Sexta, 04 Dezembro 2015 14:27

 

JUACY DA SILVA*
 
No ultimo dia 15 deste mês de novembro, no Brasil comemoramos  a Proclamação da República, quando civis  e militares positivistas colocaram fim ao Império, forma de governo já naquela  época denunciada por muitos, inclusive por Rui Barbosa,  como a quintessência  da corrupção.

Passados exatamente 126 anos de vida republicana, a praga da corrupção parece  estar muito maior do que quando do fim do Império. Mas  esta é outra estória que pode estimular  melhores reflexões  de como a corrupção é o fio de Ariadne, tecendo o pano de fundo da vida nacional por vários séculos, desde o descobrimento até os escândalos do MENSALAO, DO PRETOLÃO/LAVA-JATO,  e outros que ainda  estão aguardando que sejam  decifrados pelas investigações nos Estados e no país como um todo.

O dia 15  de novembro  também é dedicado, pela ONU, através  da Organização Mundial da Saúde, para reverenciar milhões  de mortos cujas vidas preciosas são ceifadas todos os anos em acidentes de trânsito, nas estradas, rodovias, ruas e avenidas do mundo todo, inclusive em  nosso pais, como bem atestam as estatísticas tanto de organismos internacionais quanto de entidades brasileiras.

De  acordo  com o relatório mais  recente, de 2015, da OMS-Organização Mundial de Saúde,  intitulado Rodovias seguras, os acidentes de trânsito foram  responsáveis em 2014 por 1,25 milhões de mortes, ou seja,  3.425 pessoas perderam a vida nesses acidentes. Enquanto o mundo todo, principalmente a grande mídia  ficaram  consternados pelos atentados do último final de semana quando foram assassinados pelo terrorismo 129  pessoas, todos os dias, todos os anos, os  acidentes de trânsito matam 26,6  vezes mais do que atentados terroristas. Isto é como se todos os dias, durante vários anos seguidos acontecessem 27 atentados como os últimos ocorridos em Paris, mas pouca ou praticamente nenhuma comoção é notada quando milhões de pessoas são mortas em acidentes de trânsito.

Só no Brasil, que  está  entre os cinco países com  maiores taxas e número de mortes, verdadeiros assassinatos ao volante, em 2013  morreram 46.935 pessoas. Entre  1980  e 2013,  o total de mortes no trânsito em nosso país chega a 1.070.773,  uma verdadeira chacina que não comove nem nossas autoridades e nem a opinião pública, deixando apenas sofrimento  e saudades para as famílias que tenham perdido seus entes queridos  e  a certeza de que a  impunidade para  este tipo de crime vai  continuar seu caminho.

Cabe também destacar que as taxas de mortalidade em  acidentes de trânsito são maiores nos países e nas  regiões mais pobres e subdesenvolvidas do que em países  e  regiões do mundo mais rico e desenvolvidos, tomando-se como referências  o PIB , população e número de veículos. A média mundial de mortes em  acidentes de trânsito por 100 mil habitantes é de 17,4; sendo a maior na África com 26,6 e a menor na Europa com 9,3. Neste aspecto, o Brasil está muito mais próximo dos países africanos do que dos europeus, pois tem uma taxa de 23,4 para cada grupo de 100 mil habitantes.

Segundo o relatório da ONU/OMS  as mortes por acidente em trânsito representam uma  grande perda em termos de vidas humanas, principalmente se considerarmos que a maioria das vítimas estão  em plena juventude ou idade produtiva, além  de perdas econômicas, em torno de 3% do PIB mundial e , no caso do Brasil, essas perdas representam 5% do PIB. 

Considerando o ano de 2015, quando o PIB mundial nominal deverá ser de US$78,28 trilhões de dólares  as perdas ou custos por mortes em acidentes de trânsito deverão ser US$ 2,35trilhões  de dólares. Tais custos para o Brasil neste ano (2015), tendo em vista a recessão nosso PIB, mesmo assim, será de US$1,8 trilhões de dólares,  caindo para a nona posição no ranking mundial, os custos das mortes por acidente de trânsito serão de US$ 90 bilhões de dólares ou R$ 350 bilhões  de reais, mais do que a soma dos orçamentos dos ministérios da saúde, da educação e do desenvolvimento social.

Uma  última informação, os  dados do relatório da OMS deste ano indicam que os acidentes de trânsito representam a principal  causa de mortalidade para pessoas com idade entre 15 e 29 anos, seguindo-se pelos suicídios, a  Terceira HIV/AIDS e a quarta assassinatos. Todas essas causas passíveis, principalmente de mortes no transito, de serem reduzidas e evitadas, desde que existam leis com penalidades mais pesadas, maior fiscalização, menos corrupção e maior responsabilidade, principalmente por parte de condutores, além, é claro de infra estrutura urbana e nas rodovias para garantirem um tráfego seguro.

Convenhamos. além de reverenciarmos mais de um milhão de pessoas que morreram em acidentes de trânsito no Brasil nas últimas três décadas, e mais de 12 milhões no mundo nos últimos dez anos, devemos fazer  um grande esforço para que essas taxas  absurdas de mortalidade em nosso país sejam reduzidas drasticamente como fizeram vários países como a China, os EUA, a Austrália, a Coréia do Sul, o Japão e praticamente todos os países europeus.

 

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia, articulista de jornais, sites e blogs.

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Quinta, 03 Dezembro 2015 10:41

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

Mesmo que os pós-modernos façam de tudo para jogar no lixo o legado da antiguidade greco-romana, isso ainda não foi conseguido.

Que bom, pois, na semana passada, todos, inclusive os destruidores das elaborações antigas, viram a ministra Cármen Lúcia do Supremo Tribunal Federal (STF) enunciar – à lá retórica dos clássicos – um dos mais importantes discursos dos últimos tempos no “país das delicadezas perdidas”, como já dissera Chico Buarque.

Cármen Lúcia – em sessão do STF que manteve a decisão de Teori Zavascki de prender o senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo Dilma/PT –, ao ler seu voto, lembrando o jingle do PT/Lula nas eleições de 1989, emocionou o país ao dizer:

Na história recente de nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós brasileiros acreditou no mote de que a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a ação penal 470 (mensalão) e descobrimos que o cinismo venceu a esperança. E agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. Quero avisar que o crime não vencerá a Justiça. A decepção não pode vencer a vontade de acertar no espaço público. Não se confunde imunidade com impunidade. A Constituição não permite a impunidade a quem quer que seja”.

Na mesma linha de se buscar nas figuras de retóricas a lógica do raciocínio tão bem trabalhada pelos antigos gregos e romanos, o ministro Celso de Mello também fez um incisivo discurso contra a corrupção no Brasil. Para ele, “a corrupção age como a ferrugem em relação ao ferro: é o agente decompositor das instituições democráticas”.

Mais adiante, a metáfora da “ferrugem” se explicita em seu discurso. Ela seria a incorporação dos “...marginais que se apossaram do aparelho de Estado...” A ferrugem, para Mello, teria se tornado “...realidade perigosa, que vilipendia, que profana e que desonra o exercício das instituições e deforma e ultraja os padrões éticos. É preciso esmagar e destruir com todo o peso da lei esses agentes criminosos que atentaram contra as leis penais da República e contra os sentimentos de moralidade e de decência...”.

Na contramão desses raciocínios, que nos elevam como seres humanos e nos fazem pensar que um dia poderemos ter um país melhor, vem a resposta debochada do senador preso: agira por “questões humanitárias”; o senador estaria consternado pela dor da família de um amigo preso na operação Lava-Jato.

Essa resposta, que continua a sustentar a mesma forma de agir dos “marginais que se apossaram do aparelho de Estado...”, parece confirmar que o senador estava mesmo desligado do mundo: sem internet, sem TV, sem comunicação alguma. Se estivesse conectado, teria sabido dos discursos acima citados. Teria sabido que Cármen Lúcia já tinha alertado que o cinismo, o escárnio e o crime não venceriam; talvez o senador tivesse sido mais cuidadoso para não se apresentar como debochado.

Mas já que dei a importância à estruturação mental para a construção da retórica dos dois ministros citados, que se ancoraram em conhecimentos da antiguidade clássica, recordo que li, na Folha de São Paulo, de 22/11/2015, que o MEC proporá mudança no ensino médio de História: estudantes deixarão de ver a história antiga europeia, incluindo Grécia e Roma.

Lamentável. Somos também descendentes da Europa. Assim, é preciso que encontremos formas equilibradas de estudar as contribuições de todos os povos dos quais descendemos. Esse tipo de subtração nos currículos escolares também é artimanha dos “marginais que se apossaram do aparelho de Estado...”.

Fiquemos atentos.

Quinta, 03 Dezembro 2015 10:40

 

Por mais absurdo que possa parecer estamos hoje sendo governados por forças que apenas buscam escapar dos camburões policiais. 
Os reais problemas do país são delegados a segundo plano, já que grande parte da nossa classe governante está apenas empenhada em se desvencilhar de seus próprios imbróglios éticos, que se avolumam dia a dia. 
Essa é a razão fundamental da nossa absoluta falta de perspectiva com relação a essa crise econômica, política e social, a mais longa de todas que já vivemos. 
O resultado de toda essa irresponsabilidade é a inércia maldita que a todos angustia. Essa sensação de labirinto de areias movediças em que nos movemos atônitos sem encontrar uma saída. 
As crises mundiais apregoadas como causadoras de muitos estragos, principalmente no tocante ao desemprego, nem de leve causaram os efeitos devastadores que essa nossa agrura vem causando, em especial nos menos abastados. 
Com o desprestígio internacional nos tornamos reféns das atuais agências de avaliação de risco, ou seja, as que vão determinar a credibilidade do país para o qual deve migrar o capital. 
Diante dessas condições ditadas pelas economias fortes de mercado, estamos cada vez mais tendo as nossas notas rebaixadas no quesito “bom pagador”, fator esse estimulante para uma economia já agonizante. 
Enquanto isso, nossos governantes comportam-se como se estivessem num baile da Ilha Fiscal, com suas viagens megalômanas, seus privilégios escancarados, todos procurando salvar suas próprias peles chamuscadas, indiferentes ao circo que já mostra as suas lonas despencadas. 
Ao que tudo indica somente a sociedade civil unida pela indignação será capaz de encontrar uma solução rápida e eficaz para resgatar os valores éticos perdidos e colocá-los novamente na direção desse país.

Gabriel Novis Neves
02-11-2015 

Terça, 01 Dezembro 2015 14:46

 

JUACY DA SILVA*
 
Em um mundo marcado pelo egoísmo, pelo  descaso em  relação às outras pessoas, pela falsidade, pelo  engodo, manipulação, pela mentira, pelas “amizades” superficiais e interesseiras, pela virtualidade enganosa, onde a “lei de Gerson” é a base de valores  imediatistas, sempre é bom a gente refletir sobre o sentido e  significado  desta virtude, tão pouco praticada ou quase fora de moda, que é a gratidão.

Nesta  reflexão me  vem à mente uma passagem relatada na Bíblia  Sagrada que registra uma  estória/parábola interessante contada por Jesus  sobre a questão  da GRATIDÃO. É a estória dos  dez leprosos.

Indo o Mestre de Samaria para a Galiléia, ao passar por uma aldeia dez leprosos, que era a pior doença física e social de todos os tempos, correram  em sua direção mas não  se aproximaram  tanto devido os costumes e proibições em relação  a quem  sofria daquela  doença, que deviam se manter longe das demais pessoas,  e, aos gritos e lamentos, imploravam a Jesus que os curasse.
O Mestre compadecido e amoroso como eram duas de suas características,  disse-lhes…”ide  e apresentai-vos aos  sacerdotes”  e eles  assim o fizeram. Ao  caminharem  perceberam  que estavam curados. Um deles, então, decidiu  retornar para agradecer a Jesus.

Ao  ver este leproso que fora curado e vinha em sua direção, Jesus perguntou-lhe: “não  eram  dez? Onde estão os outros nove”. Isto demonstra que ainda hoje 90%  das pessoas que  recebem algum tipo de ajuda, de apoio, seja material, financeiro, moral ou até  mesmo espiritual são  tão  egoístas que jamais tem sequer  uma palavra de agradecimento. De seus dicionários não constam as expressões: MUITO OBRIGADO, valeu, você me tirou do sufoco quando eu mais precisava e por isso sou-lhe grato ou grata.

Por isso existe um provérbio que diz…”faça o bem  e não  olhe a quem”.  Pessoas  que  cultivam virtudes  como justiça, solidariedade,  amor ao próximo, altruísmo, sinceridade, lealdade,  jamais podem  esquecer  que existe também uma outra grande e importante virtude  que é a GRATIDÃO.

Todavia, essa virtude precisa ser  cultivada e cuidada como  uma plantinha, desde nossa infância, para que quando chegamos  a idade adulta possamos praticá-la como algo corriqueiro  em nosso dia-a-dia. Gratidão ajuda a construir relações  de amizade sincera e de amor verdadeiro, não meras  palavras vazias para impressionarem com quem mantemos contato, virtual ou real.
Por ultimo,  gostaria de fazer  referência  a uma outra estória que escutei de uma pessoa referindo-se  como foi importante uma ajuda financeira que  recebeu em meio a um problema difícil que  estava passando  de um amigo recente, quase desconhecido que veio  em seu apoio, tirando-a do sufoco.

Essa pessoa disse a outra que havia lhe ajudado: “Eu não me canso e jamais deixarei de  reconhecer e agradecer o que você fez por mim no momento em que eu mais precisava, quando eu estava no maior sufoco, quando  eu desesperada pedia por socorro, e a maioria de meus amigos e amigas viraram as costas. Você me ajudou, por isso sou-lhe muito e eternamente grata”

Esta é  uma atitude digna de registro, apesar de representar exatamente igual aquele único leprozo que  voltou para agradecer a Jesus, enquanto os outros nove  rapidamente esqueceram  de agradecer. Existem muito mais casos de falta de Gratidão  do que de pessoas que agradecem  a quem lhes ajudam  ou apoiam.

Talvez  a vida, em novos momentos de dificuldades e sufoco, acabe sensibilizando essas pessoas que não costumam praticar  ou cultivar  a virtude da gratidão. E você, caro leitor ou leitora,  como anda em termos da prática da gratidão? Faça um exame em sua consciência e responda a si próprio ou própria. Talvez você  tenha  recebido algo  e tenha  se esquecido ou esquecida de dizer muito obrigado, muito obrigada meu amigo, minha amiga.
Pense  nisso. O mundo seria muito mais belo se todos nós praticássemos esta virtude que se chama Gratidão, vale a pena tentar, comece  hoje mesmo. Se você recebeu apoio, compreensão, atenção, solidariedade e, por alguma razão, não  tenha agradecido ou agradecida,  ainda é tempo de corrigir esta falha  e restabelecer pontes que possam ter sido danificadas. Gratidão  está para uma amizade  verdadeira como alimento está para uma pessoa faminta.

*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de  jornais, sites e blogs. EmailO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Segunda, 30 Novembro 2015 17:22

 

Vivemos em um período de muitas transformações e contradições, onde o certo e o errado se confundem no imaginário popular.
Com o sucesso do Plano Real na segunda metade da década de noventa, foram fincadas as bases da estabilidade econômica no nosso país.
Isso permitiu maior oferta de empregos, tanto nas atividades ditas tradicionais, quanto nas novas.
Entretanto, a qualidade da mão de obra, pela nossa deficiência educacional, dificultou o crescimento do emergente mercado de trabalho.
Ficamos com um problema de difícil solução, que era atender ao crescimento do Brasil.
Como resolver em brevíssimo espaço de tempo a qualificação dos trabalhadores com pouca escolaridade?
A missão é difícil, mas não impossível, desde que se torne um programa de prioridade nacional.
Com vontade política dos nossos governantes em realmente investir pesado e sem erros em educação básica e técnica, teremos a tão desejada mão de obra necessária ao nosso desenvolvimento.
O governo, contudo, está mais interessado no ensino superior que, quando de qualidade, dá maior visibilidade ao país pelas suas conquistas e inovações.
Atualmente, temos no país um ensino superior público caríssimo e que consome grande fatia do orçamento do Ministério da Educação, formando profissionais de qualidade duvidosa, quando não, maus profissionais.
Um bom ensino técnico é prioridade para esta nação. É bom lembrar que profissionais de ensino técnico conseguem, inclusive, salários melhores em relação aos de nível superior.
É triste verificar a quantidade de pessoas com nível de escolaridade superior sem emprego, com desvio ocupacional para baixo e com salários irrisórios.
O país investe maciçamente no ensino universitário, muitas vezes com cursos ornamentais e ociosos quando a nossa prioridade e o mercado estão a nos mostrar a necessidade premente de excelentes profissionais de nível técnico.
Temos de continuar a buscar novos conhecimentos científicos para conquistarmos nosso espaço entre os países desenvolvidos, porém, nunca esquecendo os bons técnicos para conquistar o seu espaço no mercado de trabalho.

Gabriel Novis Neves
02-11-2015

Quinta, 26 Novembro 2015 10:45

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

A publicidade brasileira sabe ser sedutora. Todavia, de forma geral, ela ainda protege velhos conceitos sociais e reforça preconceitos.

Tais proteções e reforços evidenciam-se quando comparamos conteúdos de anúncios – que visam também interferir em comportamentos – com os de telenovelas, que vêm tentando, sob críticas, estabelecer maior aproximação da realidade com a criação ficcional.

Nesse sentido, contemplando liberdades inseridas no arcabouço do “politicamente correto”, e mais especificamente no campo da sexualidade, o SBT exibiu em 2011 o primeiro beijo gay na dramaturgia nacional.

Há pouco, na Globo, outro motivo de polêmica: duas personagens idosas trocaram carícias e beijos.

Para os conservadores, um escândalo. Ao que tudo indicava, o beijo gay não podia ocorrer nunca na dramaturgia de nossa TV, mas ridicularizar gays em programas de humor sempre foi permitido. Lembram-se dos gracejos que a personagem Zacarias ouvia dos demais trapalhões da mesma Globo?

E contra os negros? No mesmo programa, Mussum – de pouco ou nenhum refinamento – vivia embriagado. Os preconceitos atingiam também as mulheres obesas e mais velhas, sempre ridicularizadas quando postas ao lado de alguma jovem magra, loira... 

Enfim, excetuando esse tipo de humor grosseiro, nas telenovelas brasileiras cada vez mais personagens fora do convencional têm ganhado espaço.

E em nossa publicidade?

Bem. Diferentemente de várias propagandas governamentais, que já tencionam a sociedade de forma mais próxima do real dos “pecadores” e mortais da sociedade, a maioria dos anúncios continua vendendo um estilo de vida conservadora. O machismo é a base para muitas das produções publicitárias.

No entanto, eis que, de forma simultânea, alguns anúncios atualíssimos parecem inaugurar uma nova forma de abordar as relações sociais. Aponto três desses trabalhos, a saber.

O primeiro é um anúncio de um automóvel de marca alemã. Nele, um garotinho sonha com o carro como presente de aniversário. Sua jovial mãe, realizando o sonho do filho, lhe apresenta o novo automóvel, mas o faz junto com “uma pessoa”: seu novo companheiro.

Pois bem. Esse anúncio reconhece a força social da mulher, que pode tanto obter um bem material (um carro, no caso), quanto assumir um outro “bem” no plano amoroso.

Em outro anúncio, outro automóvel, mas de marca francesa: dois homens maduros, e não um casal heterossexual, como de costume, estão fazendo um “test drive” do carro. Os dois trocam olhares, sob enunciados dúbios a respeito da “beleza do automóvel”. Ao final, depois de o anúncio reforçar a força/potência do automóvel, surge uma pergunta do narrador em off aos dois rapazes, que se entreolham: “E daí, vai continuar achando só bonito?”

De forma sutil, o anúncio parece inserir como protagonistas no cenário de nossa publicidade um casal homossexual maduro e estabilizado financeiramente. Isso também é novo em nossa publicidade.

O terceiro é um anúncio de uma cerveja, que já havia tido um comercial vetado pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR). Motivo: machismo explícito.

Agora, em outro anúncio da marca, um casal está num bar. De forma insinuante, a personagem Verão é chamada pelo rapaz. No entanto, sua companheira dá o troco: também de forma insinuante, ela chama pelo jovem garçom: direitos iguais.

Acontece que, ao se resguardar tais “direitos”, estabelece-se uma disputa explícita para ver quem é mais infiel. Embora muito velho na vida, isso também parece ser novo no cenário de nossa publicidade.

Quarta, 25 Novembro 2015 19:45

 

JUACY DA SILVA*
 
Há poucos  dias  foi encerrada a CAMPANHA OUTUBRO ROSA, que  representa um alerta para as mulheres  e seus familiares quanto aos riscos do CÂNCER DE MAMA e a importância dos  exames  preventivos para diagnosticar  precocemente este  tipo de doença, que a cada ano mata quase 20 mil mulheres em  nosso país

Agora, com  o estímulo da OMS - Organização Mundial da Saúde,  estamos no início do NOVEMBRO AZUL, mês  dedicado ao alerta mundial quanto aos perigos  e riscos que  o CÂNCER DE PRÓSTATA oferece  aos homens que, principalmente por machismo ou ignorância, se recusam  a realizar os exames  preventivos, incluindo o famoso,  detestável  e temido TOQUE  RETAL,  fundamental, além  do exame de sangue PSA, para detectar com muita precocidade a existência  de câncer de próstata.  Outro exame  nesta bactéria de prevenção  contra o câncer de próstata e outros mais é a ultrassonografia do abdome.

Em 2015 estão previstas 245.641 mortes por câncer no Brasil, incluindo todos os tipos  da doença, ambos os sexos  e todas as faixas  etárias. Desse  total pouco mais da  metade , 132.126 das vítimas serão homens, mais do que o dobro de todos os assassinatos que tanta notícia  e  medo  infunde na população brasileira  que vive a mercê da bandidagem.

Isto demonstra que além da violência percebida e denunciada pelos diversos meios de comunicação, também existe uma enorme violência oculta que está vitimando centenas de milhares de pessoas  todos os anos .  Muitas, talvez a grande maioria,  dessas  mortes poderiam ser evitadas, se a saúde pública funcionasse a contento  e não fosse  o caos que atualmente a  caracteriza, principalmente pela incompetência e incúria de nossas autoridades. Em dez  anos o Ministério de saúde deixou de aplicar mais de R$185 bilhões , apesar  de que o  OGU – Orçamento Geral da União contemplasse  recursos para vários programas que  não  funcionam a contento, isto é um crime contra a população perpetrado pelos  nossos governantes.

Voltando ao NOVEMBRO AZUL,  neste ano  - 2015 – o câncer  de próstata  deve ser a causa de morte para 18.850 homens, um aumento de 9,5% na mortalidade por este tipo de câncer  em 3 anos, pois em 2012 morreram 17.218 homens  por  esta causa. As  previsões  do Globocan – organismo de pesquisa e monitoramento de câncer , ligado a OMS, indica que entre 2015 e 2035, o número de mortes  por câncer de próstata no Brasil deve aumentar em 105,1%, passando de 18.850 mortes  neste ano para 41.469  óbitos  dentro de 20 anos.  O mais alarmante é que a cada ano, devido ao envelhecimento da população  brasileira, o percentual de mortes por câncer  de próstata vai atingir muito mais  homens  com mais de 65 anos  de idade, passando de 89,4% em 2015 para 92,8% em 2035.

Segundo dados e estimativas do Globocan, entre 2012  e 2035  só de câncer  de próstata deverão morrer nada menos do que 658.303  homens no Brasil, número igual a  3,5 vezes  mais do que todas as pessoas mortas  em  Hiroshima e Nagasaki  devido ao bombardeio atômico feito pelos EUA em 1945 e fato que ainda hoje causa tanta  consternação no mundo todo.

Todavia, diante  de tantas mortes por todos os tipos de câncer e principalmente de câncer  de próstata em nosso país, este sofrimento de milhares de pessoas , seus familiares e amig@s, parece nada representar, principalmente para nossas  autoridades públicas que relegam a um plano secundário  as necessidades e o  sofrimento do povo, principalmente as camadas mais pobres, mais humildes e excluídas da sociedade  e que precisam  aguardar meses ou anos nas filas dos  serviços  especializados  do SUS, um Sistema falido pelo descaso de nossos governantes.  Este descaso é um verdadeiro crime contra o povo e um desrespeito incabível contra os direitos dos pacientes, principalmente os portadores  de câncer, que merecem não  apenas  nossa solidariedade, mas fundamentalmente, terem  seus direitos reconhecidos.

Nossa Constituição, a chamada Constituição Cidadã e a Lei de criação do SUS estabelecem que “saúde é um direito de todos e dever do Estado”. Todavia, como tantos dispositivos legais em nosso país, para milhares de pessoas que sofrem, mesmo  recorrendo à  justiça para  garantirem  o direito a vida, acabam sucumbindo, tudo  isto é letra morta ou apenas belas frases de  efeito, longe  da realidade de quem enfrenta esta vergonha que é  a nossa saúde pública.

A burocracia, o descaso de nossas autoridades, a incompetência dos organismos públicos, principalmente de saúde e a corrupção estão matando, assassinando milhares de pessoas inocentes no Brasil, diversas vezes mais do que todos os assassinatos e mortes no trânsito que tanto aterrorizam a população.

Que   este  NOVEMBRO  AZUL  sirva para uma reflexão mais profunda sobre esta questão  do câncer de próstata  e a saúde pública em nosso pais  e que, fruto dessas reflexões,  possamos  dar novos rumos `a política  e programas de saúde  pública antes que a  mortalidade aumente  ainda  mais.

 

*JUACY DA SILVA,  professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista  de jornais, sites e blogs. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Quarta, 25 Novembro 2015 11:23

 

Estatísticas recentes indicam que mais de cinquenta milhões de brasileiros, para não serem vítimas da omissão constitucional do Estado, utilizam algum plano ou seguro de saúde para sua manutenção pessoal. 
Comercializada, a relação médico-paciente desaparece, surgindo um vínculo voltado ao lucro, inviabilizando o exercício da medicina hipocrática, pontuada muito bem pelo Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM). 
O médico passa a ser chamado de “prestador de serviço” e o cliente de “usuário”. 
O antigo facultativo é remunerado pelas leis do mercado, e os contratos de serviços prestados receberam o apelido de “pacotes” e “pacotinhos”. 
Os honorários profissionais desapareceram dos trabalhos médicos e o mercantilismo atingiu também o ensino da medicina, onde centenas de novas escolas foram autorizadas a funcionar a partir de 2003, sendo que 69% delas são privadas. 
As mensalidades nessas escolas privadas chegam a atingir a incrível cifra de onze mil reais mensais, ficando na média de cinco mil e quatrocentos reais. 
O Ministério da Educação, através de normas, define critérios para um município sediar uma escola médica, entretanto, os mesmos nem sempre são respeitados, segundo o Conselho Federal de Medicina. 
Essas escolas, assim criadas e implantadas, confiam na cumplicidade ou incapacidade de fiscalização do MEC que, com deficiência de técnicos e recursos financeiros, acaba com os sonhos dos estudantes de frequentar uma qualificada casa de ensino. 
Dessa forma, a segurança dos pacientes com bons médicos no sistema de saúde termina frequentemente em enorme frustração. 
É oferecido à população um ensino-aprendizado de péssima qualidade, formando profissionais com insuficiência de conhecimentos científicos para o exercício da mais humana das profissões. 
É intolerável esta realidade, que tem como sustentação, apenas, ganhos empresariais e ambições político-partidárias. 
Temos de tratar de obter propostas de interesse público, e apagar esse vergonhoso quadro.

Gabriel Novis Neves
26/10/2015

Segunda, 23 Novembro 2015 16:11

 

JUACY DA SILVA* 

Líderes do G20, grupo formado pelos 20 países com as maiores economias do mundo estão  reunidos em Antalya, na Turquia para discutir  e analisar os principais desafios que afetam não  apenas esses países, mas  o mundo todo.

Diversos temas  constam da pauta dessas  reuniões do G20, incluindo a situação  da economia mundial,  com  destaque para a  recessão ainda presente em vários países, inclusive o Brasil; a  inflação  que começa a acelerar em vários países; o desemprego, os subsídios que ainda são  oferecidos para as fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis e dificultam a viabilidade econômica das fontes limpas e alternativas, fundamentais para um desenvolvimento sustentável.

Na  segunda feira, 16 de novembro, o Presidente OBAMA concedeu uma longa entrevista  a mais de cem profissionais de imprensa de  vários países quando destacou  alguns  aspectos, considerados por ele como importantes e que foram discutidos na reunião de cúpula do G20.

Além das questões  econômicas  já mencionadas Obama  destacou três temas que mereceram uma discussão  mais aprofundada: a)  a questão  do espaço cibernético,  guerra  e segurança  cibernéticas; b) a questão  das mudanças climáticas  e a conferência  do clima que deverá  ser realizada em Paris dentro de duas semanas  e a necessidade de um avanço para não apenas controlar as emissões de gases que provocam o efeito estufa, mas para conseguir um acordo para a sua redução significativa, e, finalmente, c) o combate ao terrorismo, principalmente  a partir  dos atentados  praticados pelo Estado Islâmico no último final de semana em Paris.

Praticamente  todos os questionamentos dos profissionais de imprensa  presentes na  coletiva versavam sobre  este ultimo tema. Os principais  questionamentos apresentados ao presidente Americano estavam direcionados principalmente  sobre a  estratégia do governo Obama que se recusa a enviar tropas americanas para combates terrestres.

Além de  caracterizar o Estado Islâmico  como a face do demônio, Obama enfatizou alguns aspectos importantes nesta Guerra. Primeiro, a necessidade de uma maior cooperação entre os diversos países, principalmente os que integram o G20,tanto em relação aos meios militares, inteligência quanto no estrangulamento econômico e diplomático, bem como reduzir até extinguir o espaço do que pretende o ISIS que deseja transformar-se  em um califado,  com território definido e governo constituído.

Obama fez questão de defender também que o mundo ocidental seja solidário e apoie uma solução para mais de um milhão  de imigrantes sírios que estão  sendo perseguidos e mortos pelo ISIS, independente de que  esses  refugiados sejam mulçumanos, cristãos ou de outras religiões. Reafirmou também que o ISIS  não  representa o islamismo, mas apenas  um  grupo  terrorista composto de fanáticos e assassinos.

Finalmente OBAMA disse que em face do terrorismo seu governo tem dois grandes objetivos  estratégicos: primeiro, manter a segurança física do território Americano, incluindo a população e os interesses nacionais dos EUA  ao redor do mundo e, segundo, negar  espaço de ação para o ISIS  tanto na Síria e Iraque,  destruindo suas bases de treinamento, suprimentos de armas e sua base econômica e financeira, procurando também  eliminar seus líderes  como aconteceu com a Al Qaeda, principalmente após o assassinato de seu líder maior, Osama Bin Laden, praticamente o fim do  referido grupo terrorista.

Como última mensagem Obama disse que com certeza à medida que tanto curdos, quanto outros grupos insurgentes  que lutam contra o Governo sírio conseguirem reconquistar esses territórios, com certeza o ISIS  irá se transformar em apenas um grupo terrorista sem território e com toda a certeza não  terá espaço  para planejar suas ações e treinar seus membros e que o governo Americano e outros países aliados irão combater  o ISIS ao redor do mundo  até que o mesmo seja totalmente derrotado e desapareça.

Neste sentido OBAMA  afirmou que até o momento 65países já se comprometeram  a juntarem-se aos esforços Americanos e europeus para que  esta Guerra, que tem seus objetivos  e estratégias diferentes de uma Guerra convencional, que  será de longa duração,  possa ter  êxito e devolver a paz tanto ao Oriente médio, norte da África quanto na Europa e em outros países, enfim, levar este combate decisivo a todos os locais em que o terrorismo tente impor suas práticas e ações suicidas. A paz verdadeira e duradoura somente será possível com a eliminação do terrorismo que tanto medo e pavor acarreta às pessoas e à população em geral.

*JUACY  DA SILVA,  professor  universitário, fundador, titular e aposentado UFMT,  mestre  em sociologia, articulista e colaborador  de jornais, sites e blogs.  Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

Quinta, 19 Novembro 2015 08:01

Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT 

A semana que passou foi uma daquelas que ninguém gostaria de ver repetida.

No âmbito nacional, duas barragens se romperam em Mariana, uma das cidades históricas do ciclo do outro em Minas Gerais. Hoje, ao invés do metal que abundava no século XVIII, enriquecendo nações europeias, o que vemos é uma onda gigantesca de lama de dejetos de uma mineradora. A lama já extinguiu a vida de antigos povoados, bem como o ecossistema de uma vasta região.

Todavia, por mais danos que aquela lama tenha provocado, e ainda provocará, nada se compara ao lamaçal político diário que estamos vivendo há muito tempo em nosso país. Pelo viés de cortes orçamentários, esse tipo de lama extingui vidas humanas diariamente.

No plano internacional, perplexidades. Na luta entre jihadistas e valores ocidentais, muitos deles realmente absurdos, consoante as palavras do historiador Robert Darnton (Folha de S.Paulo; 17/11/2015: A11), o “coração mais civilizado do Ocidente”, há poucos dias, foi bombardeado. 

A “Cidade Luz”, da antiga e glamorosa “belle époque”, hoje, é uma cidade que vive uma “époque d’enfer”. Literalmente, um show foi interrompido. Vidas humanas foram extintas sem aviso prévio. Agora, fazer soar novas notas e acordes musicais, sem sentir o pânico de ouvir algum barulho ensurdecedor de outras bombas e/ou o estampido de tiros, será desafio imenso a todos os mortais que, politicamente, estão do lado onde se põe o sol na Terra.

Mas não continuarei a falar das extinções de Mariana, nem das de Paris.  Falarei de outra tragédia; falarei do abandono da sala de aula por parte também de ex-estudantes que mal assumiram vagas de concursos públicos para professores efetivos realizados alhures.

Na verdade, esta não é a primeira vez que trato do tema; e o faço, agora, aproveitando o conteúdo da matéria “São Paulo enfrenta saída recorde de professores” (Folha de SPaulo; 17/11/2015: B1).

Na essência, embora a matéria da Folha se circunscreva a São Paulo, essa realidade é nacional. E os motivos centrais por esse abandono de lá são semelhantes também, quando não os mesmos, aos de outros lugares país afora.

E quais são os motivos que estão afastando os professores da escola?

Vários. Acima de todos, os salários que já beiram a humilhação social. Somam-se a isso outras motivações: o excesso de carga horário de trabalho em sala de aula; a dupla ou tripla jornada de trabalho, geralmente em diferentes colégios; o excesso de alunos em salas nem sempre adequadas; o excesso de atividades extra sala de aula (elaboração e correção de provas e atividades diversas); a falta de estrutura física de muitas unidades escolares; a falta de recursos tecnológicos em diversos lugares do país; a falta de manutenção dos recursos tecnológicos, quando eles existem; a desmedida competição incentivada entre os pares; a ausência de limites sociais por parte da maioria das crianças, adolescentes e jovens; a constante exposição a atos violentos por parte de estudantes, de pais e de polícias militares, especialmente quando os professores estão em greve.

Diante desse quadro, ou mudamos quase tudo na educação brasileira ou, em breve, teremos uma carência de professores “nunca antes vista na história...”  

P.S.: Na contramão desse tipo de abandono, registro minha admiração aos professores, estudantes, pais e membros de movimentos sociais que ficaram e ocuparam, dias atrás, várias escolas ameaçadas de serem fechadas exatamente pelo governo paulista. Foi uma rica e emocionante aula magna de cidadania.