Tais proteções e reforços evidenciam-se quando comparamos conteúdos de anúncios – que visam também interferir em comportamentos – com os de telenovelas, que vêm tentando, sob críticas, estabelecer maior aproximação da realidade com a criação ficcional.
Nesse sentido, contemplando liberdades inseridas no arcabouço do “politicamente correto”, e mais especificamente no campo da sexualidade, o SBT exibiu em 2011 o primeiro beijo gay na dramaturgia nacional.
Há pouco, na Globo, outro motivo de polêmica: duas personagens idosas trocaram carícias e beijos.
Para os conservadores, um escândalo. Ao que tudo indicava, o beijo gay não podia ocorrer nunca na dramaturgia de nossa TV, mas ridicularizar gays em programas de humor sempre foi permitido. Lembram-se dos gracejos que a personagem Zacarias ouvia dos demais trapalhões da mesma Globo?
E contra os negros? No mesmo programa, Mussum – de pouco ou nenhum refinamento – vivia embriagado. Os preconceitos atingiam também as mulheres obesas e mais velhas, sempre ridicularizadas quando postas ao lado de alguma jovem magra, loira...
Enfim, excetuando esse tipo de humor grosseiro, nas telenovelas brasileiras cada vez mais personagens fora do convencional têm ganhado espaço.
E em nossa publicidade?
Bem. Diferentemente de várias propagandas governamentais, que já tencionam a sociedade de forma mais próxima do real dos “pecadores” e mortais da sociedade, a maioria dos anúncios continua vendendo um estilo de vida conservadora. O machismo é a base para muitas das produções publicitárias.
No entanto, eis que, de forma simultânea, alguns anúncios atualíssimos parecem inaugurar uma nova forma de abordar as relações sociais. Aponto três desses trabalhos, a saber.
O primeiro é um anúncio de um automóvel de marca alemã. Nele, um garotinho sonha com o carro como presente de aniversário. Sua jovial mãe, realizando o sonho do filho, lhe apresenta o novo automóvel, mas o faz junto com “uma pessoa”: seu novo companheiro.
Pois bem. Esse anúncio reconhece a força social da mulher, que pode tanto obter um bem material (um carro, no caso), quanto assumir um outro “bem” no plano amoroso.
Em outro anúncio, outro automóvel, mas de marca francesa: dois homens maduros, e não um casal heterossexual, como de costume, estão fazendo um “test drive” do carro. Os dois trocam olhares, sob enunciados dúbios a respeito da “beleza do automóvel”. Ao final, depois de o anúncio reforçar a força/potência do automóvel, surge uma pergunta do narrador em off aos dois rapazes, que se entreolham: “E daí, vai continuar achando só bonito?”
De forma sutil, o anúncio parece inserir como protagonistas no cenário de nossa publicidade um casal homossexual maduro e estabilizado financeiramente. Isso também é novo em nossa publicidade.
O terceiro é um anúncio de uma cerveja, que já havia tido um comercial vetado pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR). Motivo: machismo explícito.
Agora, em outro anúncio da marca, um casal está num bar. De forma insinuante, a personagem Verão é chamada pelo rapaz. No entanto, sua companheira dá o troco: também de forma insinuante, ela chama pelo jovem garçom: direitos iguais.
Acontece que, ao se resguardar tais “direitos”, estabelece-se uma disputa explícita para ver quem é mais infiel. Embora muito velho na vida, isso também parece ser novo no cenário de nossa publicidade.