Terça, 02 Outubro 2018 08:50

ENTRE O RUIM E O PIOR - Roberto Boaventura

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Daqui a poucos dias, indicaremos quem presidirá o país pelos próximos quatro anos. Faremos isso imersos em situação por demais complexa. Popularmente falando, estamos num mato sem cachorro.

À frente, nas pesquisas, assistimos à arriscadíssima polarização entre dois grupos de fanáticos. De um lado, rançosos de direita, com o direito ao (mau) gosto pelo viés militarista. Acham-se guardiões da moral, da ordem, da família... De outro, os iludidos por um “mágico”, preso por corrupção. Estes, deliberadamente ludibriados, se pensam iluminados de esquerda; logo, vendem a falsa ideia de serem iguais aos da plebe, tornada historicamente ignara. Abaixo desses, e no meio da polarização, encontra-se o restante; ou o resto, a quem assim preferir.

Resumo da tragédia: como se estivéssemos nas xepas de uma feira-livre, “livremente”, teremos de escolher entre: a) fanáticos e equivocados de direita; b) corruptos e igualmente fanáticos, mas de falsa esquerda; c) oportunistas de um centro previsível; por isso, desprezível.

Ah, sim! Logo abaixo desse centro, ainda há os nanicos, quais sejam: a) os aventureiros, já cheios de vícios, de uma esquerda que não convence ninguém além de seus manjados séquitos; b) algumas “caras novas”, mas de um velho e falido neoliberalismo.

Haveria mais alguém nesse quadro de horrores?

Claro. O único clown; ou seja, aquele que se pensa enviado por Deus. Quando o vejo de Bíblia nas mãos, ao invés da Constituição de um país laico, como o nosso, sinto piedade. Penso: já que o TSE deixa rolar aquela propaganda inconstitucional, tenho de ser misericordioso, pois nem todo clown faz seu público sorrir de felicidade. Seja como for, por ora, esse tipo está descartado. Por ora, pois nossa capacidade de descer aos infernos parece ser vocacional.

Pois bem. Será desse quadro decadente que sairá o futuro líder do país. Mas não nos enganemos. Essa decadência ainda pode ser acentuada, caso seja vencedor um ou outro dentre os dois candidatos que hoje lideram as pesquisas.

Uma eventual vitória de Bolsonaro, que ao invés de programa de governo tem uma tábua de bons comportamentos sociais, à lá à tábua dos dez mandamentos, portanto, calcados em falsa cristandade, trará insegurança constitucional ao Brasil. Bolsonaristas rasgarão a Constituição. Detalhe: isso não é previsão; já foi verbalizado por eles. Será, pois, o retorno do autoritarismo pelo viés democrático. A Venezuela já vive isso. O povo – ou seja, essa estranha “voz de Deus” – poderá dar a Bolsonaro um papel em branco para ele borrar de amarelo e verde; e borrará.

Em caso de vitória de Haddad, o risco do autoritarismo não sumirá de cena. Para tanto, bastará um aceno no sentido de tentarem livrar da cadeia aquele que, hoje, de lá, à lá chefes do crime organizado, encontra-se preso, mas dá as ordens/coordenadas políticas aos seus fiéis e cegos seguidores. Se isso ocorrer, as armas e as ocupações em lugares fulcrais às democracias, como as universidades, poderão nos visitar sem bater à porta nem pedir licença.

Para fugir desse risco, estrategicamente, teríamos de pensar com o cérebro, não com o estômago. Todos deveríamos tapar o nariz, fechar os olhos e escolher, no primeiro turno, alguém que pudesse, no segundo, derrotar os dois da ponta. Detalhe: na escolha, o candidato do PSDB deveria ser a última das opções, pois, com ele, reapareceria a dicotomia “coxinhas versus mortadelas”.

Enfim, o futuro ruim está desenhado. Todavia, o ruim pode ser amenizado ou piorado: a escolher.

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