Os grandes circos itinerantes, que se apresentavam sob uma grande tenda ou lona, com seus palhaços, domadores de animais, shows musicais, malabaristas, equilibristas, acrobatas, mágicos e trapezistas, eram a alegria da garotada quando faziam o desfile pela cidade em que iriam se apresentar!
Eu e toda a minha geração éramos fascinados por essa trupe descompromissada com a vida, cujo único objetivo era proporcionar diversão e entretenimento aos espectadores.
Logo se tornavam objetos de desejo, não só da meninada, mas, de todos os adultos cuja criança interna persistia em sobreviver.
Até hoje guardo lembranças muito ricas desses momentos de puro encantamento.
O mundo mudou e, com ele, os fabricantes de alegria, desempregados, foram se perdendo em outras atividades.
A alegria ingênua e pura da arte circense foi substituída pela tecnologia, com seus jogos eletrônicos, com seus filmes com efeitos especiais e, finalmente, com a descoberta do mundo digital e todas as suas tentações - enlouquecedoras até para os de mais tenra idade.
Os circos agora parecem existir apenas nas casas oficiais do governo, onde outrora eram votados projetos e leis importantes sempre tentando beneficiar os cidadãos do país.
As dependências palacianas também passaram a contribuir com seus personagens travestidos de cômicos, embora no pior sentido.
Sessões antes austeras e solenes dos poderes constituídos transformaram-se em palco de desordeiros, com troca de palavras de baixo calão sem a mais remota noção de decoro.
Como bem disse um de nossos ex-presidentes, lá estão cerca de trezentos picaretas, dos quais, cento e cinquenta sofrendo investigação judicial, num espetáculo de verdadeira luta livre generalizada.
Os políticos já investigados continuam em pleno exercício de suas funções e investigam os novos indiciados. Isso ocorre sucessivamente, num verdadeiro palco de horrores que consegue até impedir a nossa humilde participação, tamanha a esbórnia que se estabelece.
A arena fica animada e a plateia, tal como nos antigos circos romanos, é levada à vergonha e ao delírio.
Algumas vezes alguém da plateia colabora com o espetáculo e atira notas falsas de dólar num dos picaretas protagonista da comédia.
Fica estabelecida a farra e o povo parece se divertir com essas cenas de mau gosto, exaustivamente mostradas em todas as mídias.
Aliás, com uma simbologia muito explícita, um de nossos palhaços mais conhecidos teve, numa de nossas eleições recentes, uma das votações mais expressivas do país.
Simbologia ou não, é assunto para pesquisa.
Quantos anos mais serão necessários para que espetáculos dessa grandeza não mais ocorram em nossa recém-inaugurada democracia?
Nossas crianças, diante da televisão, precisam distinguir o que é comicidade do que significa responsabilidade e civismo por parte de pessoas cujos mandatos por nós delegados não estão cumprindo as atividades para as quais foram eleitas.
Que voltem rápidos os circos de lona, seus palhaços e toda a sua trupe, estes sim, nos faziam muito bem.
Gabriel Novis Neves
16-11-2015