Por Roberto Boaventura
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Hoje falo da expressão “gatos pingados”, que, geralmente, vem acompanhada de outra expressão: “meia dúzia”. Juntas, tem-se a duplicidade de uma carga semântica que aponta para um grau fabuloso da depreciação de um grupo de pessoas. Quando se quer desqualificar o trabalho coletivo exercido por poucos cidadãos, basta afirmar tratar-se de algo feito por “meia dúzia de gatos pingados”. Paradoxalmente, na história do Brasil, a força dos gatos pingados é constante, é vibrante.
Os estudiosos de nossa cultura não têm acordo sobre as origens da expressão. Por si, o termo “gato” traz uma gama de informações, dais quais destaco alguns tópicos. De chofre, lembro da suposta dificuldade que se diz ter para matar gatos, prática cruel entre diversos povos. Disso decorre a fama de que esses felinos têm sete vidas; logo, por natureza, são resistentes.
Resistente também é o couro de seus corpos. Daí que do couro dos gatos, faziam-se os tamborins e as cuícas que, juntos, na passagem do século XIX para o XX, ajudavam a dar os melhores sons de percussão entre os escravos recém libertos.
Já uma das acepções do verbo “pingar”, de onde vem o complemento da expressão, refere-se aos suplícios que pingos de líquidos ferventes, como a água e o óleo, causavam nos seres em que eram “pingados”. No Brasil, pingavam-se os escravos, os gatos e outros animais, a depender do sadismo do algoz.
Há algumas décadas, Henfil criou a personagem “Gato Pingado” para representar os pouquíssimos torcedores do América Futebol Clube.
Em agosto deste ano, um vereador de Jacarezinho-PR depreciou um grupo de moradores da cidade – chamando-os de “gatos pingados” – que se revoltaram com as mordomias dos políticos locais. Os gatos pingados procriaram-se e algumas das mordomias foram cortadas.
Mas por que estou falando disso?
Porque ajudo na construção de uma greve – que agora já se aproxima do término – de resistência contra a destruição das federais. E nossa greve tem sido conduzida por “meia dúzia de gatos pingados”, como dizem alguns colegas que sempre se opõem às lutas; por isso, nunca resistem a nada.
Mas como é possível um professor universitário se opor a uma greve necessária, num panorama de humilhação a uma das profissões mais importantes a uma nação?
Por vários motivos. Com a imersão do programa neoliberal nas universidades, elas vêm sendo privatizadas aos poucos. Esse processo só ganha espaço porque muitos docentes parecem ter mentes colonizadas. Com a abundância desse tipo de mentalidade, tem sido fácil aos governos imporem a lógica do mercado entre nós.
Logo, por bem pouco e sempre com algo circunstancial (bolsas de projetos de pesquisa, participação em cargos administrações etc), muita gente tem esquecido de olhar para o futuro.
Aliás, o olhar de muitos é turvo, politicamente falando. Há pouco dias, uma colega dizia sobre seu horror de estar em uma greve, coordenada por meia dúzia de gatos pingados, por mais de 120 dias.
De fato, uma greve longa é um horror, pois demonstra a falta de disposição do governo ao diálogo; no mais, os prejuízos são enormes, principalmente aos estudantes. Todavia, horror bem maior do que isso foi o anúncio do pacote de ajuste do governo, lançado no dia 14/09.
Portanto, é desse pacote, que corta orçamento para todas as políticas públicas, incluindo as verbas para as universidades, que todos os cidadãos deveriam ter horror. Perante os “ajustes fiscais”, tudo é fichinha em termos de tragédia coletiva, inclusive uma greve de resistência como a que estamos vivendo.
Marcos Macedo Caron. Doutor em Educação/UnB. Prof. do IE/ UFMT
Com mais de 125 dias de greve e toda tensão dela advinda, talvez seja até desnecessário realimentar uma polêmica aqui no Espaço Aberto. Poderia “gastar” minhas linhas contribuindo com análises sobre o movimento e expondo as razões que, mesmo diante do cenário adverso, nos levaram a propor, nas assembleias de 17/09 e 01/10, a suspensão negociada da greve, proposta esta sobre a qual não nos furtamos em hipótese alguma a debater.
Porém, vejo necessário responder às críticas que um colunista aqui do EA fez ao meu último artigo, desde que, num compromisso sincero comigo mesmo, me obrigue a fazer desta resposta uma análise política que contribua para reflexões significativas no estudo do movimento social e sindical, ainda que em poucas linhas. E reafirmo aqui, como antes, que não me oponho exatamente às criticas políticas que o colunista me faz, porque fundamentais e necessárias à vida democrática, mas sim à forma e ao método que ele adota – e insiste em adotar – ao fazê-las.
Inicialmente, que fique bem claro: não fomos nós que começamos esta polêmica, mas nos defendemos nela. Não preciso de muito esforço para comprovar isto: convido o leitor a passar os olhos nas linhas do primeiro artigo do meu oponente (“Tensões da Greve”), bem como no seu segundo texto (e peço o mesmo em relação a mim), para perceber o que digo. As diferenças de estilo, postura, intenção e crítica são evidentes e falam por si.
Dito isso, vamos direto ao ponto. O que diz o colunista na sua segunda crítica a nós, particularmente a mim? Em primeiro lugar, ele tenta me imputar a imagem de um “derrotado politicamente” pelo simples fato de que, até agora, perdi algumas, que sejam muitas, das votações nas assembleias em relação à questão da greve. Posteriormente, além da repetição de velhos chavões (sobre os quais me debruçarei mais adiante), ele afirma que, além de eu ter tomado “as dores de outro colega”, eu estaria sendo incoerente quando me propus a um “debate de alto nível político de alma e coração aberto,” (como eu disse literalmente em meu primeiro texto), visto que o próprio título do meu artigo já iniciava de forma bastante ofensiva e nada disposta ao debate, bem como “ofendia” diretamente os companheiros que compõem o atual GLG (Comando Local de Greve).
Ledo engano, em todos os aspectos levantados, e vamos explicar pontualmente as razões.
Quanto ao primeiro argumento, o colunista comete o erro de concentrar toda a polêmica do fato à dimensão unicamente eleitoral, e ainda assim bastante limitada no tempo e no espaço. Trata-se de um posicionamento falseador. Primeiro porque, em que pese a legitimidade do espaço e das decisões das assembleias (por mim reconhecida e jamais questionada, independentemente do contexto favorável ou não a mim nesta ou naquela votação), eleições se ganham e se perdem, mas convicções ficam. Seria um “derrotado” se não as mantivesse. Além disto, vejo-me obrigado a lembrá-lo de que a chapa vitoriosa nas últimas eleições da Adufmat, além do meu firme apoio na campanha dentro ou fora do IE, foi constituída sobre um programa no qual grande parte do seu conteúdo, após amplo debate com os apoiadores, foi escrito e elaborado por mim. Poderia dar vários outros exemplos nos quais fui “vitorioso eleitoralmente”, mas limito-me a este aqui por razões de espaço.
Quanto às “dores tomadas por mim a outro colega”, nada tem de sentimentalismo estéril ou vulgar. Simplesmente agi em defesa de um colega que, a despeito do seu posicionamento politico bastante diverso do meu, debateu comigo e concordou, em linhas gerais, com as diretrizes impressas no “Manifesto à Razão” (chamado primariamente pelo colunista de “irracional”, sem ao menos debater uma linha sequer do conteúdo ali proposto). E o fiz não por causa da concordância pontual, mas porque não posso aceitar a forma de crítica descortês e desproporcional ao fato utilizada pelo colunista (convido o leitor a examiná-la novamente, nos dois textos. Não há outra interpretação possível que não seja um pedido sincero de desculpas ao colega criticado). A minha ação origina-se em alguns significados que, talvez pela forma de embate que até pouco tempo predominou hegemonicamente na Adufmat, andaram um tanto esquecidos: solidariedade, pluralidade e democracia.
Quanto ao título do nosso texto (um “texto-resposta”, repetimos, portanto, um texto de defesa), de fato o iniciamos de forma firme e contundente, não me furto em dizê-lo, mas necessário em razão do nível das críticas a nós desferidas. Porém – e aqui está a diferença capital, facilmente comprovada pelo leitor -, minhas críticas, mesmo “duras”, são calcadas unicamente em caracterizações políticas, jamais em desqualificações pessoais.
Já para o colunista, quem não concorda com a condução da greve e sua excessiva extensão (ou mesmo com a própria deflagração da greve), é, nas suas próprias palavras, “irracional”, “lunático”, “odiento” (sim, porque exerce o “ódio”, está lá escrito no seu texto), além de induzir de forma falseadora que a nossa missão, particularmente a minha, ao participar do sindicato e das assembleias, é “facilitar a vida do governo que nos arrocha e nos oprime”.
Em outras palavras, meu oponente tenta nos imprimir, a mim e a todo um contingente significativo de professores, dentro e fora das assembleias, a pecha de que estamos “a serviço do governo” e, nesse sentido, automaticamente “coniventes” com todos os erros que o atual governo e o partido que o sustenta venham a praticar. Qualquer comentário nosso sobre o movimento, qualquer defesa, qualquer crítica e, principalmente, qualquer proposta nossa aberta ao debate público de forma sincera e impressa em documento (ainda que o colunista as tenha elogiado como forma de método e organização, ato louvável, reconheço), sofre sempre a insinuação de que foi produzida nos “soturnos gabinetes do governo e da reitoria”, cujo objetivo é unicamente “enfraquecer a categoria por dentro”, “minando-a através de golpes cometidos a mando partidário”. Quando analisamos os seus dois últimos textos, não há outra hipótese (reducionista e absurda!) além desta, na qual são “acusados” indistintamente professores “petistas”, não petistas e antipetistas, favoráveis eleitoralmente ao governo ou abertamente de oposição, como é o perfil da categoria na sua variedade política real.
Na perspectiva metodológica, os equívocos do colunista são ainda mais graves, quais sejam: a) entende a nossa análise da realidade como concordância com a realidade analisada; b) confunde as razões (justas) da luta com as possibilidades de luta e, principalmente, destas ao longo da luta. É assim que tenta nos denunciar o anátema de que, “se somos pela suspensão da greve em algum momento” (ou a não deflagração em dado momento), logo, “somos a favor do pacote fiscal e da transferência dos nossos potenciais reajustes salariais e das verbas públicas para os banqueiros”.
É primário demais! Não há sentido nesta postura! Ela é irreal e, além de tudo, equivocada politicamente! Ela não soma, mas subtrai; ela não multiplica, mas divide. O referido autor insiste em desconhecer que a tônica desta sua crítica volta-se contra professores da base do sindicato que frequentam legitimamente as assembleias e, ação fundamental, fazem a greve (e não “furam” a greve, sejam contra ou favor dela), além de se submeterem às mesmas condições de todos ali presentes, isto é, ao corte do pagamento (caso haja) e à reposição das aulas ao término da greve e tudo mais que houver de sacrifício e penoso no movimento.
Diante disto, que outros nomes há para esta postura do colunista que não seja a “Intolerância”, o “Sectarismo” e o “Dogmatismo”? Creio que, para o seu nível intelectual e da categoria (alto, ambos, sem dúvida), não preciso recorrer aos dicionários para explicar melhor.
Assim, não bastasse o exposto, a essência de minhas caracterizações políticas se comprova numa das partes mais “surpreendentes” do segundo texto do meu interlocutor. Ao se autoquestionar “até quando vai a greve?”, o colunista diz: “até onde for possível”. Então perguntamos: o que é este possível? Ele responde: “estamos resistindo bravamente, e sem nenhum receio de ser DERROTADO” (grifo nosso, mas palavras dele, acredite o leitor). Com essa afirmação, temos que realmente concordar com ao menos um aspecto frequentemente levantado nas assembleias pelo colunista e alguns de seus aliados. De fato, “o Andes-SN é”, como dizem, “um sindicato diferenciado de todos os demais” (não sei se do país ou do mundo, pois ainda não entramos em detalhes sobre este aspecto), pois “não se entrega aos acordos com o governo em troca de trair os seus princípios”.
Bem, talvez deva ser mesmo o primeiro sindicato, desde os primórdios da Revolução Industrial, que busca a derrota como um dos objetivos (visto não ter “nenhum receio”), e não a ‘vitória’, ou uma ‘pequena vitória’, ou a ‘vitória possível’, ou, ao menos, a ‘menor das derrotas’. Vê-se bem porque, enquanto a maioria dos sindicatos dos SPFs filiados às mais diversas centrais sindicais do país, inclusive a “Conlutas” (à qual o Andes-SN é filiado), encaminha-se para a aceitação dos acordos com o governo este ano e prepara as baterias para 2017 (além de várias outras formas de resistência e luta), a direção do Andes-SN se prepara, mais uma vez, para a “autoderrota”, tal como a que se impôs na greve de 2012, quando o comando nacional se “autodissolveu” em Brasília deixando algumas teimosas seções ao léu, entre elas a nossa (vide documentos e boletim do Andes da época)
No mais, esclareço que a defesa no meu primeiro texto nada teve de ofensa pessoal a qualquer membro do CLG, até porque nem o citei no artigo. Nele refiro-me unicamente ao colunista, e que este não ponha na minha fala termos e sujeitos que não disse e aos quais não me referi. Minha crítica é essencialmente voltada ao discurso de se fazer como política central a tática da “greve pela greve”, isto é, transformando a greve, principalmente a presente greve, num “valor ético” de “comportamento universal”, o qual separa os “justos e bons” dos “pelegos e vendidos”. Para quem insiste com este discurso, deveria assumir as caracterizações políticas que fiz na minha primeira resposta e novamente aqui. Porém, caso queira um diálogo qualitativamente diferente, poderei sempre reavaliar minha posição publicamente, revendo possíveis erros e abusos da minha parte. Dada a minha formação militante, não terei nenhum receio em fazê-lo, e espero que o meu oponente, ou quem com ele se identifica, também o faça.
Por fim, que não entenda o colunista que o meu persistente convite ao diálogo seja entendido, no dizer de suas palavras, como um gesto de “bandeira branca” que eu estaria levantando sem muita convicção. Pelo contrário, sugiro ao meu oponente que saiamos deste embate um tanto “particularizado” em prol de análises mais fecundas e promissoras ao avanço do movimento sindical, inclusive para aprofundarmos melhor a qualificação das nossas próprias divergências, isto é, debatê-las no sentido “histórico/político maior”, e não como aparente “rusga” que ocultaria um suposto “antagonismo a priori” para o leitor menos avisado. E que tais debates sejam, se possíveis, com os nomes às claras, sem disfarces constrangedores, até porque se trata de reflexões entre, talvez, “adversários”, jamais entre “inimigos”, mas sobretudo entre companheiros de luta (e aqui sem aspas), divergentes ou não.
PS: em tempo: o Lenin no qual me apoio não é o “Lenin dos Pântanos”, expressão usada pelo autor da crítica, até porque desconheço esta “vertente” que, faço crer, inexiste politica e academicamente. É certo que há pântanos em várias regiões da gigantesca Rússia, embora frios e de natureza diversa dos nossos pantanais nos trópicos. Mesmo assim, o Lenin ao qual me refiro é o “Lenin Revolucionário”, objeto cotidiano de meus estudos, com os quais posso contribuir em debates politicamente formadores que venham a ser promovidos pela nossa respeitosa ADUFMAT.
Fernando Nogueira de Lima
Em outro tempo, em outra greve, tive a oportunidade de manifestar-me em relação à pertinência das reivindicações do movimento, na perspectiva de contribuir para possíveis avanços nas negociações entre grevistas e o governo, com vistas ao término da paralisação com um mínimo de dignidade para os docentes e técnicos administrativos das IFES. Nesse sentido, recordo-me da decisão do CONSUNI, sob minha presidência, de encampar aquelas reivindicações e de lutar pela autonomia das universidades na expectativa de contribuir para a minimização das razões que justificavam a deflagração e a continuidade daquela greve.
No que concerne à defesa do caráter público dessas instituições, recordo-me de quando convoquei, nos termos do Estatuto da UFMT, uma Assembleia Universitária, que é a reunião da Comunidade Universitária (docentes, estudantes e técnico-administrativos) para discutir e deliberar sobre Projeto de Lei formulado pelo MEC, que tratava de Autonomia Universitária. Essa ação se deu no Ginásio de Esportes, resultando em um posicionamento - contrário àquele projeto de Autonomia, que foi divulgado na imprensa local e protocolizado no MEC com um pedido de retirada do mesmo, do Congresso Nacional.
Outras vezes, manifestei-me por meio de crônicas em jornais de circulação regional, tratando do caráter público das IFES, das greves e da necessidade de se adotar também outros instrumentos de luta e não apenas e repetidamente a greve. Durante uma greve que ultrapassou 100 dias, na condição de docente e ex-reitor, posicionei-me em revista de circulação nacional nos seguintes termos: “Uma greve que ultrapasse 100 dias mostra que a prática de governo é inconsistente, no que tange aos destinos da educação no país. As greves são consequências. As causas que as ensejam são as políticas de governos. A César o que é de César”.
Essas atitudes e posicionamentos se apoiaram na convicção de que é necessário respeitar a profissão docente para se ter uma educação libertadora que propicie a cidadania e o avanço do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico, científico e econômico e, simultaneamente, assegurando o bem comum. Igualmente, também se devem ao entendimento de que greves prolongadas, que evidenciam o menosprezo dos governos para com a educação, impõem significativo empecilho para a consecução do compromisso social das universidades públicas e submetem os estudantes de graduação a enorme sacrifício e prejuízos irreparáveis, e que, por essas razões, deveriam ser a exceção, e não a regra.
Nesta altura desta reflexão é imprescindível ressaltar e registrar que essas ações tiveram sua importância relativa naquele tempo, todavia o maior mérito para que as universidades públicas, apesar dos pesares, ainda vivenciem autonomia, democracia e o caráter público deve-se sim aos professores, técnicos administrativos e alunos que se submeteram e ainda se submetem - à contra gosto - a repetidas greves, ao longo das três últimas décadas.
Por ser pertinente, reafirmo: é dever da sociedade contribuir para que a educação seja um sentimento nacional. Nesse sentido, para que isso se torne realidade as ações não podem se restringir aos períodos de greves, devendo alcançar a grande mídia, os poderes constituídos, o cidadão comum e o exercício do voto sem cores ou preferências partidárias, quando se tratar da defesa da educação em todos os seus níveis.
Neste instante, indago: quem são os nossos atuais parceiros e o que eles estão fazendo neste momento em que a paralisação em curso, sem entendimentos entre as partes, a passos largos e firmes já ultrapassou quatro meses?
Urge, pois, encontrar alternativas para a superação do atual impasse nas negociações. No atual contexto, interromper o trânsito, parar a pós-graduação, perpetuar os embates costumeiros nas assembléias, sejam elas esvaziadas ou concorridas, com todo respeito aos que pensam diferente, não assegurará, a meu ver, a adesão de parceiros que possam contribuir para a superação do impasse ora estabelecido.
Em não havendo a construção de alternativas outras, ainda que continuemos, em nossas assembleias, dissecando as palavras guerra e razão, assim como a situação dos formandos, daqui a pouco, sem ineditismo, ocorrerá uma assembleia das mais concorridas na qual maioria que permanecerá silente se posicionará, por ocasião da votação, favorável ao retorno das atividades.
Se a escolha para encerrar esta greve for essa, denotará que a atual construção da greve não contempla o desejo da maioria dos associados e em nada contribuirá para o atendimento das reivindicações em defesa da universidade pública, gratuita e socialmente referenciada. Além disso, fará com que a greve, que é um dos componentes da estrutura da liberdade sindical, seja desacreditada como instrumento de luta da classe trabalhadora, no espaço universitário.
A propósito de guerra e de razão, palavras utilizadas por diferentes oradores em recente Assembleia da categoria docente, me veio à mente Neoptólemo, jovem guerreiro, filho de Aquiles e conhecido por Pirro. O seu nome tornou-se famoso pela expressão "Vitória Pírrica", pois quando lhe deram os parabéns pela vitória na Batalha de Ásculo, conseguida a alto custo em que seu exército havia sofrido perdas irreparáveis após derrotar os romanos, em 279 a.C, diz-se que respondeu com estas palavras: "Mais uma vitória como esta, e estou perdido."
Desde então, a expressão “Vitória de Pirro" ou “Vitória pírrica” é usada para expressar uma conquista cujo esforço tenha sido penoso demais ou para classificar uma vitória obtida a alto custo, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis. Dito de outra forma, é uma metáfora para descrever uma vitória que de tão sacrificada, de tão desgastante, de tão violentamente conquistada, praticamente não valeu a pena alcançar, ou seja, o custo foi mais alto do que as vantagens obtidas.
Nessa linha de raciocínio, mesmo tendo, até aqui, me posicionado favorável à greve como instrumento de pressão para assegurar a abertura das negociações e o atendimento adequado das nossas reivindicações, estou, cada vez mais, desejoso de retornar às atividades na graduação. Não descarto, na atual conjuntura, a possibilidade de uma “Vitória pírrica”. Em vez disso, prefiro o estado de greve e a deflagração de uma campanha nacional financiada com as contribuições regulares dos associados para divulgar em períodos estratégicos, na grande mídia em horário nobre, a importância da educação e denunciar o descaso das políticas de governos que se sucedem, em relação às nossas reivindicações históricas.
No mais, doravante, ficarei atento aos versos da canção Aroeira de Geraldo Vandré: “Vim de longe vou mais longe. Quem tem fé vai me esperar. Escrevendo numa conta. Pra junto a gente cobrar. No dia que já vem vindo. Que esse mundo vai virar.”
Fernando Nogueira de Lima é professor da Engenharia Elétrica e foi reitor da UFMT.
Cruel imaginar que, enquanto a União Europeia discute se são “imigrantes” ou “refugiados” os milhares de indivíduos que tentam abandonar seus países devido às guerras, a pobreza, repressão religiosa ou política, entre outros motivos, morram sem que ninguém se comova.
Os últimos acordos datam de 1970, quando a Europa fechou as suas portas para os expatriados, salvo em condições especiais – se eles fossem importantes para os países que os recebessem.
De lá para cá, o mundo se tornou mais violento e mais pobre. Alguns países da África e do Oriente Médio foram se tornando inviáveis para as suas populações.
O que nos apavora é que o resto do mundo, mergulhado nas suas perspectivas capitalistas desumanas, não se sensibiliza, aparentemente, com esse verdadeiro genocídio.
As perdas de vidas são diárias nessa fuga desesperada. Famílias inteiras desafiam a morte através de caminhos marítimos ou terrestres.
A rota preferida por essas pessoas é: chegar à Itália ou à Grécia por meio de embarcações precárias, atingir, por via terrestre a Macedônia, daí para a fronteira com a Sérvia e, finalmente, para a Hungria, país que seria a porta de entrada final para a Alemanha e para os outros países ricos da Europa.
A Macedônia já se declarou em estado de emergência. A Hungria vem construindo uma imensa cerca de arame farpado para impedir a entrada desses imigrantes.
Acontece que as fronteiras de todos esses países já se transformaram em imensos campos de refugiados, com todos os problemas que isso acarreta para as suas devidas organizações.
A Organização Internacional para Migração (OIMpublicou um relatório mostrando que mais de 4.000 pessoas morreram em 2014 tentando migrar para outros países.
Em 2015 quase 1.000 pessoas já morreram em busca de uma vida melhor – segundo dados do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados)
A mais recente e chocante foi a morte de uma família síria em sua tentativa de fuga desesperada para o Canadá.
A imagem do corpo do menino sírio, de apenas três anos de idade, encontrado em uma praia da Turquia parece que, finalmente, acordou o mundo para este sério problema. Ele morreu juntamente com seu irmão de cinco anos e sua mãe. O pai foi o único sobrevivente dessa desgraça.
O Jornal britânico The Independent estampou em sua página: “Se essa imagem extraordinariamente poderosa de uma criança síria morta em uma praia não mudar a atitude da Europa com os refugiados, o que irá?”.
O jornal português também publicou a imagem chocante e justificou: “Vamos de forma paternalista proteger o leitor de quê? De ver uma criança morta à borda da água, com a cara na areia? Não sabemos se esta fotografia vai mudar mentalidades e ajudar a encontrar soluções. Mas hoje, no momento de decidir, acreditamos que sim”.
Eu também quero acreditar que sim. Quero crer que aquela imagem brutal e bestial do resgate do menino sírio Aylan Kurdi seja o início de tentativas sérias para se resolver esse grande problema.
Aquela imagem que chocou o mundo, já se tonou o símbolo da terrível crise migratória que hoje presenciamos.
Gabriel Novis Neves
20/09/2015
Aqui em Mato Grosso, após a queda do império de contravenção João Arcanjo, sem que fossem investigadas as relações com autoridades, o grupo mais recente que saqueou os cofres do Estado está com as máscaras caindo. Imagine se Arcanjo conta o que sabe. Temos uma história de verdadeiras gangues que saquearam o Estado e ainda passam por “gente de bem”. Até que enfim, saiu a decisão do STF contrário ao financiamento privado de campanha. A maioria do Congresso quer manter a qualquer custo seus privilégios para facilitar a compra histórica de mandatos. Esse é um retrato geral do Congresso, dos legislativos, manter a chave de permanência da corrupção. Após eleitos, compromisso com o povo é “para boi dormir”. Maioria dos mandatos, a representação dos interesses coletivos é uma farsa. Quanto a luta entre Congresso e STF, especialmente a Câmara Federal, parlamentares não terão vergonha em forçar um retrocesso, tentando medidas para manter o “status quo”. A decisão do STF ocorreu praticamente em prazo final, após enfrentamento dos pedidos de vistas para retardar ou atrapalhar a decisão, que teria que ser tomada até 2 de outubro, um ano antes da próxima eleição. A OAB agilizou uma ADIN pela inconstitucionalidade do financiamento privado de campanha em 2011. O processo só foi retomado em 2014. Para muitos, o Projeto de Lei seria uma deliberação infraconstitucional. Só a aprovação de uma PEC poderia superar a decisão do STF. É isso que a maioria do Congresso quer fazer. No entanto, o Presidente do STF deu como encerrada a polêmica da constitucionalidade ou não, afirmando ter validade a inconstitucionalidade para os partidos a partir de agora, e para as eleições de 2016 em diante. O Ministro Gilmar Mendes, a favor do financiamento privado de campanha, entende que ainda é necessário o STF definir a partir de quando entrará em vigor a decisão do STF contra o financiamento privado de campanha. O PT, que nutriu-se de financiamento privado de campanha com dinheiro público (petrolão) após assumir o poder, está mergulhado em franco desgaste e descrédito. A ponto de formarem recente uma comissão nacional para assessorar o partido, que há muito não conta com militantes e cabos eleitorais espontâneos. Exemplo: no apoio a Dilma e Lula na 5ª “Marcha das Margaridas” em Brasília, lotando o Estádio Mané Garrincha, com 40 mil mulheres lutadoras dos mais longínquos rincões do Brasil, foram repassados recursos no valor de 900 mil doados pelo BNDES, Itaipu e CEF. O Congresso Nacional do MST em 2014 teve patrocínio da Petrobras (650.000), BNDES (450.000), e CEF (200.000). Com a justiça nos calcanhares, isso será bastante dificultado. A coalizão de partidos baseou-se no aparelhamento da máquina pública em todos os níveis de governo, até as Estatais e Fundos de Pensão. Fome incontrolável de arrecadação e gastos em contas falseadas. Toma lá dá cá, garantia de impunidade, qualquer menção a desvios virou demonização e golpismo dos “inimigos da democracia”. Como no caso do financiamento da campanha da Presidente em 2014. O Ministro do TSE foi advogado de campanha da Presidente, não declarou-se impedido neste processo. Independente de ser ou não favorável ao Impeachment, é previsto na Constituição Federal. Assim caiu Collor, com o PT ocupando as ruas, como também no fora FHC. Nada de golpismo, quando acuados invertem a concepção democrática. Os argumentos do Procurador Geral da República ao TCU sobre as “pedaladas fiscais”, são ridículos. Não é novidade que tenham festejado o orçamento de 2016 por não ter maquiagem! Da cultura da mandioca à “mulher sapiens”, ao “cachorro oculto em cada criança”, ao ser “surpreendida” pela crise anunciadíssima, apela acusando golpes dos inimigos de sempre. O mentor Lula e a pupila Presidente caminham entre a ingenuidade e a perversão do maquiavelismo? Enquanto isso, João Vaccari e Renato Duque, próceres do PT, pegaram agora 15 e 28 anos de prisão. Acuados, Lula e Dilma ainda acreditam que mentiras repetidas insistentemente viram verdades. Minha mãe, minha avó, diriam: “falta uma réstia de honestidade no trato com o povo”!
Waldir Bertúlio
Professor aposentado da UFMT
Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo, nem direito sem justiça
Nem juízes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências.
Mauro Iasi
Não é “conversa de corredor”: um conjunto de universidades públicas federais completou 120 dias em greve essa semana no país. Movimento, resultado de um processo democrático de consulta às bases, mediante assembleias realizadas em todas as sessões sindicais. Porque parece, na maioria das vezes, pelos “comentários de corredores”, que essa greve está literalmente comandada por meia dúzia de professores e professoras que não têm vocação para sacerdócio e que não sabem fazer pesquisa, por isso, fazem greve; e que só acontece na UFMT! Creio que a grande maioria precisa acreditar nisso para justificar sua omissão ou convicção em não fazer greve.
Aproveito a ocasião para registrar aqui alguns sentimentos e minhas convicções em participar de movimentos grevistas há quase 30 anos nesta universidade. Espero que não pareça discurso piegas ou arrogante, mas sinto necessidade de mais uma vez registrá-las, ainda que já tenha feito por diversas vezes em plenárias.
A mais importante, penso, trago da minha formação política: é a clareza que vivemos numa sociedade de contradições, de luta de classes e de que pertenço à classe trabalhadora. Isso eu aprendi ainda com o Partido dos Trabalhadores, quando defendia um projeto classista “rumo ao socialismo” ou o chamado Projeto Democrático e Popular, tantas vezes alardeado pelos timoneiros da razão instrumental. Se o PT me ensinou isso errado, problema dele que para mim perdeu a legitimidade enquanto partido de esquerda.
O professor Mauro Iasi avalia que o governo do PT tem aberto mão até mesmo de uma alternativa democrática e popular que com todas as suas limitações, poderia tensionar a ordem capitalista, aprofundando as lutas de classes e criando as condições para uma ruptura revolucionária. Contraditoriamente, a alternativa adotada desarma a classe, desmobilizando as suas organizações e fortalecendo a burguesia. É o controle e o apassivamento da classe trabalhadora; partido que se metamorfoseou de democracia de massas para democracia de cooptação. Eis sua tese. Eis o PT. (Iasi, 2006).
Para não ficar apenas no argumento de um professor comunista que, portanto, gosta de fazer greve, vou lançar mão da referencia inquestionável de um dos mais importantes ideólogos do PT, o professor Carlos Nelson Coutinho. Afirma ele: “Infelizmente, fui depois obrigado a constatar que o governo Lula, iniciado em 2003, longe de representar uma tal alternativa (refere-se à democracia de massas), tornou-se uma nova e radicalizada expressão do neoliberalismo; e o PT, em vez de se afirmar como o principal instrumento desta nova hegemonia, abandonou inteiramente seu velho programa e deixou-se envolver pelos piores vícios da politica brasileira”. É do conhecimento de grande parte dos intelectuais a defesa do professor Carlos Nelson da tão propalada democracia como valor universal e isso pressupunha para ele a presença de um sindicalismo forte e combativo. (Coutinho, 2006, p.53-54).
Tenho outra convicção que trago da minha formação acadêmica como assistente social e professora de Serviço Social (com mestrado e doutorado na área), cujo projeto ético-político é claramente comprometido com outra sociabilidade que imprima uma nova direção social anticapitalista: “esse projeto tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central – a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação dos indivíduos sociais. Consequentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero” (NETTO, 1999). Nesse projeto eu tenho construído as minhas bases profissionais e políticas.
Também faço greve porque minha trajetória na UFMT foi de muita luta e conquista. Para entrar aqui tive que passar em 1º lugar, ou seja, me submeter a várias provas. Mas as conquistas se somam: uma carreira de 30 anos com mestrado e doutorado públicos, meus livros, meus (três) filhos/as formados nesta instituição. Sem contar no plano afetivo, os/as companheiros/as e companheiros de departamentos que convivi e a legião de alunos e alunas que estudam meu livro por esse país, quiçá no continente.
Quero dizer ainda que não faço greve por aumento salarial exclusivamente, pois 5% não muda o poder de compra do meu salário. Disse em assembleia: “entrei pobre e saio pobre da universidade”.
Retomando as “conversa de corredores”, soube de comentário provavelmente capitaneado por alguém sem leitura sociológica ou análise de conjuntura, dizendo que eu estava passando “atestado de pobreza”. Ora, nós professores/as que vivemos somente dos proventos da universidade, não ganhamos o que merecemos; nós formamos cotidianamente um conjunto de profissionais de todas as áreas do conhecimento desse país, produzimos pesquisa, realizamos projetos de extensão e sequer temos o reconhecimento de um delegado de polícia, porque esse provavelmente é mais funcional ao Estado penal.
Para quem não conhece os principais eixos de nossa luta são: defesa do caráter público da universidade, condições de trabalho, garantia de autonomia, reestruturação da carreira e valorização salarial de ativos e aposentados. Lutamos, sim, principalmente, pelo que resta de uma instituição pública que vem sendo sucateada desde a ditadura militar, para que possa servir a várias gerações de homens e mulheres que necessitarão de uma universidade pública, gratuita, com qualidade e socialmente referenciada.
Retomando o projeto da minha profissão faço uma analogia dizendo que, como é um projeto e não uma religião, nem todos/as os/as assistentes sociais necessariamente farão sua defesa ou pautarão seus valores teórico-prático e ético-político pelo mesmo. Justo por preconizar princípios como autonomia e liberdade de escolha entre alternativas concretas dirão alguns: escolhi não fazer greve. O que me assusta é quando grande número tem essa convicção. Mas, eu disse muitas vezes, também em plenária, que já passei da idade de fazer cobrança: cada um com suas convicções. Da minha parte, continuarei na luta!
Ivone Maria Ferreira da Silva
Professora do Departamento de Serviço Social/CHS/UFMT
- “Intolerância e dogmatismo: “as doenças infantis” do sindicalismo sectário” -
Marcos Macedo Caron. Doutor em Educação/UnB; Professor do IE/ UFMT.
Nas mentes de sã consciência, uma greve que se estende por praticamente quatro meses tem alguma coisa de força, por durar tanto tempo, e alguma coisa de fraqueza, exatamente pelo mesmo motivo. Saber qual dos dois polos predomina num dado momento é um enigma tão complexo que, como é de se esperar, dificilmente conseguimos decifrá-lo de forma exata no calor da luta.
Desse modo, questionar a forma como vem sendo comandada a continuidade de uma greve (ou das greves do setor público em geral) é condição natural de reflexão não só acadêmica, obrigação primeira da nossa natureza profissional, mas de preocupação real e honesta com os destinos da categoria e da comunidade universitária.
Foi essencialmente na linha desta preocupação que elaborei, junto com outros companheiros da base da nossa categoria, dos mais variados posicionamentos e opiniões políticas, o “Manifesto à Razão” (anexo aqui ao texto), documento exposto de forma aberta e “sem tergiversação ou subterfúgios de propósitos e ideias” (como antecipava já no seu primeiro parágrafo) na última assembleia da Adufmat, em 17/09, na qual tratamos sobre o tema em debate.
O que dissemos ali? Basicamente, o que uma parte significativa da categoria (não saberíamos, nem poderíamos, dizer o percentual exato) provavelmente deve estar pensando neste difícil momento da luta, ou seja: 1º) “Há outras táticas e estratégias de fortalecimento da greve?” 2º) “Devemos buscar outros caminhos e saídas de negociação que não apenas a extensão “ad infinitum” dos dias paralisados?”
No entanto, para as posturas intolerantes e sectárias, esta preocupação legítima consiste em “grave heresia” ou “traição de classe” pelo simples fato de debater, em algum dado momento da luta, o “pecado original” da suspensão da greve, mesmo que esta se dê claramente sob a defesa de condições favoráveis à categoria e exigindo do governo uma pauta digna para o acordo. Infelizmente, a referida postura foi a escolhida por um membro do comando local de greve (e por vezes do comando nacional), contumaz colunista aqui do “Espaço Aberto”, ao comentar de forma bastante descortês as questões por nós levantadas no “Manifesto à Razão”. Ao invés de polemizar conosco politicamente sobre as divergências em pauta neste fórum - direito pleno e necessário do colunista – ele optou por ataques pessoais em um nível ético que não condiz com o respeito que nos esforçamos em cultivar no cotidiano profissional acadêmico.
Críticas políticas, e por vezes duras, são necessárias e nada temos contra, nem as tememos, até porque também as fazemos. Porém, em nenhum momento resvalamos para o campo do ataque pessoal. Nesse sentido, ao nos chamar de “lunáticos”, ao dizer que “destilamos o nosso ódio contra os trabalhadores e a categoria nas assembleias”, ao afirmar que nosso lugar “não é na universidade pública” e ao insistir que “deixamos a categoria constrangida, no sentido ético e profissional, pela nossa presença e opinião”, bem como outros impropérios (como o absurdo de supor que nossos alunos devem ser “infelizes” e “mal preparados” em função das nossas reflexões, além de outros termos que a boa educação me impede em dizê-los), o frequente colunista entorpece o debate e não contribui para sairmos do impasse do conflito, mas sim o agrava, ao criar a funesta ficção de que há “inimigos por todos os lados”, marca comum nas análises de viés autoritário.
Ao tentar nos imputar a falsa imagem de “agressores da classe trabalhadora” e de “capituladores da categoria”, simplesmente por divergências na condução do movimento, nosso oponente parece que avalia, numa versão moderna e adaptada do lema, como se “La Classe Ouvrière c’est moi”, ou seja, “A Classe Trabalhadora sou eu”. Trata-se de uma personificação despropositada que não corresponde em hipótese alguma à realidade, uma vez que a classe trabalhadora, na sua verdadeira integridade histórica, é muito maior do que o nosso meio e nossas polêmicas internas, ainda que dela façamos parte. Não sei de onde nosso oponente retirou sua “autorização” para falar exclusivamente em nome dela, talvez por se identificar com uma direção sindical nacional que se sente “orgulhosa” por não terminar as greves, mas sim em esgotá-las.
Contudo, obviamente que reconhecemos que nossas reflexões não são isentas de defeitos nem imunes às críticas. Nesse sentido, convidamos o leitor a analisar o “Manifesto à Razão” e tirar dali suas próprias conclusões. A despeito de concordar ou não com o que propusemos no documento, cremos que o leitor, desde que liberto do sectarismo dogmático, reconhecerá que ao menos há esforços e tentativas de contribuição sobre questões que nos aflige no campo imediato da greve e no nosso cotidiano profissional, além de propostas concretas e objetivas de reajuste e carreira no sentido sindical dos termos.
Por último, como acadêmicos que somos e eternos crentes na capacidade de reflexão e tolerância de nossos colegas, chamamos o nosso oponente, tal como o título do nosso “Manifesto”, à razão. Pela capacidade e preparo que tem como professor e intelectual da UFMT, temos a certeza que refletirá com ponderação sobre o que disse sobre nós e, principalmente, da forma como o disse. Estaremos sempre de alma e coração abertos ao debate político de alto nível, como é da tradição de todos aqueles que lutam verdadeiramente em prol da emancipação dos trabalhadores e por um mundo mais justo e igualitário.
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