Segunda, 04 Janeiro 2016 12:10

 

Os grandes circos itinerantes, que se apresentavam sob uma grande tenda ou lona, com seus palhaços, domadores de animais, shows musicais, malabaristas, equilibristas, acrobatas, mágicos e trapezistas, eram a alegria da garotada quando faziam o desfile pela cidade em que iriam se apresentar!  
Eu e toda a minha geração éramos fascinados por essa trupe descompromissada com a vida, cujo único objetivo era proporcionar diversão e entretenimento aos espectadores. 
Logo se tornavam objetos de desejo, não só da meninada, mas, de todos os adultos cuja criança interna persistia em sobreviver. 
Até hoje guardo lembranças muito ricas desses momentos de puro encantamento. 
O mundo mudou e, com ele, os fabricantes de alegria, desempregados, foram se perdendo em outras atividades. 
A alegria ingênua e pura da arte circense foi substituída pela tecnologia, com seus jogos eletrônicos, com seus filmes com efeitos especiais e, finalmente, com a descoberta do mundo digital e todas as suas tentações - enlouquecedoras até para os de mais tenra idade. 
Os circos agora parecem existir apenas nas casas oficiais do governo, onde outrora eram votados projetos e leis importantes sempre tentando beneficiar os cidadãos do país. 
As dependências palacianas também passaram a contribuir com seus personagens travestidos de cômicos, embora no pior sentido. 
Sessões antes austeras e solenes dos poderes constituídos transformaram-se em palco de desordeiros, com troca de palavras de baixo calão sem a mais remota noção de decoro. 
Como bem disse um de nossos ex-presidentes, lá estão cerca de trezentos picaretas, dos quais, cento e cinquenta sofrendo investigação judicial, num espetáculo de verdadeira luta livre generalizada. 
Os políticos já investigados continuam em pleno exercício de suas funções e investigam os novos indiciados. Isso ocorre sucessivamente, num verdadeiro palco de horrores que consegue até impedir a nossa humilde participação, tamanha a esbórnia que se estabelece. 
A arena fica animada e a plateia, tal como nos antigos circos romanos, é levada à vergonha e ao delírio. 
Algumas vezes alguém da plateia colabora com o espetáculo e atira notas falsas de dólar num dos picaretas protagonista da comédia. 
Fica estabelecida a farra e o povo parece se divertir com essas cenas de mau gosto, exaustivamente mostradas em todas as mídias. 
Aliás, com uma simbologia muito explícita, um de nossos palhaços mais conhecidos teve, numa de nossas eleições recentes, uma das votações mais expressivas do país. 
Simbologia ou não, é assunto para pesquisa. 
Quantos anos mais serão necessários para que espetáculos dessa grandeza não mais ocorram em nossa recém-inaugurada democracia? 
Nossas crianças, diante da televisão, precisam distinguir o que é comicidade do que significa responsabilidade e civismo por parte de pessoas cujos mandatos por nós delegados não estão cumprindo as atividades para as quais foram eleitas. 
Que voltem rápidos os circos de lona, seus palhaços e toda a sua trupe, estes sim, nos faziam muito bem. 

Gabriel Novis Neves
16-11-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:09

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

E lá se vai 2015 para o túnel do tempo! Vivemos suas últimas horas. Por isso, se eu tivesse a tarefa de resumir 2015 para nós, brasileiros, em um único vocábulo, com certeza eu diria que “lama” foi a palavra do ano. E que palavra!

Por questões óbvias, excluindo a referência a Lama, grafada com letras maiúsculas por se tratar do chefe supremo da religião budista, resta-nos outras indicações que “lama” – escrita agora com letras minúsculas – pode nos oferecer. E ela nos oferece pelo menos dois caminhos semânticos: um denotativo; outro conotativo.

Pelo primeiro, tradicionalmente, identificamos “lama” como aquela “mistura viscosa, pegajosa, de argila, matéria orgânica e água; terra molhada e pastosa; barro, lodo, vasa”; rejeito de vários minérios, em geral reservado em imensos depósitos construídos para essa finalidade exclusiva.

Pelo segundo viés, entramos no universo das figurações. Neste espaço, “lama” abarca tudo o que seja de “caráter daquilo que degrada e envergonha”. Esse tipo de lama está para as ações vis, para os porões do agir humano.

Pois bem. Hoje, falar de lama no sentido denotativo, sem nos esquecer de tudo o que já ocorreu em termos de destruição de povos (principalmente de indígenas) e lugares desde nosso “achamento” em 1500, é falar da tragédia de distritos de Mariana, cravados nas alterosas de Minas Gerais desde o séc. XVIII.

Mas falar dessa tragédia será sempre insuficiente para descrever o que ali ocorreu, ocorre e ocorrerá sabe-se lá até quando. Tudo é tão gigantesco, absurdo e criminoso que, drummondianamente falando, as palavras não dão conta.

Diante das imagens daquela lama descendo rios e riachos que um dia foram doces, arrasando povoados, até se encontrar com o sal do mar, e sem a ele querer se misturar completamente, a sensação de pequenez humana é inevitável; como inevitável é a indignação.

A perplexidade aumenta à proporção que vemos as medidas de reparo dos danos (que jamais serão reparados por completo) demorarem tanto a sair do papel, dos acordos. Minha preocupação é que, como lamas não nos faltam nunca, esqueçamos disso tudo com uma próxima avalanche. E janeiro já está chegando! Logo depois, as águas de março...

Mas piores do que essa lama – que não é coisa pouca – são aquelas ações que vão nos degradando dia após dia como povo de uma nação; que nos degradam como seres humanos. Detalhe: esse tipo de lama já nos é endêmico.

Aliás, perto dessa lama nossa de cada dia, a lama da tragédia de Mariana é um pocinho insignificante de sujeira. E engana-se quem pensa que esse tipo de lama a que estou me referindo restringe-se apenas às ações de nossos políticos. Com raríssimas exceções, a maioria de nós é um poço desse tipo de lama. A depender da ocasião e das oportunidades, uns mais profundos, outros menos. Agora, é claro que é no espaço público onde atuam representantes dos poderes executivo, legislativo e judiciário que a lama de viés conotativo nada de braçada.

Por tudo isso, urge que coletivamente nos esforcemos muito, mas muito mesmo, para entender nosso caráter, sempre e bastante susceptível à corrupção, para superarmos esse estágio de “civilização à brasileira”.

Por conta de tanto mensalões, lava-jatos etc etc etc..., a entrada de um novo ano pode ser um momento para esse tipo de reflexão. Mais do que isso: para a disposição à mudança geral de que todos precisamos.

Assim, finalizo este meu último artigo de 2015 com o mesmo convite que Gonzaguinha já nos fizera um dia: “vamos à luta, rapaziada”. 2016 está inapelavelmente chegando.

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:07

 

JUACY DA SILVA*

 

Existe um certo pensamento mágico entre as pessoas de que com a chegada de um novo ano os problemas desaparecem e tudo se renova. Isto faz parte de um sentimento inato do ser humano de, mesmo em meio a dificuldades, problemas, desafios, alguma força sobrenatural possa agir  em nosso favor e transformar a realidade.

Todavia, isto não é verdade, pois, com exceção dos desastres naturais, desde que não sejam provocados pela irresponsabilidade das ações humanas como aconteceu em Mariana, Minas Gerais, tudo o que acontece no mundo em  cada país ou local, é fruto das ações ou omissões humanas, sejam as pessoas mais simples sejam os governantes que agem  de forma desonesta/corrupta ou decorrente  da incompetência em planejar e agir racionalmente.

Outro aspecto, o tempo não é cíclico com o dia e a noite  ou as quatro estações do ano, que se  renovam a cada 24 horas ou a cada três meses, ou seja, o tempo é continuo e imutável e isto representa  a dimensão do processo histórico, com suas peculiaridades culturais, sociais, políticas, religiosas  e econômicas. A diferença do que acontece em um ou outro país decorre da combinação  desses fatores e jamais da influência de divindades, entidades, deuses ou demônios. Por mais que algumas pessoas acreditem que ao se oferecer comida, flores, rezas, preces  ou orações, isto não  vai transformar pessoas corruptas em honestas, governantes e gestores incompetentes  e  irresponsáveis em seres competentes e responsáveis de uma hora para a outra, ou transformar políticos mentirosos e demagogos em representantes que falem a verdade e deixem de enganar o povo antes, durante e depois das eleições.

No caso do Brasil, por exemplo, dezenas  e dezenas de passagens  de ano, milhões de pessoas costumam  se vestir de branco ou amarelo, na vã  esperança de que naquele minuto  mágico da contagem regressiva quando o relógio se aproxima  da meia noite e no próximo segundo um novo ano vai raiar, enquanto as pessoas em júbilo se abraçam  e festejam o raiar de um novo ano, os problemas continuam bem ao nosso lado, bem a nossa frente.

O caos na saúde pública que afeta todos os estados e todos os municípios, onde milhões de pessoas sofrem com a falta de atendimento não  vai acabar por que um novo ano se inicia, pois os governantes e gestores que produziram e produzem  este caos continuam os mesmos, agindo de forma cínica como se nada estivesse acontecendo, afinal a baixa qualidade dos serviços públicos em geral  e  da saúde em particular não lhes  afeta, quando precisam de cuidados médicos  ou hospitalares recorrem `a  rede privada, pagando os custos, geralmente com dinheiro público, enquanto os contribuintes, eleitores ou os excluídos tem apenas um Sistema falido que é representado pelo  SUS.

A violência, seja a decorrente da bandidagem , do crime organizado, de acidentes de trabalho  ou do trânsito continua  crescendo, ano após ano  o número de assassinatos, estupros, sequestros, tráfico de pessoas e mortes nas vias públicas e rodovias aumentam. Só as mortes violentas no Brasil devem superar  este ano que se finda  mais  de cem mil pessoas, muito mais do que há dez ou vinte anos, em ritmo muito maior do que os índices de crescimento populacional ou de urbanização.

A educação também continua  muito aquém dos desafios provocados pelas mudanças tecnológicas ou das necessidades do progresso individual ou coletivo, milhões de crianças  continuam fora da escola ou tendo um aprendizado abaixo das exigências de uma educação de qualidade. As universidades públicas continuam sucateadas e as greves de professores e trabalhadores do ensino superior são  constantes motivadas por falta de recursos e de políticas de valorização do ensino.

A crise econômica, o aumento do desempero, a queda dos investimentos, a inflação, a  recessão, a desvalorização cambial, as taxas de juros absurdas, a inadimplência que já afeta mais de 56 milhões de pessoas, o descontrole das contas públicas, a dívida publica que  deverá superar R$ 2,8 trilhões em 2015, ultrapassando 70% do PIB e o rebaixamento  da nota do Brasil por duas agências de classificação de risco fará de 2016  um ano muito ruim para o país e para todos os brasileiros. Tudo isso em meio a operação lava jato e a tentativa de impeachment da Presidente Dilma  e a crise política.

Finalmente, a falta de rumo e a mediocridade tanto do governo federal quanto dos governos  estaduais e municipais atestam que este novo ano nada mudará radicalmente. Por exemplo, das 55  metas previstas para serem realizadas em 2015, o Governo Dilma realizou integralmente apenas 6; e das 922 de todos os governos estaduais 72,3% ficaram apenas no papel.

Mesmo assim, não podemos perder as esperanças, em 2016 teremos eleições municipais e em 2018 eleições gerais e aí o povo terá oportunidade de dar um cartão vermelho aos políticos incompetentes e corruptos. Só assim poderemos dizer sempre FELIZ ANO NOVO!

 

*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado, mestre m sociologia, articulista de A Gazeta.  

E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:06

 

Poucas vezes na nossa história um ano deixou tão poucas saudades quanto esse de 2015, que felizmente vai se despedindo, ainda que aos trancos e barrancos.
Aqui no Brasil fomos vítimas de todos os tipos de achincalhes, de humilhações, de desrespeito, de cenas inesquecíveis de escárnio e de canalhices de toda ordem da parte de pessoas por nós eleitas, supostamente para promover a ordem e o bem estar de todos.
Famílias inteiras desestruturadas pela alta inflação, pelo desemprego, pela angústia do não recebimento de seus salários, pela recessão galopante, pela falência gradativa dos governos estaduais e federal.
Enfim, clima de pânico total em função dos fatos políticos e econômicos cada vez mais alarmantes dos noticiários.
A classe política, de um modo geral, abusou de suas prerrogativas de poder e encastelou-se, alheia aos clamores de toda uma população cada vez mais deprimida e angustiada.
Corrupção escabrosa, conchavos criminosos, conivência explícita com organizações dirigidas para assaltar o erário público, enfim, tudo que conseguisse aniquilar com o tão propalado “brasileiro, profissão esperança”. 
Sabemos que o mundo todo passa por momentos difíceis, mas, nem de leve, a não ser nos países em guerra, vimos semelhantes desmandos vividos aqui na terrinha, outrora orgulhosa por ser uma das mais promissoras nações em desenvolvimento, tendo em vista o potencial de riquezas de que é possuidora.
Que 2016, ora raiando, afastem-se de nós a intolerância, a mesquinharia, a vaidade, a soberba.
Que a classe dirigente, seja ela de que partido for, se conscientize da necessidade de um entendimento maior, coletivo, que possa tirar todo esse povo, que vem sendo esgarçado ao limite máximo de suas perspectivas ordeiras  e bem humoradas, da situação afligente em que se encontra.
Esses são os meus votos para o novo ano que vai iniciar. 
Que a família brasileira possa readquirir a paz, aliás, modestamente, única das suas pretensões.

Gabriel Novis Neves
13-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:05

 

Mais um Natal! Acordei com um firme propósito: praticar o desapego. 
Segundo a filosofia oriental esta prática consiste em nos desapegarmos de tudo que não usamos - daquilo que não nos é mais necessário. 
A filosofia ocidental faz exatamente o contrário – torna as pessoas retentivas, algumas vezes beirando à mesquinharia. 
Essa conta é difícil de ser zerada, até porque, nós, idosos e velhos que moramos sozinhos, acabamos depositários de tudo que os filhos acham que precisarão um dia. 
Nossas casas se transformam num emaranhado de grandes entulhos, principalmente quando há espaço para isso. 
Como já chegamos à fase da não discussão, aceitamos resignados, às vezes nem tanto, essas imposições que a idade vai trazendo. 
Confesso que gostaria de uma grande jornada de desapego, mas, sei que isto me traria problemas de outra ordem. 
Entretanto, cada dia invejo mais os ditos egoístas, que conseguem priorizar os seus desejos, fazendo de suas velhices um mar de liberdades. 
Por agora, conforta-me apenas o sentimento de ser aquele velho cordato, sempre atento para agradar os circunstantes, tarefa que, convenhamos, muito pouco consigo fazê-la. 
O mundo mudou além do esperado nesses últimos oitenta anos, e todos os valores éticos se pulverizaram para as novas gerações. 
Tudo que aprendi foi, não só anulado, como considerado careta e jurássico. 
Cheguei à conclusão, depois de ouvir uma palestra em vídeo, que cada um de nós é um ecossistema próprio e único, composto de um quadrilhão de microrganismos, e que somente juntos podemos formar o ecossistema global que sustenta o planeta. 
Diante dessa lógica estamos totalmente vinculados uns aos outros, ainda que no cotidiano algumas vezes isso se torne muito pesado para nós.

Gabriel Novis Neves
28-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:04

 

Minha vida em nada combina com meu porte grifado e distante - sou um weimaraner. 
Possuo belíssimos olhos claros e pelagem acinzentada. Dizem que é uma cor de cinza só presente na minha raça. Sou carinhoso, dócil, brincalhão e curioso. 
Não sou agressivo, mas não sou subserviente. Estou habituado ao requinte das pessoas que praticam um dos espores mais elegantes da Europa – a caça. 
Em contraste com tudo isso, aqui na terrinha, tenho levado uma vida ao relento desde que o meu protetor, um simpático hippie dos anos 70, tornou-se um morador de rua. 
Tínhamos abrigo numa daquelas Kombis estacionadas na praia de Ipanema, onde ambulantes fazem a sua feriazinha diária à custa de vendas de cocos. 
Esse pequeno detalhe, entretanto, não tirou a nossa alegria, já que continuamos com o nosso despertar habitual logo aos primeiros raios de sol, quando partíamos, eu e meu protetor, para uma longa e prazerosa natação na bela Ipanema.  
Adoro essa parte do dia, quando posso, descontraidamente, exercitar a minha total liberdade. 
Em volta já começam os pequenos serviços para os banhistas madrugadores, geralmente atletas e idosos. 
Dessas tarefas ao longo do dia depende a única refeição que assegurará a sobrevivência do meu querido Pipão. 
A minha, fornecida pela simpatia e carinho que transmito, é da melhor qualidade, sempre fiscalizada por uma bela loura jogadora de vôlei de praia que me paparica como ninguém mais consegue fazê-lo. 
Tanto que estou sabendo que hoje ela me levará a um desses elegantes Pets para banho e embelezamento. 
Desde que a prefeitura nos tirou da praia, temos tido dificuldade na busca de uma marquise mais abrigada onde eu e meu protetor possamos dormir, pelo menos nos dias chuvosos. 
Graças à solidariedade dos nossos amigos frequentadores do Posto 9, parece que teremos um teto num quarto a ser alugado na comunidade do Pavãozinho, tudo pago pelos nossos admiradores em sistema de cotização. 
Muito avesso a qualquer tipo de aprisionamento, um desses dias, despreguei-me do que me acorrentava e saí em busca de novas experiências, quem sabe novos amores... 
Infelizmente a minha raça não tem um bom aparelho visual, apesar da beleza chamativa dos meus olhos, e acabei atropelado na praia de Ipanema. 
Mais uma vez a sorte me sorriu e tive apenas uma pequena luxação, logo resolvida com o auxílio de um bom veterinário.
Fui imediatamente cercado por muitos transeuntes e a única dificuldade foi que eles aceitassem a minha entrega ao meu protetor, que logo foi avisado que eu estava ansioso por ele. 
A sua chegada devolveu-me a alegria e a segurança que o momento exigia e fez com que todos se questionassem por que razão um simples mendigo tinha sido agraciado com amizade de um cão tão elegante. 
Como caçador, perco as estribeiras quando vejo gatos, pombos e aves em geral. Eles não me interessam como alimentação, apenas como troféus para serem mostrados aos que confiam na nossa capacidade de exímios caçadores. 
Preciso entender que não estou no lugar onde meu DNA se fazia necessário e que aqui, na selva urbana, preciso usar de outros atrativos para continuar a ser amado. 
Enfim, sem IPTU, sem IPVA, sem IR, sem os impostos escorchantes que aviltam os bolsos e as cabeças de todos os outros mortais, eu e meu protetor, vamos levando uma vida de total descompromisso e plenos de liberdade... 
Gosto de frisar “protetor”, pois a palavra “dono” não me agrada em nada. Ninguém é dono de ninguém, e muito menos de animais ou coisas. 
A mãe natureza faz questão de nos dar tudo e, invariavelmente, nos tirar em seguida. 

Gabriel Novis Neves
10-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:03

 

Quando penso em novos cursos de medicina fico preocupado com a qualidade e com o número excessivo de autorizações concedidas pelo governo. 
Em apenas cinco anos - de 2011 a 2015 - foram liberados para funcionar 79 novos cursos, segundo o Conselho Federal de Medicina. 
Evidentemente não houve o mínimo cuidado das autoridades responsáveis com a qualidade desses novos cursos, pois um bom médico, não necessariamente, será um aceitável professor de medicina. 
Só para se ter uma ideia dessa minha preocupação com a formação dos nossos futuros médicos, de 1808, quando foi criado o primeiro curso de medicina no Brasil com a chegada da Família Real, até 1994, foram abertos 82 estabelecimentos desse tipo. 
Em 1960, quando terminei o meu curso de graduação em Medicina no Rio de Janeiro, na hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), antiga Universidade do Brasil (UB), existiam em nosso país apenas 23 escolas médicas! 
Tínhamos alunos de todo o Brasil e países vizinhos, além de excelentes professores com prestígio internacional. 
Naquela época o curso de graduação era o ponto final para a formação do médico que nossa nação precisava. 
O aluno deixava a faculdade com o seu diploma reconhecido pelo antigo Conselho Federal de Educação e com o título de médico, e não, de especialista. 
Habilitado em Clínica Médica - Cirurgia, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia - apresentava condições para exercer a medicina no interior do Brasil com eficiência e humanismo, além de ser capacitado para implantar serviços como de Ortopedia e Traumatologia, Neurocirurgia, Cirurgia Torácica, Oftalmologia, Otorrino, Emergência e Urgência, todos com amplo conhecimento de clínica médica e cirúrgica. 
Hoje, o aluno que conclui a graduação, necessita de Residência Médica, Especialização, Mestrado e Doutorado para conseguir entrar e permanecer no mercado de trabalho. 
As nossas escolas médicas abdicaram da função de formar o médico de visão holística e optaram pelo especialista. 
O paciente perdeu o seu médico de referência e tem dezenas de profissionais que o atendem sabendo muito de pouco. 
É fácil constatar o que afirmo. Basta perguntar a um cliente quem é o seu médico.  
Por opção a esse tipo de política educacional temos nichos de medicina de excelência para os ricos, e para os pobres importamos “médicos” de países pobres. 
O Brasil precisa de médicos hipocratianos - do corpo e das emoções - para povoar os mais de cinco mil e quinhentos municípios e restituir a dignidade daqueles que atendemos fragilizados. 
Vamos criar a carreira de médico de atenção primária de saúde e sua prevenção? 
As faculdades de medicina terão que se adequar, e o Brasil se humanizar no atendimento aos enfermos pobres, maioria entre nós. 

Gabriel Novis Neves
04-11-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:02

 

Acredito que a única justificativa para aqueles que não são viciados em jogos de loteria fazer uma “fezinha” todas as quartas e sábados, seja a de acreditar no acaso.
Apostar na Mega-Sena, onde a possibilidade de acertar é de um para cinquenta milhões, significa ser adepto do imenso grupo de pessoas que tem a sorte como um dos seus mandamentos.
Especialmente um sorteio que há anos vem criando suspeitas no Congresso Nacional sobre a sua lisura, sendo apresentado dado substancial pelo Senador Álvaro Dias do Paraná, que solicitou a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Até hoje reinam grandes suspeitas com relação ao peso das “bolinhas da sorte” para resultados programados.
Não sei jogar cartas nem jogos de cassino, mas, como ideologicamente acredito na sorte, fiquei condicionado a fazer dois jogos por semana na Loteria da Caixa Econômica Federal, o que significa uma despesa extra de catorze reais.
Interessante que fazemos o jogo sabendo de todas as dificuldades e que a possibilidade de acerto é apenas um sonho. Satisfeitos ficamos quando sabemos que ninguém acertou.
O que me chama a atenção ultimamente é o número de prêmios acumulados. 
Quando esses jogos foram iniciados os vencedores eram mais frequentes. Será que existe também alguma explicação para este fenômeno?
Dezembro foi um mês de acúmulos de não acertadores, fechando com o superprêmio da Mega-Sena da Virada.
Enfim, ludibriados ou não, vamos mantendo a esperança em alguma coisa que possa nos devolver a perspectiva de algum tipo de futuro, já que aquele que nos é apresentado pela nossa classe dirigente é dos mais sombrios.
Nada mais promissor que cultuar uma longínqua esperança de ganhar um superprêmio do Papai Noel!

Gabriel Novis Neves
21-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:00

 

Desde a mais remota antiguidade o coração é tido por muitos como a casa da alma, da razão, do pensamento e da emoção.
Até hoje, mesmo com o avanço da medicina, esse conceito permanece.
Sabemos que é meramente simbólico, sem nenhum fundamento científico, ainda mais sendo o coração o órgão mais investigado tecnologicamente.
Com as pesquisas recentes, ficou claro que o cérebro, este sim, passou a ser o grande receptáculo de todas as emoções, sendo o coração apenas um dos órgãos mais afetados durante esse processo.
As demonstrações de afeto, carinho, amor, são sempre direcionadas para a bomba muscular responsável pela distribuição de sangue para nutrir as células do corpo humano.
Em jogos de futebol é comum observarmos jogadores apontando as mãos para o coração, transmitindo com esse gesto toda a emoção sentida no gol feito.
Erroneamente, na crença popular, ficará ainda por muitos anos o coração como um centro maravilhoso de emoções.
Sabemos que todos esses fenômenos atribuídos ao coração são fabricados por esse órgão misterioso e tão pouco conhecidos dos cientistas, que é o cérebro.
As nossas emoções são resultados de bilhões de conexões de neurônios que, com perfeição, atingem todos os órgãos do nosso organismo, principalmente o coração.
Devido ao estímulo recebido do sistema nervoso autônomo, o coração pode ser afetado pelas emoções, não só nos momentos de felicidade ou atos de amor, porém, também, em sensações de tristezas ou perigo.
Mesmo com o cérebro indecifrável e responsável por tudo que nos acomete, é o coração que continua como o centro das atenções das pessoas e autoridades de saúde de todo o mundo.
Basta verificar que todos nós morremos de parada cardíaca, que significa a interrupção do funcionamento da máquina que irriga o nosso organismo de oxigênio.
O motivo é a falência múltipla dos órgãos, todos comandados pelo cérebro, que morre antes da ausência dos batimentos cardíacos, muitas vezes mantidos por medicamentos.
A verdade é que a emoção interfere no coração, e as doenças cardíacas ocupam o primeiro lugar como a causa de morte no mundo.
O professor Elias Knob El, do Hospital Albert Einstein, lançou um livro, com vários colaboradores, tentando explicar a influência das emoções sobre o coração.
“Coração... É emoção”

Gabriel Novis Neves
19-11-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:00

 

Tenho um amigo jornalista do qual sou grande admirador. 
Certa ocasião, em conversa informal, revelou-me que só publicava em seu blog notícias que não estão na mídia, pois estas já foram lidas e relidas, vistas e ouvidas à exaustão.  
Preenchia o seu espaço com notícias culturais e informações úteis, ou então, com artigos e crônicas não pasteurizadas. 
Concordei com o competente mestre. Estamos intoxicados de assuntos repetitivos, com anorexia para a leitura dos jornais e noticiário de televisão. 
Com essa turbulência política, até canais pagos trocam suas excelentes programações e dedicam o seu tempo transmitindo as sessões do Congresso Nacional. 
Posteriormente, os seus jornais repetem as notícias fartamente divulgadas durante todo o dia. 
Ficamos sem alternativa para usufruir de bons programas de lazer e aprimoramento cultural. 
Dezembro deveria ser um mês de festas e confraternizações. 
Foi transformado em um terrorismo de más notícias políticas, econômicas, sociais, em um planeta de intolerância de todas as ordens.  
Infelizmente, são essas notícias que são consumidas pela maioria da nossa população. 
Até os chineses querem saber o que acontece na terra de Pedro Álvares Cabral! 
Enquanto isso, países detentores de moeda forte, como o dólar e o euro, estão comprando tudo que é bom por aqui a preço de banana. 
Estamos pagando um preço altíssimo por esse modelo político que democraticamente escolhemos, e que agora se fala em destituí-lo constitucionalmente por intermédio de um dispositivo legal que é o impeachment. 
Espera-se um grande debate jurídico, já que a decisão é essencialmente política e não encontra solução por si mesma. 
Que o sábio que nasceu na manjedoura ilumine os nossos caminhos, tão obscuros nesse momento. 
Queremos escrever sobre assuntos que não são notícias sensacionalistas, impossível neste momento de turbulência política. 
Que a lucidez prevaleça entre os responsáveis por esta nação!

Gabriel Novis Neves
11-12-2015