Terça, 21 Novembro 2017 14:59

 

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*

Em edição deste domingo, 12 de novembro de 2017, o Jornal Diário de Cuiabá, no Estado de Mato Grosso, estampou a notícia de que após mais de dez anos, finalmente, por decisão da Juíza Selma Arruda, da Sétima Vara Criminal da Capital do Estado, condenou  o ex-deputado estadual e, posteriormente, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, afastado há alguns anos e aposentado, a 18 anos e 4 meses de prisão, em  regime fechado, mas que o mesmo poderá recorrer da sentença em liberdade.

Este é apenas um de inúmeros casos que demonstram que a morosidade do Sistema judiciário contribui de forma clara para a impunidade, principalmente quando se trata de crimes de colarinho branco ou outros tipos de crime cometidos por pessoas que tem cursos superiores ou pertencem às classes alta ou media alta, diferente de quem pertence à classe trabalhadora ou baixa.

A morosidade e os eternos recursos de nosso sistema judiciário representam uma vergonha e estão na contramão das expectativas da população e da cidadania. Para ser condenado em primeira instância o processo demorou mais de dez anos.

Imagine quantas décadas mais vai demorar para ser julgado nas demais instâncias do poder judiciário, que são: Tribunal de Justiça de MT, depois o STJ Superior Tribunal de Justiça e, finalmente, o STF Supremo Tribunal Federal. Por baixo, o chamado "transitado em julgado", quando não resta nenhum recurso mais, com certeza vai demorar mais uns 50 anos.

Esta realidade de nosso  Sistema judiciário é que acaba ajudando a impunidade, principalmente quando se trata de crimes de colarinho branco, cometidos por gente importante que, em algum momento de suas carreiras criminosas, tem também o manto protetor do famigerado FORO PRIVILEGIADO ou por "prerrogativa de função".

Veja o caso do ex-governador, ex-prefeito e atualmente deputado federal Paulo Maluf, para crimes de colarinho branco cometidos há mais de trinta anos, até hoje ainda não foi pra cadeia, da qual tem se livrado graças a todos esses "expedientes" do Sistema judiciário, UMA VERGONHA.

Conforme relatório recente sobre Sistema penitenciário brasileiro, onde estão trancafiados mais de 650 mil presos, dos quais 40,1% são presos provisórios, ou seja, não foram sequer condenados em primeira instância, os dados indicam que  61,6% desses presos são negros ou pardos, 75% mal chegaram ao nível do ensino fundamental, mais de 50% são analfabetos ou semialfabetizados, e mais de 90% são de origem pobre ou miserável.

Ao longo de anos, um medico Famoso que trabalhava com reprodução humana em SP, foi condenado a quase duzentos anos por ter cometido quase 40 estupros  contra suas pacientes. Depois de condenado, acabou conseguindo um habeas corpus junto ao STF e,  em Liberdade, acabou fugindo para o Paraguai. Posteriormente foi novamente preso.

Por várias decisões judiciais tem alternado tempos na cadeia e tempos em prisão domiciliar, enquanto as vítimas continuam penalizadas física e psicologicamente pelos estupros sofridos, enquanto o criminoso, continua livre  da cadeia.

Resumo da opera, cadeia no Brasil é lugar para onde são enviados apenas pobres, analfabetos, negros e pardos; políticos, governantes, gestores públicos de alto "gabarito", criminosos de colarinho branco,  empresários, enfim, corruptos, quando muito são afastados de suas funções, mas continuam recebendo seus polpudos salários ou recebem, como “ castigo”, aposentadorias de marajás ou prisões  domiciliares em mansões de luxo.

Além disso, cabe destacar que mais de 500 políticos, gestores públicos de alto escalão, incluindo ministros de Estado ou autoridades assemelhadas, estão sendo processados pelo STF  ou STJ, mas tais processos andam a passos de tartaruga e, nesta toada, tudo leva a crer que jamais serão condenados e presos, principalmente enquanto continuarem sendo eleitos, reeleitos ou nomeados para  cargos que gozam de FORO PRIVILEGIADO, na verdade o direito à impunidade.

Será que uma situação e realidade como o que presenciamos  no Brasil é compatível com o tão decantado e endeusado "estado democrático de direito"? Será que é justo e democrático condenar miseráveis  e premiar bandidos de colarinho branco? Será que é verdadeiro o ditame constitucional de que “todos são iguais perante a Lei”?

Tudo isso merece uma profunda reflexão se desejamos construir  um pais justo e desenvolvido, do qual a população possa, realmente, se orgulhar!

*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado, UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blogwww.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

 
 
 
Terça, 21 Novembro 2017 09:28
 
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Publicamos o vídeo abaixo a pedido do professor Roberto Boaventura.

 

Caros Docentes, ontem foi o Dia da Consciência Negra; por isso, tomo a liberdade de compartilhar minha interpretação musical, junto com o ator Maurício Ricardo, da música "Canto das Três Raças", de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte, apresentada durante o show ACORDES, BRASIL!, que realizei recentemente no Teatro da UFMT.
 
Saudações 
 
Roberto Boaventura da Silva Sá 
Terça, 14 Novembro 2017 11:20

 

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Dirceu Grasel

Professor Titular da Faculdade de Economia/UFMT

 

 

Estudos mostram reiteradamente que a carga tributária do Brasil é muito alta ou a maior do mundo, detalhando percentuais de incidência de alíquotas de impostos sobre alguns produtos que chegam próximos de 50% do preço de mercado, para exemplificar e sustentar o argumento.

A carga tributária se refere ao percentual do PIB que é arrecadado pelo setor público na forma de impostos. No Brasil, ela gira em torno de 32 a 35% do PIB, o que é equivalente aos países europeus desenvolvidos. Deste total, no Brasil, aproximadamente, 69% é arrecadado pela União, 25% pelos Estados e 6% pelos municípios.

Como não é possível saber com precisão qual é o nível de sonegação no Brasil, é comum que os estudos realizados desconsiderem esta informação e se limitem a trabalhar com dados oficiais, mas fazem comparações com outros países, onde a sonegação não existe ou é bem menor e chegam à conclusão de que a carga tributária no Brasil é elevada e em alguns casos a maior do mundo. Esta é uma comparação inconsistente, pois desconsidera especificidades da economia brasileira e pouco contribui para o debate, especialmente ao se propor a opinar sobre a necessária reforma fiscal e tributária no Brasil. Um estudo mais realista deveria partir dos dados oficiais e trabalhar com cenários de sonegação.

Neste sentido, para efeitos de ilustração, não é exagero considerar que aproximadamente 20% do PIB do Brasil é informal, portanto, não tributado, o que em termos de comparação com países europeus, onde a economia informal não existe ou é muito inferior; levaria a carga tributária brasileira para algo em torno de 25 a 26% do PIB, bem próximo das cargas tributárias mais baixas do mundo. Sendo assim, a carga tributária real do Brasil não é alta e muito menos a maior do mundo, na verdade uma das mais baixas.

Merece destaque que, diferentemente da maioria dos países europeus, no Brasil não existem serviços públicos como contrapartida ao pagamento dos impostos e quando existem são de qualidade questionável, o que de fato torna qualquer imposto elevado.

De fato nem poderia ser diferente, é difícil fornecer serviços públicos com qualidade comparada a dos países europeus, com aproximadamente 40% do orçamento público federal sendo destinado para o pagamento de juros. No país dos bancos, do incentivo a especulação e desestímulo a produção, todos os que trabalham e quase todos os que produzem, sustentam esta realidade. Ou seja, a economia toda trabalha para engordar os rentistas e os bancos.

Logo, diante disso, já podemos considerar algumas questões: 1) não é a carga tributária no Brasil que é alta, mas os impostos para alguns; 2) estudos que desconsideram especificidades da Economia Brasileira escondem questões importantes que não interessa à alguns que sejam respondidas, por exemplo, quem realmente paga imposto no Brasil? Questão que passo a me dedicar a partir de agora.

A resposta a esta pergunta é complexa, mas é possível afirmar, que: 1) a maioria paga muito, 2) outros pagam pouco e 3) outros não pagam nada ou quase nada. Isto porque a maior incidência dos impostos no Brasil é sobre o consumo, aproximadamente 50% de toda a arrecadação; o que é ruim, pois torna os preços elevados e prejudica a competitividade dos produtos que são produzidos no Brasil, já que nem todos os impostos podem ser retirados na hora de exportação para atender ao princípio de não exportação de tributos, principalmente os que incidem em cascata.

Uma estrutura fiscal e tributária eficiente e razoável deveria fazer incidir os impostos mais fortemente sobre a renda de forma progressiva, pagando mais, quem ganha mais e não sobre a produção e sobre o consumo.

A questão que se coloca então, como o imposto incide mais fortemente sobre o consumo, quem de fato paga imposto no Brasil? 1) evidentemente os que consomem, porque o imposto incide predominantemente sobre o consumo, o que é ruim e injusto, pois quem ganha um salário mínimo paga o mesmo que aquele que ganha um  milhão por mês ao adquirir os mesmos produtos que ambos consomem. 2) os que produzem e não conseguem repassar isso para os preços, o que justifica uma parte de informalidade da economia brasileira.

Portanto, temos o seguinte quadro: 1) os trabalhadores e os pequenos empresários, que são tomadores de preço e não podem repassar custos maiores aos preços, por causa da elevada competição, pagam muito. Aqui é preciso destacar que o simples alivia a carga dos impostos sobre a empresa em si, mas como a grande maioria dos pequenos empresários empreende para sobreviver, a lógica destes empresários passa a ser a mesma logica dos trabalhadores.

2) Os rentistas e os grandes empresários que não sonegam, pagam pouco. Os rentistas, porque os tributos que incidem sobre seus rendimentos são baixos. Os grandes empresários, porque eles não são tomadores de preço, ou seja, eles (por serem oligopólios[1]) têm o poder de repassar todos os custos para os preços. Nestas empresas, qualquer aumento de custos, inclusive impostos, resulta em aumento dos preços e repasse do ônus ao consumidor.

3) Os grandes empresários sonegadores não pagam nada ou quase nada, pois além de repassar o imposto aos preços, cobram impostos também sobre a parte informal do seus negócios, já que não existem diferenças nos preços das vendas formais e informais (com nota ou sem nota fiscal). Ou seja, cobra o imposto sobre a parte informal do consumidor e não repassa ao governo por ser venda informal (sem nota fiscal), tendo assim na prática um lucro extraordinário, que se refere ao lucro normal, mais imposto recolhido do consumidor e não repassado ao setor público.

É fato que para estes a sonegação está se tornando sempre mais difícil, em função de informatização dos sistemas de fiscalização. Além disso, eles também são grandes devedores de impostos pelo simples motivo de não pagar o imposto formalmente devido, com a alegação de que a carga tributária é impraticável, mesmo que na prática não paguem imposto, apenas repassem. Algumas destas empresas também não pagam o imposto formalmente devido para capitalizar a empresa e assim deixam a dívida do imposto acumular para ver no que dá; e no futuro negociam, porque no Brasil da impunidade se convencionou que é melhor receber uma parte do imposto que é devido do que falir com a empresa. Além deste, existe ainda o discurso adicional da perda de emprego e renda futura.

Sendo assim, a carga tributária no Brasil não é alta e muito menos a maior do mundo. Os impostos para os trabalhadores e pequenos empresários (apesar do simples) são elevados, porque alguns não pagam e outros pagam pouco imposto.



[1] Estrutura de mercado em que poucas grandes empresas dominam o mercado.

Segunda, 13 Novembro 2017 08:24
 
 
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JUACY DA SILVA*

O Brasil passa por uma grave crise política, social, econômica, institucional e moral, muito maior do que aconteceu no início dos anos trinta do século passado e também do que ocorreu na última crise global que afetou profundamente as duas grandes matrizes capitalistas , EUA e Europa e seus satélites ao redor do mundo, inclusive nosso país.

A recuperação econômica tanto na Europa quanto nos EUA tem sido muito tênue e vagarosa, com índices modestos do crescimento do PIB, enorme concentração de renda, riqueza e ainda sujeita a muitas tempestades em termos de relações internacionais.

O Brasil continua extremamente  dependente do mercado externo para vender seus produtos agropecuários e extrativos, com baixo valor agregado  e em troca importando bens acabados, de alto valor agregado e de alta tecnologia. Praticamente continuamos com o mesmo modelo que “desenvolvemos”  desde os tempos coloniais, passando pelo império, as diversas fases da vida republicana até chegar aos dias atuais. Nossa indústria esta perdendo o bonde da história, diferente do que aconteceu e continua acontecendo na Coréia do Sul, em Taiwan, na Índia, na China e nos tigres asiáticos, somos apenas um grande Mercado consumidor de tecnologia e nosso desenvolvimento científico e tecnológico continua na rabeira do que acontece no resto do mundo desenvolvido.

Temer e seu partido, o PMDB foram os grandes aliados do projeto de poder do PT, que teve em Lula e sua herdeira, Dilma, seus expoentes máximos, não conseguiram “desenhar”  ou modelar, como podemos dizer, um projeto arrojado de desenvolvimento, com sustentabilidade e justiça social, com visão estratégica de longo prazo e que possibilitasse inserir o Brasil como um motor mais dinâmico no cenário internacional. Somos e continuaremos por muitas décadas sendo um país periférico, sem grande poder de decisão no cenário internacional. Apenas estamos trocando  de  “senhores”, durante décadas e séculos até a segunda Guerra mundial o Brasil orbitou a Europa, após o término da Guerra trocamos a matriz europeia pela dependência dos EUA e agora, tanto o governo quanto alguns de seus arautos, estão maravilhados com o modelo chinês e estamos passando a dependentes do que Pequim e o PCC, os novos imperialistas do século 21,recomendam e decidem.

O Governo Temer, mesmo com a rejeição de mais de 90% da opinião pública e sob fogo intenso por suas vinculações com a corrupção, com o fisiologismo, o compadresco e a incompetência, secundado por uma base parlamentar também corrupta e extremamente fisiológica, tenta passar para a população a imagem de um governo austero, competente e que pode dar um novo rumo ao caos em que se encontra o país, esquecendo-se de que só escapou de ser investigado por duas vezes pelo STF, por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro , organização criminosa e obstrução de justiça por que usou de todos os poderes e meios para montar um grande balcão de negócios  com o objetivo de conseguir o apoio necessário para escapar de tais investigações. Em decorrência a cada dia esta mais fraco e prisioneiro de apetites nada republicanos e muito menos éticos.

Neste clima de fim de festa, pois estamos a menos de um ano para as eleições gerais, quando o povo deverá eleger um novo presidente da República, dois terços do senado  e renovar a Câmara de Deputados, além de também escolher governadores e deputados estaduais, ou seja, renovar toda a cúpula política e governamental dos Estados e da União: poderes executivo e legislativo. Portanto, tanto os parlamentares federais: senadores e deputados federais cujos mandatos estão se encerrando não tem moral e muito menos legitimidade para tentarem mudar a Constituição e realizarem reformas que deveriam ser legitimamente debatidas com a população, no bojo das eleições, dando aos novos governantes a legitimidade e representatividade necessárias  para a  realização dessas reformas, no bojo de um projeto nacional, de longo prazo, com dimensão estratégica. Um Governo com mais de dez ministros investigados por corrupção, não tem moral e nem legitimidade para tentar “salvar a pátria”, como pretendem os áulicos do poder em Brasília.

Existem 16 aspectos que devem ser considerados seriamente quanto se trata de propor um projeto estratégico de desenvolvimento nacional. Esses aspectos, que discutirei oportunamente, são os grandes desafios nacionais que o povo quer e tem o  direito de discutir, quer debater, afinal, em  uma democracia quem decide deve ser o povo e não seus “representantes”, muitos dos quais já perderam a legitimidade há muito tempo, se é que a tiveram em algum momento, pois bem sabemos que muitos mandatos e cargos foram conquistados graças a influência, dinheiro da corrupção e Caixa dois que irrigaram  as últimas campanhas eleitorais e sacramentaram acordos imorais e criminosos.

Muitas desses políticos que, atualmente, estão se arvorando em representantes do povo e defensores de um governo fraco, combalido e corrupto, com certeza vão receber cartão vermelho em outubro de 2018, perderão o manto protetor do foro privilegiado e irão se encontrar com os Juízes Sérgio Moro, Bretas ou outros juízes e juízas, procuradores e procuradoras, promotores e promotoras, após serem  investigados pela Polícia Federal e outros organismos de repressão aos crimes de colarinho branco, que não titubearão em coloca-los na cadeia, como já aconteceu com vários políticos, ex-ministros  e empresários que se locupletaram durante a era Lula, Dilma e Temer.

Este assunto continua nos próximos artigos.

*JUACY DA SILVA,  professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Twitter@profjuacy Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com

Quarta, 08 Novembro 2017 15:59

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Mesmo não sendo profissional da saúde, a saúde do trabalhador sempre me importou.

Desde cedo, me inquietavam as informações sobre as condições de trabalho dos operários que viveram a alteração da manufatura para a produção em série, aliás, um dos registros da contemporaneidade. 

Por aqui, perturbavam-me, e ainda me perturbam, as crueldades ocorridas durante a escravidão. Aquela tragédia – tão bem transposta nos poemas de Castro Alves, p. ex. – sempre me foi repugnante. Quantos transtornos – físicos e emocionais – foram vividos por tantos seres humanos!

Por falar em transtorno, hoje, trato disso em um espaço de trabalho que poucos supõem ocorrer: nas universidades federais, sobretudo nas pós-graduações.

Claro que ao falar de pós nas federais, estou falando de algo ainda sério: mestrado e doutorado. Nem penso nessas especializações ofertadas, via de regra, on line, por muitas privadas, que só servem para certificar cartorialmente quem busca acumular papéis, não conhecimentos.

Isso posto, vou ao cerne do artigo: comentar a matéria “Suicídio levanta questões sobre saúde mental na pós” (Folha de S.Paulo: 27/10/2017; B7).

Muito do que é dito na matéria, e tudo já constatado por meio de pesquisas, de minha parte, já havia sido compartilhado, mas em relação aos docentes que vivem em constante cobrança por um produtivismo.

Costumo brincar, dizendo que colegas que atuam na pós não passam um dia sem pedir benção à deusa CAPES(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e ao deus CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Confesso, lamentando, minha negligência em relação à saúde dos discentes de tais espaços.

E é justamente desse segmento de que trata a matéria referida. Motivo: suicídios nas universidades. O mais recente ocorreu em um dos laboratórios de pós na USP, não sem antes o estudante deixar um recado na lousa: “cansei de tentar, de ter esperança, de viver”. I’m just done” (“pra mim, deu”), disse.

Claro que o suicídio é ato extremo de uma rotina que vem de longe. No meio do caminho do suicida podem haver insônias, síndrome do pânico e outros transtornos, tanto emocionais quanto físicos, como gastrites, enxaquecas, dores pelo corpo etc. Raramente alguém fica incólume. Antes da conclusão de qualquer trabalho acadêmico, alguma doença pode se alojar em quem se prontificar a esse tipo de trabalho, que, em tese, é indispensável ao futuro melhor de uma nação.

Como reverter o quadro?

Revendo posturas/hábitos já naturalizados.

Como?

Resgatando a autonomia das universidades. A pós-graduação não pode continuar refém da lógica produtivista da CAPES, do CNPq... Recusar-se ao produtivismo é imperante. O aprisionamento a essa lógica tem levado docentes e discentes à competitividade, ao stress extremo. Nas universidades, os experimentos, a troca de experiências e os debates são imprescindíveis; e isso demanda tempo e comportamento ético, que estamos a perdê-los.

Se conseguirmos isso nas universidades, ainda teremos chance de atingir o maravilhoso estágio do trabalho intelectual, que não entra em competição alguma, que não se deixa mensurar por quantidade da produção e por tempo determinado.

No campo do trabalho de um intelectual, que extrapola trabalhos de meros acadêmicos, a conclusão de alguma hipótese pode nem chegar no tempo de vida do intelectual, que literalmente pensa.

Enquanto esse patamar não for atingido, restar-nos-á lamentar e chorar pelos doentes e pelos mortos do meio acadêmico.

Sexta, 03 Novembro 2017 08:48
 
 
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JUACY DA SILVA*

 

O Brasil está diante de duas narrativas quando se trata de entender, interpretar e explicar a realidade que nos cerca. De um lado, o discurso das autoridades, as meias verdades ou mentiras dissimuladas, as explicações  esfarrapadas que ficam muito distantes do que o povo sente na pele, sofre nas ruas ou dentro de suas casas, pouco importa se mansões, apartamentos de luxo ou casebres, barracos e habitações sub-humanas. De outro lado o que todo mundo vê, sente e fala.

Há vários anos convivemos com uma grave crise econômica, onde o desemprego, o subemprego, as altíssimas taxas de juros, a inadimplência, o endividamento público que já representa mais de 73% do PIB, os constantes déficits públicos bilionários, a baixa produtividade da economia, a queda do salário real, tudo isto repercutindo na dimensão social, com o ressurgimento da pobreza, da miséria, da fome, da queda do nível de vida e da falta de esperança quanto ao futuro.

Os níveis de Investimentos públicos e privados estão muito abaixo do que são necessários para o bom funcionamento da infra estrutura nacional, para evitar a degradação ambiental, o caos na saúde, uma educação que não prepara a mão de obra necessária para o pleno desenvolvimento nacional. Convivemos com um apagão de mão de obra qualificada, o país sofre com um déficit de profissionais em diversas áreas, com destaque para a engenharia, professores nos diversos níveis de Ensino, as escolas e universidades públicas totalmente sucateadas, cuja qualidade de Ensino envergonha o Brasil quando se trata de comparações internacionais, onde sempre ocupamos as últimas posições. 

Parece que os lugares de destaque que nosso país ocupada no cenário internacional estão relacionados com os elevadíssimos índices de corrupção no setor publico e privado, onde o crime organizado já está mais do que enraizado nas altas cúpulas governamentais e empresariais, chegando aos palácios  e em todos os poderes e setores. Também ocupamos posição de destaque quando se trata da incompetência quando se trata de definir e implementar políticas públicas, com destaque para as áreas da segurança pública, da saúde, do meio ambiente, da educação, dos transportes coletivos e várias outras que o povo percebe e sente, enquanto as autoridades fingem que tudo “está sob controle”.

A cada momento os meios de comunicação “pautam” um assunto ou questão de relevância nacional. Mas o noticiário, nos últimos anos tem girado em torno de um tema e dois sub temas: criminalidade, insegurança e falta de planejamento e de ações articuladas entre os três poderes da república e os três níveis de governo (união, estados e municípios), enfim, convivemos com a falência total da segurança pública. Neste particular convivem duas “pautas”, a insegurança generalizada que amedronta, mata, sequestra, estupra e aterroriza a população, representada pela ação aberta, escancarada do crime organizado  e de outro o “combate” , ainda muito lento, ao crime organizado de colarinho branco, porquanto a cúpula deste tipo de criminalidade continua a salvo graças ao manto da impunidade mantida pela excrecência jurídica do foro por prerrogativa de função ou o que é popularmente conhecido como foro privilegiado, que coloca a salvo  parlamentares, ministros, governantes, gestores públicos e mais de 20 mil autoridades que gozam deste privilégio e ficam `a margem da Lei.

Os constantes relatórios  como o Mapa da violência, o Anuário da segurança pública, estudos de organismos como o IPEA, institutos de pesquisas, universidades, relatórios de organismos internacionais como UNICEF, ONU, OEA , Banco Mundial vem apontando a gravidade da questão da segurança pública em nosso país. São números alarmantes e que afetam não apenas a imagem do país perante o resto do mundo, nos colocando ao lado de países de menor expressão geopolítica no cenário mundial, mas também afetam diretamente nosso desenvolvimento.

Entre os anos de 1980 e 2010 foram assassinadas 1,09 milhões de pessoas no Brasil e entre 1980 e o final deste ano de 2017, esta estatística macabra deve ultrapassar 1,5 milhões de homicídios. Em 2016 foram 61.619 homicídios e em 2017 as estimativas indicam que  no Brasil deverão ser assassinadas mais de 63.500 pessoas, além de quase 50 mil estupros, mais de um milhão  de roubos e furtos.

No Brasil o povo vive e convive com uma das mais altas taxas de violência do mundo, em alguns estados essas taxas e índices são superiores do que a situação em países que convivem em meio a guerras, conflitos internos armados e a atuação de grupos terroristas.

Os meios de comunicação dão um enorme destaque para a queda de um avião ou de um atentado terrorista  em que raramente morrem mais do que uma centena de vítimas. Enquanto isso, no Brasil por dia 170 pessoas são assassinadas, outras 137 são estupradas,  145 morrem vítimas do trânsito e nada menos do que 1.450 pessoas são vítimas de roubos e furtos.

Enquanto  a criminalidade avança impiedosamente, o governo federal vem reduzindo os recursos para a segurança pública em pelo menos 10% a cada ano, o mesmo vem acontecendo com os governos estaduais. As polícias civis, militares, federal, rodoviária federal não dispõe de recursos para se reequiparem e estarem em condições de ações mais efetivos nesta Guerra contra a bandidagem que vem vencendo todas as batalhas.

*JUACY  DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs

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Quarta, 01 Novembro 2017 17:17

 

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Prof. José Domingues de Godoi Filho

UFMT/FAGEO

Membro do GTCT/Andes-SN/Adufmat-SS

 

Como ponto de partida é fundamental ter em mente que a ciência e a tecnologia não estão desvinculadas das outras atividades humanas. Nas ciências, o objeto da investigação não é a natureza em si mesma, mas a natureza subordinada à maneira humana de colocar o problema; sendo pautada pelas crenças pessoais, pela educação e pelas posturas políticas e ideológicas.

A ciência e a tecnologia, portanto, refletem, em muito, as forças sociais que as envolvem e delas se utilizam. Vivemos num mundo onde a dependência científica e tecnológica pode levar à dependência econômica, à perda de soberania e se impor como um agente perpetuador da pobreza e da injustiça social. Representam, portanto, uma das mais preciosas variáveis para a construção do desenvolvimento social e econômico.

Decorrem daí uma série de indagações que já se tornaram clássicas e que necessitam ser bem analisadas e aprofundadas pelos tomadores de decisões: - Quais são as motivações para a introdução de invenções e inovações na economia? Não é a busca da taxa máxima de lucro que tem regido as mudanças tecnológicas? De que forma e a que custo social tem ocorrido as invenções e inovações? Não é fundamental levar-se em consideração os possíveis efeitos sociais do desemprego e as possíveis resistências trabalhistas à adoção das inovações, sobretudo dos processos tecnológicos que provocam emprego? Não existiria uma crescente contradição entre a necessidade de o capital monopolizar a produção do conhecimento e a sua capacidade de regularizar a introdução de novos produtos e processos na atividade econômica? Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento têm atendido os objetivos básicos de se buscar uma finalidade útil, isto é, a possibilidade e a capacidade de atender as necessidades da sociedade humana?

Torna-se imprescindível atentar para o fato de que a opção por uma tecnologia não se restringe ao seu aspecto exclusivamente técnico, mas também representa a opção por uma série de itens relacionados a padrão de consumo, a força de trabalho, aos níveis de investimento e principalmente ao modo de exploração dos recursos naturais e energéticos, a estruturação do sistema educacional e da pesquisa. Qualquer que seja a escolha, a mesma trará consigo estreitas ligações com a organização social e econômica de um país, com reflexos inevitáveis na sua identidade e na sua cultura. Afetará diretamente a estrutura de consumo, a forma pela qual o Estado se responsabiliza pelos custos sociais, o modo de ocupação do espaço territorial e a taxa de crescimento e distribuição da população.

No Brasil, ao longo dos anos 80, os investimentos em ciência e tecnologia foram se rareando e a busca de recursos encontrou fortes resistências nos escalões governamentais que seguiam os ditames dos credores internacionais, ameaçavam com a extinção do MCT e estavam comprometidos com os conglomerados econômicos interessados em vergonhosas concessões na área de informática e de C&T como um todo.

Em termos de C&T, ficamos submetidos a decisões que deram preferência ao desenvolvimento via aquisição de pacotes tecnológicos, à abertura indiscriminada ao capital estrangeiro e a busca, muitas vezes cega, de inovações. Por outro lado, muitos de nossos cientistas e tecnólogos pouco ou nada questionaram as relações entre as suas atividades e as condições para a melhoria da qualidade de vida das comunidades, contribuindo com a maior naturalidade para pesquisas armamentistas, para a produção de bens mais adequados para os países desenvolvidos, para a implementação de projetos energéticos megalomaníacos e para a destruição do meio ambiente.

Nos anos 90, com Collor e FHC, a Constituição Federal, então recém promulgada e não regulamentada, foi emendada para atender os interesses do capital que não foram contemplados no processo constituinte. O conceito de empresa nacional foi modificado para beneficiar o capital transnacional em todas as suas frentes de atuação no território brasileiro e foi iniciada a reforma do Estado, a partir das seguintes considerações gerais: - o resgate da autonomia financeira do Estado e da sua capacidade de implementar políticas em conjunto com a sociedade. Como premissa, admitiu-se que o Estado não conseguia/conseguiria atender, com eficiência, a sobrecarga das demandas a ele direcionada, sobretudo na área social.

Com a reforma do Estado, seguindo o que foi preconizado pelo chamado Consenso de Washington e pelo BIRD/FMI e GATT (transformado em 1994 na OMC –Organização Mundial do Comércio), objetivou-se, dentre outros:

-          Realizar o ajustamento fiscal.

-          Orientar a economia para o mercado com reformas acompanhadas de uma política industrial e tecnológica que garantisse a concorrência interna e criasse condições para o enfrentamento da competição internacional.

-          Reformar a previdência, a organização sindical e a legislação trabalhista.

-          Reformar a educação.

-          Reformar o aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua governança, ou seja, sua capacidade de implementar, de forma eficiente, políticas públicas de maneira conjugada com a sociedade.

            Dentre os principais componentes da reforma do Estado, destacavam-se a delimitação do seu tamanho com a privatização das empresas estatais do setor de infraestrutura, publicização e terceirização das atividades; desregulamentação e redução do grau de intervenção do Estado; aumento da governança com a reforma administrativa e da governabilidade com a reforma política. Com as estratégias de publicização, privatização e terceirização o Estado buscava se descompromissar com as políticas sociais, de educação, ciência e tecnologia. O quadro a seguir procura resumir a área de atuação do Estado definida pelo governo Collor e aperfeiçoada pelo governo FHC.

  

RESUMO DA ÁREA DE ATUAÇÃO DO ESTADO

 

atividades exclusivas

Serviços sociais e científicos

produção de bens e serviços para o mercado

Atividades principais

Estado (enquanto pessoal)

Publicização e entidades públicas não-estatais

Privatização.Empresas privatizadas.

Atividades auxiliares

Terceirização

Terceirização

Terceirização

Novas figuras da reforma

Núcleos estratégicos. Autarquias e fundações. Agências executivas.

Organizações sociais.

Agências reguladoras.

 

            As áreas de educação, ciência, tecnologia, cultura e saúde foram enquadradas como serviços sociais e científicos, enquanto os fundos setoriais para ciência e tecnologia (energia, recursos hídricos, recursos minerais, transportes, atividades espaciais, verde-amarelo, etc.), criados no governo FHC, ficaram submetidos aos interesses das agências reguladoras e das empresas privatizadas do mesmo segmento dos respectivos fundos.

 

            Como consequência direta, o PPA 2000-2003-Plano Plurianual 2000-2003/Avança Brasil, elaborado por um consórcio privado, deixou claro, na introdução,  que “as perspectivas da política econômica deverão estar cada vez mais ligadas à consolidação do novo padrão de crescimento, com ênfase no aumento da produtividade, das exportações e do investimento”. Com as reformas de ordem econômica, o governo abriu, no PPA 2000-2003, espaço para o capital privado na modernização da infraestrutura básica do país e, se comprometeu ainda:

-          Simplificar o sistema tributário e desonerar a produção, o investimento e a exportação.

-          Criar condições para que o sistema de crédito se orientasse para operações de longo prazo com vistas à reestruturação produtiva, crescimento das exportações e do investimento.

-          Reforçar a regulação e fiscalização da atuação privada e dar continuidade ao programa de privatização.

            Nesse cenário, foram reduzidos ainda mais os recursos para a universidade pública e centros de pesquisas; foi imposta uma nova Lei de Diretrizes da Educação Brasileira, que legalizou as ações de descompromisso crescente do Estado com a educação, escancarou o processo de avanço do ensino superior privado e a privatização interna das universidades públicas federais e estaduais. A voracidade do processo foi tal, que o ex-ministro da educação do período, ao deixar o governo, abriu uma empresa de consultoria para assessorar a construção de novas instituições privadas de ensino superior, com o apoio e financiamento de bancos credores da dívida externa brasileira.

            No que se refere à área de C&T, no início do primeiro mandato de FHC, foi formulada e imposta a lamentável lei de Propriedade Intelectual (Lei 9279, de 14/05/96). Conforme aprovado pela OMC, tínhamos pelo menos até 2001, para discuti-la e, se fosse o caso, aprová-la. É importante, que com a lei de Propriedade Intelectual foram reguladas as ligações do autor ou criador com o bem imaterial e, estabelecidas as regras para a obtenção de privilégios, bem como a atuação das autoridades que intervém na matéria. Foram definidos os procedimentos para o patenteamento de todas as formas de representação do saber humano, isto é: os direitos autorais (copyright), marcas, designações geográficas, desenho industrial, patentes, desenho de circuitos integrados, proteção de segredo industrial e controle de práticas não-competitivas em licenciamento.

Com a Lei 9279/96, o Brasil cedeu mais do que foi exigido internacionalmente. Enquanto, por exemplo, os EUA só aceitam patentes para os seus próprios cidadãos e a Suécia e Alemanha apenas patentes de processos, a lei brasileira não garante acesso à tecnologia; permite a proibição de compra, por parte de uma empresa brasileira, de um objeto de um produtor que o próprio país tenha licenciado; tornou o INPI – Instituto Nacional da Propriedade Intelectual apenas um órgão de registro, não permitindo que o mesmo possa analisar os contratos, mesmo que com cláusulas abusivas junto com a venda de tecnologia; possibilitou que as empresas estrangeiras possam obrigar as empresas brasileiras a comprar insumos diretamente do fornecedor de tecnologia ou em fontes por elas definidas, ou determinar/delimitar o território em que o produto final poderá ser produzido; garantiu a liberdade de remessas de lucro entre a filial no Brasil e a matriz no país de origem.

Se considerarmos o sucateamento das universidades públicas e dos laboratórios de pesquisas estatais, bem como a privatização propiciada pela reforma do Estado, quem resolverá um possível contencioso na aplicação da lei? Ficamos na iminência de uma lei brasileira gerar contenciosos que só poderão ser dirimidos através de perícias feitas no exterior ou segundo jurisprudência lá estabelecida.

Paralelamente, como resposta ao que denominou de “Desafios do Brasil em C&T”, o governo FHC criou os fundos setoriais para realizar esforços no sentido de incentivar o desenvolvimento tecnológico empresarial, um dos pontos centrais da agenda de C&T, além de buscar um novo padrão de financiamento, que fosse capaz de resolver às necessidades de investimentos e que contemplasse, inclusive, novas fontes de recursos.

No novo formato ficou claro que a política científica deveria enfatizar a P&D – Pesquisa & Desenvolvimento, em forte articulação com o setor privado, a promoção de políticas industriais e a busca de resultados e avaliação dinâmica e permanente dos produtos. A nova política científica introduziu no setor métodos de avaliação exclusivamente quantitativos, tais como número de doutores em relação ao PIB – Produto Interno Bruto, número de pesquisadores e engenheiros na indústria e o gasto privado em P&D, número de patentes, etc.

Com a instituição dos fundos setoriais de desenvolvimento científico, o governo pretendia atingir três pontos: a estabilidade das fontes de financiamento; o modelo transparente de gestão de programas e a interação universidades e empresas. Como nos demais setores da máquina estatal, foram introduzidos, na área de C&T, métodos empresariais na gestão das instituições do Estado, que foram materializados na chamada gestão compartilhada entre ministérios, agências reguladoras, representantes da comunidade científica e do setor privado, reunidos nos Comitês Gestores.

Com relação aos recursos, que continuaram distantes e raros, os mesmos foram aplicados para alcançar resultados específicos e com direção previamente determinada pelos interesses das empresas privatizadas, via as ações das agências reguladoras. Os Comitês Gestores, obedecendo à orientação das agências reguladoras, elaboraram e abriram os editais para a apresentação de projetos, julgados de forma competitiva.

O descompromisso com o financiamento das universidades públicas e com a realização de suas pesquisas ficou evidente. O próprio MCT reconheceu que, ainda que a função básica da universidade fosse a de formar recursos humanos qualificados e cumprir as suas funções constitucionais, deveria ser ampliada a colaboração entre as instituições universitárias e as empresas. O Fundo Setorial Verde-Amarelo foi, então, o instrumento legal criado, como o canto de sereia, para atrair as administrações das universidades e os setores comprometidos com a privatização do espaço público. De maneira sutil, a melhoria das condições de infraestrutura das universidades só ocorrerá, ou ocorrerá preferencialmente, mediante projetos conjuntos realizados entre as empresas e as universidades e atrelados aos interesses do parceiro-investidor.

A expansão das fontes de financiamento em P&D, por meio dos fundos setoriais, passou a definir o perfil estratégico para a capacitação científica e para a formação de recursos humanos. Os objetivos, claramente estabelecidos, não deixam margens a dúvidas sobre o papel de subserviência das universidades públicas aos interesses empresariais. Vejamos:

  • Ampliação da capacidade de planejamento em áreas estratégicas, com destaque para a produção e a avaliação dos resultados das atividades de conhecimento, sua aplicação no setor produtivo e na melhoria das condições de vida da população.
  • Racionalização e coordenação das ações e investimentos em C&T, induzindo gastos em P&D e a formação de recursos humanos em áreas críticas para a sociedade (ou seria para o capital?).

Os fundos setoriais passaram a ser considerado em toda a cadeia de desenvolvimento, desde a ciência básica até as áreas mais diretamente vinculadas ao setor, com o reconhecimento de que educação e conhecimento são as principais variáveis da chamada economia do conhecimento.

Em documentos divulgados pelo MCT, o governo deixou claro que buscava atender os interesses das empresas e melhorar as suas condições de produzir bens, produtos e serviços mais sofisticados, tanto para o mercado interno, quanto para a exportação. Isso significaria criar mais e melhores empregos, agregar valor aos produtos e contribuir para o bom desempenho da balança comercial brasileira. Significaria também realçar o papel da universidade e das instituições de pesquisas do país, que com suas atividades de ensino e pesquisa formariam os recursos humanos necessários a aprimorar o esforço de P&D empresarial. Deixava claro que a maior cooperação entre as universidades e as empresas representaria o fator decisivo na geração de um ambiente inovador no setor privado. Com a estratégia de criação de Fundos Setoriais de suporte à pesquisa seria, na avaliação do governo, respaldada a evidente convergência de interesses. Como resultados, a nova política científica, em relação às universidades, buscava:

- Construir, por um lado, um sistema de financiamento à infraestrutura de instituições públicas de ensino superior, dificuldade reconhecida como gargalo do sistema de incentivo à C&T. Com os fundos setoriais, aumentariam as aplicações do FNDCT, que recuperaria e ampliaria, assim, o seu papel fundamental e pioneiro de apoiar o financiamento da infraestrutura de universidades e centros de pesquisas. De outro lado, buscava condicionar os investimentos a uma estratégia mais ampla que incluía a busca de resultados e a sua avaliação permanente. Essa avaliação permanente sobre o desempenho em C&T passou a se pautar não apenas pelos critérios de excelência, mas também por sua relevância e capacidade de apresentar resultados no sentido de ampliar as condições de competição global da economia brasileira.

Ao final do governo FHC, os centros de pesquisas e as universidades brasileiras que dependiam de recursos do MCT e suas agências financiadoras viveram uma situação bastante complicada. Houve um corte de pelo menos 40% no orçamento do setor, o que atrasou o pagamento de bolsas e ameaçou interromper a rotina dos pesquisadores, inclusive de programas especiais criados pelo próprio governo FHC.

No apagar das luzes, o governo FHC tentou aprovar o projeto de lei de Inovação Tecnológica (LIT) formulado com o objetivo de estimular a participação de pesquisadores em empresas privadas. O projeto de lei previa que os professores se afastassem das universidades federais e que as mesmas poderiam ceder os seus laboratórios e equipamentos para a utilização pelas empresas. Com a LIT o governo FHC pretendia completar a implantação de seu modelo de financiamento da pesquisa, o que ficou para o seu sucessor.

As diretrizes do governo FHC se mantiveram coerentes com a lógica da reforma do Estado que programou. Nesse sentido, o descompromisso com a educação e com a pesquisa científica foi total. Nem mesmo os núcleos de excelência e os Institutos do Milênio que criou e instalou não funcionaram por falta de recursos financeiros. Como previsto e buscado pela reforma do Estado, o governo diminuiu as suas responsabilidades e as instituições de pesquisas passaram a ser “geridas” por fundações de direito privado e por organizações da sociedade civil de interesse público – OSCIPs, quando não subordinadas diretamente aos interesses das empresas, principalmente, as do setor energético e da química fina. O quadro mostrado a seguir exemplifica muito bem o que estava/está reservado às universidades e centros de pesquisas.

  

UNIVERSIDADE OU BOLSA DE NEGÓCIOS?

 

Um dos resultados da política de C&T do governo FHC foi a proliferação das chamadas incubadoras de empresas, localizadas no interior das universidades públicas, descaracterizando as suas funções de ensino, pesquisa e extensão e iniciando o processo de sua transformação num espaço de negócios. Para exemplificar a situação, na edição de 26 e 27 de maio de 2002, o Jornal do Commércio, do Rio de Janeiro, trouxe uma matéria intitulada “Universidade Aberta – Incubadora oferecem vagas”. A reportagem divulgava que 08 universidades do Rio de Janeiro, das quais 07 públicas, estavam oferecendo 23 vagas para novas empresas, que poderiam ficar incubadas de 3 a 5 anos, utilizando espaço físico, serviços de telefonia e informática e consultoria sobre negócios, tudo por conta da universidade pública. A gerente de uma das incubadoras informou que nas propostas submetidas, seriam avaliados o grau de inovação do produto ou serviço, a possibilidade de interação com a universidade e a viabilidade econômico-financeira do negócio. O proponente não precisava ser aluno ou ex-aluno da universidade. Mas o mais revelador ainda foi a informação prestada por um outro professor (?) de que na hora de concorrer a uma vaga em incubadora, seria fundamental saber fazer um plano de negócio e que o mesmo deveria conter, no mínimo, capa, sumário, sumário executivo, planejamento estratégico do negócio, descrição da empresa, produtos e serviços, plano de marketing, plano financeiro e anexos. Depois de indicar onde estão as vagas, a reportagem divulga o que o “Plano de Negócios” deveria conter:

1)    Descrição do negócio:

a)    Que tipo de negócio você está planejando?

b)    Que produtos ou serviços você vai oferecer?

c)    Por que o seu produto ou serviço vai ter êxito?

d)    Quais são as suas oportunidades de crescimento?

2)    Plano de Marketing:

a)    Quem são os seus clientes potenciais?

b)    Como atrairá os seus clientes e se manterá no mercado?

c)    Quem são seus concorrentes? Como eles estão prosperando?

d)    Como vai promover suas vendas?

e)    Quem serão seus fornecedores?

f) Qual será o sistema de distribuição utilizado para seu produto ou serviço?

g)    Qual imagem sua empresa vai transmitir aos clientes?

h)    Como você vai desenvolver o design de seu produto?

3)    Plano Organizacional:

a)    Quem administrará seu negócio?

b)    Que qualificações deverá ter seu gerente?

c)    Quantos empregados precisará e quais suas funções?

d)    Como você administrará suas finanças?

e)    Quais são os especialistas ou consultores necessários?

f) Que legislações ou movimentos de ONGs poderão afetar seu negócio?

4)    Plano Financeiro:

a)    Qual a renda total estimada para seu negócio no primeiro ano?

b)    Quanto lhe custará abrir o negócio e mantê-lo durante 18 meses de operação?

c)    Qual será o fluxo de caixa mensal durante o primeiro ano?

d)    Que volume de vendas você vai precisar para obter lucros durante os primeiros três anos?

e)    Qual será o valor do capital em equipamentos?

f) Quais serão suas necessidades financeiras totais?

g)    Como você pretende assegurar o pagamento dos seus custos fixos?

h)    Quais serão suas fontes financeiras potenciais?

i) Como utilizará o dinheiro do empréstimo ou dos investidores?

j) Como o empréstimo será assegurado?

 

 

 

 

 

 

A ESPERANÇA REVELOU UM “LEOPARDO BARBUDO”.

 

Com a posse do novo governo em 2003, muitas expectativas foram criadas no sentido de se rever as políticas públicas adotadas, os descaminhos da reforma do Estado e os compromissos com a educação, ciência e tecnologia.

            O novo governo expôs o que pretendia em vários documentos que produziu, em particular, no denominado “Diretrizes de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior”. Em sua proposta, o governo afirmou que criaria as seguintes condições para a implementação da política industrial, o que já permitia antever que não haveria modificação de rota em relação aos governos que se sucederam ao longo da década de 90, mas sim um aprofundamento do mesmo modelo:

a)    Aprimorar os marcos regulatórios dos setores de infraestrutura, de modo a garantir instituições e políticas estáveis, capazes de estimular o investimento privado.

b)    Garantir a isonomia competitiva com a desoneração das exportações, redução dos custos do crédito, aprovação de uma nova Lei de Falências e desoneração gradual dos bens de capital.

c)    Estabelecer políticas e instrumentos voltados para aumentar o volume do comércio exterior – através, sobretudo, da ampliação da competitividade da estrutura produtiva do país – e para a redução da razão entre a dívida externa e as exportações.

A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior – PITCE, adotada pelo Governo Lula, teve como objetivo o aumento da eficiência econômica e do desenvolvimento e difusão de tecnologias com maior potencial de indução do nível de atividade e de competição no comércio internacional. Ela estava focada no aumento da eficiência da estrutura produtiva, no aumento da capacidade de inovação das empresas brasileiras e na expansão das exportações.

A PITCE não é, como não poderia deixar de ser, uma iniciativa isolada, mas faz parte de um conjunto de ações, que compõem um outro documento intitulado “Orientação Estratégica de Governo: Crescimento Sustentável, Emprego e Inclusão Social”.

A PITCE foi, então, pensada de forma articulada com os investimentos para a infraestrutura e parte integrante do conjunto de medidas previstas no “PPA 2004-2007/Um país de todos”. A proposta de PITCE considerou especialmente relevantes os “elos de articulação com a integração físico-econômica do território, através do esforço do setor público, em parceria com o setor privado, na melhoria da infraestrutura de transportes, energia e telecomunicações”.

A PITCE assumiu que existe no mundo uma nova dinâmica econômica baseada na ampliação da demanda por produtos e processos diferenciados, viabilizados pelo uso intensivo e acelerado de novas tecnologias e novas formas de organização. Nessa dinâmica seria evidente a importância da inovação como elemento-chave para o crescimento da competitividade industrial e nacional. Estabeleceu-se aqui uma nova ponte para o atrelamento das universidades públicas e dos centros de pesquisas aos interesses do capital, desconsiderando completamente as discussões que deveriam ser feitas das questões fundamentais, que envolvem a introdução de inovações e invenções no mercado. E mais, foi deixado de lado, o fato de que os maiores esforços em inovação se concentram nas empresas multinacionais, que cada vez mais implantam filiais e unidades de produção em diferentes lugares do mundo. Muito menos, foi considerado que as chamadas “empresas globais” não são apenas multinacionais, mas também multiprodutos, multitecnologias, multisegmentos e multimercados. Some-se que, no caso brasileiro, com a Emenda Constitucional nº 6, que mudou o conceito de empresa nacional, as transnacionais passaram a atuar livremente no país, como se fossem empresas locais e, com a Resolução 3265/05 do Banco Central, de 04.03.05, que liberou geral os fluxos de capital para o exterior, adquiriram liberdade total para a remessa de lucros para as suas matrizes.

O desenvolvimento de novos produtos foi tratado apenas com base na lógica de disputar e conquistar novos mercados e da capacitação para a inovação industrial. Aponta a necessidade da alocação de recursos públicos e privados para a P&D, para qualificação do trabalho e do trabalhador e para a articulação das chamadas redes de conhecimento. Os documentos divulgados pelo MCT não deixam margem a dúvidas sobre como estavam estruturadas essas redes de conhecimento de instituições especializadas, com suas OSCIPs e Organizações Não-governamentais (ONGs) e o papel que tiveram e continuam desempenhando no processo de privatização das universidades e institutos de pesquisas públicos.

Depois das nefastas fundações de direito privado, passaram a ser criadas, nas universidades e institutos de pesquisas públicos, as OSCIPs, para atender o objetivo governamental de repassar verbas públicas para entidades de direito privado, mediante termos de parcerias entendidos como sendo o resultado de interesses comuns e não conflitantes: “Art. 9o. - Fica instituído o Termo de Parceria, assim considerado o instrumento passível de ser firmado entre o Poder Público e as entidades qualificadas como OSCIP destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o fomentoe a execução das atividades de interesse públicoprevistas no art. 3o. desta lei (Lei 9790/99)”.     

Na proposta do governo Lula, também não foi devidamente considerado que os investimentos em P&D representam as despesas mais concentradas do mundo; o que significa dizer, que não se concentram apenas nas grandes empresas, mas também se concentram em poucos setores industriais. Para tanto, as transnacionais desenvolvem a pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico para além das fronteiras nacionais.

Desde o início da década de 90, até os dias de hoje, a política de C, T & I (ciência, tecnologia e inovação) não tem considerado as diferenças existentes entre as estratégias tecnológicas que garantam alguma especificidade para as empresas nacionais. Do governo Collor até o atual, as empresas estrangeiras sempre foram apresentadas como as principais responsáveis pela dinamização da inovação no país.

No discurso feito por ocasião da divulgação da Medida Provisória de criação do Conselho Nacional e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e assinatura do projeto de lei de Inovação Tecnológica, o então Presidente Lula apresentou posição semelhante: “Vamos criar também uma Agência de Desenvolvimento Industrial com um corpo profissional próprio, de modo a garantir a execução de diretrizes nas áreas de pesquisa, investimento, logística, alfândega, patentes e transferência tecnológica. Com o mesmo objetivo, vamos instituir um escritório para orientar e facilitar investimentos internacionais no Brasil, unificando informações e procedimentos que hoje estão espalhados em diversas áreas. Um canal direto para mobilizar os instrumentos que a urgência do desenvolvimento brasileiro requer”.

     

Em relação ao comércio exterior brasileiro foram considerados dois fatores principais. O primeiro se relacionava aos déficits que, na avaliação do governo, tenderiam se ampliar à medida que se acelerasse a atividade econômica, com consequências para o aumento da restrição externa do país. O segundo tinha relação direta com o trabalho realizado nas universidades públicas e se vinculava à chamada economia do conhecimento, onde a inovação e a qualificação foram apontadas como fatores críticos.

As diretrizes da PITCE, nesse aspecto, trazem a seguinte afirmação: “a fronteira do conhecimento se move rapidamente, fundindo-se com áreas de futuro, como nanotecnologia e novos materiais. Para o equilíbrio externo de médio e longo prazo, é fundamental que um país como o Brasil não se distancie das áreas mais dinâmicas do conhecimento. Além disso, é decisivo desenvolver a capacidade de realizar P&D nas empresas e em instituições públicas e privadas, gerar patentes e transferir inovações para produtos e serviços”.

Com essa análise, o governo procurou justificar a articulação e a aprovação do seu polêmico projeto de lei de Inovação Tecnológica, iniciado no governo FHC, “aperfeiçoado” e sancionado pelo governo Lula (Lei 10.973/04, de 02/12/04). Uma lei que além de não garantir nada em termos de avanço nos processos de inovação tecnológica, submeteu ainda mais as universidades públicas aos interesses do capital e descomprometeu o governo de cumprir as suas obrigações de financiá-las.

 

Nesse particular, os exemplos de outros países, inclusive da França, fonte de inspiração do projeto de lei (“Loi sur l’innovation et la recherche, nº 99-587, de 12.07.99), mostram que os resultados foram ridículos. Como previsto, houve diminuição dos recursos estatais franceses para a pesquisa. Tanto é real que, em março-2004, todos os diretores de laboratórios nacionais franceses e todos os coordenadores do CNRS renunciaram a seus cargos em protesto. Certamente, não aconteceu nada de diferente por aqui em relação às universidades públicas e centros de pesquisas.

A viabilização da proposta de PITCE, tal como admitido pelo governo, exige a participação do Estado no cruzamento de competências e interesses do capital, além da implementação de políticas de integração e de estímulo a um salto de qualidade na indústria. Afinal, nenhuma tecnologia minimamente complexa é perfeitamente transferível como se fosse uma commodity, sem considerar, aqui, as barreiras que foram colocadas pela lei da Propriedade Intelectual. Mais uma vez, repetiu-se as propostas de governos anteriores, ou seja, “para dar sustentabilidade a esse conhecimento, é preciso promover interações institucionais e empresariais e uma articulação fina com os sistemas educacionais e centros de pesquisa, de modo a que seja cultivado um novo ambiente industrial de cooperação”. A construção desse ambiente tem no governo o seu principal agente, desde que assumiu o que denominou de um novo ”Compromisso pela Produção”.

Coerente com o programa de governo, a PITCE não traz uma indicação concreta de revisão da lei de Propriedade Intelectual; ao contrário, reitera que respeitará os contratos e acordos firmados, em particular, nos foros multilaterais como a OMC, de onde partiram as pressões para a formulação e aprovação da lei. O governo apoiou os programas de investimentos das empresas com vistas à construção e ou reforço da infraestrutura para P&D&E (pesquisa, desenvolvimento e engenharia); o mesmo ocorreu em relação à utilização dos recursos do Fundo Setorial Verde-amarelo, destinado à recuperação da infraestrutura das universidades. Foi incentivado e facilitado o relacionamento entre as universidades e centros de pesquisas e as empresas e os sistema de comercialização, além do compromisso governamental de ajudar nos processos de fixação de marcas, registros de patentes, desenvolvimento de processos de qualidade, design, escala de produção, proteção ambiental, logística e distribuição.

O CONCERTO DO SISTEMA E OS INTERESSES DO CAPITAL.

 

Para a implementação da PITCE, foi estruturado um Sistema Nacional de Inovação que possibilite a articulação de agentes voltados ao processo de inovação do setor produtivo: empresas, universidades, centros de pesquisa públicos e privados, instituições de fomento e financiamento ao desenvolvimento tecnológico, instituições de apoio à metrologia, propriedade intelectual, gestão tecnológica e gestão do conhecimento e instituições de apoio à difusão tecnológica.

A organização do sistema impôs a necessidade de harmonizar a base legal e de estabelecer a sua institucionalidade (atores, competências, mecanismos de decisão, modelo de financiamento e gestão), além de definir prioridades. Para a harmonização da base legal, o governo aprovou, no Congresso Nacional, a Lei de Inovação Tecnológica (Lei nº 10973/04, de 02/12/04) e a criação (Lei nº 11080/04, de 30/12/04) da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

A ABDI foi instituída com “a finalidade de promover a execução de políticas de desenvolvimento industrial especialmente as que contribuam para a geração de empregos, em consonância com as políticas de comércio exterior e de ciência e tecnologia”. A ABDI foi concebida como um Serviço Social Autônomo, definido como “pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de utilidade pública”; um irmão siamês das ONGs, OSCIPs e fundações de direito privado, previstas pela reforma do Estado de FHC, que estão se disseminando que nem um câncer pelas universidades, e que o governo incluiu na sua proposta de reforma do ensino superior.

A ABDI tem um Conselho Deliberativo composto por oito representantes do Poder Executivo e sete de entidades privadas. Para a execução de suas finalidades, a ABDI firmou contrato de gestão com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Com o contrato de gestão, a ABDI tem autonomia para a contratação e a administração de pessoal, sob regime da CLT; podendo, ainda, para a execução de suas finalidades, celebrar contratos de prestação de serviços com quaisquer pessoas físicas ou jurídicas, sempre que considere ser essa a solução mais econômica para atingir os seus objetivos previstos no contrato de gestão. Fica assim aberto o canal para a contratação dos docentes que pretenderem se tornar “empresários de base tecnológica” e para associações com as fundações de direito privado, redes e OSCIPS existentes nas universidades e previstas na lei de Inovação Tecnológica em seu artigo 3º: - “Art. 3º A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as respectivas agências de fomento poderão estimular e apoiar a constituição de alianças estratégicas e o desenvolvimento de projetos de cooperação envolvendo empresas nacionais, ICT e organizações de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa e desenvolvimento, que objetivem a geração de produtos e processos inovadores.

Parágrafo único. O apoio previsto neste artigo poderá contemplar as redes e os projetos internacionais de pesquisa tecnológica, bem como ações de empreendedorismo tecnológico e de criação de ambientes de inovação, inclusive incubadoras e parques tecnológicos”.

A implementação da PITCE prevê a criação e fortalecimento de instituições públicas e privadas de pesquisa e serviços tecnológicos com a organização das redes de instituições especializadas em temas, setores e cadeias produtivas. Prevê, também, a estruturação de laboratórios nacionais que possam reunir infraestrutura de porte e criar sinergia de pesquisa e desenvolvimento; organizar os estágios iniciais da pesquisa empresarial e transferir tecnologia e gestão para o setor produtivo. E mais, os laboratórios das universidades e centros de pesquisas poderão ser utilizados para criar mercados para os fornecedores, principalmente de fármacos domésticos. Daí,o previsto no artigo 4º da lei de Inovação Tecnológica:

“Art. 4o As ICT poderão, mediante remuneração e por prazo determinado, nos termos de contrato ou convênio:

  I - Compartilhar seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais instalações com microempresas e empresas de pequeno porte em atividades voltadas à inovação tecnológica, para a consecução de atividades de incubação, sem prejuízo de sua atividade finalística.

  II - Permitir a utilização de seus laboratórios, equipamentos, instrumentos, materiais e demais instalações existentes em suas próprias dependências por empresas nacionais e organizações de direito privado sem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa, desde que tal permissão não interfira diretamente na sua atividade-fim, nem com ela conflite.

Parágrafo único. A permissão e o compartilhamento de que tratam os incisos I e II do caput deste artigo obedecerão às prioridades, critérios e requisitos aprovados e divulgados pelo órgão máximo da ICT, observadas as respectivas disponibilidades e assegurada a igualdade de oportunidades às empresas e organizações interessadas”.As universidades, nos termos previstos pela lei de Inovação Tecnológica, se enquadram como ICT (Instituição Científica e Tecnológica) nos termos previstos pela lei de Inovação Tecnológica, em seu artigo 2º, inciso V: -“ Instituição Científica e Tecnológica - ICT: órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico.

A PITCE indicou, ainda, a necessidade de retomada da prática de conferências nacionais periódicas, para discutir temas como biotecnologia, novos materiais, tecnologias de informação e comunicação, energia e meio ambiente. As conferências também foram utilizadas, com o discurso de se tornarem um instrumento para orientar programas e iniciativas que permitam o uso de todo o potencial da ciência e tecnologia, no sentido da superação dos desníveis regionais. Como resposta, o MCT passou a organizar anualmente, desde 2004, as Conferências regionais e nacionais de C&T, envolvendo instituições científicas, universitárias e empresariais, sob a coordenação do Fórum Nacional de Secretários Estaduais de C, T & I .E, repetindo os mesmos métodos de cooptação utilizado em relação aos sindicatos e movimentos sociais, o governo, via ações do MCT, fez o mesmo com setores das direções das entidades científicas, que por sua vez, também passaram a repetir reuniões regionais para divulgarem e tentarem impor as propostas do governo. 

Resumidamente, podemos dizer que, desde meados dos anos 80, de forma intensiva, tem sido ressaltado que o desenvolvimento científico e tecnológico representava/representa um dos sustentáculos para as possibilidades de melhoria de qualidade de vida das populações, como também, por outro lado, a principal arma utilizada pelo capital para se reproduzir, se concentrar e ampliar o fosso que separa as nações pobres das nações ricas.

Diferentes analistas continuam avaliando que os avanços mais estimulantes do século XXI ocorreriam/ocorrerão não por causa da tecnologia, mas pela expansão do conceito do que significa o ser humano. Assim, a equação estratégica que exigiria/exige nossa atenção tem origem na educação. Os investimentos em educação e a qualidade da formação das pessoas é que estão definindo o grau de autonomia e independência das nações no contexto mundial. Nesse particular, embora óbvio, não é demais lembrar que estamos falando de educação e não de adestramento. Afinal, de que adianta ter pessoas adestradas/treinadas e até desenvolver uma sociedade próspera, mas que vá se deteriorando em seus valores?

Para vencer o novo colonialismo científico-tecnológico, precisamos de um processo educativo que amplie os horizontes de liberdade das pessoas. Nessa perspectiva, enquanto os países mais industrializados transformaram as suas estruturas educacionais para atender aos seus interesses; no Brasil, uma das dez maiores economias do planeta, a situação continua delicada, com a formação de pessoal não recebendo a atenção necessária e com os investimentos, tanto públicos, quanto privados, em ciência e tecnologia, especialmente em P&D, reconhecidamente baixos. Em termos institucionais, continuamos sem ações, governamental ou empresarial, que apresente uma proposta coerente de política científico-tecnológica e educacional que atenda os reais interesses da nação brasileira.

A mudança de rota passa obrigatoriamente, como já apontado pelas reivindicações feitas pelos movimentos sindicais, por analistas e por várias entidades que trataram do tema, como por exemplo, o ANDES-SN – Sindicato Nacional das Instituições de Ensino Superior, pela:

  • Construção de um novo projeto social de país autônomo, com objetivos definidos e compartilhados pela maioria da população.
  • Definição e estabelecimento de uma PITCE que responda à demanda científica e tecnológica da estratégia sócio-econômica, cultural e ambiental para atingir os objetivos desse projeto social.
  • Detalhamento, com precisão, das características básicas que a solução tecnológica deve ter para cada especificidade, para melhor enfrentar as questões que envolvem o entorno econômico, social, técnico, cultural e ambiental.
  • Estabelecer critérios de interesse nacional para selecionar, adaptar e operar as tecnologias importadas.
  • Rever a política educacional como um todo, estabelecer o Plano Nacional de Educação (PNE), nos termos do que ficou conhecido como PNE da Sociedade Brasileira, que articule efetivamente os níveis de ensino para formar cidadãos capazes de decidir, selecionar e operar as diferentes tecnologias existentes, sejam elas emergentes ou não. Um PNE que leve em consideração às necessidades e os direitos de todos a educação, caso contrário, não haverá a incorporação social e criativa do progresso tecnológico.

Continuar com o modelo atual, que faz a apologia do mercado; com os programas do MCT que não passam de listagens de objetivos e projetos que só atendem a cabeça colonizada do “mandarinato” da ciência; com uma política industrial baseada na pilhagem de nossos recursos naturais, especialmente dos não-renováveis e energéticos, e na exploração do trabalho, significará um futuro nada alentador para o país.

 

PARTE 2 TEXTO EM CONSTRUÇÃO.

 

 

 

Sexta, 27 Outubro 2017 08:45

 

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

A Câmara Federal, em uma longa sessão, nesta última terça feira, 25 de Outubro de 2017, acabou livrando Temer de ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal, alongando, de forma desnecessária  um governo impopular e fragilizado politicamente.

Nunca, na recente história política e institucional brasileira, um presidente da República esteve tão desgastado, fragilizado e acuado pelo fisiologismo, pelas acusações de corrupção, contra si próprio, contra seus ministros e contra deputados federais e senadores que o apoiam no Congresso Nacional, quanto Temer.

Eleito e reeleito como vice presidente da República em uma chapa que tinha Dilma, o PT e o ex-presidente Lula,  este ultimo, figura central dos dois maiores escândalos de corrupção do Brasil, o mensalão e a LAVA JATO, Temer  e seu partido o PMDB  foram sócios majoritários de um governo traído e apeado do poder. Todo mundo sabe perfeitamente que Temer e seu partido e outros que também apoiavam Dilma conspiraram para a derrubada da mesma. Há quem diga que a diferença entre Dilma e Collor de Mello, que foram cassados de seus mandatos é a questão do apoio fisiológico na Câmara e no Senado. Enquanto Collor e Dilma não  conseguiram este apoio e acabaram apeados do poder, Temer, exímio politico na arte da dissimulação  e nos acertos de bastidores, profundo conhecedor dos meandros de um parlamento dominado pelo fisiologismo, tem conseguido uma maioria parlamentar para salvar a sua própria pele.

Assistindo ao vivo à votação das duas denúncias contra temer, a primeira por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e  segunda  por obstrução de justiça e chefiar organização criminosa, tendo seus dois principais ministros, nesta segunda denúncia como integrantes desta organização criminosa, denúncia feita pelo então  procurador geral da República, Rodrigo Janot, baseado em gravações feitas pelo mega empresário, atualmente preso por corrupção  e outros crimes de colarinho branco, Temer vai ficar aguardando o término de seu mandato espúrio, para acertar  as contas com a justiça, pelos crimes cometidos durante seu mandato.

Com certeza, ao ouvir diversas justificativas apresentadas pelos deputados que votaram pelo arquivamento da denúncia contra Temer, parecia que estávamos vendo uma comédia, uma  peça de teatro, uma encenação ou uma tragicomédia. Alguns parlamentares diziam que iriam votar a favor de Temer pelo bem do Brasil, pela volta do crescimento econômico, pelo bem geral  do povo brasileiro, pelo amor que tem pela pátria amada, mesmo traída e vilipendiada. Enfim, eram frases de efeito para tentar enganar a população sofrida deste país.

Nunca tais deputados falaram sobre as liberações de suas  emendas para alavancar seus currais eleitorais, a portaria do trabalho escravo que foi condenada no Brasil e no resto do mundo, feita a mando de Temer, em sua barganha com a bancada ruralista, como bem afirmou o ex-governador de MT, senador licenciado e atual Ministro da Agricultura; ou o decreto que concede perdão  para as dívidas com a previdência rural por parte dos grandes latifundiários e barões do agronegócio, ou do decreto que livra criminosos ambientais das multas bilionárias do IBAMA  por destruição ambiental. De forma semelhante  esses deputados não  falaram  que estavam votando a favor de Temer pelos cargos que receberam no Balcão  de negócios em que se transformaram os  palácios do Jaburu, onde  o Presidente recebeu o dono da JBS e foi gravado nas caladas da noite,  do planalto  onde deputados fisiológicos fizeram verdadeiras romarias na busca de favores políticos; da Alvorada onde  grandes jantares, as custas do dinheiro público, foram oferecidos pelo presidente , tendo como sobremesa mais favores nada republicanos e muito menos éticos.

Enfim, quando o país continua acuado pela violência, mais de 13 milhões de pessoas continuam desempregadas  e mais de 15 milhões subempregadas, morrendo à mingua pela falta de atendimento de uma saúde pública sucateada, um país cujos índices educacionais fazem vergonha perante o mundo, um país vivendo em meio a degradação ambiental, enfim, um país sem rumo e sem futuro, nossos deputados continuam fazendo de conta que nada disso é importante e continuam enganando o povo, mantendo no poder e apoiando um governo marcado pela corrupção, pelo fisiologismo e pelo cinismo institucional. O Brasil não merece continuar neste clima de deterioração política e institucional.

O governo Temer está paralisado, continua refém de uma base parlamentar ávida de fisiologismo e acuado pela opinião pública que rejeita abertamente sua forma de governar. Estamos praticamente no fundo do poço em termos éticos e de gestão pública. Tal situação não se coaduna com democracia e muito menos com os princípios republicanos!

*JUACY DA SILVA,  professor  universitário, titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos  de comunicação. Twitter@profjuacy  E-mail  O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Sexta, 27 Outubro 2017 08:08

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Dentre tantas notícias produzidas no Brasil, uma tem sido recorrente na mídia: o endividamento de pouco mais de 50% dos acadêmicos que lançam mão do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) para estudar em faculdades privadas.

Em palavras mais explícitas: esse contingente de alunos que assinaram o Fies – em geral, trabalhadores jovens e de baixa renda, matriculados em empresas do ensino superior – encontra-se com seus nomes sujos na praça. Nada disso, porém, imprevisível.

Mesmo dizendo isso com “palavras mais explícitas”, ainda é preciso falar mais sobre esse quadro deprimente, que compõe parte significativa do panorama do nosso ensino superior.

Começo pela origem. Esse programa foi criado em 1976, sob o nome de Crédito Educativo. Em 1999, estando o país já imerso nas políticas privatizantes do neoliberalismo, o programa de financiamento foi remodelado durante o governo de FHC. No governo Lula, o programa foi rebatizado. Sua taxa de juros, ajustada de 6,5% para 3,4% a.a., abaixo da SELIC.

Em 2010, o prazo para sua quitação foi aumentado para até três vezes ao tempo do curso; ou seja, para uma graduação de cinco anos, o prazo passou a ser de 15 anos para a quitação.

Detalhe: durante o governo populista de Lula, os critérios para obtenção desse “benefício”, dito de inclusão, foram mínimos. Somente para o exercício de 2015, o governo federal – já no crítico segundo mandato de Dilma – implementou mudanças básicas nos critérios de concessão do financiamento em pauta.

Dentre outras alterações, passou-se a exigir a pontuação mínima de 450 pontos no EMEM. O aluno também não poderia mais zerar a redação. Até então, tudo valia; ou melhor, até o nada intelectual – produção histórica e sistêmica de sucessivos governos de todas as esferas da Federação – tinha valor e servia para ingresso na “faculdade”. Era a vitória do jovem brasileiro, pobre, geralmente, negro, dizia – e ainda está a dizer – o político mais astuto, por isso, o mais perigoso, de nossa contemporaneidade; aquele que se faz passar por “pai dos pobres” por conta de sua origem humilde.

Isso posto, significa dizer que, antes desses novos critérios, muita gente, próxima do analfabetismo real, ingressou em alguma empresa dita de ensino superior. Depois da mudança, o quadro de desmensurada mediocridade tornara-se menos agressivo, mas continuando grave.

Dessa constatação óbvia, uma questão escancara-se sob algumas perspectivas:

a)               um aluno praticamente analfabeto não tem a menor condições de avaliar a qualidade da faculdade em que ingressa. E via de regra, ele adentra, antes de tudo, em uma empresa; assim, ao invés de um acadêmico, o país financia um cliente;

b)              o que menos importa para tais espaços é a qualidade do ensino, bem simbólico, por isso, subjetivo. Nesse cenário, a importância real é a garantia da saúde da empresa.

Assim, o fingimento de um, em aprender, e de outro, em ensinar, estava silenciosamente pactuado. E a vida seguia seu curso.

E ainda segue. Todavia, agora com a consciência mais nítida de que há um endividamento e uma enganação. Tudo bem concreto. Como do primeiro já falei, resta dizer que a enganação vai se escancarando à medida que egressos de faculdades sem lastro acadêmico, em geral, sem o sonhado emprego, têm dois aprendizados:

  1. o de que foi enganado por governantes e por empresários do ensino superior;
  2. o de que uma dívida com o financiamento ficou ou ficará, ou em sua conta, ou na conta do erário; ou seja, na de todos nós.
Sexta, 20 Outubro 2017 17:22
 
 
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JUACY DA SILVA*
 

Estamos quase terminando outubro, mês dedicado mundialmente à prevenção de CÂNCER DE MAMA.  Milhares de mulheres morrem a cada ano no Brasil e centenas de milhares no mundo, simplesmente porque jamais fizeram  uma mamografia ou quando fizeram  ou fazem, já  é tarde demais, a doença já  esta instalada e em estágio avançado.

Por isso é importante , fundamental ou mesmo imperioso realizar  exames preventivos, incluindo a mamografia, principalmente na faixa  etária entre 40 e 59 anos de idade. Todavia, se você, mulher, tem menos de 40 anos  e tem histórico de câncer na  família, por exemplo sua mãe,  irmãs, tias, etc. já tiveram câncer, não deixe de fazer sua mamografia; procure  um médico ou unidade de saúde ou seu plano de saúde ou seu ginecologista para receber as orientações corretas e adequadas, não deixe o tempo passar e ficar protelando, isto pode lhe causar muitos transtornos, sofrimento ou até mesmo uma morte prematura.

Sabemos da precariedade e do caos que tomou conta da saúde pública no Brasil.  Milhares de municípios não dispõe sequer de um mamógrafo ou muitas vezes, com muita frequência esses aparelhos estão  estragados ou também nem sempre existem profissionais, médicos e técnicos para procederem  os exames preventivos.

Diante disso, principalmente para mulheres pobres, que moram nas periferias urbanas, zona  rural ou em municípios pequenos estão excluídas de cuidados básicos  de saúde, incluindo exames preventivos necessários para identificar precocemente  qualquer tipo de câncer, inclusive CÂNCER DE MAMA.

Precisamos lutar para que o DIREITO `A SAÚDE  seja um fato concreto e não apenas letra morta ou um artigo de nossa Constituição Federal e da Legislação vigente para “inglês ver”. Precisamos combater a corrupção  e a incompetência de nossos governantes e gestores públicos que roubam preciosos recursos tão  necessários para que  todas as pessoas, de todas as idades, principalmente as mulheres que são vítimas desta violência que é o CÂNCER DE MAMA.

Não podemos  aceitar que, em nome do equilíbrio das contas públicas, os recursos orçamentários e financeiros sejam “cortados” justamente na área  da saúde,  deixando milhões  de pessoas que dependem única  e exclusivamente do SUS `a míngua. Enquanto nossos governantes  cortam ou reduzem os recursos para a saúde, a educação,  a segurança  e tantas outras áreas importantes e estratégicas para o país, o Governo Temer e sua bancada de apoio no Congresso continuam realizando barganhas escandalosas e vergonhosas, incluindo o perdão de dívida de grandes sonegadores, concedendo bilhões de financiamentos/crédito subsidiados para os barões da economia, principalmente para os barões do agronegócio e latifundiários e diversos outros favores seus apoiadores, dilapidando exatamente o orçamento em bilhões de reais  que fazem falta para a saúde.

Cada morte  que ocorre em nosso país pela falta  de atendimento decorrente do caos na saúde pública deveria ser debitada à conta de governantes insensíveis e corruptos que teimam apenas em lutar para conquistar e permanecer no poder e nessas posições continuarem assaltando os cofres públicas,  como a OPERAÇÃO  LAVA JATO  e outras investigações  vem demonstrando sobejamente.

Depois de ler esta reflexão, pare, pense  e compartilhe com outras pessoas. Este é mais um OUTUBRO ROSA,  mês dedicado a lutar pela vida,  contra o CÂNCER  DE MAMA, contra a CORRUPÇÃO  e contra o CAOS NA SAÚDE PÚBLICA em nosso pais. Participe desta luta, NÃO SE OMITA!

*JUACY DA SILVA,  professor universitário, titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Twitter@profjucy E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo." target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com