Segunda, 04 Janeiro 2016 12:03

 

Quando penso em novos cursos de medicina fico preocupado com a qualidade e com o número excessivo de autorizações concedidas pelo governo. 
Em apenas cinco anos - de 2011 a 2015 - foram liberados para funcionar 79 novos cursos, segundo o Conselho Federal de Medicina. 
Evidentemente não houve o mínimo cuidado das autoridades responsáveis com a qualidade desses novos cursos, pois um bom médico, não necessariamente, será um aceitável professor de medicina. 
Só para se ter uma ideia dessa minha preocupação com a formação dos nossos futuros médicos, de 1808, quando foi criado o primeiro curso de medicina no Brasil com a chegada da Família Real, até 1994, foram abertos 82 estabelecimentos desse tipo. 
Em 1960, quando terminei o meu curso de graduação em Medicina no Rio de Janeiro, na hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), antiga Universidade do Brasil (UB), existiam em nosso país apenas 23 escolas médicas! 
Tínhamos alunos de todo o Brasil e países vizinhos, além de excelentes professores com prestígio internacional. 
Naquela época o curso de graduação era o ponto final para a formação do médico que nossa nação precisava. 
O aluno deixava a faculdade com o seu diploma reconhecido pelo antigo Conselho Federal de Educação e com o título de médico, e não, de especialista. 
Habilitado em Clínica Médica - Cirurgia, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia - apresentava condições para exercer a medicina no interior do Brasil com eficiência e humanismo, além de ser capacitado para implantar serviços como de Ortopedia e Traumatologia, Neurocirurgia, Cirurgia Torácica, Oftalmologia, Otorrino, Emergência e Urgência, todos com amplo conhecimento de clínica médica e cirúrgica. 
Hoje, o aluno que conclui a graduação, necessita de Residência Médica, Especialização, Mestrado e Doutorado para conseguir entrar e permanecer no mercado de trabalho. 
As nossas escolas médicas abdicaram da função de formar o médico de visão holística e optaram pelo especialista. 
O paciente perdeu o seu médico de referência e tem dezenas de profissionais que o atendem sabendo muito de pouco. 
É fácil constatar o que afirmo. Basta perguntar a um cliente quem é o seu médico.  
Por opção a esse tipo de política educacional temos nichos de medicina de excelência para os ricos, e para os pobres importamos “médicos” de países pobres. 
O Brasil precisa de médicos hipocratianos - do corpo e das emoções - para povoar os mais de cinco mil e quinhentos municípios e restituir a dignidade daqueles que atendemos fragilizados. 
Vamos criar a carreira de médico de atenção primária de saúde e sua prevenção? 
As faculdades de medicina terão que se adequar, e o Brasil se humanizar no atendimento aos enfermos pobres, maioria entre nós. 

Gabriel Novis Neves
04-11-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:02

 

Acredito que a única justificativa para aqueles que não são viciados em jogos de loteria fazer uma “fezinha” todas as quartas e sábados, seja a de acreditar no acaso.
Apostar na Mega-Sena, onde a possibilidade de acertar é de um para cinquenta milhões, significa ser adepto do imenso grupo de pessoas que tem a sorte como um dos seus mandamentos.
Especialmente um sorteio que há anos vem criando suspeitas no Congresso Nacional sobre a sua lisura, sendo apresentado dado substancial pelo Senador Álvaro Dias do Paraná, que solicitou a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Até hoje reinam grandes suspeitas com relação ao peso das “bolinhas da sorte” para resultados programados.
Não sei jogar cartas nem jogos de cassino, mas, como ideologicamente acredito na sorte, fiquei condicionado a fazer dois jogos por semana na Loteria da Caixa Econômica Federal, o que significa uma despesa extra de catorze reais.
Interessante que fazemos o jogo sabendo de todas as dificuldades e que a possibilidade de acerto é apenas um sonho. Satisfeitos ficamos quando sabemos que ninguém acertou.
O que me chama a atenção ultimamente é o número de prêmios acumulados. 
Quando esses jogos foram iniciados os vencedores eram mais frequentes. Será que existe também alguma explicação para este fenômeno?
Dezembro foi um mês de acúmulos de não acertadores, fechando com o superprêmio da Mega-Sena da Virada.
Enfim, ludibriados ou não, vamos mantendo a esperança em alguma coisa que possa nos devolver a perspectiva de algum tipo de futuro, já que aquele que nos é apresentado pela nossa classe dirigente é dos mais sombrios.
Nada mais promissor que cultuar uma longínqua esperança de ganhar um superprêmio do Papai Noel!

Gabriel Novis Neves
21-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:00

 

Desde a mais remota antiguidade o coração é tido por muitos como a casa da alma, da razão, do pensamento e da emoção.
Até hoje, mesmo com o avanço da medicina, esse conceito permanece.
Sabemos que é meramente simbólico, sem nenhum fundamento científico, ainda mais sendo o coração o órgão mais investigado tecnologicamente.
Com as pesquisas recentes, ficou claro que o cérebro, este sim, passou a ser o grande receptáculo de todas as emoções, sendo o coração apenas um dos órgãos mais afetados durante esse processo.
As demonstrações de afeto, carinho, amor, são sempre direcionadas para a bomba muscular responsável pela distribuição de sangue para nutrir as células do corpo humano.
Em jogos de futebol é comum observarmos jogadores apontando as mãos para o coração, transmitindo com esse gesto toda a emoção sentida no gol feito.
Erroneamente, na crença popular, ficará ainda por muitos anos o coração como um centro maravilhoso de emoções.
Sabemos que todos esses fenômenos atribuídos ao coração são fabricados por esse órgão misterioso e tão pouco conhecidos dos cientistas, que é o cérebro.
As nossas emoções são resultados de bilhões de conexões de neurônios que, com perfeição, atingem todos os órgãos do nosso organismo, principalmente o coração.
Devido ao estímulo recebido do sistema nervoso autônomo, o coração pode ser afetado pelas emoções, não só nos momentos de felicidade ou atos de amor, porém, também, em sensações de tristezas ou perigo.
Mesmo com o cérebro indecifrável e responsável por tudo que nos acomete, é o coração que continua como o centro das atenções das pessoas e autoridades de saúde de todo o mundo.
Basta verificar que todos nós morremos de parada cardíaca, que significa a interrupção do funcionamento da máquina que irriga o nosso organismo de oxigênio.
O motivo é a falência múltipla dos órgãos, todos comandados pelo cérebro, que morre antes da ausência dos batimentos cardíacos, muitas vezes mantidos por medicamentos.
A verdade é que a emoção interfere no coração, e as doenças cardíacas ocupam o primeiro lugar como a causa de morte no mundo.
O professor Elias Knob El, do Hospital Albert Einstein, lançou um livro, com vários colaboradores, tentando explicar a influência das emoções sobre o coração.
“Coração... É emoção”

Gabriel Novis Neves
19-11-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:00

 

Tenho um amigo jornalista do qual sou grande admirador. 
Certa ocasião, em conversa informal, revelou-me que só publicava em seu blog notícias que não estão na mídia, pois estas já foram lidas e relidas, vistas e ouvidas à exaustão.  
Preenchia o seu espaço com notícias culturais e informações úteis, ou então, com artigos e crônicas não pasteurizadas. 
Concordei com o competente mestre. Estamos intoxicados de assuntos repetitivos, com anorexia para a leitura dos jornais e noticiário de televisão. 
Com essa turbulência política, até canais pagos trocam suas excelentes programações e dedicam o seu tempo transmitindo as sessões do Congresso Nacional. 
Posteriormente, os seus jornais repetem as notícias fartamente divulgadas durante todo o dia. 
Ficamos sem alternativa para usufruir de bons programas de lazer e aprimoramento cultural. 
Dezembro deveria ser um mês de festas e confraternizações. 
Foi transformado em um terrorismo de más notícias políticas, econômicas, sociais, em um planeta de intolerância de todas as ordens.  
Infelizmente, são essas notícias que são consumidas pela maioria da nossa população. 
Até os chineses querem saber o que acontece na terra de Pedro Álvares Cabral! 
Enquanto isso, países detentores de moeda forte, como o dólar e o euro, estão comprando tudo que é bom por aqui a preço de banana. 
Estamos pagando um preço altíssimo por esse modelo político que democraticamente escolhemos, e que agora se fala em destituí-lo constitucionalmente por intermédio de um dispositivo legal que é o impeachment. 
Espera-se um grande debate jurídico, já que a decisão é essencialmente política e não encontra solução por si mesma. 
Que o sábio que nasceu na manjedoura ilumine os nossos caminhos, tão obscuros nesse momento. 
Queremos escrever sobre assuntos que não são notícias sensacionalistas, impossível neste momento de turbulência política. 
Que a lucidez prevaleça entre os responsáveis por esta nação!

Gabriel Novis Neves
11-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:58

 

A mímica do Ministro da Fazenda brasileiro, após 347 dias em que tentou implantar um ajuste fiscal para a economia brasileira, era de quem estava levitando.  
Sim, Joaquim Levy deixou, finalmente, o governo petista sem conseguir os seus objetivos, porém, cônscio de tudo ter tentado. 
Se continuasse no governo teria sucumbido às exigências de uma política econômica expansionista com a qual não concordava. 
O remédio que propunha era amargo para uma economia cambaleante. Não teve êxito nas suas propostas e, elegantemente, saiu de cena com a mesma classe com que entrou. 
O novo antigo Ministro da Fazenda empossado, já no governo na área do planejamento, adepto da chamada política monetarista, desenvolvimentista, é totalmente afinado com os desejos da Presidência da República que, no fundo, insiste em não delegar maiores poderes aos seus subordinados, principalmente na área econômica. 
Segundo os mais influentes economistas internacionais, voltamos a pisar num terreno escorregadio, com poucas ou nulas possibilidades de êxito, ainda que num curto período inicial de tempo haja uma perspectiva de algum alívio para o mercado. 
Concluem ainda que a médio e longo prazo correremos o risco de entrar em absoluto caos econômico, tal como os ocorridos na Grécia e na Argentina que adotaram políticas semelhantes. 
Resta-nos contar com o espírito patriótico de toda essa nossa classe dirigente e torcer para que esse país, o mais surreal do planeta, consiga sair desse enorme imbróglio em que se meteu no mais rápido espaço de tempo possível. 
Sua população, ordeira, apática e submissa, muito em função de seu baixo nível educacional, não merece passar outros Natais como esse, desesperançosa de dias melhores.

Gabriel Novis Neves 
21-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:57

 

Fiquei fascinado com a entrevista de um dos mais consagrados intelectuais do Ocidente, prestes a completar 90 anos, o Dr. Zygmunt Bauman que, com a sua inteligência e brilhantismo, a todos encantou em sua recente passagem pelo Brasil. 
Nascido na Polônia foi vítima dos efeitos do estalinismo e do antissemitismo.  Morou na União Soviética e vivenciou os horrores da Segunda Guerra Mundial até que, com seus mais de cinquenta livros publicados, ser considerado uma das mentes mais brilhantes da nossa época. 
Seu tema mais discutido no momento é “A Fluidez do Mundo Líquido”. 
Ele nomeia de interregno “essa fase difícil pela qual passa a humanidade, em que os valores arcaicos do século passado foram todos superados sem que novas práticas de condutas político partidárias, econômicas, educacionais, sociais e até mesmo interpessoais tenham se estabelecido na sociedade”. 
Resumindo, uma nova ordem mundial, ainda engatinhando, deverá substituir outra, antiga, já obsoleta. Isso é o que tanto diferencia o século XX do atual século XXI. 
O Dr. Bauman, com a sua lucidez e discernimento, é um exemplo de que a sociedade nem sempre condena os mais idosos ao abandono e à indiferença. 
Trata-se de uma velhice premiada!  Aconselho a todas as mentes mais aguçadas a se interessarem pela bela entrevista do Dr. Bauman feita pelo jornalista Marcelo Lins através do programa Milênio, do canal Globo News.

Gabriel Novis Neves
10-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:56

 

JUACY DA SILVA*

Para muita  gente o NATAL  e as festividades ligadas ao mesmo representam comida farta, iguarias finas e caras, de preferência produtos importados, troca de  presentes,  muita bebedeira e tudo que esteja relacionado com festas pagãs muito mais do que o real significado transcendental  e espiritual de um acontecimento que dividiu a história humana, pelo menos no ocidente, de maioria cristã.

O calendário ocidental é dividido entre antes e depois de Cristo, AC e DC, na bíblia entre o Antigo e o Novo Testamento. Assim o NATAL, na verdade é a celebração do nascimento  de Jesus Cristo, Deus que se fez humano, como um ato de Amor para salvar a humanidade de seus pecados e proporcionar uma nova vida, para muitos depois da morte  para outros inclusive durante sua existência terrena.

Os cristãos, para quem o Natal  tem este significado, representam o maior grupo religioso do planeta, com mais de 2,3  bilhões de pessoas, espalhados em mais de 180 países, divididos entre Católicos  e protestantes de vários matizes, desde os pentecostais, neopentecostais, conservadores e liberais, mas todos com uma mesma base fundamental da fé na trindade: pai, filho e espírito santo.

O importante durante as comemorações natalinas é buscar o entendimento ou significado do nascimento, vida, ensinamentos, morte e ressurreição de Cristo, para que, além da dimensão espiritual, possamos vivenciar suas mensagens de amor, de paz, de justiça, de fraternidade e de esperança.

Comemorar o natal fazendo-se de cego, surdo e mudo ante um mundo materialista, consumista e cada vez mais comercializado; tapando os olhos para não ver  a pobreza, a miséria, a fome, a violência, as  guerras, o egoísmo, a corrupção, a degradação ambiental é, na verdade, uma forma de alienação e tentativa de manipulação das mentes humanas, pela propaganda desenfreada, principalmente dos grandes veículos de comunicação. Tapar os ouvidos para não  escutar o clamor dos injustiçados e violentados não é uma forma de se comemorar o natal.

Muitas pessoas quando estão fazendo grandes banquetes  e ceias de natal, nem imaginam ou fazem que não sabem que ao redor do mundo, as vezes em nossos próprios países, estados, cidades ou até bairros  existem pessoas que não tem um teto para morar e nem sequer um prato de comida para saciar a fome do dia-a-dia,  que milhares de pessoas  estão, justa ou injustamente,  em prisões físicas, mentais ou emocionais,  dezenas de milhares  estão dominadas pelas drogas, pela prostituição, pelo trabalho escravo, internadas em um leito de hospital ou em uma cama de asilo para idosos. Milhões de imigrantes estão perambulando longe de seus lugares de origem sujeitos a toda sorte de violência e humilhação.

Enfim, não podemos permitir que o verdadeiro significado do NATAL seja desvirtuado pelo marketing que só pensa no lucro ou nos grandes interesses que acabam pegando carona nesta data tão importante não apenas para  os cristãos  mas  para todas as pessoas que sonham com um mundo melhor, mais justo, mais humano e mais solidário.

A figura central do natal é Jesus Cristo e jamais o papai noel, este, o verdadeiro símbolo da comercialização de uma data tão importante e significativa em sua essência. Oxalá possamos comemorar e ao mesmo tempo resgatar o verdadeiro sentido e significado do NATAL.

 

*JUACY DA SILVA,  professor  universitário,  fundador, titular, aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta.  E-mailO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog  www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:55

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

Novamente estamos envoltos ao clima do Natal, a festa cristã que mais vem se paganizando – ou se capitalizando – a cada momento.

Do processo já antigo de paganização/capitalização, Papai Noel talvez seja a maior de suas representações. Verdade seja dita: o intruso ancião – que adora se vestir de vermelho e branco, sempre com o saco cheio de presentes e vindo dos confins da Europa ocidental, onde a neve não para nunca de cair – tem roubado a cena daquele bebê pobre, nascido em algum lugar perdido do Oriente, dentro de uma manjedoura e cercado por bichos campestres.  

Depois de Noel, as luzes que enfeitam as cidades nesta época, quiçá, querendo lembrar o brilho da estrela que teria guiado os magos até o lugar onde Jesus teria nascido, vem na sequência do mesmo processo de paganização/capitalização da festa natalina.

Mas no Brasil, neste ano que literalmente já agoniza, muito mais do que as luzes, em geral, vindas da China, vimos o pisca-pisca sem-fim de giroflex. Aliás, tenho a impressão de ter visto esse pisca-pisca sem-fim todos os dias de 2015. Seria isso alucinação minha?

Para quem não sabe, o “giroflex”, conforme nos ensina o internauta paraense Reinaldo Barros, é o “jogo de lâmpadas que piscam de forma intermitente dentro de proteções em acrílico, de cores que variam entre o vermelho e o azul. Elas ficam na parte superior de viaturas de emergência, como ambulâncias e viaturas de polícia”.

Uma vez identificado um giroflex, talvez minha “alucinação” não seja mais solitária. É bem possível que muitos leitores tenham a mesma sensação, ou seja, a ter visto giroflex girando alucinadamente o tempo todo em 2015.

E das inúmeras giradas que um giroflex dá, as semanas que antecederam a do Natal foram ainda mais abundantes do que outras tantas. Houve luzes vermelhas e azuis girando para alguns dos políticos mais importantes do país. Houve giro na casa oficial de Cunha, o presidente do Congresso Nacional. Giroflex também em frente ao diretório do PMDB em Alagoas, onde Renan – presidente do Senado – reina soberano há tanto tempo. As casas de alguns ex-ministros de Estado não ficaram sem as cores de um giroflex. Isso sem falar de giroflex a grandes empresários, em geral da construção. Que ironia!

Enfim, “nunca como antes na história deste país”, como sentenciara o velho Luís Inácio Lula da Silva, que também já tem um filho (o Lulinha) sendo investigado em operações policiais, o brasileiro pôde ver tanto giroflex na cara de tanta “gente transformada em importante”; algumas, aliás, de uma hora para outra, como se fossem partícipes escolhidos para usufruir das divinas e generosas tetas do Estado.

Por trás de cada piscada de cada giroflex a cada criatura buscada para esclarecimentos, informações, prisões preventivas, coercitivas e outras modalidades que o espaço policial comporta está a subtração de condições básicas de vida de um povo inteiro. Está, portanto, na contramão tanto das intenções de Cristo quanto das do próprio Noel, que busca se mostrar bondoso e igualitário – sem conseguir, é óbvio – na distribuição de seus presentes.

Enfim, neste clima de Natal, é bom saber que a cada girada de um giroflex esteve a prova da subtração dos reais presentes de que um povo precisa, e não só no Natal, mas o tempo todo: educação, cultura/arte de qualidade, saúde digna, moradias confortáveis, transportes públicos respeitosos, alimentação diária adequada e suficiente, salários decentes...

 Diante de tantas subtrações, desejo a todos muita força neste Natal!

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:52

 

Conceito vago, cheio de definições, todos questionáveis e, principalmente, subjetivas.
Até porque, vários são os tipos de amor, e todos muito diferentes de pessoa para pessoa.
Amamos numa dimensão muito própria, raramente compreendida pelo “outro”, que seria a finalidade em si.
A capacidade de doação é específica em cada ser humano e está sujeita a modificações, que dependem da época e dos costumes.
Somos todos imperfeitamente formados por uma mistura de sentimentos, tais como amor, ódio, vingança, raiva, ciúme, vaidade, egoísmo, altruísmo, enfim, a matriz humana não é lá das melhores.
Em alguns de nós predomina os sentimentos positivos, enquanto em outros, dados os seus condicionamentos, os sentimentos negativos.
Excluídos os fatores genéticos, com certeza de real importância, chegamos todos mais ou menos “puros” ao mundo.
As circunstâncias e o meio em que somos criados vão, progressivamente, moldando o nosso caráter e fazendo com que sejamos tão diferentes uns dos outros.
Com relação ao amor como ele se apresenta nos dias atuais, o chamado amor romântico, só passou a existir a partir do século XIX.
Antes disso, as pessoas se uniam através das escolhas familiares, sempre voltadas para possíveis benefícios financeiros.
Não que isso tenha mudado muito, mas já existe uma espécie de escolha do ser amado, ao menos aparentemente.
Começam a ser aceitas escolhas independentemente de raça, religião, cor ou gênero, coisas até então inadmissíveis nos diferentes sistemas sociais.
Quantos sofrimentos a humanidade carregou em função de suas escolhas consideradas inadequadas e, nem por isso, menos intensas?
A história está aí para confirmar os inúmeros casos de pessoas do mais alto nível intelectual vítimas de preconceitos que lesaram irreversivelmente as suas vidas.
Dentre as definições de amor, a que mais consegue me tocar, ainda que sem saber da autoria, é a que diz que: “o amor é o encontro das peles e a troca das fantasias”.
Parece-me perfeita, vendo o lado químico da relação.
Todos os outros tipos de amor são circunstanciais e obedecem a regras rígidas de convivência, com as quais nem sempre concordamos, mas somos obrigados a aceitar pelas normas sociais.
Tenho, por exemplo, amigos que se vangloriam de terem curado suas carências afetivas escolhendo famílias para serem suas - não necessariamente vinculadas a laços sanguíneos.
Fácil ver isso nos inúmeros grupos familiares que, quando reunidos, o que menos conta é o afeto entre eles.
Permanecem juntos, apesar de suas idiossincrasias, apenas para fortalecer aquele clã, num resquício tribal, em que aglomerados são sempre mais fortes que indivíduos isolados.
Depois da revolução industrial, estabeleceram-se leis e princípios para que se mantivesse unido e crescente o patrimônio.
Tomou força as leis de herança, a condenação do adultério, o celibato em algumas religiões, tudo em função de preservar os bens adquiridos por determinado clã durante a vida.
A organização social é basicamente econômica, e não, amorosa, como querem pintar os mais românticos.
Até o século X era permitido o casamento aos padres, quando, a partir de então, a igreja, para proteger o patrimônio por eles deixado, estabeleceu o celibato.
O mesmo com relação ao adultério feminino, demonizado pela possibilidade de transmitir bens de herança a outras proles que não à do clã economicamente organizado.
Tanto que o adultério masculino nunca foi muito levado em conta, a não ser agora, com o aparecimento dos testes de paternidade.
Enfim, tudo que nos gere é a ordem econômica, sendo ela apenas travestida de algum romantismo para que se torne mais fantasiosa.
Quem sabe um dia, talvez em outra galáxia, poderemos nos amar um pouco mais uns aos outros, independentemente das gulas financeiras e da selvageria das competições?
Mais uma utopia... Infelizmente, sem ela, a humanidade não caminha. 

Gabriel Novis Neves
14-10-2015

Terça, 22 Dezembro 2015 13:20

 

É voz geral que o Brasil chegou ao fundo do poço e, encontra-se em dificuldades para de lá sair. 
Alegam os desiludidos que a saída é a porta do aeroporto.
Os otimistas acham que o pior já passou, com a prisão dos que infringiram a ética e moral administrativa.
Na verdade, o Estado foi ocupado por uma quadrilha que está sendo eliminada especialmente pela operação Lava Jato do Juiz Sérgio Moro. Esse fato é um sinal de recomeço para uma democracia republicana. 
Pagamos um preço alto pelo difícil momento em que vivemos, com a Petrobras desvalorizada, a economia destruída, as empresas lesionadas pela corrupção, e a violência e o desemprego aumentando nas cidades.
O partido do governo que pregava a ética, deixa um enorme grupo de decepcionados entre pessoas decentes que confiaram nele e foram ludibriadas.
Apesar de tudo, o Brasil ainda possui material humano que resista a essa catástrofe moral e econômica, em condições de voltar a acreditar em si mesmo e em  suas instituições.
O sistema de corrupção estruturado para a perpetuação do poder está sendo destruído.
Neste momento o Supremo Tribunal Federal (STF) é uma segurança contra a vontade do dinheiro e do poder.
A imprensa é investigativa e livre deixando a sociedade brasileira muito bem informada.
É indiscutível que nosso país possui uma população honesta e trabalhadora, consciente de  que a corrupção que desaparece com  os recursos da saúde e da educação, é que alimenta a violência e o desemprego nas cidades.
Queremos virar esta página da nossa história que tanto nos indigna e revolta.
Um país que apesar dessa história desafiadora tem tudo para sair democraticamente dentro do Estado de direito, para a reconstrução.

Gabriel Novis Neves
08-12-2015