Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Nenhum governo – “nunca antes na história deste país” – ludibriou tanto a sociedade ao anunciar debates sobre temas relevantes. Até hoje, à lá licitações fraudulentas, todos os alardeados “debates” também foram de cartas marcadas.
Na esteira da afirmação acima, cito o professor João Batista Araújo e Oliveira, doutor em Educação, que fez publicar, na Folha de S.Paulo (12/01/16), o artigo “O debate que não houve”.
Na essência, o colega – que é “presidente do Instituo Alfa e Beto, organização não governamental dedicada a promover políticas educacionais para a primeira infância” – afirma que o “Brasil perdeu a oportunidade de debater o currículo nacional para o ensino básico; que o MEC impôs consulta pública sem direito a um confronto direto de opiniões e posições”.
Oliveira está falando da ausência de debates acerca da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento recentemente publicado no portal do MEC. Sua elaboração foi realizada por “especialistas” convidados por aquele Ministério. Aliás, é sempre assim: colaboradores do governo – em geral próximos do PT e PCdoB – fazem-se passar pela totalidade da sociedade civil, representando-a alhures.
Assim que soube do documento, li suas indicações para a Área de Linguagens, posto que alguns professores de História já haviam se pronunciado, denunciando aberrações àquela disciplina. Um dos absurdos apontados – já descontando o apagamento do tópico “Revolução Francesa” na tal BNCC – refere-se à desobrigação do ensino das histórias antiga e medieval, sustentáculos à cultura do Ocidente, da qual somos tributários.
E não deu outra!
Nas “Linguagens”, também há aberrações. Algumas, como a subtração da Literatura Portuguesa, da qual se excluem autores como Gil Vicente, Camões e Fernando Pessoa, já foram apontadas por mim no artigo “Fracasso anunciado na ‘Base”, publicado originalmente no Diário de Cuiabá em 07/01/16.
Após reações veiculadas pela mídia, o MEC veio com a lorota de sempre: que “essa é uma versão preliminar; que cada um pode participar enviando sugestões on-line”.
Claro que pode, mas a comissão de “especialistas”, no limite, acatará propostas que estejam inseridas na mesma perspectiva pedagógica que sustenta a BNCC. Fora disso, duvido, embora quisesse ser contrariado nesta certeza.
E qual é a linha pedagógica da BNCC?
Antes de tudo, em linhas gerais, absorve orientações fracassadas de autores pós-modernos/neoliberais/construtivistas, muitos deles aninhados nas universidades. Depois, é uma dilatação gigantesca que permeia pontos inseridos nas Diretrizes do PT.
Desses pontos, destaco os itens que tratam de políticas inclusivas, das quais enfatizo os tópicos voltados aos povos africanos e indígenas. É bem verdade que naquelas Diretrizes, diferentemente da atenção dispensada aos afrodescendentes, os indígenas são esparsamente citados aqui e acolá.
Na BNCC, não. Ambos (afros e indígenas) recebem tratamento semelhante. Nada contra isso, mas tudo contra extrações de conhecimentos consolidados e necessários à formação de nossas novas gerações. A antiguidade greco-romana e a história/cultura portuguesa, p. ex., não podem ser subtraídas, nem ou, pior, trocadas por estudos quaisquer.
Enfim, caros leitores, estamos diante da possibilidade de se concretizar um dos maiores ataques à inteligência nacional. Isso só será evitado se a sociedade compreender a dimensão da tragédia (não grega, mas brasileira) que é a BNCC, e fazer o MEC desistir de jogar essa pá de cal em nossa educação, já em adiantadíssimo estado de falência.
Leio no G1 que, das cinco notícias mais lidas da semana, duas são referentes a assassinatos e uma da escravidão sexual durante a guerra entre a Coreia e Japão.
As outras anunciam abertura de concurso público e exemplo de quem está superando a crise.
Nem a tremenda dificuldade política e financeira que assola o país interessa mais ao leitor que, ao que parece, jogou a toalha no chão.
Nada auspicioso para 2015, que já é chamado por muitos como um ano perdido e de retrocesso.
Perdemos a nossa credibilidade externa como países bons pagadores e ganhamos o não honroso título de caloteiros.
De fato não temos nada a comemorar do ano que passou.
A inflação e desemprego voltaram, a nossa moeda foi desvalorizada, a educação não evoluiu, a saúde não funcionou e os hospitais estão fechando.
A indústria sendo vendida a preço de banana, para festa dos países ricos e moedas fortes.
Neste momento temos muita falação de aumento de impostos e nenhuma ação propositiva do governo para amenizar a dificuldade que nos sufoca.
O corte de dezenove ministérios não iria resolver o gravíssimo problema de recursos financeiros, porém, transmitiria à população um bem estar psicológico.
Impossível mexer nos ministérios, pois temos um Congresso Nacional totalmente voltado aos seus próprios interesses e não os da nação.
Esse efeito cascata atinge as Assembleias Legislativas, Câmara dos Vereadores e órgãos fiscalizadores do governo.
Por isso as notícias mais lidas são consequência dessa brutal desigualdade social, gerando a violência e impunidade dominando este país.
Que surjam melhores notícias para serem lidas neste tenebroso ano de 2015.
Gabriel Novis Neves
29-12-2015
Importantíssimo que todos os responsáveis pela educação infantil saibam diferenciar os valores apregoados pela sociedade, dos verdadeiros valores éticos. Estarão assim contribuindo para que a criança exerça a sua cidadania com atitudes íntegras e solidárias.
Como diz um velho adágio, “um indivíduo não nasce moral, torna-se moral”.
Os valores éticos, atualmente bastante desprezados, são os mais importantes para a formação de um adulto saudável, tanto na sua individualidade quanto na sociedade em que vive.
No mundo moderno, em que os pais cumprem tarefas rígidas de trabalho, o que tem se observado é a terceirização na educação dos filhos. Isso tem contribuído, e muito, para um total descompasso de ideias e comportamentos na fase adulta.
Pais e filhos se veem de repente como estranhos que coabitam num clima de total indiferença, movidos por valores absolutamente desencontrados.
Até os seis anos de idade, fase em que toda a personalidade é formada, todos os responsáveis pela orientação dos pequenos aprendizes, deveriam estar, tão somente, preocupados com o legado ético moral que querem deixar para eles.
No entanto, o que vemos são crianças assoberbadas por atividades como natação, cursos de inglês, de mandarim, de judô, de computação, tudo focado no seu sucesso financeiro futuro.
Dessa maneira, delas é roubado o melhor tempo da vida, o da infância, em que o ócio criativo é o grande responsável pelas nossas mais belas memórias.
O incentivo aos jogos eletrônicos é maciço e, inúmeros pais se vangloriam da facilidade com que seus filhos manuseiam precocemente máquinas digitais sofisticadas.
Ocorre que nessa fase deveriam estar sendo absorvidas, ou não, as noções de integridade, de solidariedade e de respeitabilidade com o próximo e consigo mesmo.
Inversamente, com o aumento da atividade produtiva da sociedade, pais, pouco ou nada presentes, procuram preencher os espaços de tempo de seus filhos cada vez mais, imaginando assim estarem contribuindo para uma boa educação.
Um papel que deveria ser cumprido pelas escolas, infelizmente não ocorre dado às más condições da educação em nosso país.
O resultado é o aumento de adolescentes desrespeitosos com os colegas, com os pais, com os professores, com os idosos, enfim, com a sociedade em que vivem.
Não há que se culpar os jovens por comportamentos com os quais não concordamos, mas, tão simplesmente, corrigir os erros de formação através de uma cultura educacional mais moderna e mais eficiente, dissociada do que nos impõem as diversas mídias que, logicamente, se mostram comprometidas com um sistema desumano que prioriza o ter e não o ser.
Com o distanciamento dos valores éticos pela família, e, posteriormente, pelas escolas, formam-se seres competitivos, totalmente dirigidos ao sucesso material e emocionalmente bastante anestesiados.
Gabriel Novis Neves
01-12-2013
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Quando fui aprovado em concurso público para lecionar em uma universidade federal, confesso que senti extrema felicidade.
Passada a euforia, e já me preparando para os primeiros encontros com os colegas de profissão, metaforicamente, comecei a limpar meus sapatos. Eu os achava sujos demais para pisar em lugar tão especial de uma sociedade. Essa idealizada visão ainda era a de um aluno recém-formado. Aluno que tivera o maior respeito por seus mestres, quase todos exemplares.
E fiz bem ter aquele cuidado de limpar meus sapatos. No início da carreira, encontrei a maioria de meus colegas cheia de ensinamentos a compartilhá-los com quem quisesse. Sem que nos adoecêssemos ou morrêssemos de trabalhar, trabalhávamos muito, mas sem competições entre nós. Sabíamos que nossa atividade não podia ser quantificada como a de um profissional de loja de departamentos.
Por isso, tínhamos tempo até para tomar um café em grupo e conversar sobre tudo. Tínhamos, enfim, vidas acadêmica e social saudáveis. Muito saudáveis! Agora, apenas, saudosas. Muito saudosas!
A saudade que já experimento hoje foi prenunciada – e pouco compreendida, ou pouco aceita por mim – no decorrer do primeiro dos inúmeros encontros de professores universitários dos quais participei. Isso foi lá por 88, durante um evento do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes), ocorrido em Londrina-PR.
Daquilo que o Andes chamava de “Análise de Conjuntura”, vieram as primeiras leituras sobre os desdobramentos da possível vitória do projeto neoliberal, que nos seria imposto com a chegada de Collor de Mello à presidência da República. Daquele projeto, sobre outras tantas, sobrepunha-se a exacerbação das individualidades, em detrimento de visões e práticas coletivas.
Seria um absurdo, se aquilo viesse a ocorrer, pensava eu, em minha “debutância” naquele meio de tantos pensadores; aliás, os melhores que conheci até hoje na ambiência universitária.
Infelizmente, aquela análise estava correta. O projeto neoliberal ganhou as eleições de 89. Depois disso, ao longo dos anos, fomos nos metamorfoseando em seres individualistas por excelência.
E já no início desse lastimável processo, um muro caiu no meio do caminho da academia ocidental. A necessária queda do Muro de Berlim foi mal compreendida por muitos colegas que se sentiram sem chão. Pior: foi como se tivessem recebido estilhaços do muro em suas cabeças.
Assim, na mesma cartilha de superficialidades, exposta diuturnamente pela mídia, a maioria dos colegas das universidades leu aquele marco histórico de nossa contemporaneidade como a vitória incontestável do modelo capitalista sobre outros quaisquer.
Logo, não podendo mais lutar contra o sistema, a ele se aliaram. Como novos aliados do “deus mercado” passaram a contribuir com diferentes governos (Collor, Itamar, e em dose dupla com FHC, Lula e Dilma) na implantação de projetos e programas, tornados legais, para a educação brasileira.
Desse conjunto legal, o mais recente concretizar-se-á na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), advinda dos Parâmetros Nacionais Curriculares, oriundos da Lei de Diretrizes e Bases.
Na BNCC, a desqualificação das disciplinas que exigem mais teorização é impressionante. Para sustentar essa desqualificação, em seu lugar entra a “praticidade que os tempos modernos exigem da escola”.
E assim, vamos formando seres cada vez mais “práticos”. Todavia, paradoxalmente, em nome do agir, do aqui e do agora, vamos perdendo a capacidade de pensar, de elaborar, de sentir a vida como de fato ela é.
Dia desses fui jantar na casa de um jovem casal. Além da novidade, uma grande expectativa tomava conta do ambiente-surpresa. Esta ficou por conta do chefe da cozinha, um profissional liberal.
Ele revelou-se um grande cozinheiro. Especializado em comida portuguesa. O bacalhau que nos foi servido foi de dar inveja a muitos experts da arte de comer bem.
Nada de excessos. O suficiente para saber como cultivar o hábito de uma boa mesa para manter uma perfeita saúde.
A gastronomia é arte e cultura, aliada ao prazer de uma higiênica e saudável refeição.
Para completar o cenário, um belo ambiente com música “digestiva”, quase imperceptível aos ouvidos, como manda o bom tom, e uma conversa quase em sussurros.
Pequenas porções de guloseimas eram substituídas por novas iguarias, impossível controlar a gula, mesmo de um bem comportado e discreto apreciador de “quitutes saborosos”.
Duas taças de vinho acompanhadas do mesmo número de copos de água completavam a mesa do “pecado”.
Sorvete de chocolate feito em casa e o infalível cafezinho com as duas gotinhas do “regime” encerraram o jantar, menos a conversa que continuou num ritmo sem fim.
Sendo a primeira visita de encontro de gerações tão distantes, segui o protocolo do século XIX de conhecer a pequena casa com detalhes, ouvindo explicações feitas com orgulho pela jovem dona da casa.
Gostei do que vi e escutei. Bom gosto e discrição em todos os ambientes. Tudo foi planejado para o lazer após um dia de trabalho.
Mas, o principal, foi ter constatado que aquele ambiente familiar é dos mais propícios para uma boa educação para os filhos, pois as crianças adquirem os primeiros valores da vida em casa.
Lá, todos trabalham, podendo fazer o que gostam sem importunar ou depender de ninguém para usufruírem das alegrias que o fruto do trabalho oferece.
Como é bom ser independente e, com bom nível educacional e cultural, viver a vida que escolheu! Muitos acham, erroneamente, que só a riqueza produz a felicidade.
A sensação de independência financeira para compromissos domésticos, principalmente, faz bem à nossa saúde e a do ambiente em que estamos inseridos, desde que possuamos esses mínimos pré-requisitos para uma vida honrada.
Sou um forte candidato habilitado a ser bisavô. Espero que a educação para o trabalho e para o lazer continue para sempre regando os meus descendentes.
É o caminho mais ético e digno para se acompanhar o ciclo vital. O mundo é redondo e dá voltas. Por isso mesmo, nos nossos bons momentos, não podemos nunca nos esquecer do dia de amanhã.
Nosso lema é viver uma vida com dignidade, sem humilhação. Entenda-se humilhação uma subsistência dependente de outrem, por não terem sabido ou querido aproveitar todas as oportunidades que a vida oferece.
O pior é pensar que as pessoas escolhidas para essa “ajuda” têm essa obrigação.
Retornei do jantar satisfeito e com a impressão de que nem tudo está perdido nos nossos jovens.
Está provada que a alavanca da ascensão social é a educação recebida em casa e aprimorada pelas instruções adquiridas na escola.
Nada acontece por acaso. O talento é essencial, mas sem o trabalho ele se anula.
Sinto-me com forças renovadas para continuar a minha missão de valorizar a educação e o ambiente em que é criada uma criança.
Gabriel Novis Neves
18-05-2014
De todas as doenças que estudei a mais incomodativa, em minha opinião, é a do sofrimento antecipado.
Sou vítima dessa patologia e sei o que isso significa para a saúde humana.
Dia desses fiz um exame de prevenção dentária. Procedimento simples: exame da arcada dentária e retirada de tártaros (depósitos de cálcio que se formam nos dentes), mais intensa em velhos.
Poucos dias depois, a secretária da clínica me telefonou para confirmar o meu retorno e solicitou que eu chegasse um pouquinho mais cedo. Eu seria examinado por um odontólogo especialista em implante dentário.
Pronto! Estava instalado em mim o sofrimento antecipado.
Algo de muito grave fez com que a minha periodontista solicitasse um parecer especializado.
Só me tranquilizei após o exame do cirurgião que me liberou dizendo que tudo estava normal para a minha idade.
Que alívio! Interessante que nesta fase da vida sempre que procuro um profissional de saúde ouço essa sentença – “para a sua idade tudo está normal!”.
Entendo que os desgastes naturais sofridos pelo nosso organismo no decorrer dos anos são considerados normais até o fechamento do nosso ciclo vital.
Os que sofrem por antecipação passam horas, dias, semanas e meses sempre pensando na pior das hipóteses.
No caso da revisão odontológica, o mínimo que imaginei foi um implante de dentes e, na pior das hipóteses, numa moderna dentadura.
Isso vale para as outras surpresas que a vida nos aponta.
No ambiente político nacional e internacional o sofrimento antecipado é uma realidade.
Há séculos estão mexendo com fogo no Oriente Médio, tendo como pano de fundo a religião e as riquezas naturais.
Recentemente, o resultado foi o maior ato terrorista contra a cidade mais charmosa do mundo, deixando centenas de inocentes vítimas.
Aqui na terrinha de Pedro Álvares Cabral o desmando administrativo, símbolo da falta de governo, é o nosso maior sofrimento por antecipação.
O mundo precisa passar por uma grande terapia analítica para encontrar a paz e se libertar do terrível sofrimento do que provavelmente virá, nem sempre confirmado.
Quanto mais pavor, mais precisamos manter a racionalidade. Isso serve para tudo na vida.
Precisamos muito da leveza do viver...
Gabriel Novis Neves
19-11-2015
Benedito Pedro Dorileo
Dia ou tempo em que se suspende o trabalho para descanso por prescrição da lei civil ou religiosa. Etimologicamente do latim feriatu: que está em festa, em descanso. Se em festa, deveria o cidadão coletivamente estar celebrando a fraternidade, a pátria, um nume tutelar, uma conquista social. Os responsáveis pela decretação desse lazer ou ócio sabem que o fim não é alcançado. – Quem celebra o Dia da Independência? Salvo os militares responsáveis pela segurança nacional ou estadual, e fazem-no protegendo a nossa soberania de povo independente. Os desfiles escolares minguam; e, se ocorrem, são os festejos desacompanhados de estudos e reflexões sobre o acontecimento. Na prática, são os feriados utilizados para recreações ou farras abusadas que entulham as estatísticas de acidentes e criminalidade em grande escala. Algo positivo pode ocorrer com celebrações especiais, como Dia da Cultura, Dia da Mulher, Dia da Criança e outros.
Teremos 20 feriados em 2016, todos oficiais, resultantes de legislações específicas, desde o dia 1º da Confraternização Universal, do Carnaval, da Paixão de Cristo, Tiradentes, Dia do Trabalhador, Corpus Christi, Independência, Nossa Senhora Aparecida, Servidor Público, Finados, Dia da República, Consciência Negra, Natal. Acrescem-se os feriados e pontos facultativos municipais, como o Dia da Cidade, de Zumbi, do Evangélico. Os de classes: do Professor, do Advogado, da Justiça e mais. Enfim muito mais de 20, somando, ainda, o que se convencionou chamar-se de ponto facultativo uma 2ª feira antes de um feriado, ou o da mesma forma quando antecede no fim de semana. Torna-se um cantochão de desprezo ao trabalho e de ociosidade.
No jornal A Gazeta do dia 30 de dezembro, o articulista Vinicius Bruno, caderno de Economia, registra o excesso de feriados, comentando: “a quantidade de datas comemorativas atrapalha o fluxo do comércio e das indústrias, trazendo perdas”. Aponta para este ano 9 feriados prolongados – os feriadões. Na reportagem, o presidente da Associação dos Lojistas do Centro Histórico de Cuiabá comenta: “tantos feriados, ademais prolongados prejudicam demasiadamente o comércio”. Aparece um dado da Confederação Nacional do Comércio que estimou em R$15,5 bilhões que deixaram de circular em 2015 em decorrência dos feriados.
Válido recorrermos a um cotejo internacional, exatamente dos nossos irmãos lusitanos. Também Portugal teve o seu Estado Novo (como tivemos com Getúlio Vargas), em longa ditadura ultramarina dominante no período de 1933 até 1974, finda com a Revolução dos Cravos, consagradora da democracia expressa na Constituição de 25 de abril de1976 que estabeleceu o parlamentarismo, tão inteligente como salvaguarda do regime democrático.
Na voragem mundial da crise econômica, Portugal, através do seu governo, agiu rapidamente para eliminar o acúmulo de feriados, como os civis de 5 de outubro (Implantação da República), de 2 de novembro (Finados) de 1º de dezembro (Independência). Dos religiosos, como Corpus Christi, feriado móvel, e Dia de Todos os Santos. Para o último caso, a suspensão atinge 2018, quando o assunto será reavaliado junto à Santa Sé, em Roma.
O decreto-lei português de nº 47/2013 acentua que: “o país com suspensão de uns feriados aumenta a competitividade e impulsiona a atividade econômica”. O Ministro da Economia Álvaro Pereira celebrou: “A ideia é trabalharmos mais e melhor para termos o nosso país a produzir riqueza, a criar emprego, mais competidor no mercado internacional”.
Entre nós, é de suma responsabilidade do Executivo e do Legislativo o zelo pelo calendário civil da Nação, isentando-o de folgas demagógicas, a fim de restaurar o caráter cívico e evitar o desperdício da força de trabalho; ademais nestes tempos de derrocada econômica e queda de virtudes de tantos homens públicos. O chafurdar na corrupção, que penetrou os seios do governo com mensalões, assalto ao maior orgulho nacional – a Petrobras –, as pedaladas, o ilícito contra a lei eleitoral, espalha poeira pegajosa sobre os túmulos dos construtores do Brasil. Não à demagogia dos feriadões. Vamos trabalhar.
Benedito Pedro Dorileo é advogado e foi reitor da UFMT
“Precisamos de governos democráticos que não se aproximem do Estado enquanto poder, mas que se aproximem do Estado enquanto povo” - assim se pronunciou o Presidente do CFM ao analisar as políticas públicas e a saúde em nosso país.
Nos países desenvolvidos que adotam as políticas como prioridade de Estado, a expectativa média de vida pode ultrapassar aos oitenta anos, e as principais causas de mortes são as doenças cardiovasculares, o câncer, o acidente vascular cerebral e a demência.
Antigamente, nascia-se e morria-se em casa. Agora, a maioria das mortes foi transferida para os hospitais, com passagem obrigatória pelas UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo) nos poucos municípios brasileiros que possuem esse recurso tecnológico.
Assim, surgiu um novo padrão moral, com ênfase à dignidade humana como mais importante que o saber científico ou o lucro.
Comenta o Presidente do CFM que se instituiu o dever do financiamento da assistência à saúde pública.
De acordo com o relatório do Banco Mundial (2013) referente ao ano de 2012, os 10 maiores gastos per capita em saúde no mundo foram, em ordem decrescente, os da Noruega, Suíça, Estados Unidos, Luxemburgo, Mônaco, Dinamarca, Canadá, Holanda e Áustria.
Enquanto a média mundial de gastos públicos em saúde era de 6.08 do Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil investia nesse setor apenas 4.32, contrastando ainda mais com o dos países não situados nos 10 primeiros lugares do ranking dos de gasto per capita e com modelos assistenciais semelhantes ao SUS como a Inglaterra (7.78) e a Alemanha (8.61).
A expectativa de vida dos brasileiros é de 73,62 anos quando comparada a dos ingleses (81.5) e dos alemães (80,89).
Na Alemanha 76,28% de todo o gasto de saúde é bancada pelo Estado e na Inglaterra esse índice é de 82,51%, números bem mais significativos que do atual índice brasileiro de 46,42%.
A dimensão desses paradoxos assume maior relevância se considerar que em nosso país 150 milhões de pessoas (75% da população) dependem totalmente dos gastos públicos para a promoção e prevenção das doenças e realização de diagnósticos e tratamentos.
“Se levarmos em conta o índice de analfabetismo funcional, a corrupção, a falta de racionalidade no planejamento e operacionalização do SUS, aumenta a distância entre a saúde pública no Brasil daquela praticada na Inglaterra, Alemanha e nos 10 países que mais lhe dão prioridade para investimento” - lastima Carlos Vital Tavares Corrêa Lima.
Pelos dados divulgados pelo IBGE no ano passado, mais da metade dos 5.570 municípios brasileiros precisou mandar pacientes do SUS para outros locais em busca de internação.
Além disso, 52,1% dos municípios do país foram obrigados a encaminhar pacientes para realização de exames em outras cidades.
Na Alta e Média Complexidade o quadro é calamitoso! Apenas em 6.5% das cidades brasileiras existem disponibilidade de UTI Neonatal em estabelecimentos públicos ou conveniados ao SUS.
Os serviços de hemodiálise, indicados a pacientes com insuficiência renal, estão disponíveis em somente 8.7% dos municípios. Somente 49.6% dos municípios do Brasil têm estabelecimentos que realizam o parto.
Segundo o Presidente do CFM, Corrêa Lima, em profunda reflexão, disse ser possível superar os desafios e construir o nosso destino.
No momento em que vivemos gravíssima dificuldade financeira, com falta de credibilidade internacional, lesões da ética e da moral e profunda crise política, o primeiro passo é compreender as nossas dificuldades na saúde.
Decidir politicamente que saúde pública é prioridade nacional, sem fronteiras entre a saúde dos ricos e dos pobres, aproximando o Estado do povo brasileiro.
Gabriel Novis Neves
04-11-2015
JUACY DA SILVA*
Costuma-se dizer que o brasileiro é por profissão um sofredor e ,ao mesmo tempo um sonhador. Por pior que seja a situação nacional, estadual, municipal, pessoal, familiar sempre resta uma réstea de esperança de que no próximo ano, enfim, no futuro tudo vai mudar. Afinal este é o país abençoado por Deus, pelas divindades e pela sorte.
Basta ver que em um país em que cassinos são proibidos, mas muitos funcionam a todo vapor; onde o jogo de azar, se praticado pelos contraventores é crime, mas o governo federal, através da Caixa Econômica Federal, promove a maior jogatina de que se tem notícia ao redor do mundo, atraindo principalmente as pessoas mais humildes e parte da classe média que tenta se tornar milionários sem trabalhar, sem dar o duro. Outros, ocupando cargos públicos, nomeados, concursados ou eleitos imaginam que meter a mão no dinheiro público é sinal de esperteza e jamais uma prática desonesta. Alguns gatos pingados deste turma ultimamente andam sendo pegos pela justiça e tirados de circulação, passando a ser hóspedes do sistema penitenciário, custeado pelo contribuinte, mas representam apenas a exceção para confirmar a regra.
Assim é fácil perceber que existem duas realidades. Uma criada pelos governantes que adoram mentir para a população, dizendo que a origem de nossos problemas econômicos, políticos, de gestão, ambientais, de governabilidade decorrem de uma grande crise mundial e ao mesmo tempo de uma conspiração internacional, de uma armadilha criada pelas “elites” que por séculos dominaram o país e que o atual governo, por exemplo, que tem em seu núcleo central o PT e como coadjuvantes ou sub-legendas os demais partidos, com destaque para o PMDB que divide com o partido do governo o botim, culpa diuturnamente.
Nesta forma de manipulação os governos federal, estaduais e municipais costumam culpar a natureza, principalmente quando ocorrem desastres “naturais”, com destaque para o El Ninho, La ninha, São Pedro que ora manda mais chuva ora não manda nada de chuva, ou as vezes alguns de forma mais cínica culpam nossas origens históricas, jogando a culpa nos portugueses, nos indígenas e nos negros, mesmo que esses dois últimos grupos tenham sido vítimas de exploração e violência por parte da elite branca.
Nunca a população ouve dos governantes que as razões verdadeiras é a incompetência dos governantes e gestores públicas, a falta de planejamento estratégico, a corrupção que corre solta dentro do governo e nas empresas que transacionam com o poder público, no compadresco, no loteamento do poder, no imediatismo e no vampirismo dos partidos políticos.
Basta darmos uma olhada nas declarações de nossos governantes e nossas autoridades em uma retrospectiva histórica, incluindo os períodos das campanhas eleitorais, como os candidatos que representam os governantes de plantão no momento considerado, “pintam” um quadro cor de rosa da realidade, seus balanços só tem números bonitos, enquanto seus opositores tentam abrir as caixas pretas das administrações que estão se findando.
Sugiro ao leitor e eleitor uma análise, por exemplo, dos discursos da então candidata Dilma entre julho e novembro de 2014, como era o Brasil que sua propaganda eleitoral transmitia ao povo, basta tomar temas como corrupção, emprego/desemprego, carga tributária, inflação, dívida pública, taxas de juros, contas públicas, andamento de obras federais, saúde pública, educação, segurança pública/violência, reforma agrária, meio ambiente, gestão pública, burocracia, reforma política, reforma fiscal, direitos trabalhistas e outros mais.
Compare os discursos da candidata Dilma daqueles três ou quatro meses, com a realidade que “surgiu” como uma bomba no decorrer de 2015 e as explicações esfarrapadas tanto da própria presidente, quanto de seu mentor o ex-Presidente Lula, ou por parte do PT e dos partidos aliados, tudo enganação, meias verdades , muitas mentiras tentando tapar o sol com a peneira.
Só agora quando o barco está cada vez mais à deriva é que “vozes dissidentes” ou não tão fiéis começam a fazer o mea culpa, como o que disse o ministro chefe da casa civil Jacques Wagner qe disse de forma clara que o PT e o governo se lambuzaram, perderam o rumo, ou então a turma do PMDB de Temer e Eduardo Cunha que tentam pular do barco antes que o mesmo afunde.
Esse posicionamento de uma parte do governo, do PT e alguns setores de partidos aliados demonstra de forma clara o oportunismo desses grupos pois sabem, e os números das pesquisas de opinião pública indicam, que nas próximas eleições municipais deste ano e nas eleições gerais de 2018 o PT e toda esta turma poderão ser varridos do mapa politico brasileiro, pois 2016 poderá ser muito pior do que foi 2015 e ai não adianta procurar bodes expiatórios, o povo sabe que governos corruptos, incompetentes e demagogos não combinam com desenvolvimento, nem com democracia , muito menos com justiça, cidadania e sustentabilidade, pilares de um país decente.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta há mais de 20 anos. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
Os escritores muitas vezes elaboram durante a noite todas as suas fantasias, traduzidas como sonhos, principalmente naquele pequeno lapso de tempo que separa o sono da vigília.
Tal como os que costumam ingerir com frequência fármacos psicotrópicos, alguns de nós, mais que outros, elaboram no próprio organismo um excesso de componentes dessas substâncias que costumam ativar as percepções.
Quem sabe a qualidade dos textos gerados tenha relação com essa química pessoal?
Conta a história que o grande poeta francês Baudelaire convidou o filósofo Balzac a participar de uma dessas sessões regadas ao uso de substâncias químicas, tão comuns entre alguns intelectuais e artistas.
Um dos nossos maiores neurocientistas, Sidharta, acredita que drogas psicotrópicas como, por exemplo, a maconha, podem ativar áreas cerebrais responsáveis por uma maior criatividade.
Eu, por exemplo, avesso a qualquer substância que possa de alguma forma obnubilar o meu livre pensar e agir, tenho tido algumas experiências interessantes, justo nesse período entre o sono e a vigília.
Algumas vezes chego a me levantar da cama para fazer anotações que, no dia seguinte, são transformadas em crônicas.
Há algum tempo fui dormir dizendo a mim mesmo que queria fazer uma viagem ao exterior naquela noite.
Por incrível que pareça acordei na manhã seguinte lembrando-me do belo sonho que tive - em que revia em Paris um grande amigo já falecido.
Contou-me coisas de sua vida artística. Suas últimas obras escultóricas estavam fazendo sucesso nas galerias da Cidade Luz.
Em seguida falamos de nossas vidas amorosas. Ele me disse que estava no momento muito apaixonado pela Anita, simples assim.
Claro, na minha memória, Anita, era a bela Ekberg, a musa que tanto sucesso fez no filme “Dolce Vita” do mestre do cinema, Fellini.
Ela foi uma das nossas mais fortes referências femininas dos anos sessenta, ao lado de Brigitte Bardot, Sofia Loren e Claudia Cardinale.
Com certeza os mais jovens não sabem de quem estou falando.
Convenhamos que nem sempre temos a oportunidade de fazer uma viagem gratuita a Paris, tendo como pano de fundo as fantasias juvenis que tanto nos embalaram nos famosos anos dourados.
A nossa caixa cerebral ainda tem muito a ser conhecida, pois apenas nas últimas décadas tem havido progressos nos estudos neurocientíficos do cérebro.
Muitos Sidhartas ainda virão até que o grande mistério da vida comece a ser desvendado.
Mas, enquanto isso, vamos sonhar e deixar que os sonhos, apenas eles, sem psicotrópicos, nos levem a uma criatividade sem limites!
E que as pessoas que conseguem transmitir para o papel toda a magia dos sonhos, que continuem a fazê-lo, para o deleite de todos.
Gabriel Novis Neves
06-12-2015