Infelizmente, depois de alguns anos com perspectivas progressistas, estamos observando pelo mundo afora o aprofundamento da caretice com a volta forte de um conservadorismo que já nos parecia distante.
Como tudo atualmente tem tendência a ser rotulado, passamos a considerar tudo o que está acontecendo como um movimento de direita generalizado.
Pessoalmente, acho que direita e retrocesso nada têm em comum, assim como esquerda e progresso não significam a mesma coisa.
Penso que ideologias surgem em função do caldo cultural de cada época, em cada país.
Ao contrário, tudo está muito mais em cima do poder econômico e a injustiça social no mundo tomou dimensões insuportáveis.
O “deus dinheiro” é o grande ídolo do nosso século e graças a ele, e em função dele, tudo acontece.
Somos esmagados por ricas lavagens cerebrais subliminares e já não distinguimos bem conceitos entre certo e errado.
Tudo é submetido a programas de massificação sofisticadamente elaborados por alta tecnologia.
A intolerância se apossou de todos e o bom senso parece bater em retirada.
Conheço pessoas brilhantes nas mais diversas ideologias.
Rotulá-las de conservadoras ou progressistas parece-me fruto de um mesmo pacote de intolerância.
Até porque, as ideias, como tudo na vida, estão em constante mutação, e isso costuma pautar a vida de pessoas mais interessantes intelectualmente.
Aqui no Brasil, após as manifestações de junho de 2015, todos nós fomos afetados por uma espécie de ufanismo, na esperança de vermos todo um país lutando pacificamente em busca de melhores dias.
O sonho acabou rapidamente e, em linha contrária, percebemos que havia sido eleito um dos Congressos mais retrógados da nossa história.
Na sua maioria ele é composto por indivíduos pertencentes às forças poderosas do grande capital, por um maior número de representantes da indústria armamentista ligados aos sistemas de segurança, por um grande número de homofóbicos e xenófobos, por grandes representantes do agronegócio e das religiões fundamentalistas.
Isso sem falar que muitos desses nossos “representantes” apresentam ligações estreitas com o esquema de corrupção que assola o país.
Enfim, tudo que não víamos há muito em tamanha quantidade.
Diante de todo esse quadro, fácil seria perceber o retrocesso a que iria ser submetida a sociedade civil no momento em que a perda de confiança nos seus representantes legais resultasse num descompasso desastroso entre ela e os poderes constituídos.
Freud, em seu último livro, questiona os regimes democráticos, apregoando que os povos gostam mesmo é dos regimes totalitários, em que uma única figura paterna seja responsável por todos os seus males ou suas benesses.
Numa visão freudiana, ou não, percebemos que o mundo está num processo de caretice progressiva.
Religiões fundamentalistas crescendo, preconceitos étnicos e sexuais aumentando, feminicídio em alta, direitos da mulher pouco respeitados, xenofobia crescente. Uma volta assustadora a tudo o que parecia já estar sendo enterrado nos tempos modernos.
Enfim, este é o perfil do mundo que nos aguarda e, queiramos ou não, a ele estamos sendo adaptados pela mais perigosa das opções, a apatia.
Gabriel Novis Neves
01-12-2015