A mímica do Ministro da Fazenda brasileiro, após 347 dias em que tentou implantar um ajuste fiscal para a economia brasileira, era de quem estava levitando.
Sim, Joaquim Levy deixou, finalmente, o governo petista sem conseguir os seus objetivos, porém, cônscio de tudo ter tentado.
Se continuasse no governo teria sucumbido às exigências de uma política econômica expansionista com a qual não concordava.
O remédio que propunha era amargo para uma economia cambaleante. Não teve êxito nas suas propostas e, elegantemente, saiu de cena com a mesma classe com que entrou.
O novo antigo Ministro da Fazenda empossado, já no governo na área do planejamento, adepto da chamada política monetarista, desenvolvimentista, é totalmente afinado com os desejos da Presidência da República que, no fundo, insiste em não delegar maiores poderes aos seus subordinados, principalmente na área econômica.
Segundo os mais influentes economistas internacionais, voltamos a pisar num terreno escorregadio, com poucas ou nulas possibilidades de êxito, ainda que num curto período inicial de tempo haja uma perspectiva de algum alívio para o mercado.
Concluem ainda que a médio e longo prazo correremos o risco de entrar em absoluto caos econômico, tal como os ocorridos na Grécia e na Argentina que adotaram políticas semelhantes.
Resta-nos contar com o espírito patriótico de toda essa nossa classe dirigente e torcer para que esse país, o mais surreal do planeta, consiga sair desse enorme imbróglio em que se meteu no mais rápido espaço de tempo possível.
Sua população, ordeira, apática e submissa, muito em função de seu baixo nível educacional, não merece passar outros Natais como esse, desesperançosa de dias melhores.
Gabriel Novis Neves
21-12-2015
Fiquei fascinado com a entrevista de um dos mais consagrados intelectuais do Ocidente, prestes a completar 90 anos, o Dr. Zygmunt Bauman que, com a sua inteligência e brilhantismo, a todos encantou em sua recente passagem pelo Brasil.
Nascido na Polônia foi vítima dos efeitos do estalinismo e do antissemitismo. Morou na União Soviética e vivenciou os horrores da Segunda Guerra Mundial até que, com seus mais de cinquenta livros publicados, ser considerado uma das mentes mais brilhantes da nossa época.
Seu tema mais discutido no momento é “A Fluidez do Mundo Líquido”.
Ele nomeia de interregno “essa fase difícil pela qual passa a humanidade, em que os valores arcaicos do século passado foram todos superados sem que novas práticas de condutas político partidárias, econômicas, educacionais, sociais e até mesmo interpessoais tenham se estabelecido na sociedade”.
Resumindo, uma nova ordem mundial, ainda engatinhando, deverá substituir outra, antiga, já obsoleta. Isso é o que tanto diferencia o século XX do atual século XXI.
O Dr. Bauman, com a sua lucidez e discernimento, é um exemplo de que a sociedade nem sempre condena os mais idosos ao abandono e à indiferença.
Trata-se de uma velhice premiada! Aconselho a todas as mentes mais aguçadas a se interessarem pela bela entrevista do Dr. Bauman feita pelo jornalista Marcelo Lins através do programa Milênio, do canal Globo News.
Gabriel Novis Neves
10-12-2015
JUACY DA SILVA*
Para muita gente o NATAL e as festividades ligadas ao mesmo representam comida farta, iguarias finas e caras, de preferência produtos importados, troca de presentes, muita bebedeira e tudo que esteja relacionado com festas pagãs muito mais do que o real significado transcendental e espiritual de um acontecimento que dividiu a história humana, pelo menos no ocidente, de maioria cristã.
O calendário ocidental é dividido entre antes e depois de Cristo, AC e DC, na bíblia entre o Antigo e o Novo Testamento. Assim o NATAL, na verdade é a celebração do nascimento de Jesus Cristo, Deus que se fez humano, como um ato de Amor para salvar a humanidade de seus pecados e proporcionar uma nova vida, para muitos depois da morte para outros inclusive durante sua existência terrena.
Os cristãos, para quem o Natal tem este significado, representam o maior grupo religioso do planeta, com mais de 2,3 bilhões de pessoas, espalhados em mais de 180 países, divididos entre Católicos e protestantes de vários matizes, desde os pentecostais, neopentecostais, conservadores e liberais, mas todos com uma mesma base fundamental da fé na trindade: pai, filho e espírito santo.
O importante durante as comemorações natalinas é buscar o entendimento ou significado do nascimento, vida, ensinamentos, morte e ressurreição de Cristo, para que, além da dimensão espiritual, possamos vivenciar suas mensagens de amor, de paz, de justiça, de fraternidade e de esperança.
Comemorar o natal fazendo-se de cego, surdo e mudo ante um mundo materialista, consumista e cada vez mais comercializado; tapando os olhos para não ver a pobreza, a miséria, a fome, a violência, as guerras, o egoísmo, a corrupção, a degradação ambiental é, na verdade, uma forma de alienação e tentativa de manipulação das mentes humanas, pela propaganda desenfreada, principalmente dos grandes veículos de comunicação. Tapar os ouvidos para não escutar o clamor dos injustiçados e violentados não é uma forma de se comemorar o natal.
Muitas pessoas quando estão fazendo grandes banquetes e ceias de natal, nem imaginam ou fazem que não sabem que ao redor do mundo, as vezes em nossos próprios países, estados, cidades ou até bairros existem pessoas que não tem um teto para morar e nem sequer um prato de comida para saciar a fome do dia-a-dia, que milhares de pessoas estão, justa ou injustamente, em prisões físicas, mentais ou emocionais, dezenas de milhares estão dominadas pelas drogas, pela prostituição, pelo trabalho escravo, internadas em um leito de hospital ou em uma cama de asilo para idosos. Milhões de imigrantes estão perambulando longe de seus lugares de origem sujeitos a toda sorte de violência e humilhação.
Enfim, não podemos permitir que o verdadeiro significado do NATAL seja desvirtuado pelo marketing que só pensa no lucro ou nos grandes interesses que acabam pegando carona nesta data tão importante não apenas para os cristãos mas para todas as pessoas que sonham com um mundo melhor, mais justo, mais humano e mais solidário.
A figura central do natal é Jesus Cristo e jamais o papai noel, este, o verdadeiro símbolo da comercialização de uma data tão importante e significativa em sua essência. Oxalá possamos comemorar e ao mesmo tempo resgatar o verdadeiro sentido e significado do NATAL.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular, aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. E-mailO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Novamente estamos envoltos ao clima do Natal, a festa cristã que mais vem se paganizando – ou se capitalizando – a cada momento.
Do processo já antigo de paganização/capitalização, Papai Noel talvez seja a maior de suas representações. Verdade seja dita: o intruso ancião – que adora se vestir de vermelho e branco, sempre com o saco cheio de presentes e vindo dos confins da Europa ocidental, onde a neve não para nunca de cair – tem roubado a cena daquele bebê pobre, nascido em algum lugar perdido do Oriente, dentro de uma manjedoura e cercado por bichos campestres.
Depois de Noel, as luzes que enfeitam as cidades nesta época, quiçá, querendo lembrar o brilho da estrela que teria guiado os magos até o lugar onde Jesus teria nascido, vem na sequência do mesmo processo de paganização/capitalização da festa natalina.
Mas no Brasil, neste ano que literalmente já agoniza, muito mais do que as luzes, em geral, vindas da China, vimos o pisca-pisca sem-fim de giroflex. Aliás, tenho a impressão de ter visto esse pisca-pisca sem-fim todos os dias de 2015. Seria isso alucinação minha?
Para quem não sabe, o “giroflex”, conforme nos ensina o internauta paraense Reinaldo Barros, é o “jogo de lâmpadas que piscam de forma intermitente dentro de proteções em acrílico, de cores que variam entre o vermelho e o azul. Elas ficam na parte superior de viaturas de emergência, como ambulâncias e viaturas de polícia”.
Uma vez identificado um giroflex, talvez minha “alucinação” não seja mais solitária. É bem possível que muitos leitores tenham a mesma sensação, ou seja, a ter visto giroflex girando alucinadamente o tempo todo em 2015.
E das inúmeras giradas que um giroflex dá, as semanas que antecederam a do Natal foram ainda mais abundantes do que outras tantas. Houve luzes vermelhas e azuis girando para alguns dos políticos mais importantes do país. Houve giro na casa oficial de Cunha, o presidente do Congresso Nacional. Giroflex também em frente ao diretório do PMDB em Alagoas, onde Renan – presidente do Senado – reina soberano há tanto tempo. As casas de alguns ex-ministros de Estado não ficaram sem as cores de um giroflex. Isso sem falar de giroflex a grandes empresários, em geral da construção. Que ironia!
Enfim, “nunca como antes na história deste país”, como sentenciara o velho Luís Inácio Lula da Silva, que também já tem um filho (o Lulinha) sendo investigado em operações policiais, o brasileiro pôde ver tanto giroflex na cara de tanta “gente transformada em importante”; algumas, aliás, de uma hora para outra, como se fossem partícipes escolhidos para usufruir das divinas e generosas tetas do Estado.
Por trás de cada piscada de cada giroflex a cada criatura buscada para esclarecimentos, informações, prisões preventivas, coercitivas e outras modalidades que o espaço policial comporta está a subtração de condições básicas de vida de um povo inteiro. Está, portanto, na contramão tanto das intenções de Cristo quanto das do próprio Noel, que busca se mostrar bondoso e igualitário – sem conseguir, é óbvio – na distribuição de seus presentes.
Enfim, neste clima de Natal, é bom saber que a cada girada de um giroflex esteve a prova da subtração dos reais presentes de que um povo precisa, e não só no Natal, mas o tempo todo: educação, cultura/arte de qualidade, saúde digna, moradias confortáveis, transportes públicos respeitosos, alimentação diária adequada e suficiente, salários decentes...
Diante de tantas subtrações, desejo a todos muita força neste Natal!
Conceito vago, cheio de definições, todos questionáveis e, principalmente, subjetivas.
Até porque, vários são os tipos de amor, e todos muito diferentes de pessoa para pessoa.
Amamos numa dimensão muito própria, raramente compreendida pelo “outro”, que seria a finalidade em si.
A capacidade de doação é específica em cada ser humano e está sujeita a modificações, que dependem da época e dos costumes.
Somos todos imperfeitamente formados por uma mistura de sentimentos, tais como amor, ódio, vingança, raiva, ciúme, vaidade, egoísmo, altruísmo, enfim, a matriz humana não é lá das melhores.
Em alguns de nós predomina os sentimentos positivos, enquanto em outros, dados os seus condicionamentos, os sentimentos negativos.
Excluídos os fatores genéticos, com certeza de real importância, chegamos todos mais ou menos “puros” ao mundo.
As circunstâncias e o meio em que somos criados vão, progressivamente, moldando o nosso caráter e fazendo com que sejamos tão diferentes uns dos outros.
Com relação ao amor como ele se apresenta nos dias atuais, o chamado amor romântico, só passou a existir a partir do século XIX.
Antes disso, as pessoas se uniam através das escolhas familiares, sempre voltadas para possíveis benefícios financeiros.
Não que isso tenha mudado muito, mas já existe uma espécie de escolha do ser amado, ao menos aparentemente.
Começam a ser aceitas escolhas independentemente de raça, religião, cor ou gênero, coisas até então inadmissíveis nos diferentes sistemas sociais.
Quantos sofrimentos a humanidade carregou em função de suas escolhas consideradas inadequadas e, nem por isso, menos intensas?
A história está aí para confirmar os inúmeros casos de pessoas do mais alto nível intelectual vítimas de preconceitos que lesaram irreversivelmente as suas vidas.
Dentre as definições de amor, a que mais consegue me tocar, ainda que sem saber da autoria, é a que diz que: “o amor é o encontro das peles e a troca das fantasias”.
Parece-me perfeita, vendo o lado químico da relação.
Todos os outros tipos de amor são circunstanciais e obedecem a regras rígidas de convivência, com as quais nem sempre concordamos, mas somos obrigados a aceitar pelas normas sociais.
Tenho, por exemplo, amigos que se vangloriam de terem curado suas carências afetivas escolhendo famílias para serem suas - não necessariamente vinculadas a laços sanguíneos.
Fácil ver isso nos inúmeros grupos familiares que, quando reunidos, o que menos conta é o afeto entre eles.
Permanecem juntos, apesar de suas idiossincrasias, apenas para fortalecer aquele clã, num resquício tribal, em que aglomerados são sempre mais fortes que indivíduos isolados.
Depois da revolução industrial, estabeleceram-se leis e princípios para que se mantivesse unido e crescente o patrimônio.
Tomou força as leis de herança, a condenação do adultério, o celibato em algumas religiões, tudo em função de preservar os bens adquiridos por determinado clã durante a vida.
A organização social é basicamente econômica, e não, amorosa, como querem pintar os mais românticos.
Até o século X era permitido o casamento aos padres, quando, a partir de então, a igreja, para proteger o patrimônio por eles deixado, estabeleceu o celibato.
O mesmo com relação ao adultério feminino, demonizado pela possibilidade de transmitir bens de herança a outras proles que não à do clã economicamente organizado.
Tanto que o adultério masculino nunca foi muito levado em conta, a não ser agora, com o aparecimento dos testes de paternidade.
Enfim, tudo que nos gere é a ordem econômica, sendo ela apenas travestida de algum romantismo para que se torne mais fantasiosa.
Quem sabe um dia, talvez em outra galáxia, poderemos nos amar um pouco mais uns aos outros, independentemente das gulas financeiras e da selvageria das competições?
Mais uma utopia... Infelizmente, sem ela, a humanidade não caminha.
Gabriel Novis Neves
14-10-2015
É voz geral que o Brasil chegou ao fundo do poço e, encontra-se em dificuldades para de lá sair.
Alegam os desiludidos que a saída é a porta do aeroporto.
Os otimistas acham que o pior já passou, com a prisão dos que infringiram a ética e moral administrativa.
Na verdade, o Estado foi ocupado por uma quadrilha que está sendo eliminada especialmente pela operação Lava Jato do Juiz Sérgio Moro. Esse fato é um sinal de recomeço para uma democracia republicana.
Pagamos um preço alto pelo difícil momento em que vivemos, com a Petrobras desvalorizada, a economia destruída, as empresas lesionadas pela corrupção, e a violência e o desemprego aumentando nas cidades.
O partido do governo que pregava a ética, deixa um enorme grupo de decepcionados entre pessoas decentes que confiaram nele e foram ludibriadas.
Apesar de tudo, o Brasil ainda possui material humano que resista a essa catástrofe moral e econômica, em condições de voltar a acreditar em si mesmo e em suas instituições.
O sistema de corrupção estruturado para a perpetuação do poder está sendo destruído.
Neste momento o Supremo Tribunal Federal (STF) é uma segurança contra a vontade do dinheiro e do poder.
A imprensa é investigativa e livre deixando a sociedade brasileira muito bem informada.
É indiscutível que nosso país possui uma população honesta e trabalhadora, consciente de que a corrupção que desaparece com os recursos da saúde e da educação, é que alimenta a violência e o desemprego nas cidades.
Queremos virar esta página da nossa história que tanto nos indigna e revolta.
Um país que apesar dessa história desafiadora tem tudo para sair democraticamente dentro do Estado de direito, para a reconstrução.
Gabriel Novis Neves
08-12-2015
Fernando Nogueira de Lima
Quando decidi escrever este texto, imediatamente me veio à mente esse título aí em cima: Não li e não gostei. Ato contínuo pensei em descartá-lo e substituí-lo por outro que me tirasse do desconforto de utilizar uma frase muito conhecida – pela minha geração, que me remete a uma época em que a democracia não fazia parte do cotidiano do nosso país; tempos em que as decisões de governo objetivavam o poder pelo poder e, por consequência, a aniquilação de atitudes que estivessem na contra mão disso, com o propósito de estabelecer o pensamento único na política e manter a realidade, tolhendo o pensamento crítico de quem pretendia perseguir a liberdade.
Para que você caro leitor, de gerações mais jovens, entenda o que quero lhe dizer, e para reavivar a memória dos leitores que vivenciaram aqueles tempos, esclareço que essa frase foi dita por um general e ex-presidente da República que gostava de cavalos (nada contra os cavalos é que ele preferia o “cheirinho do cavalo” ao “cheiro do povo”) e que ao responder a um questionamento sobre o que ele achou de uma reportagem sobre as ações do governo, disparou: não li e não gostei.
Esclareço também, que desde aquela época não convivo passivamente com a defesa do pensamento único, nem com a prática política pautada na conquista do poder pelo poder. Isso porque, nesse contexto, os princípios são negociáveis e as regras, à mercê de propósitos, por vezes, inconfessáveis, são mutáveis. Contrário a isso, defendo que os princípios são inegociáveis, assim como defendo a diversidade de pensamento e mobilidade de opinião e informação.
Por isso é que, por mais de uma vez, manifestei minha insatisfação com essa consulta informal, conduzida pela ADUFMAT, SINTUF e DCE, com aquiescência dos Conselhos Superiores, para escolha do Reitor e Vice Reitor da UFMT. Essa consulta se dá na informalidade porque se fosse feita pelos Conselhos Superiores, o peso dos docentes na contabilização dos votos, por imposição legal, seria de 70%, ficando os demais 30% para os técnico-administrativos e alunos. Tal ponderação contraria a paridade defendida pela comunidade universitária, pelos Sindicatos e pelo DCE, ou seja que cada segmento deve ter igual ponderação, ou seja 33,33%. Nisso, reside a origem da consulta informal.
Além da paridade, adotou-se dois turnos nessas eleições como instrumento democrático capaz de legitimar, com maioria simples dos votos, os futuros dirigentes da instituição. E foi dessa forma que os primeiros processos informais de escolha de Reitor e Vice Reitor ocorreram na UFMT. Como consequência dessa decisão, a instituição já foi submetida a constrangimentos e dificuldades na nomeação dos seus dirigentes. Em uma das consultas, houve Ação Judicial com o objetivo de impedir que a lista tríplice elaborada pelo Colégio Eleitoral: CONSEPE, CONSUNI e CONSELHO DIRETOR fosse protocolizada no MEC. Noutra consulta, as urnas foram apreendidas pela Polícia Federal, de forma truculenta com direito a disparo de arma de fogo, por ocasião da contagem dos votos que se dava no Ginásio de Esportes.
Com o passar dos anos, em função de propósitos não necessariamente institucionais, as consultas tiveram critérios que se adaptavam à vontade de grupos com capacidade de mobilização para assegurar maioria nas assembleias deliberativas dos Sindicatos e do DCE, razão porque já ocorreram eleições em que não se contemplou o segundo turno e eleições em que a paridade foi desconsiderada. O Colégio Eleitoral, por sua vez, tem referendado o resultado dessas consultas, alheio, creio eu, ao fato de que, agindo dessa maneira, pode colocar em risco a defesa de uma instituição de excelência, haja vista que finalidades outras podem prevalecer nesses processos eleitorais.
Pois bem, recentemente foi divulgado o Edital da próxima consulta para Reitor e Vice Reitor da UFMT, elaborado pela comissão constituída por representantes dos Sindicatos e do DCE, legitimamente escolhidos pelas respectivas assembleias. Pelo que fui informado, para além de um calendário que estabeleceu, desnecessariamente, inscrições de chapas no período de 14 a 18 de dezembro, mais uma vez prevaleceu o interesse de grupos que contabilizam antecipadamente, a seu favor, os votos dos alunos, na medida em que a regra posta fere de morte o princípio da paridade entre os três segmentos: docentes, técnico-administrativos e discentes.
Ao considerar, no cálculo da ponderação de cada segmento, os votos válidos em vez do colégio eleitoral, a regra divulgada - sem o referendo das respectivas assembleias, ignora que a paridade deve garantir a igualdade entre os segmentos, não entre pessoas e privilegia a abstenção dos alunos que tem sido superior a três vezes a abstenção das demais categorias. Assim, quanto menos alunos votarem maior será o peso relativo dos discentes em relação aos docentes e técnico-administrativos na totalização dos votos, mesmo que todos os docentes e técnico-administrativos exerçam seu direito ao voto.
Tais regras, entendo eu, se prestam à caça do poder pelo poder e também se prestaram, quem sabe, para dificultar candidaturas outras, notadamente daquelas que entendem e defendem que essas eleições, embora relevantes, não podem ser mais importantes do que o cotidiano da instituição, devendo, na construção da excelência acadêmica, se limitarem o mais próximo possível ao período que se dá entre as inscrições de chapas e a proclamação do resultado das urnas.
Não li e não gostei dessas regras. Não tenho, pois, motivo algum para legitimá-las, submetendo-me a elas. Desta forma, reafirmo minha insatisfação com esse processo mutável e suscetível a casuísmos. É isso que tenho dito, ainda que não haja eco no Colégio Eleitoral e na Comunidade Universitária, porquanto minha consciência não me permite substituir convicções por conveniências. Simples assim.
Fernando Nogueira de Lima é professor e foi reitor da UFMT.
Em tempo: Desejo a todos um Feliz Natal e um ano novo repleto de realizações.
Participei de uma solenidade na UFMT em comemoração aos 40 anos da fundação do Curso de Geologia. Naquela época eu era reitor.
Durante as festividades pude entender o famoso verso de Fernando Pessoa - “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.
O Curso de Geologia foi criado quando a nossa universidade tinha apenas três anos de implantação. Enfrentou todas as dificuldades que um curso de sua complexidade apresentava para sobreviver.
Aos 40 anos possuiu um excelente corpo docente composto de doutores e mestres concluintes de doutorado.
Com a participação da mulher em todas as áreas já se nota o encanto feminino em um curso outrora de perfil masculino.
Impressionou-me a participação ativa do seu Centro Acadêmico (comandado por uma mulher), assim como de toda a alta direção do curso, dos professores e da sua matéria prima - os alunos.
Foi realmente uma bela manhã de confraternização acadêmica, sem saudosismos, porém, com a certeza que possuímos um dos melhores cursos de Geologia do país e um motor de desenvolvimento deste Estado.
Ao retornar para minha casa fui acompanhado pelo porteiro do edifício em que moro até o elevador.
Muito ansioso, ele queria me contar uma história. Solicitou-me que escrevesse um artigo sobre o assunto para alertar as nossas autoridades de saúde pública.
Relatou-me que a sua filha de 9 anos, portadora de grande mal asmático, precisava com urgência de atendimento médico.
Estava prostrada, com muita falta de ar, desidratada, com chiado no peito audível, inapetente. Em casa tinha utilizado a medicação de sempre sem sucesso, e o caso estava grave.
Procurou a única UPA em funcionamento na cidade do VLT e, após longa demora, foi aconselhado a procurar uma policlínica próxima (Bairro do Planalto), pois a unidade de pronto atendimento não possuía médico para o atendimento.
A mesma resposta lhe foi dada na Policlínica procurada. Atravessou a cidade e encontrou um especialista em bronquite asmática em crianças na Policlínica do Verdão.
Foi examinada com desdém, segundo o pai, e receitado um xarope e inalação, obtendo alta.
Ele, desesperado, procurou uma Clínica Privada. Lá a criança foi minuciosamente examinada e avaliada. No local, três tipos de medicação injetável lhe foram administradas e, após melhora, obteve alta com novas medicações.
Dois dias foram suficientes para a sua total recuperação.
O pedido do porteiro foi feito no sentido de informar nossas autoridades responsáveis, blindadas por eficientes serviçais, sobre a realidade da saúde pública ofertada à maioria da nossa população (SUS).
Não podemos ter uma saúde para ricos e outra para 75% da nossa população composta de pobres.
Fica o alerta da nossa triste realidade, contrastando com os anúncios das mídias.
Gabriel Novis Neves—20-11-2015
Livros de autoestima nos doutrinam a valorizar pequenas coisas do nosso cotidiano para sermos felizes.
Histórias da humanidade são citadas em abundância para nos convencer que devemos ampliar as minúsculas preciosidades do nosso dia a dia e que elas terminam em conforto para acalmar as turbulências pela qual passamos.
Valorizar cada vez mais um gesto de carinho ou o riso de uma criança. A gratidão de um idoso ou a generosidade de um jovem.
A natureza com as suas inúmeras surpresas, cheias de beleza estética é uma dessas pequenas coisas que nos são proporcionadas e que, obnubilados pelos grandes projetos consumistas, nos passam quase despercebidas.
Os mangueirais arqueados pelo peso dos seus frutos, as roseiras com as mais variadas combinações de cores, a vegetação rasteira cheia de graça e vitalidade, são exemplos desses pequenos presentes que diariamente recebemos como brindes.
Os pássaros sempre alegres nos encantando com os seus trinados.
Os rios produzindo com o seu caminhar uma das maravilhas deste planeta - pela disciplina dos seus movimentos e ruídos das suas águas.
O céu azul com as estrelas a nos provocar durante a noite contrastando com o sol causticante do dia.
Essa coletânea de aparentes pequenas coisas poderá ser aumentada pelo milagre de acordamos com saúde, e deveriam ser comemorados como grandes conquistas e com muita emoção.
Mas, estão no grupo das coisas pequenas! Não nos lembramos da sua importância e grandiosidade, a não ser quando as perdemos.
Prova disso é a imensa tristeza que está acometendo, não só os nascidos no Estado do Espírito Santo, mas todos os brasileiros, com a possível morte do Rio Doce, atingido pelos rejeitos tóxicos resultantes do rompimento da barragem de Mariana.
Que crimes ambientais dessa grandeza não voltem a ocorrer, uma vez que, matando a natureza, tornamo-nos todos inviáveis.
Vamos ser felizes pelo que temos e somos, e não, pelo que poderíamos ser ou ter!
Gabriel Novis Neves
20-11-2015
Nada mais complexo que tentar entender o mecanismo desencadeante das emoções.
Funcionamos num turbilhão de ambivalências, medos reais e imaginários, ódios e idiossincrasias desmedidos, tumultos internos de tamanha intensidade, que nem as mentes mais inquisitivas conseguem explicar reações tão diversificadas.
Algumas vezes invejo os alienados, estes sim, distantes e alheios a todas às suas contradições, sem mesmo se darem conta da existência das mesmas.
Vivem num mundo quase ameboide, como se os fatos e, principalmente, “os outros”, dele não fizessem parte.
Eles não precisam de trocas emocionais, uma vez que elas não fazem parte do seu universo.
Contentam-se com o trivial das coisas, o óbvio, sem maiores cogitações, a imagem refletida nos próprios espelhos - que para eles é sempre a verdade inquestionável.
São acomodados e a vida lhes parece previamente programada, sem dúvidas, sem questionamentos.
A era digital é perfeita para essas pessoas que apenas se reúnem para melhor compartilhar a sua solidão.
Famílias inteiras ou grupo de amigos, e até mesmo casais de namorados, passam a maior parte de seu tempo ensimesmadas num mundo virtual, que nada a ver tem com o seu.
O não pensar, minimizando, portanto, ao máximo o mecanismo das emoções, tem sido a tônica desse mundo atual em que a realidade cada vez menos consegue nos tocar.
Entretanto, as poucas pessoas com um HD um pouco mais complexo, inquisidor, estão sempre dando defeito, tais como os computadores de última geração.
São portadores de emoções hipertrofiadas, carências sempre crescentes, contestadores crônicos, atividade cerebral, enfim, próxima ao botão de alerta.
A neurociência, apesar de toda a recente tecnologia, ainda está longe de detectar a complexidade de todo esse sistema tão diverso de pessoa para pessoa.
Enquanto isso não acontece, a dificuldade de relacionamentos por parte da humanidade mostra-se cada vez mais difícil.
Somos seres que não conseguem se conectar verdadeiramente uns com os outros, sem sentimentos de vaidade ou de poder, acreditando ser possível sobreviver nesse mundo de solidão.
Quem sabe estaremos ainda numa remota fase evolutiva, havendo necessidade de alguns milhões de anos para que nos tornemos verdadeiros seres humanos.
Prefiro acreditar nisso.
Gabriel Novis Neves