Quinta, 07 Janeiro 2016 08:09

Sono e vigília

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Os escritores muitas vezes elaboram durante a noite todas as suas fantasias, traduzidas como sonhos, principalmente naquele pequeno lapso de tempo que separa o sono da vigília. 
Tal como os que costumam ingerir com frequência fármacos psicotrópicos, alguns de nós, mais que outros, elaboram no próprio organismo um excesso de componentes dessas substâncias que costumam ativar as percepções. 
Quem sabe a qualidade dos textos gerados tenha relação com essa química pessoal? 
Conta a história que o grande poeta francês Baudelaire convidou o filósofo Balzac a participar de uma dessas sessões regadas ao uso de substâncias químicas, tão comuns entre alguns intelectuais e artistas. 
Um dos nossos maiores neurocientistas, Sidharta, acredita que drogas psicotrópicas como, por exemplo, a maconha, podem ativar áreas cerebrais responsáveis por uma maior criatividade. 
Eu, por exemplo, avesso a qualquer substância que possa de alguma forma obnubilar o meu livre pensar e agir, tenho tido algumas experiências interessantes, justo nesse período entre o sono e a vigília. 
Algumas vezes chego a me levantar da cama para fazer anotações que, no dia seguinte, são transformadas em crônicas. 
Há algum tempo fui dormir dizendo a mim mesmo que queria fazer uma viagem ao exterior naquela noite.
Por incrível que pareça acordei na manhã seguinte lembrando-me do belo sonho que tive - em que revia em Paris um grande amigo já falecido. 
Contou-me coisas de sua vida artística. Suas últimas obras escultóricas estavam fazendo sucesso nas galerias da Cidade Luz. 
Em seguida falamos de nossas vidas amorosas. Ele me disse que estava no momento muito apaixonado pela Anita, simples assim.
Claro, na minha memória, Anita, era a bela Ekberg, a musa que tanto sucesso fez no filme “Dolce Vita” do mestre do cinema, Fellini. 
Ela foi uma das nossas mais fortes referências femininas dos anos sessenta, ao lado de Brigitte Bardot, Sofia Loren e Claudia Cardinale. 
Com certeza os mais jovens não sabem de quem estou falando. 
Convenhamos que nem sempre temos a oportunidade de fazer uma viagem gratuita a Paris, tendo como pano de fundo as fantasias juvenis que tanto nos embalaram nos famosos anos dourados. 
A nossa caixa cerebral ainda tem muito a ser conhecida, pois apenas nas últimas décadas tem havido progressos nos estudos neurocientíficos do cérebro. 
Muitos Sidhartas ainda virão até que o grande mistério da vida comece a ser desvendado. 
Mas, enquanto isso, vamos sonhar e deixar que os sonhos, apenas eles, sem psicotrópicos, nos levem a uma criatividade sem limites! 
E que as pessoas que conseguem transmitir para o papel toda a magia dos sonhos, que continuem a fazê-lo, para o deleite de todos.

Gabriel Novis Neves
06-12-2015

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