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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
Dentro de um dia e meio a no máximo dois dias, ou seja, nesta sexta feira 07 ou sábado 08 de Agosto de 2020, o Brasil atingirá duas marcas tristes e vergonhosas. Serão TRÊS MILHÕES de casos de pessoas infectadas e CEM MIL MORTES, pelo coronavírus.
Esses são os números oficiais que, sabidamente, não representam o tamanho real do problema, pois existe uma enorme subnotificação de dados relativos aos casos de pessoas infectadas, principalmente porque o Brasil é um dos países que menos testes tem aplicado para constatar, rastrear e tratar o número real de pessoas infectadas. Entre os países que testam, tendo como base cada milhão de habitantes ocupamos a 101a. posição.
Se fossem realizados testes de forma massiva como tem acontecido em alguns países da Europa e EUA, as estimativas indicam que o número de pessoas infectadas poderia ser de até dez vezes mais, ou seja, mais de 20 ou 30 milhões de casos e talvez o Brasil estivesse ocupando o primeiro lugar neste campeonato macabro, já que no futebol há décadas não consegue.
Por exemplo, mesmo com a subnotificação o Brasil já, de alguns meses até hoje, ocupa o segundo lugar no ranking mundial tanto em número de casos quanto de mortes. Se o Estado de São Paulo, com mais de 575 mil casos, por exemplo, fosse um país estaria ocupando a quinta posição em número de casos de pessoas infectadas e a nona posição em número de mortes pela COVID 19.
Apesar de que no inicio da pandemia, de forma irônica, demonstrando sua insensibilidade, o Presidente Bolsonaro dizia que a COVID 19 seria apenas uma “gripezinha” e outras bravatas como “ e daí, todos vão morrer um dia, eu sou messias mas não faço milagres”, ao ser questionado certa feita sobre o crescente número de casos e de mortes respondeu também de forma irônica “não sou coveiro”. Chegou até insinuar que as crianças e pessoas que nadassem em esgoto estariam se tornando imunes a COVID 19.
Coube à falta de cuidados e a forma desdenhosa como tratava a pandemia, criticando o isolamento e o distanciamento social determinado por governadores e prefeitos e fazia questão de circular em público, provocando aglomerações, apoiando direta ou indiretamente, inclusive atos antidemocráticos, sempre sem uso de máscara; dando um mau exemplo, até que em um determinado dia foi diagnosticado com a COVID 19 e teve que ficar isolado por algumas semanas.
Em seu entorno sete ministros e a primeira dama já contraíram o novo coronavírus e diversos integrantes de sua equipe que foram aos EUA acabaram também contraindo o vírus, mas nenhum teve problemas mais sérios, diferente de milhões de brasileiros que sofreram por falta de atendimento e esses CEM MIL que acabaram sucumbindo, ante a falta de leitos de UTI, falta de respiradores, falta de insumos, medicamentos e de pessoal técnico para o pronto atendimento, milhares enterrados em valas comuns, sem nenhuma dignidade e sem sequer poderem ser velados pelos seus entes queridos.
Todos os especialistas não se cansam de enfatizar que faltou ao presidente Bolsonaro a capacidade de liderança neste processo, a quem caberia coordenar e articular os esforços com os governos estaduais e municipais, dando maior celeridade às ações e maximizando os resultados, o que ele não conseguiu fazer, deixando o país perdido e sem rumo, razão pela qual não houve planejamento nem coordenação das ações, aumentando o número de vitimas.
Em meio à pandemia, a única coisa que Bolsonaro fez o tempo todo foi realizar propaganda da cloroquina, medicamento banido como forma de tratamento em diversas países pela sua ineficácia. Descontente com dois ministros da saúde, com formação médica, que se recusaram a alterar os protocolos para que a cloroquina fosse receitada de forma ampla, principalmente pelo SUS, não teve dúvida em demiti-los, colocando em seu lugar um leigo em saúde publica, apesar de o mesmo ser um general com “expertise” em logística, como ministro interino que já perdura por meses no cargo.
Em meio a esta tristeza do avanço do número de casos que nas últimas semanas quase todos os dias é superior a 40 mil ou até mais de 53 mil e o número de mortes sempre também acima de mil por dia, o Brasil e os brasileiros assistem, entre um misto de vergonha e revolta, diariamente o noticiário , em que casos e mais casos de corrupção nos Estados, nos Municípios, surrupiando preciosos recursos orçamentários e financeiros, pelas quadrilhas de colarinho branco que continuam agindo dentro e fora das instituições públicas, verdadeiras máfias que sugam a saúde pública há décadas.
A explosão que aconteceu há dois dias no porto de Beirute, que causou a morte , que poderão chegar a pouco mais de 300 pessoas e a, talvez, 10 mil feriados é de longe muito menor do que as mais de 1.500 mortes que tem acontecido todos os dias, nas últimos semanas pelo coronavírus no Brasil e a mais de 53 mil de novos casos em alguns dias. Só nos últimos doze dias foram mais de dez mil mortes e mais de 500 mil novos casos, um drama que nem é notado e nem causa pesar em nossas autoridades.
Todavia, nossas autoridades, como soe acontecer, de forma super rápida demonstraram, corretamente, diga-se de passagem, a sua solidariedade ao povo libanês; enquanto o total das mortes por covid no Brasil até agora representam mais de 300 explosões da mesma magnitude que quase destruiu Beirute.
O Japão esta “comemorando”, relembrando os 75 anos do lançamento da bomba atômica que em 1945 destruiu a cidade de Hiroshima, matando 140 mil pessoas, e no Brasil que de março até o inicio de agosto deste ano de 2020 a COVID 19 já matou 100 mil pessoas e até o final do ano ceifará mais vidas do que a bomba de Hiroshima não desperta nenhuma solidariedade por parte de inúmeras autoridades que continuam agindo como se nada estivesse acontecendo de tão grave em nosso país.
Só se fala em reformas, eleições municipais, crise fiscal, equilíbrio das contas públicas, fake news e outros assuntos correlatos, pouca atenção é dedicada `a maior pandemia que está varrendo o mundo e destruindo milhares de vidas e nada é dito sobre como ficará o SUS, já falido, no pós COVID 19.
A situação da crise sanitária no Brasil, a maior desde a gripe espanhola em 1918, há mais de um século, que já era grave, gravíssima antes mesmo da chegada da COVID 19, piorou extremamente, apesar da suplementação dos recursos orçamentários e financeiros colocados `a disposição da saúde pública e deverá, assim permanecer ou até mesmo piorar no pós-pandemia.
Há poucos dias um médico sanitarista que já foi presidente da AVISA disse em uma entrevista a um canal de televisão, de forma clara e objetiva de que mesmo que a COVID 19 seja controlada e combatida com o surgimento de uma vacina que deve ocorrer talvez no primeiro semestre do ano que vem (2021), a degradação ambiental, principalmente o desmatamento da Amazônia, que segue a passos largos (a boiada continua passando) e as queimadas, contribuirão para que milhões de vírus que convivem com animais silvestres acabem afetando o ser humano, ou seja, o pior ainda está por vir.
O binômio COVID 19 e a degradação ambiental, incluindo o aumento acelerado do desmatamento da AMAZÔNIA e do CERRADO, as queimadas que já estão ocorrendo no Pantanal e nesses dois outros biomas referidos, onde mais de 120 mil ha já foram destruídos e ainda está longe de serem dominadas, bem como as queimadas na Amazônia que deverão ser superior a mais de 4, 5 ou mais vezes do que a destruição do Pantanal, estão afetando a qualidade do ar tanto no Pantanal e áreas de seu entorno, quanto na Amazônia Legal e no Centro-Oeste em geral, tornando o ar irrespirável, como já está acontecendo em Rondonópolis, Cuiabá, Corumbá, Campo Grande e região, quanto em outras regiões mais distantes.
Apesar dos “esforços” dos governos federal e estaduais, incluindo a atuação das Forcas Armadas, através da GLO e do Conselho da Amazônia, presidido pelo Vice Presidente da República, tanto em 2019 em relação a 2018, quanto 2020 em relação a 2019, tanto o desmatamento quando as queimadas aumentaram de forma acelerada.
Entre Agosto de 2019 e junho de 2020 foram desmatados na Amazônia Legal nada menos do que 754 mil ha. Entre 2008 e 2019 a área desmatada de forma ilegal na Amazônia e no Cerrado foi de 2,4 milhões de ha e o desmatamento legal foi ainda maior, uma área de mais de 3,8 milhões de ha.
Outro aspecto grave deste binômio é a situação da falta de saneamento básico que afeta mais de CEM MILHÕES de pessoas, que não tem água tratada e nem coleta e tratamento de esgoto e nem coleta regular de lixo urbano, acarretando o aumento de doenças e de pressão sobre um sistema público de saúde já totalmente falido.
Além desses aspectos, o Brasil está longe de cumprir as metas a que se comprometeu junto ao ACORDO DE PARIS, seja relativamente ao desmatamento e `as queimadas quanto `a emissão de gases que provocam o efeito estufa e está mais do que comprovado por diversas estudos e manifestações de pesquisadores e cientistas que os efeitos que advirão das mudanças climáticas, incluindo o aquecimento global, serão muito piores do que todas as pandemias que já ocorreram, inclusive o CORONAVIRUS que ainda não acabou, como imaginam diversas pessoas e governantes.
Além da demanda por atendimento médico hospitalar devido `a COVID 19, os casos de problemas respiratórios, principalmente em crianças e idosos tem aumentado assustadoramente, nas cidades e áreas atingidas pela fumaça das queimadas que “viajam” centenas de km, colocando o sistema de saúde pública em colapso e o aumentando o número de casos e de mortes decorrentes de problemas respiratórios.
Segundo o depoimento deste mesmo médico, o déficit de leitos hospitalares, principalmente de UTIs era superior a 40% tendo como comparação o ano de 2008 e mesmo com o aumento dos leitos de UTI para atendimento da COVID 19, não existe nada certo de que a situação possa melhorar após a COVID 19, seja pela falta de pessoal especializado, seja pela falta de medicamentos e, principalmente, pela falta de recursos orçamentários e financeiros, premidos tanto pela corrupção quanto pelo teto dos gastos, afinal, para os doutos entendidos em finanças públicas do Governo Federal e dos governos estaduais e municipais, o “equilíbrio fiscal” é mais importante do que a vida , do que o sofrimento e do que a morte das pessoas.
Se o Brasil tivesse um Sistema público de saúde melhor equipado e em condições de atender de forma rápida e efetiva às pessoas que ao contraírem a COVID 19 precisaram desses cuidados em UTIs e respiradores, com certeza milhares dessas mortes teriam sido evitadas. Foram o que se chama de “mortes desnecessárias” ou “mortes evitáveis”, enfim, tudo isso não deixa de ser uma negligência e desrespeito `a dignidade das pessoas, onde o direito a vida lhes foi negado pelo Estado.
Afinal, para diversos governantes que pensam desta forma, as pessoas tornam-se apenas números, estatísticas, esses governantes não conseguem ver as histórias de vida, as famílias destruídas como está acontecendo em consequência desta pandemia, com o aumento da fome e da miséria, o aumento do número de famílias que estão morando na rua, em baixo de viadutos, de marquises, nas praças públicas, implorando a caridade por um prato de comida, enquanto os marajás da República nos três poderes e nos estados e municípios continuam ostentando e ampliam seus privilégios e mutretas, como as famosas “VI” verbas indenizatórias, vale saúde e outras mordomias mais.
Alguns estudiosos e pesquisadores continuam afirmando que a COVID 19 deverá permanecer ativa em todos os países, em alguns mais e em outros um pouco menos, e uma segunda ou terceira onda não estão descartadas, como já esta acontecendo em alguns países da Europa e da Ásia, mas que com toda certeza o número de casos no mundo deverá ser superior a 25 ou 30 milhões e de mortes mais de 1,5 milhões ou até dois milhões, até que alguma vacina esteja `a disposição de forma universal para que a população possa ser imunizada, como ocorre com outras viroses.
No caso brasileiro imagino que até o surgimento da vacina e da imunização ampla da população poderemos ter mais de 20 milhões de casos de pessoas infectadas, tendo em vista que esses três milhões que deveremos atingir dentro de dois dias, representa uma grande subnotificação, como todos os estudos e pesquisas tem indicado e o número de mortes poderá ser superior a 150 mil ou até chegar a 200 mil vidas ceifadas desnecessariamente, caso as pessoas não se precavenham e as autoridades e organismos públicos continuem insensíveis, ineficientes, ineficazes e sem efetividade como ocorre no momento e a burocracia e a corrupção continuem aumentando o sofrimento e as mortes de tanta gente.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, sociólogo e mestre em Sociologia. Colaborador de alguns veículos de comunicação social. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy