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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Há algum tempo, passamos a saber da existência de patriotas que, desprovidos de bens materiais, dentre eles a terra, passaram a se organizar sob a bandeira vermelha dos “Sem-Terra”. Depois, surgiram novos movimentos que aglutinam a sina de outros “sem eira nem beira”.
Mais recentemente, estamos convivendo com mais um grupo de brasileiros que, embora vestidos de verde, amarelo, azul e branco, vivem alaranjadamente desprovidos d’algo. Todavia, como a carência desses não é a de bens materiais, mas imateriais, passo a denominá-los como os “Sem-Compostura”.
Antes de outras considerações, lembro que, para o Dicionário Aulete, “compostura” refere-se ao “comportamento comedido, educado, adequado a uma situação”.
Exposto o lembrete, começo a fazer a identificação dos seres que adoram se apresentar como criaturas desprovidas de compostura, ou seja, do comportamento social comedido, da educação, por mais elementar que ela seja, e da adequação social, seja o tipo de situação que for.
Diante do parágrafo acima, equivoca-se quem imaginar que em minha lista dos “Sem-Compostura” esteja inserido alguém que não tenha concluído etapa(s) do ensino formal. Nunca foi tão nítido que a boa educação, o comportamento comedido e a adequação social não devem nada à alta escolarização de quem quer que seja.
Assim, sem mais delongas, quando penso nos “Sem-Compostura”, penso em componentes do estafe político brasileiro deste perigoso momento; penso, principalmente, na maioria dos que compõem o atual governo, incluindo a parte masculina adulta da família presidencial.
A falta de compostura desse grupo chega a ser inacreditável. Todas as suas grosserias exibidas sem pudor – via de regras, pelas redes sociais – têm a mesma base: o estranhamento transformado em ódio àquilo/àqueles que não lhes são espelhos, lembrando versos de “Sampa” de Caetano. Nesse bojo, incluem-se quaisquer lutas por manutenção de direitos.
Sempre sustentada pela retórica do ódio, a família presidencial, em particular, se alimenta, digere e expele esse sentimento a todo instante. A cada exposição de novo ódio, nova descompostura, novo ataque, geralmente gratuito, ao que se lhe apresenta adverso.
Mas a família presidencial não é ilha nessas manifestações. A maioria dos que integram o atual governo tem o mesmo perfil de um “Sem-Compostura”. Deles, destaco o ministro da Educação (!?), que tem desrespeitado até a seriíssima arte da palhaçaria. A mim, em particular, esse desrespeito é inquietante; minha bisavó, orgulhosamente, foi atriz circense, lócus acolhedor também do genuíno e indispensável palhaço.
Mas por que o ministro desrespeita a palhaçaria?
Porque ele parece viver se assemelhando a youtubers da internet. O ministro, toda vez que exibe uma de suas gracinhas, invariavelmente sem graça alguma, perde a compostura.
Assim, depois de sucessivas descomposturas, como dançar com uma sombrinha em vídeo caseiro, a última de suas “artes” foi quando anunciou que o MEC havia feito retornar os recursos anteriormente contingenciados das universidades federais.
Após o referido anúncio, como se estivesse dando de ombro aos que ele considera como inimigos, do bolso de seu paletó, não sem exalar ódio, o ministro tira uns óculos teens e os mete na cara; depois, atira o microfone sobre a mesa e diz algo inaudível, pelo menos para meus ouvidos; e sai de cena!
Pergunto:
- depois da crueldade orçamentária deliberada contra as federais, precisava dessa esdrúxula mise en scène?
- O MEC precisa de uma criatura tão sem compostura?