PROFESSORES, ALUNOS E TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS ASSUMIRÃO TAMBÉM OS CUSTOS ECONÔMICOS DA FLEXIBILIZAÇÃO - Aldi Nestor de Souza
O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Por Aldi Nestor de Souza*
A medida, do ponto de vista econômico, parece muito atraente para o governo federal. E nem estou falando do lobby das poderosas companhias telefônicas que vendem acesso à internet, nem das que vendem pílulas educacionais para a EAD. Falo de algo bem caseiro: da entrega voluntária de mais valia. É que professores, técnicos administrativos e alunos(aqueles que conseguirem acesso) bancarão do próprio bolso as contas da flexibilização: pagarão a internet, a energia elétrica, a água, usarão seus próprios computadores e farão a manutenção destes, usarão, se tiverem, o próprio quartinho de casa, usarão seus próprios banheiros, gastarão sua própria água. (considere e faça as contas de 8 horas de trabalho por dia, usando a luz, o ventilador ou o ar condicionado, a internet, a água de beber, etc, tudo da sua própria casa).
São professores, técnicos administrativos e alunos, assim como os entregadores de aplicativos, os motoristas de Uber, os infoproletários em geral, no dizer de Ricardo Antunes em Privilégio da Servidão, pagando pelos custos do trabalho.
Só pra se ter uma ideia, segundo reportagem do circuito MT, de 17/07/2019, a conta de luz da UFMT, em 2019, foi de aproximadamente 21 milhões, o que dá então quase dois milhões por mês. Agora imagine a conta de luz de todas as universidades públicas do país(A conta anual de luz da UFRJ em 2017 foi 53 milhões), de todas as escolas sendo repassadas para os docentes ,os alunos e os técnicos administrativos de cada instituição.
A universidade vai economizar também e deixar tudo por conta dos professores, os gastos com pinceis, gizes, apagadores, xerox, impressões, papel, material de expediente em geral, limpeza e manutenção das salas de aula.
A universidade também economizará com restaurante universitário e os estudantes pobres que dependiam decisivamente dele pra se alimentar, vão ter que arcar também com esse gasto.
Eu falei, mais acima, em 8 horas diárias de trabalho, mas a flexibilização, o trabalho remoto em geral, são apenas variações do trabalho intermitente, nos mesmos moldes do que estabeleceu a contra reforma trabalhista de 2017. Não há hora pra começar, tampouco pra acabar. O martelar do smartphone vai transformar o dia, a noite, a casa, a família, o lazer, a hora de dormir, numa insaciável e indomesticável sala de aula. Além de aumentar a carga horária, por óbvio aumentará também o estresse, a ansiedade e os problemas de saúde mais diversos.
Só a título de ilustração desse, assim como a covid-19, exponencial adoecimento, na Bahia, segundo pesquisa feita pela Nova Escola e veiculada pelo jornal Diário 24 horas, daquele estado, de 11\07\2020, 50% dos professores estão com problemas de saúde mental por causa do ensino remoto. Com o título “Preciso parar pra vomitar”: professores revelam bastidores da educação à distância, o jornal exibiu matéria que ilustra, a partir de vários depoimentos de professores, os dramas mais inacreditáveis de um processo dito de ensino e aprendizagem e, mais geralmente, educacional.
O governo federal, por sua vez, responde com desdém aos servidores públicos, em particular aos professores das universidades federais, abusivamente chamados de “parasitas” e de “”zebras gordas, ameaça colocar uma ‘’ granada em seus bolsos’’ e atenta com medidas provisórias e projetos de Lei que planejam cortes de salários, fim de concursos públicos, fim de estabilidade, fim de progressões e até com extinção da carreira.
As universidades tem muito o que fazer nesse momento. Muito mais do que fazem usualmente nos seus semestres “normais”. Porque a sociedade está imersa numa crise sanitária devastadora e ainda sem previsão de acabar; as universidades tem um vasto acúmulo de conhecimento, nas mais diversas áreas, tem laboratórios, tem estruturas de pesquisas, tem pesquisadores, tem professores, tem técnicos administrativos e tem estudantes. Portanto, tem uma estrutura gigantesca da qual a sociedade não pode abrir mão para fazer o enfrentamento ao problema. E é disso que a sociedade mais precisa nesse momento.
Só a título de exemplo. O ginásio de esportes pode virar um hospital de campanha. As salas de aula podem se transformar em abrigo pra moradores de rua e pra imigrantes que perambulam em busca de um lugar pra dormir. Voluntariamente, cada faculdade, cada instituto, junto com seus professores, estudantes e técnicos administrativos, podem , a partir de sua área de conhecimento, montar um plano de enfrentamento à covid. A administração da universidade deve dispor de todos os meios para isso e exigir do governo federal os recursos para bancar tudo isso. Salvar a vida das pessoas é a palavra de ordem nesse momento e uma forma da universidade sair socialmente referenciada dessa tragédia.
A sociedade não está interessada em respostas do tipo gravar uma vídeo aula, de um conteúdo que era estudado antes da pandemia, portanto, requentado e com chances de não fazer nenhum sentido no momento, e mandar pra um aluno que a universidade sequer sabe se terá acesso. É importante notar que ninguém sabe que profissões vão sobreviver à pandemia. Ninguém sabe, ao menos , se a vida nas cidades ainda será viável. Uma prova disso é o vai e vem das grandes metrópoles do mundo que vez ou outra retornam com as restrições e quarentenas por conta de novas ondas do vírus.
A sociedade está exigindo uma resposta, pelo menos, inteligente. Ela tampouco está interessada em saber de professores que assumem os custos do trabalho pra gravar essas vídeo aulas. Pagar os custos do trabalho, precarizar-se, os uberizados dos aplicativos lá fora já fazem, não precisa de uma estrutura como uma universidade pública pra ensinar a fazer isso.
É preciso entender que essas aulas remotas na pandemia, seja qual for o meio, atrapalham a sociedade, pois fingem uma normalidade que obviamente não existe e portanto apenas ajudam a legitimar os governantes que minimizam a pandemia, praticam o negacionismo, ridicularizam com a ciência, expõem a sociedade ao vírus, aprofundam e normalizam o genocídio e portanto dificultam as chances de termos uma solução para o problema.
É preciso parar, pensar e usar a extraordinária estrutura que a sociedade legou às universidades par que elas, universidades, apontem enfrentamentos concretos e científicos ao problema.
Se os professores não conseguem entender isso e se submetem a gravar vídeo aulas para iludir os alunos, a si mesmos e pensar que com isso enganam a sociedade, aí as universidades se transformam , de fato, num lugar bastante duvidoso e com, justificável, pouquíssimo reconhecimento da sociedade.
*Aldi Nestor de Souza
Departamento de Matemática-ufmt-Cuiabá
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MEC(SERES) E MCTI(CGEE): UMA PESQUISA CAPCIOSA - José Domingues de Godoi Filho
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Por José Domingues de Godoi Filho *
A despeito dos esforços hercúleos e práticas abomináveis de reitores, capachos do MEC, para impor práticas de “flexibilização das aulas presenciais”, houve rejeição pela ampla maioria das Instituições Federais de Ensino Superior. Para os argumentos muito utilizados do tipo - “ o bom senso precisa prevalecer porque as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) são realidade palpável e um centro formador que se considera excelência não pode prescindir desta ferramenta de ensino e aprendizagem, que está anos-luz à frente do giz, mas que pode perfeitamente com ele coexistir”, é importante, que fique bem claro, que ninguém, que se posicionou contrário ao MEC, propôs resgatar as práticas do ludismo, na Inglaterra do século XVIII.
Com a enorme rejeição, em 16 de junho de 2020, o MEC emitiu uma nova Portaria (nº 544), dispondo sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais, enquanto durar a situação de pandemia do nova corona vírus - Covid-19. Revogou portarias anteriores e estendeu o período de autorização até 31de dezembro de 2020.
Em 15/07/2020, a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (SERES), do Ministério da Educação (MEC) informou “ que em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), está conduzindo uma pesquisa para monitoramento das portarias publicadas este ano, para regulamentar a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia de Covid-19.”
Com o apoio e colaboração de seus lacaios, a parceria SERES-CGEE está “convidando” estudantes e professores a se cadastrarem na plataforma de pesquisa e preencher o questionário. Isso depois de prorrogarem o prazo vencido em 11/07 e, desistirem do pedido que haviam feito para que as instituições informassem os dados de seus professores e alunos. Os links foram disponibilizados nessa quarta-feira (15/7).
Para participar, é necessário que o estudante tenha estado matriculado no primeiro semestre de 2020, e que o professor tenha atuado em instituições de ensino superior também no primeiro semestre de 2020.Contudo, o acesso ao formulário e seu conteúdo só se dará se for efetuado o cadastro. Uma estranha e capciosa maneira de fichar os envolvidos, com objetivos amplamente conhecidos de governos como o atual, que persegue as universidades; é negacionista e terraplanista; promove redução do orçamento para educação, ciência e tecnologia; intervém na escolha de dirigentes e ataca à liberdade de cátedra.
As antigas Assessorias de Segurança Interna (das quais sou testemunha e prejudicado por uma delas) existentes nas universidades públicas, no tempo da ditadura, se apresenta agora de diferentes formas, uma das quais a parceria MEC(SERES)-MCTI (CGEE) parece ser um exemplo a ser vencido.
O MEC e seus lacaios ocupantes (ou pretensos) de cargos nas universidades, ao invés de aproveitar a suspensão das aulas para uma reflexão da educação superior e debater rigorosamente os currículos e a formação profissional nos diferentes cursos oferecidos pelas universidades, tendo como referência a evolução das atuais profissões e da criação de outras, em função da evolução tecnológica e das demandas da sociedade para os próximos anos, insiste em piorar as condições de formação de pessoal com a “flexibilização das aulas presenciais”, priorizando a formação de “gorilas amestrados” e profissionais apertadores de botões, alienados e coisificados.
Da mesma maneira, o MCTI deveria, dentre outros, explicar o acordo que fez com a empresa norte-americana CISCO System para “acelerar a transformação digital brasileira”, sem licitação, sem chamamento público, sem audiência pública e sem transparência; e, não fazer parcerias para resgatar, de forma capciosa, a provável elaboração de uma nova “lista de subversivos”. Quanto aos lacaios ocupantes de cargos nas universidades, cabe à comunidade universitária denunciá-los e enfrentá-los.
*Professor da Universidade Federal de Mato Grosso – Faculdade de Geociências
PARA REITOR DA UFMT: VOTE MINHOCÃO DO PARI - José Domingues de Godoi Filho
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Publicamos a pedido do professor José Domingues de Godoi Filho
O Minhocão do Pari, PhD em Confusão no Rio, é a melhor opção para representar o processo eleitoral aprovado na UFMT. "As diabruras do gigantesco bicho, como emborcar canoas para comer pescadores ou provocar rebuliço das águas dos profundos poços nos quais habitava em seus momentos de fúria noturna" retrata perfeitamente o futuro da universidade nas mãos de qualquer um dos candidatos, entreguistas, privatistas e futuros capachos do MEC.
Oposição ferrenha, desde já, em defesa de uma UFMT pública, gratuita, democrática, laica e socialmente referenciada ou ela será vilipendiada e transformada em um laboratório do receituário ultraliberal. Nada de Parceria Público Privada, compliance, métodos de gestão/esculhambação, patentes.
Há 231 anos, no dia 14 de julho, ocorreu a tomada da Bastilha. Vamos iniciar a tomada da "nossa" Bastilha e trazer de "volta o cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar"
Para quem não conhece a lenda cuiabana do Minhocão do Pari, segue o texto do jornalista Nelson Severino.
Minhocão do Pari, uma lenda de mais de 100 anos que continua viva na memória
Por Nelson Severino
As temidas diabruras do gigantesco bicho foram imortalizadas como samba enredo e carro alegórico da Escola de Samba Mocidade Independente
Faz 133 anos que o padre Ernesto Barreto comprou, no distante 1880, uma comprida faixa de terras a montante do rio Cuiabá, na área que passou a ser chamada de Barra do Pari e que deu origem a uma das mais conhecidas lendas de Mato Grosso, a do Minhocão do Pari.
Passado mais de um século, a lenda do Minhocão do Pari continua viva na memória dos moradores mais antigos do local e que para preservá-la vão passando o que sabem sobre o bicho de geração para geração.
As temidas diabruras do gigantesco bicho, como emborcar canoas para comer pescadores ou provocar rebuliço das águas dos profundos poços nos quais habitava em seus momentos de fúria noturna, acabaram sendo imortalizadas como samba enredo e carro alegórico da Escola de Samba Mocidade Independente, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que levou para a avenida Mato Grosso em 85 ou 86 o tema “Lendas e crendices da minha terra natal” e cujo samba foi composto e musicado por Neguinho da Beija-Flor de Nilópolis-RJ.
Os moradores mais antigos da faixa de terras que fica nos fundos dos jardins Santa Amália e Araçá, emoldurada por um grande morro no primeiro bairro e uma bela ilha nas imediações do local onde deságua o Rio Pari, do lado do rio em Várzea Grande, e que chamam de “nosso pedaço de paraíso”, não só conhecem a lenda do Minhocão do Pari.
Como outras crendices que povoam o imaginário popular da região, como uma enorme sucuri que vivia numa lagoa dali e o negrinho que aparecia numa pedra do rio Cuiabá na área da Barra do Pari e, atrevidamente, às vezes até sentava na proa das canoas para deixar os pescadores de cabelos arrepiados.
Quem melhor conhecia a lenda do Minhocão do Pari era Benedito Oscarino Barreto, o Ditão, que construiu a primeira casa da Barra do Pari. Ditão era neto do padre Ernesto Barreto, que tinha oito filhos, e faleceu com 92 anos em 2004.
INÍCIO DA COMUNIDADE
Herdeiro do avô Ernesto Barreto, Ditão, que nasceu e morreu na Barra do Pari, foi comprando áreas que pertenciam a seus irmãos e acabou formando uma pequena comunidade no local, com a construção de umas 20 casas, algumas de alto padrão. Como seu avô sacerdote, Ditão era devoto de São Benedito e inclusive construiu em 1952 uma capelinha na comunidade para homenagear o santo.
Aos 70 anos, dona Josefina Viana, a dona Fiota, sobrinha de Ditão, e em cuja casa vive até hoje, afirma que ele era muito procurado por curiosos para contar histórias envolvendo o horroroso bicho que vivia nas águas profundas de dois poços que existem nas imediações do Restaurante Varandão.
Já Edisseia Barreto, 47 anos, herdeira junto com um irmão, dos bens que Ditão deixou, lembra-se vagamente e de poucas coisas que seu pai contava para a família e visitantes sobre o lendário Minhocão do Pari.
O que se sabe hoje das histórias que foram sendo passadas pelos mais velhos aos seus descendentes que o Minhocão do Pari desapareceu da Barra do Pai com a grande enchente de 1974.
A explicação que alguns moradores da comunidade têm para o sumiço é que a enchente destruiu uma antiga casa onde o Minhocão do Pari enganchava seu rabo, protegido pela vegetação, para reinar soberano nos dois poços de grande profundidade naquela área do Rio Cuiabá. Essa versão é confirmada inclusive por dona Fiota, com base no que ouvia da boca do tio Ditão.
Moradora há 30 anos da comunidade, a comerciante Edith Lúcia da Silva, 68 anos, afirma que nunca viu o lendário Minhocão do Pari, mas que algumas vezes ouviu o barulho provocado pelo levantamento de folhas do fundo do rio, agitação das águas e canoas de pescadores amarradas na vegetação da beira do Cuiabá batendo umas nas outras por causa do violento movimento das águas.
Edith garante que nunca ouviu falar que, pelo menos ali, algum pescador tenha sido comido pelo Minhocão do Pari...
COMPARAÇÕES
Tem gente da Barra do Pari que acha que o Minhocão do Pari na realidade era uma sucuri de tamanho descomunal que vivia numa lagoa das imediações da localidade. A lagoa acabou sendo “sangrada” para aumentar o volume de água do rio Cuiabá, quando começou a construção da barragem de Manso e a sucuri desapareceu.
Sobre essa gigantesca sucuri conta-se que certa vez um pescador precisou atravessá-la para chegar do outro lado para cortar capim para os seus animais. E caminhou um longo trecho sobre o que parecia ser uma árvore.
No outro dia, quando o pescador voltou para buscar mais capim para seus animais, não encontrou mais a travessia na superfície da água. Foi aí que ele entendeu que havia caminhado sobre a sucuri. História de pescador...
"O que estão querendo fazer com essas histórias como a dessa sucuri é desmistificar a lenda do Minhocão do Pari. Mas não vão conseguir. Essa lenda não vai desaparecer nunca", reage um velho pescador que nasceu e vai morrer na Barra do Pari. “Não tem quem me tira daqui”, garante o morador, defensor das tradições da Barra do Pari.
Já falecidos, dois pescadores da comunidade – Libano Zacarias de Souza, o Pituca, e seu Xisto – falavam muito de um negrinho que aparecia com freqüência na Barra do Pari, pregando sustos em quem singrava as águas do Rio Cuiabá naquele trecho. Diziam eles que o lugar preferido da estranha e lendária figura aparecer era numa pedrinha do leito do Cuiabá rio acima, depois do Varandão. Ou então ele emergia do fundo do rio e se sentava na proa das canoas, de onde ficava só olhando para os pescadores, muitos dos quais saíam das águas em disparada e se benzendo...
A comerciante Edith ouviu seu Xisto dizer muitas vezes que quando ele entrava no rio ou já estava pescando e o negrinho aparecia, juntava as tralhas de pesca e ia caindo fora ligeirinho. Não por medo do negrinho, que não falava com ninguém e muito menos fazia algum mal aos pescadores. Ou fazia, sim. Com a sua presença perto ou dentro da canoa, ninguém pegava nada...
O RISCO NÃO É FACILITAR A INTERVENÇÃO NA UFMT; É PERMANECER NELA! - Edson Luiz Spenthof
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Por Edson Luiz Spenthof*
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A língua portuguesa é repleta de palavras e expressões extraordinárias. “Notório saber” – ou seja, algo que é público, que é de conhecimento geral – é uma delas. Em muitos casos, pessoas que se tornam notórias também podem ser notáveis.
No meio acadêmico, “Notório Saber” é a expressão legal e legítima qualificadora daquele docente que não cursou o doutorado de forma convencional, mas que demonstra possuir conhecimentos equivalentes àquele título.
Para minha felicidade, no início de minha carreira, conheci colegas/amigos com esse perfil: eruditos, mesmo sem títulos. Sempre que pude, timidamente, estive por perto daquelas eminências que, de forma tão simples, perambulavam pelos corredores do antigo Instituto de Ciências Humanas e Letras, hoje, Instituto de Linguagens/Faculdade de Comunicação e Artes.
No mesmo ano de meu ingresso (1987), chegou para o Departamento de Música, o docente Abel Santos Anjos Filho, hoje, reconhecido, artisticamente, por Habel Dy Anjos. Contudo, mais do que eu, até por conta de seu específico percurso acadêmico/artístico, ele soube como ser “orientado” pelo mesmo conjunto de docentes. Com eles, semelhante aos gregos antigos, Abel estava sempre “perambulando” e tendo lições absolutamente raras.
Pois bem. O longo preâmbulo acima serve para dizer que Abel Santos, desde 2016, vem pleiteando ser avaliado, como docente “Notório Saber”, dentro da UFMT, que dispõe de inquestionável arcabouço legal para tanto. Todavia, “inexplicavelmente”, Abel, até o último dia 07 de julho, havia recebido duas “portas grosseiramente fechadas” dentro da Instituição.
O reparo dessas “inadequações administrativas”, que podem ter camuflado eventuais preconceitos espalhados pelo ar, enfim, ocorreu. Na data acima mencionada, Abel Santos, tendo tido imediata absorção de seu pedido junto ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem, do Instituto de Linguagens, do qual tenho a honra de ser seu atual diretor, pôde expor à apreciação formal da Instituição o impressionante conjunto de suas obras.
Em outras palavras, seguindo o rigor acadêmico e a ritualística das defesas de doutorado, de início, Abel Santos apresentou o resumo de sua longa produção, que contempla o plano científico, consolidado por incansáveis pesquisas bibliográficas e de campo, e o artístico, de constante apreciação pública.
Após, sob a presidência de sua orientadora formal, a professora Dra. Simone de Jesus Padilha (IL/UFMT), seguiram-se as distintíssimas arguições dos seguintes doutores: Everton Almeida Barbosa (UNEMAT), Marta Cocco (UNEMAT), Roberto Vitório (FCA/UFMT) e Cláudio Alves Benassi (IL/UFMT). Cada qual a seu modo, na condição de docentes e artistas, mais do que arguir, prestou reverência ao colega avaliado, tamanha a importância e o aspecto indiscutível do altíssimo nível de seus trabalhos, que contemplam o tripé ensino, pesquisa e extensão.
Terminada essa etapa, registro que a defesa pública (apresentada por meios virtuais) de Abel Santos é um registro histórico para a UFMT, pois sua produção acadêmico/artística é ímpar, como tem de ser uma tese, e de profunda qualidade; é de resgate; é de respeito às práticas culturais de nosso povo; é socialmente abrangente; é pedagógica... E tudo isso realizado com métodos científicos, lidos, compreendidos e aplicados ao longo de mais de três décadas.
Mais: este momento ímpar pode ser, infelizmente, único. Esperando estar errado no tom profético, o fato é que, diante da realidade vivida por todos nós, dificilmente a UFMT terá a oportunidade, de tão cedo, conceder outro título de Notório Saber, pelo menos não em nossa área e áreas adjacentes do conhecimento. Esse comportamento acadêmico, tão valioso quanto o enquadramento piramidal da pós-graduação brasileira, é cada vez mais raro na docência universitária.
Assim, meus efusivos cumprimentos ao Abel Santos Anjos Filho, pela pacienciosa construção de um conjunto considerável de importantíssimas obras. Igualmente, cumprimento o Programa de Pós-Graduação do Instituto de Linguagens, que soube compreender e respeitar o percurso de uma trajetória academicamente construída de forma diferente, mas de igual valor às trajetórias comumente pavimentadas.
Agora, resta-nos esperar pelos novos encaminhamentos para a outorga do título, que é conferida por órgãos superiores da UFMT.
FAZER PARTE DO PROBLEMA OU DA SOLUÇÃO, EIS A QUESTÃO! - Roberto de Barros Freire
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Por Roberto de Barros Freire*
Entretanto, há uma certeza que existe desde o início da epidemia, e que só os tolos não perceberam ou negligenciam. O vírus se propaga pelo contágio através do contato humano, ou seja, uma pessoa passa a uma ou várias pessoas, conforme o contato que tenha e a suscetibilidade das pessoas ao Covid 19. E se não há certeza no tratamento, há a certeza de que a única forma de evitar o contágio é através do isolamento social, ou se for inevitável o contato, o mesmo deve se realizar com os utensílios de segurança, máscaras, luvas, lavagem das mãos, desinfecção constante, distanciando-se, evitando-se a aglomeração.
Aqueles que podem, devem a qualquer custo ficar isolados, confinados nos seus lares, evitando o contato humano. Há aqueles que não podem realizar isso, pois que de suas atuações dependem a sobrevivência de todos os demais, confinados e não confinados. É o caso do pessoal da saúde, dos transportes, dos supermercados, do abastecimento de alimentos, das farmácias, da polícia, dos postos de combustíveis, das oficinas mecânicas, dos bancos, das comunicações, esses profissionais são essenciais para que todos possam sobreviver, trabalhando ou confinados, e devem receber além da gratidão pelos préstimos, alguma recompensa monetária ou de prestígio pelos serviços prestados à população. Estão se sacrificando por todos e devem ser considerados os heróis contemporâneos.
É claro, que isso traz graves consequências à economia, que empobrece a nação, o Estado, a cidade, a população. Mas, querer abrir o comércio, as atividades não essenciais, em nome da sobrevivência monetária é um tiro na saúde pública, é um ato de morte a civilidade em nome do vil metal. Naturalmente, as falências, as dificuldades econômicas devem ser equacionadas, mas tal pode e deve ser sanada através de políticas públicas de financiamento e ajuda aos necessitados, de perdão de dívidas, enfim, de atos de política estatal para suprir as necessidades sociais e econômicas.
É preciso adquirir a consciência de que ou se contribui ao bem de todos ou ao prejuízo dos demais. Que os comerciantes queiram abrir seus negócios, que se possa frequentar esses estabelecimentos, a questão, no entanto, é se devemos. O que está em jogo não é o que podemos, pois podemos tudo, inclusive coisas erradas, mas sim o que devemos fazer, qual cota daremos para que o país passe pela pandemia com menos custos humanos. É claro que é tedioso ficarmos confinados, sem podermos encontrar a família e os amigos, sem poder se divertir com o que costumávamos nos divertir, sem passear, mas todos temos que dar nossa cota de sacrifício para que tenhamos o menor dano possível e no menor tempo. Se não pode ajudar na saúde, no transporte, na alimentação, na segurança, ajude não atrapalhando, não aumentando o número de contaminados, não contaminando outras pessoas.
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Em sua trajetória, semelhante à de seu pai, Gervásio Leite, Marília Beatriz foi advogada, professora e artista. Como tal, embora desenvolta em muitas das manifestações do mundo da arte, demonstrou sutil preferência pela literatura. Por este caminho, chegou à presidência da Academia Mato-grossense de Letras, sempre reverenciando os escritores mais antigos, mas convidando e aconchegando os de gerações mais novas.
Nada por acaso. Logo que Marília Beatriz chegou a este mundo, seu adorado e decantado pai lhe passou sua herança: uma trilha aberta a ser livremente percorrida. E ela a percorreu. No percurso, desde cedo, achou pouco o chão; por isso, voou sempre que quis, para onde quis, como quis, com quem quis, mas acima de tudo, como é dito na canção, voou “na garupa leve de um vento macio” que a ajudava a soltar palavras a quem as quisesse pegá-las até que, bruscamente, tudo isso fosse interrompido.
Todavia, a interrupção da existência de Marília Beatriz, ocorrida em 03/07/20, não será suficiente para torná-la esquecida pelos que a conheceram. Fui um desses premiados. Mas se alguém me perguntar quando e como conheci Marília Beatriz, não sei dizer. Não me lembro. Não que aquele primeiro encontro tivesse sido insignificante; ao contrário. É como se a Marília Beatriz já estivesse fazendo parte de minha vida há muito tempo; é como se qualquer detalhe tivesse sido dispensado para registrar um encontro entre dois irmãos. Os irmãos – simples e naturalmente – são e estão entre-e-para-si; e pronto.
Minhas recordações de Marília Beatriz são todas tão carinhosas quanto saudosas. Ontem, revendo a homenagem que – por feliz arte do também ímpar Fernando Tadeu – a UFMT lhe prestou há poucos meses, pude ver novamente os detalhes que compunham a personalidade de Marília Beatriz. Acima de todos eles, inclusive do olhar, de que se diz ser a “janela da alma”, destacava-se o seu sorriso, sempre largo, solto, espontâneo, contagiante.
Amalgamada ao seu sorriso, vinha a sua voz, ligeiramente rouca, mas sempre muito forte e certeira. Do som de sua voz, materializavam-se as palavras, estas, sim, essências de sua alma, de sua destemida e brilhante existência. Pela voz, explodia a vivacidade sempre juvenil de seu olhar inquieto, observador e revelador dos mais diferentes sentimentos humanos.
Marília Beatriz brincava com as palavras. Imersa nessa brincadeira, ainda que inconscientemente, mesmo nos bate-papos informais, como os que tínhamos em algum café, os ensinamentos vinham voando pelo ar; tudo naturalmente. E vinham com a elegância típica e rara daqueles que falam como se estivem escrevendo um livro, mas não um livro qualquer, mas o livro mais importante de suas vidas.
E os discursos de Marília?!
Fossem aonde fossem pronunciados, seus discursos eram sempre emocionantes, envolventes, tocantes, aconchegantes, mas invariavelmente, com muita delicadeza, eles quebravam protocolos, provocando, muitas vezes, saborosas risadas. Naqueles discursos, sempre preparados com o maior respeito, fosse a um acontecimento, fosse a uma personalidade, as palavras, colhidas aqui e acolá, mesmo as mais triviais, pareciam ganhar roupas finas, verdadeiros trajes de gala. Eram aveludadas as suas palavras, mas, paradoxalmente, fortes e convincentes, como as palavras têm de ser, mas sem nenhum índice de agressão ao outro. Só elevação...
“De repente, não mais do que de repente”, como uma inesperada “pedra no meio do caminho”, um vírus endoidecido, em seu insano e desnorteado percurso, fez dos pulmões de Marília Beatriz um alojamento para sua vida, retirando-a de nossas vidas, impondo a ela a força da “indesejada das gentes”. Mais: sem nos permitir sequer dar um adeus à Marília Beatriz, sequer uma despedida digna de sua altiva e cativante existência.
E assim, mesmo sem querer, se foi Marília Beatriz, que nos deixou devastados, absortos, com o olhar jogado ao nada. Silenciosos. Saudosos.
DECOTELLI, O EFÊMERO - Roberto Boaventura
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Praticamente nada do que Decotelli inseriu na Plataforma Lattes (documento virtual de registros de atividades acadêmicas) foi comprovado: uma universidade argentina não lhe conferiu o título de doutor, pois sua tese foi reprovada; uma universidade alemã negou que ele tivesse feito pós-doutorado por lá; a empresa Krone refutou que tivesse concedido financiado a uma pesquisa sua; de seu mestrado, 73% são cópias, o que é plágio; a FGV negou que Decotelli seja seu professor efetivo. Ele trabalharia como prestador de serviços na Educação Continuada. Disse ainda que cuidará da denúncia de plágio, o que poderá levá-lo a perder também o título de mestre.
Portanto, como no boliche, “strike”! Todos os pins foram derrubados na primeira bola, que, repito, veio virtualmente voando com os ventos invernais da gélida Argentina. Nenhum brasileiro faria aquele lançamento. Daqui a pouco, direi os porquês.
Antes, registro que Decotelli não inaugurou esse tipo de mentira. Damares e Ricardo Salles, no atual governo, Dilma Rousseff e o petista Mercadante já passaram seus carões. Contudo, nenhum desses compõe/compunha personagem política tão completa do charlatão. Em cinco dias, a cada momento, uma reformulação no Lattes, comprovando suas mentiras.
No entanto, é bom dizer que Decotelli teve oportunidades ímpares, como poucos negros, indígenas e brancos pobres deste país. Deve ter recebido do erário para realizar os cursos não concluídos, ou concluídos, mas da forma como tudo foi denunciado. O Ministério Público precisa investigar as trapaças decotellianas.
Depois dessas, para meu espanto, Decotelli afirmou ter sido vítima de atitudes racistas. Textualmente, disse que “Brancos trabalham com imperfeições em currículo sem incomodar" (UOL, 01/07/2020). À mesma fonte, disse que “o racismo influenciou em seu processo de desgaste”.
É claro que isso é sua avaliação, como também foi sua a “arte” de inserir no Lattes tantas mentiras. A título de lembrança, na história do MEC, não me lembro de ministro (todos brancos) que tenha ficado isento de crítica severas. A maioria ouviu um “Fora...”
Agora, vou aos porquês de “nenhum brasileiro” pensar no “strike” acima referido: 1) a crença de que ninguém poderia ser pior do que Verez e Weintraub; 2) a necessidade de termos um ministro no MEC; 3) a recepção positiva generalizada que Decotelli teve, inclusive da mídia; 4) o momento político do anúncio de seu nome.
Para qualificar o último item elencado, é preciso lembrar que “Decotelli” surgiu sob o forte eco dos movimentos antirracistas que se espalharam pelo mundo, surgidos após o cruel assassinato de Floyd em terras do Tio Sam, mas também de Martim Luther King, Coretta king, Malcolm X e tantos outros negros, além dos indígenas, dentre os quais, a título de exemplo, destaco os cheyennes e araphaos, vítimas do massacre de Sand Creek, cujas motivações, em meados do séc. 19, nortearam-se pelo controle das planícies do Colorado oriental.
Diante desse quadro, nenhuma atitude racista teria espaço contra o ministro anunciado; ao contrário, a maioria viu naquela escolha de Bolsonaro um avanço quase inimaginável. E ninguém perguntaria a titulação de Decotelli!
Todavia, Decotelli dourou a pílula; exagerou na tinta. No exagero, perdeu a credibilidade. Sem credibilidade, não reunia mais condições de ser e estar ministro da Educação. E não é ou está ministro porque é mentiroso contumaz, e não porque seja preto. E é mentiroso contumaz porque não seguiu uma antiga lição: para uma mentira contada, prepare-se para criar outras que possam sustentá-la. Não conseguiu. Por isso, e só por isso, caiu.
FORA DECOTELLI - Roberto Boaventura
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Mas se o novo ministro mentiu sobre o seu doutorado, pergunto: e sobre o seu pós-doutorado, que diz ter feito na Alemanha?
Enquanto outras “pérolas” não surgem, o que é questão de tempo, espero que ninguém amenize a situação do ministro bolsonarista, em nome do desdém crescente à meritocracia. Digo isto porque, de uns tempos para cá, muita gente, principalmente do campo político de diferentes vertentes da esquerda, vem fazendo esse desserviço, supondo estar na vanguarda dos necessários processos inclusivos em curso. Por conta dessa postura contraditória, muitos colegas podem estar, neste momento, sem palavras, mesmo diante de uma situação absolutamente atordoante.
De minha parte, mesmo não endeusando a titulação, não ataco a meritocracia. Assim, posso compreender a importância que tem uma tese sobre o preço da soja. Posso aceitar que teses do gênero, desde que aprovadas, sejam credenciais para qualquer um ocupar ministérios afins, como o da Agricultura, mas não tenho dúvidas de que tais teses não dão o menor suporte teórico e a necessária vivência para ser um ministro da Educação, seja de que país for.
De qualquer forma, é o que nos impuseram para hoje. Como o fugitivo de “ontem” (Weintraub) era tão abaixo de qualquer suposição, é possível que se opte por fechar os olhos e deixar “o homem trabalhar”.
Pode ser, mas o novo ministro já entra em descrédito; será sempre visto com desconfiança. Por isso, penso que o governo poderia continuar buscando outro nome, mesmo sabendo que, de antemão, em seus quadros, isso seria como achar agulha em palheiro. Infelizmente, se no plural campo das esquerdas já há déficit de quadros, quem dirá no da atual (ultra)direita.
PS.: quando eu já havia concluído o artigo acima, surgiu a denúncia de plágio (que é crime) na dissertação de mestrado de Decotelli. Pelas várias inobservâncias técnicas apontadas por estudiosos, talvez fosse necessário investigar se a dissertação não teria sido desenvolvida em alguma “fabriqueta de trabalho acadêmico”.
IGNORÂNCIA E INCOMPETÊNCIA: GRANDES ALIADAS DO CORONAVIRUS - Juacy da Silva
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
Todas as comunidades médicas, cientistas, gestores públicos e governantes responsáveis e conscientes, com algumas exceções como Trump, Bolsonaro, Boris Johnson e alguns ditadores de ex-repúblicas soviéticas, e diversos governadores, prefeitos e empresários obscurantistas, repito, com essas exceções, tem enfatizado que as únicas maneiras de se evitar a proliferação deste vírus e novos contágios pelo Coronavírus, é através do isolamento social/distanciamento social, uso de máscaras e práticas higiênicas como lavar as mãos e outros cuidados para combater o covid 19.
Pois bem, conforme notícia da imprensa de hoje (26/06/2020), em Dallas, no Texas (EUA) uma família resolveu ignorar todas essas recomendações e realizar uma "festinha" familiar para comemorar um aniversario, prática tão comum em tempos chamados normais, antes que esta pandemia chegasse a todos os países e cantos do mundo, mas altamente perigosa em meio `a pandemia do coronavírus.
Resultado, 18 pessoas contraíram o vírus e deverão pagar caro por esta ignorância e negligência, com sofrimento, muitos gastos financeiros e, quem sabe, até algumas mortes naquela família.
Fatos como este e outros que provocam aglomerações, multiplicam-se, com muita frequência, em todos os países, inclusive no Brasil, que, mesmo em meio `a expansão da pandemia, com o número de pessoas infectadas e de mortes tem crescido, praticamente em todos os Estados e na grande maioria dos municípios.
Tanto nos EUA quanto no Brasil já tem ocorrido diversas casos de contágios e até de mortes pelo coronavírus em pastores, sacerdotes e fiéis de igrejas que teimaram e ainda teimam em abrir as portas de seus templos. No Brasil, por decreto de Bolsonaro, por exemplo, as igrejas são consideradas atividades essenciais e isto também tem facilitado o contágio, infecção e até mortes.
Há poucos dias a imprensa brasileira noticiou que dos 27 jogadores de um time Famoso de futebol de São Paulo, ao serem testados para o coronavírus constatou-se que 21 dos mesmos estavam infectados, ou seja, nada menos do que 77,8% do total estavam com o vírus.
Bem no inicio da pandemia, quando de uma viagem aos EUA a comitiva do Presidente Bolsonaro, ao retornar ao Brasil foi noticiado que 22 dos integrantes da comitiva, com exceção do Presidente (estranhamente), praticamente todos foram infectados e, com certeza, ajudaram a “espalhar” o vírus em seus entornos rotineiramente.
Diversos frigoríficos em vários estados tem se convertido em focos de contagio e motivado diversas medidas de controle, conforme frequentes noticias veiculados nos mais diferentes veículos de comunicação.
Pessoas contaminadas, tanto as sintomáticas e também as chamadas assintomáticas (aquelas que não demonstram nenhum sinal de estarem infectadas com o coronavírus) podem transmitir a COVID19 para amigos, parentes, inclusive integrantes dos grupos de risco como idosos ou pessoas que, mesmo não sendo idosas, façam parte de grupos com certas comorbidades, como diabetes, problemas renais, pacientes em tratamento de câncer, HIV, fumantes, obesos, pessoas que sofrem de alguma doença cardiovascular.
De acordo com estudos da OMS as pessoas idosas, com poucas exceções, são portadoras de uma, duas ou até mais doenças crônicas, algumas degenerativas e incuráveis, as quais passam a ter comorbidades e apresentarem maiores taxas/índices de mortalidade. Na Europa, por exemplo, a população com 60 anos ou mais representam “apenas” 24% do total da população, sendo que o grupo com 65 anos e mais representava em 2019 em torno de 19%. No entanto no total de mortes por coronavírus em torno de 90% tem 60 anos ou mais.
Esta mesma tendência deve ser observada tanto nos EUA quanto no Brasil e nos demais países. São idosos e idosas que, mesmo em isolamento social/distanciamento social, muitas vezes acabam sendo contaminadas por familiares que não observam as normas indicadas para evitar que o coronavírus se espalhe ainda mais.
Dia e noite médicos, infectologistas, estudiosos das doenças de massa e contagiosas, pneumologistas, pesquisadores e outros profissionais da área da saúde, além de gestores públicos que usam o bom senso e conhecem a realidade epidemiológica brasileira, tem enfatizado alguns aspectos importantes como: a) a única estratégia para conter o avanço do coronavírus é o distanciamento social/isolamento social e o uso de máscaras e praticas higiênicas; b) os sistemas de saúde em geral e particularmente o SUS estão falidos, não existem leitos, principalmente leitos de UTIs e respiradores suficientes na maior parte dos estados e dos municípios, para fazer face ao aumento rápido, contínuo e acelerado de novos casos; c) existe, em todos os lugares, todos os estados, principalmente nas cidades polos e capitais (já que as cidades menores e do interior não possuem estrutura de saúde em condições de atender aos casos mais graves pois não contam com leitos hospitalares em geral e muito menos leitos de UTI e respiradores), estão sendo formadas as FILAS DA MORTE, ou seja, doentes graves ficam `a espera de um leito de UTI e respiradores e acabam morrendo nessas filas, pois as vagas só são abertas com a recuperação ou morte de alguns doentes que estavam ocupando esses leitos.
Além desses alertas, no caso brasileiro, o que presenciamos é um verdadeiro PANDEMONIO, uma confusão geral, muita improvisação e o que podemos chamar de “bate cabeças” entre níveis de governo, no que concerne ao enfrentamento do coronavírus.
As autoridades/governantes não se entendem, não existe uma coordenação a nível nacional, nem entre os estados e municípios, o que vemos é uma verdadeira balbúrdia, falta de transparência e falta de diretrizes que orientem corretamente as ações, parece um verdadeiro “exército brancaleone”.
O Presidente Bolsonaro, desde o inicio da pandemia joga contra, fazendo “gol contra” seu próprio time; cria conflitos com seus ministros da saúde, tendo demitido dois ministros da saúde em apenas um mês, em meio a esta pandemia e o terceiro, um general, sem nenhum preparo na área da saúde ocupa interinamente, há mais de um mês o ministério da saúde e ali colocou/nomeou diversos militares para ocuparem posições que deveriam ser ocupadas por pessoal técnico e qualificado na área da saúde; os prefeitos estão em constantes conflitos com os governadores; o poder judiciário é provocado com frequência para dirimir esses conflitos e as vezes essas decisões judiciais acabam em novos conflitos, gerando mais confusão na cabeça das pessoas.
Por exemplo, como aconteceu em recente decisão judicial que obriga as prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande, o maior aglomerado urbano de Mato Grosso, a imporem quarentena obrigatória por duas semanas, tendo o Prefeito da Capital, atendendo interesses de setores econômicos do município, recorrido da decisão judicial, mas, graças ao bom senso, o Tribunal de Justiça negou o pleito do prefeito.
Outro aspecto decorrente da ignorância popular em relação ao CORONAVIRUS tem sido a quebra dos índices de isolamento social/distanciamento social e a falta de uso de máscaras. Neste sentido podem ser observadas praias lotadas, baladas, festinhas ou festonas clandestinas em sítios, pousadas ou clubes clandestinos, resultando em novos contágios e pressão sobre os sistemas de saúde já falidos e mais mortes.
Além da ignorância popular, presente em todas as camadas sociais, econômicas e culturais, o coronavírus tem como outro aliados a incompetência e descaso governamental em todos os níveis, federal, estadual e municipal.
Bem antes da chegada do coronavírus o SUS já estava falado, em completo caos, deteriorando-se a olhos vistos todos os dias, crise nos hospitais públicos; crise nas santas casas de misericórdia, crise em hospitais conveniados, gente sofrendo e morrendo nas filas físicas ou virtuais, como ao longo de meses e anos a imprensa tem denunciado, ante o olhar passivo até de organismos de controle das ações publicas. Nem a judicialização buscada por doentes e familiares tem conseguido demover os entraves burocráticos criados pela incompetência e descaso governamentais.
Esta falência, apesar de um certo esforço para dotar o Sistema de saúde de recursos necessários ao enfrentamento do coronavírus, incluindo construção de hospitais de campanha, aquisição de leitos por parte do SUS em hospitais particulares, mesmo assim, a corrupção na área da saúde continua, através de empresas fantasmas ou simulacros de empresas terceirizadas para gestão de unidades de saúde e servidores públicos, gestores e governantes corruptos.
Esta falência é constatada não apenas na falta de leitos, principalmente de UTIs e respiradores, mas também, como já acontecia e continua acontecendo, a falta de medicamentos, principalmente os necessários e imprescindíveis para o tratamento de pacientes em estados mais graves. Também merece ser mencionado neste contexto a falta de pessoal capacidade para atuar na área da saúde publica.
Segundo denúncias recentes de diversas entidades representativas de setores da saúde, inclusive do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, conforme veiculado pela imprensa, praticamente em todos os estados estão faltando esses medicamentos, o que coloca em sério risco a vida de quem esteja internado e entubado e em estado grave.
Outro fato vergonhoso, para não dizer criminoso, é a falta de transparência de dados e informações não apenas em relação aos números de pessoas infectadas e de mortes, mas também quanto ao número correto de leitos em geral e leitos de UTIs e respiradores em particular.
Um exemplo desta situação foi constatada em Mato Grosso onde o Tribunal de Contas do Estado ao realizar uma auditoria em 08 hospitais públicos em alguns municípios, incluindo Cuiabá, Várzea Grande e mais quatro ou cinco municípios polos do interior, foi constatado que o número de leitos informados pela Secretaria de Saúde do Estado e pelos hospitais e que é a base para o cálculo do estágio em que se encontra a pandemia no Estado e a capacidade de atendimento do Sistema público de saúde, volto a dizer, foi constatado que a realidade é bem pior, ou seja, não existem o total de leitos informados pelos gestores estaduais e municipais, isto não é uma “pequena” falha, mas um verdadeiro crime contra a saúde publica.
Em uma auditoria realizada e divulgada publicamente há poucos dias pelo Ministro Vital do Rego do TCU (Tribunal de Contas da União) foi dito com todas as letras que o Governo Federal não tem uma estratégia coerente, eficaz e eficiente para coordenar e combater o coronavírus a nível nacional. Isto é uma das causas de muita confusão e do avanço da pandemia pelo Brasil afora.
Em seu relatório, aprovado por unanimidade pelo TCU, o referido ministro faz uma critica mordaz e pede providências da Presidência da República, inclusive no que concerne a Comissão responsável pela articulação das ações, sob a coordenação do Ministro Chefe da Casa Civil, mencionando o fato (absurdo) de que na referida comissão não existem representantes de organismos de saúde, ou seja, todos os integrantes representam ministérios mas não existem representantes de Instituições de pesquisa em saúde, das Associações médicas em geral e muito menos de entidades representativas com epidemiologistas, infectologistas e dos conselhos relacionados com a saúde como Conselhos Federais de Medicina, de enfermagem, de fisioterapia, de médicos intensivistas, ou seja, de quem, realmente entende de saúde pública
Isto não é surpresa pois tanto o Presidente Bolsonaro quanto boa parte de seus ministros e seguidores, os bolsonarianos, não acreditam no coronavírus e são contrários a todas as formas de isolamento social/distanciamento social, o uso de máscaras e práticas de higiene das mãos. Basta ver as demonstrações do Presidente Bolsonaro que até bem pouco tempo andava sem mascara, provocava aglomerações, participava de manifestações antidemocráticas, estimulava conflitos com seu ministro da saúde, com governadores e prefeitos.
Finalmente, mais uma prova de incompetência e descaso de nossos governantes, a começar pelo Governo Federal e também de todos os governadores e prefeitos é a questão dos testes para diagnosticar se as pessoas já foram infectadas ou não pelo coronavírus e, enfim, conhecer em maior profundidade a extensão, a complexidade e gravidade da pandemia e sua expansão pelo território brasileiro.
Como já afirmado em outras reflexões, o Brasil ocupa a 151a. posição em número de testes por cem mil ou um milhão de habitantes. Estamos em pior situação, apesar de o Brasil ser o segundo país em numero de casos de pessoas infectadas pelo coronavírus e de mortes pelo mesmo, somos a décima ou nona economia do planeta, do que países pobres da África, Ásia, América Latina.
Três exemplos demonstram que esta falta de testagem em massa provoca a subnotificação dos casos de pessoas infectadas. O primeiro vem de uma pesquisa nacional realizada pela Universidade Federal de Pelotas em parceria com o IBOPE, cuja segunda fase da pesquisa já foi concluída e ficou constatado que o número de casos do coronavírus é de sete vezes maior do que as estatísticas oficiais.
Outro vem de uma pesquisa da Prefeitura de Fortaleza em que foi constatada que esta subnotificação é de 14 vezes menor do que a realidade daquela capital e a terceira, vem de outra pesquisa feita pela prefeitura de São Paulo em que a subnotificação é de dez vezes.
Se tomarmos essas três pesquisas e fizermos uma média ponderada, podemos concluir que o número de pessoas que já contraíram o coronavírus no Brasil é dez vezes maior do que os dados que são divulgados, ou seja, mais de 12 milhões de casos e esses números tendem a crescer rapidamente nas próximas semanas ou meses.
Enquanto o Brasil não promover uma grande testagem em massa , mais de 20 ; 30 ou 40 milhões de pessoas, não teremos condições de sabermos realmente a gravidade do coronavírus e, por consequência, não teremos condições de promover uma “abertura” ou volta das diversas atividades, sob pena de surgir uma segunda onda pior do que a primeira que estamos presenciando.
O que constatamos no momento é fruto desta falta de testagem em massa, com dados subnotificados, com informações nada transparentes e em certo sentido manipuladas pelos grupos que advogam o retorno de tudo `a “normalidade”, por pressão de alguns setores econômicos, preocupados, não com o desemprego ou miséria e pobreza que se agravará com a pandemia, (mas que já existiam há alguns anos e ninguém do governo ou do empresariado se importava), e o descumprimento de todas as recomendações de quem entende de pandemias que é a OMS e outras entidades médicas e científicas, abrindo praticamente tudo e agora ter que voltar atrás e decretar novamente quarentena obrigatória, “lockdown” e outras medidas restritivas.
O Brasil teve três meses para se preparar, enquanto a pandemia atingia violentamente países europeus, Estados Unidos e outras regiões, mas o descaso, falta de coordenação intergovernamental e interinstitucional, a improvisação e com ajuda da corrupção que ainda está entranhada em todas as esferas governamentais, principalmente na área da saúde, estamos perdendo o que chamam de “Guerra ao coronavírus”. Nem a designação de um general no comando, não das tropas militares, mas da saúde publica, está conseguindo vencer esta Guerra a um inimigo invisível.
Muita gente imagina e acredita que o coronavírus poderia ser parte de uma Guerra bacteriológica, área bem conhecida, pelo menos teoricamente, pelas forças armadas da maioria dos países, inclusive do Brasil, dos EUA, dos países europeus, Rússia e China, mas para a qual, parece que os militares desses países não estavam e nem estão preparados. Imaginemos se o coronavírus fosse realmente fruto de uma Guerra bacteriológica, seriamos derrotados fragorosamente.
Os últimos números de ontem (25/06/2020), relativos ao Brasil, mesmo com a subnotificação, chegaram a 1.180 novos casos de morte nas últimas 24 horas, totalizando 55.054 vidas ceifadas e nada menos de que 40.673 novos casos de pessoas infectadas em 24 horas, um novo recorde nesta triste realidade, totalizando 1.233.147 casos, conforme dados do Consórcio de alguns dos maiores órgãos de imprensa do país.
Pelo que se vê e pelo que ainda está por vir o coronavírus não é apenas uma “gripezinha” ou “resfriadinho” como disse o Presidente Bolsonaro, de forma afoita e irresponsável, quando do inicio da pandemia no Brasil, é a maior crise sanitária que tem se abatido no mundo e no Brasil em um século.
Para algumas pessoas, atitudes como esta tanto por parte do Presidente quanto de governadores, prefeitos , empresários, dirigentes esportivos, próceres religiosos e outras pessoas além de representar um descaso com o sofrimento e morte de tantas pessoas, é, também, uma atitude criminosa, pois representa omissão diante de uma pandemia, cuja gravidade e alerta vem sendo enfatizada por diversas organismos de saúde, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e também um estímulo para comportamentos de milhões de pessoas que acreditam nessas autoridades, cujos exemplos acabam estimulando aglomerações, infectando-se e infectando muitas outras pessoas, inclusive seus entes queridos, entre os quais idosos/idosas, os mais frágeis e vulneráveis.
Vivemos um tempo especial e grave, o coronavírus não é brincadeira, nem uma simples gripe ou uma doença para a qual haja vacina ou medicamentos. Coronavírus impõe sofrimento e morte, cabe a cada pessoa defender sua própria vida e a vida das demais pessoas, a começar por seus familiares, vizinhos e colegas de trabalho, se assim não ocorrer, vamos ter que conviver com esta pandemia e suas graves consequências econômicas, financeiras, aumento da pobreza, da miséria e do sofrimento por muito tempo.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy