****
Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
****
Roberto de Barros Freire*
Cada vez mais o presidente tem sido tratado de forma indecorosa, desrespeitosa, sendo ofendido e destratado, até mesmo por aliados, ou ex-aliados, o que mais cativa. E o motivo tem sido um só, a forma indecorosa, desrespeitosa e ofensiva com que trata todos os seus desafetos, e até mesmo antigos aliados; recebe de volta o que destinou aos outros, a todos nós, já que ouvimos e assistimos suas barbaridades. Por um princípio de reciprocidade, quem destrata, destrato recebe; quem ofende, ofendido será; quem xinga, xingado é. E mais, ao utilizar linguagem chula, permite a todos o mesmo linguajar; ao não dar majestade ao ofício que exerce, tira a majestade do cargo e da pessoa.
Falando a um grupo de garimpeiros na entrada do Palácio do Planalto, Bolsonaro disse que "o interesse na Amazônia não é no índio nem na porra da árvore, é no minério". Isso lá são palavras de um presidente? Não há crianças assistindo o jornal televisivo? Além de uma suposição tola, que nem deveria ser expressa, não deveria ser expressa com a porra, com certeza, não por um presidente.
Um cidadão perguntou-lhe onde estava seu amigo Fabrício Queiroz, o presidente respondeu: "Tá com tua mãe".... É a velha história: não se deve botar mãe no meio. Qualquer pessoa minimamente educada sabe disso. Quem fala da mãe dos outros terá certamente sua mãe falada.
Delegado Waldir, antigo amigo e aliado: “Vou implodir o presidente. [...] Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra. [...] Eu andei no sol 246 cidades, no sol gritando o nome desse vagabundo". (Dias depois, repetiu: "Ele me traiu. Então, é vagabundo".).
O deputado Felipe Francischini (PSL-PR) acrescentou referindo-se ao presidente: "Ele começou a fazer a putaria toda falando que todo mundo é corrupto. Daí ele agora quer tomar a liderança do partido que ele só fala mal?"
As grosserias do nosso Presidente não é problema apenas de caráter, mas de um tipo de criação que é padrão para a maioria dos lares. Boas maneiras é apenas um meio de demonstrar às outras pessoas que temos respeito por eles, mas disso Bolsonaro nunca teve contato; aliás, alimenta a grosseria como se fosse uma virtude.
Há na personalidade dessa obtusa figura a marca indelével da maldade; se não ofende, mente. Afetado de um ressentimento militante, é repugnante a vileza com que persegue seu intento de destruir. Sem dúvida, o problema de fundo é o desprezo pela razão, no mero sentido de realismo político ou mesmo de pragmatismo vulgar, desprezo disparatado que pode tumultuar o programa que boa parte da elite econômica acerta diretamente com o Congresso. Cria um movimento social amplo de militância contra o Iluminismo: atrasado, reacionário, antiquado e anacrônico, esse governo é um desastre do ponto de vista de relações públicas.
Os japoneses educados e magnânimos, nada disseram ou comentaram da tremenda deselegância (para usar um termo educado e pouco bolsonarista) do presidente, afirmando que chegou no quarto e comeu um miojo, após participar de um jantar imperial que não se alimentou. Naturalmente, deveria ser grato pelo convite e hospitalidade, ao invés disso o xucro, além de não cultivar os manjares oferecidos por completa falta de educação, quis fazer populismo barato, pois que todos sabemos que desfruta das mordomias excessivas do palácio de planalto, e que manda buscar manjares que esconde de todos.
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.