JUACY DA SILVA*
Em um mundo marcado pelo egoísmo, pelo descaso em relação às outras pessoas, pela falsidade, pelo engodo, manipulação, pela mentira, pelas “amizades” superficiais e interesseiras, pela virtualidade enganosa, onde a “lei de Gerson” é a base de valores imediatistas, sempre é bom a gente refletir sobre o sentido e significado desta virtude, tão pouco praticada ou quase fora de moda, que é a gratidão.
Nesta reflexão me vem à mente uma passagem relatada na Bíblia Sagrada que registra uma estória/parábola interessante contada por Jesus sobre a questão da GRATIDÃO. É a estória dos dez leprosos.
Indo o Mestre de Samaria para a Galiléia, ao passar por uma aldeia dez leprosos, que era a pior doença física e social de todos os tempos, correram em sua direção mas não se aproximaram tanto devido os costumes e proibições em relação a quem sofria daquela doença, que deviam se manter longe das demais pessoas, e, aos gritos e lamentos, imploravam a Jesus que os curasse.
O Mestre compadecido e amoroso como eram duas de suas características, disse-lhes…”ide e apresentai-vos aos sacerdotes” e eles assim o fizeram. Ao caminharem perceberam que estavam curados. Um deles, então, decidiu retornar para agradecer a Jesus.
Ao ver este leproso que fora curado e vinha em sua direção, Jesus perguntou-lhe: “não eram dez? Onde estão os outros nove”. Isto demonstra que ainda hoje 90% das pessoas que recebem algum tipo de ajuda, de apoio, seja material, financeiro, moral ou até mesmo espiritual são tão egoístas que jamais tem sequer uma palavra de agradecimento. De seus dicionários não constam as expressões: MUITO OBRIGADO, valeu, você me tirou do sufoco quando eu mais precisava e por isso sou-lhe grato ou grata.
Por isso existe um provérbio que diz…”faça o bem e não olhe a quem”. Pessoas que cultivam virtudes como justiça, solidariedade, amor ao próximo, altruísmo, sinceridade, lealdade, jamais podem esquecer que existe também uma outra grande e importante virtude que é a GRATIDÃO.
Todavia, essa virtude precisa ser cultivada e cuidada como uma plantinha, desde nossa infância, para que quando chegamos a idade adulta possamos praticá-la como algo corriqueiro em nosso dia-a-dia. Gratidão ajuda a construir relações de amizade sincera e de amor verdadeiro, não meras palavras vazias para impressionarem com quem mantemos contato, virtual ou real.
Por ultimo, gostaria de fazer referência a uma outra estória que escutei de uma pessoa referindo-se como foi importante uma ajuda financeira que recebeu em meio a um problema difícil que estava passando de um amigo recente, quase desconhecido que veio em seu apoio, tirando-a do sufoco.
Essa pessoa disse a outra que havia lhe ajudado: “Eu não me canso e jamais deixarei de reconhecer e agradecer o que você fez por mim no momento em que eu mais precisava, quando eu estava no maior sufoco, quando eu desesperada pedia por socorro, e a maioria de meus amigos e amigas viraram as costas. Você me ajudou, por isso sou-lhe muito e eternamente grata”
Esta é uma atitude digna de registro, apesar de representar exatamente igual aquele único leprozo que voltou para agradecer a Jesus, enquanto os outros nove rapidamente esqueceram de agradecer. Existem muito mais casos de falta de Gratidão do que de pessoas que agradecem a quem lhes ajudam ou apoiam.
Talvez a vida, em novos momentos de dificuldades e sufoco, acabe sensibilizando essas pessoas que não costumam praticar ou cultivar a virtude da gratidão. E você, caro leitor ou leitora, como anda em termos da prática da gratidão? Faça um exame em sua consciência e responda a si próprio ou própria. Talvez você tenha recebido algo e tenha se esquecido ou esquecida de dizer muito obrigado, muito obrigada meu amigo, minha amiga.
Pense nisso. O mundo seria muito mais belo se todos nós praticássemos esta virtude que se chama Gratidão, vale a pena tentar, comece hoje mesmo. Se você recebeu apoio, compreensão, atenção, solidariedade e, por alguma razão, não tenha agradecido ou agradecida, ainda é tempo de corrigir esta falha e restabelecer pontes que possam ter sido danificadas. Gratidão está para uma amizade verdadeira como alimento está para uma pessoa faminta.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de jornais, sites e blogs. EmailO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy