Imagem: docentes se manifestam a favor das cotas durante o 42º Congresso do Andes-Sindicato Nacional / Arquivo Andes-SN
Desde 2014, a Lei 12.990 determina reserva de 20% das vagas de concursos públicos federais para pessoas negras. Em 2025, a Lei 15.142 elevou esse patamar para 30%, incluindo indígenas e quilombolas. No entanto, na prática, essa reserva legal tem sido mal cumprida. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por exemplo, a análise dos dados de 2016 a 2024 revelam que, das 532 vagas disponibilizadas para professor do magistério superior – 107 delas reservadas por sorteio -, apenas seis cotistas foram nomeados, o que representa inefetividade de 94,39% com relação às vagas reservadas pelo sorteio.
Os dados são do Relatório de pesquisa baseado em evidências: A implementação da Lei nº 12.990/2014: um cenário devastador de fraudes, elaborado por pesquisadores do Observatório das Políticas Afirmativas Raciais (Opará), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) em parceria institucional com o Movimento Negro Unificado (MNU) – disponível aqui.
E os pesquisadores alertam que a situação pode piorar com a aprovação da Instrução Normativa Conjunta MGI/MIR/MPI nº 261/2025, de 27/06 deste ano, que regulamenta os procedimentos já realizados para sorteio das vagas reservadas para candidatos pretos, pardos, indígenas e quilombolas em concursos públicos.
Os dados históricos mostram que, mesmo com reservas previstas em editais, muitas vagas reservadas não são preenchidas por falta de candidatos aprovados, ou são revertidas para ampla concorrência, porque o sorteio é realizado numa lista única de todas as vagas – reservadas e também da ampla concorrência.
Atualmente, a conversão de vagas destinadas a cotas em vagas de ampla concorrência é realizada por motivos como: falta de candidatos inscritos; falta de candidatos aprovados; quando o candidato cotista é aprovado com nota suficiente para classificação pela ampla concorrência; nos casos em que o candidato negro fica em segundo lugar na classificação geral e a instituição encontra uma “segunda vaga”, não prevista em edital, para nomear o candidato da ampla concorrência, convertendo a nomeação do candidato negro também para a ampla concorrência.
A crítica é que, embora a lei determine que as cotas precisam ser aplicadas em 30% das vagas totais, não exige que sejam distribuídas igualmente entre todas as áreas. Assim, a IN 261/25 cria um procedimento de sorteio para escolher onde aplicar as cotas dentro do total de vagas disponíveis. Este é o procedimento utilizado pela UFMT e outras universidades, mas para os pesquisadores do Opará, este modelo reforça o racismo estrutural, enquanto as universidades que adotaram como modelo uma lista única de candidatos cotistas têm obtido mais efetividade da política.
“A UFPEL [Federal de Pelotas] tem 100% de efetividade de nomeações em vagas reservadas. A Univasf tem 90% de efetividade em vagas reservadas. Ambas fazem lista única dos candidatos negros, considerando o conceito jurídico de cargo efetivo, expresso na lei. A UFMT tem 5,61% de nomeações de cotistas em vagas reservadas por sorteio de especialidades - seis nomeações em 107 vagas reservadas. Se considerarmos o universo de todas as vagas abertas, a efetividade de nomeações pela Lei de Cotas na UFMT é de 1,13% - seis nomeações em 532 vagas abertas para provimento do cargo efetivo de professor do Magistério Superior. Ou seja, inefetividade de 98,87% nas vagas abertas, no período de 2016 a 2024 e inefetividade de 94,39% nas vagas reservadas pelo sorteio”, afirma a professora Ana Luisa Oliveira, professora da Univasf e uma das coordenadoras da pesquisa realizada pelo Opará.
A Associação dos Docentes da UFMT - Seção Sindical do Andes (Adufmat-Ssind) realizou dois debates com a professora Ana Luisa Oliveira este ano, e pautou o assunto em reunião com a Gerência de Exames e Concursos da UFMT, apresentando detalhadamente todos esses dados. A Gerência compreendeu e se comprometeu verbalmente a corrigir a questão do sorteio nos editais futuros, e ficou de enviar formalmente o reconhecimento do compromisso. O documento ainda não chegou, e o sindicato pretende retomar a cobrança do cumprimento da integralidade da Lei de Cotas à Reitoria.
"É grave quando há tentativas de burlar a Lei de Cotas, o processo de heteroidentificação, mas é ainda mais grave quando essa violação parte da própria estrutura institucional, comprometendo a efetividade da lei em âmbito local. É urgente que a UFMT suspenda imediatamente esse sistema de sorteio, e também que assegure, de forma retroativa, o preenchimento das vagas que deixaram de ser ocupadas. A reparação precisa ser real e efetiva, o que exige o cumprimento integral da legislação e a garantia de que todas as vagas, negligenciadas ao longo dos anos por esse mecanismo, que entendemos como uma burla institucional, sejam devidamente preenchidas", afirmou o diretor-geral da Adufmat-Ssind, Breno Santos.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciências da Comunicação/USP
Mesmo ciente de que a última “Semana da Pátria” e seus dias subsequentes tenham tido significado inaugural em nossa história, posto que, pela primeira vez, um ex-presidente da República foi condenado por diversos crimes, como tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado de Direito, eu não planejava escrever sobre isso. Entendia que muito do que eu compartilharia já havia sido dito no calor dos acontecimentos. De repente, mudei de ideia. Motivo: o “bando de pé de chinelo”, lembrado por Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, que confirmou, em evento no dia 13 pp., que a decisão do STF precisa ser respeitada. Elementar. Admitiu ainda que houve planejamento para o golpe de Estado. De novo, elementar; aliás, também por isso, a condenação exemplar; e não apenas ao nosso país!
Na sequência, Valdemar completou:
"O grande problema nosso (da direita e da extrema direita) é que teve aquela bagunça no 8 de janeiro e o Supremo diz que aquilo foi golpe... um bando de pé de chinelo (grifo meu) quebrando lá na frente e eles falam que aquilo é golpe”.
Dos pés de chinelo da extrema direita, lembro que aquela turba ignara – municiada 24 horas por fake news e (des)norteada pelo cínico lema Deus/Pátria/Família – tinha um mentor: um ex-capitão, hoje, usando tornozeleira e preso preventivamente. Em idos tempos, o ex-capitão usara as botinas do Exército; e destas dependia para o golpe pretendido.
Pois bem. Daqui pra diante, mesmo tudo parecendo estar no seu lugar, optei por tratar, agora, de alguns versos de duas composições musicais engajadas, mas não panfletárias, que dialogam com tópicos relevantes de nossa contemporaneidade política. Este meu exercício almeja se somar à necessária e constante prevenção contra novas incursões golpistas.
A primeira das canções é de Jonathan Silva, surgida no clima eleitoral de 2018. Em tom profético, trata-se do cadenciado “Samba da Utopia” (https://www.youtube.com/watch?v=KDXX7m3iBzc). Com alusões ao estilo autoritário de ser e estar na política por parte do então candidato Jair Bolsonaro, na canção, é dito que:
“Se o mundo ficar pesado/ Eu vou pedir emprestado/ A palavra poesia// Se o mundo emburrecer/ Eu vou rezar pra chover/ Palavra sabedoria// Se o mundo andar pra trás/ Vou escrever num cartaz/ A palavra rebeldia// ...Se acontecer afinal/ De entrar em nosso quintal/ A palavra tirania// Pegue o tambor e o ganzá/ Vamos pra rua gritar/ A palavra utopia”.
Desse samba, destaco que, por bem pouco, a “tirania” não entrou pra ficar e arrebentar o “nosso quintal”, pois o golpe cívico-militar foi planejado e tentado.
A segunda canção é “Pedrada” (https://www.youtube.com/watch?v=qfWoph8jxz0) de Chico César, constante do álbum “O Amor é um Ato Revolucionário”, de 2024. De maneira enfática, ela dialoga com o fantasma do fascismo, sempre presente na história. Eis alguns de seus versos:
“Cães danados do fascismo/ Babam e arreganham os dentes/ Sai do ovo a serpente/ Fruto podre do cinismo...// Ê, república de parentes, pode crer/ Na nova Babilônia eu e você/ Somos só carne humana pra moer/ E o amor não é pra nós// Mas nós temos a pedrada pra jogar/ A bola incendiária está no ar/ Fogo nos fascistas...”
No início do texto, quase tudo parece literal na tarefa de sintetizar o ser fascista como violentíssimo na produção dos males que produzem às sociedades que subjugam. Autoritário por excelência, esse tipo está sempre a serviço dos seus interesses ou dos de seus clãs; daí, em nosso caso, a expressão “república dos parentes” surgir, na canção, ultrapassando a lógica da já limitada “República das Bananas”. As ações do filho 03 do clã apeado do poder – hoje, incitando os EUA contra o Brasil – são exemplos sínteses e abomináveis, pois, na ânsia de contemplar interesses familiares, se lixam para a totalidade daquilo que chamam Pátria.
Na vida política, tais tipos são sedutores na oratória, mesmo que a essência de seus discursos seja das mais rasas de que se possa ter conhecimento; assim, tais sujeitos, aproveitando-se de uma ignorância coletiva, construída ao longo do tempo, mesclada com a decepção e o ódio ao adversário político mais imediato, não se constrangem de usar e manipular até discursos religiosos para obtenção de seus interesses; assim, o “Deus acima de tudo” não passa de um jargão tão balofo quanto cínico, pois é emitido por despossuídos de humanidade. Como um de tantos exemplos, faço lembrar daquela imitação de pacientes que morriam da Covid, buscando um pouco de ar para respirar. Lembram-se disso? Estarrecedor.
Como resposta a esse tipo desprezível de político, o texto de Chico César sugere as fortes metáforas da pedrada a ser jogada, bem como a do fogo a ser ateado, queimando qualquer resquício de atos fascistas. Na junção dessas metáforas, uma leitura possível desses versos pode ser a do revide nas urnas – eletrônicas, obviamente – em momentos eleitorais.
Em suma, metaforicamente, significa esmagar e transformar em cinzas qualquer pretensão autoritária de poder, pois isso é o maior símbolo do atraso da humanidade que se pensa evoluída pelo simples fato de se encontrar no atual milênio da história. Na essência, a “Pedrada” de Chico César pretende ser um verdadeiro réquiem, tanto às botinas quanto aos pés de chinelo, que adoram lamber botas de golpistas vis.
Diretoria da Adufmat-Ssind reforça convocação para assembleia nessa sexta-feira, 19/09, com este ponto de pauta
Eu reunião realizada na Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) nesta quarta-feira, 17/09, a reitora Marluce Souza e Silva concordou com a Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind), de que é preciso aprofundar o debate sobre as propostas de desmembramento dos campi antes de tomar qualquer decisão. De forma alheia à comunidade, a Comissão de Educação do Senado aprovou, esta semana, a indicação ao Executivo para a criação de nova universidade federal a partir do campus da UFMT em Sinop.
A apreciação causou estranhamento porque, em julho de 2024, a Adufmat-Ssind solicitou oficialmente, por meio de documento elaborado pelo Grupo de Trabalho Multicampia e Fronteiras, entregue a todos os parlamentares que têm projeto nesse sentido (leia aqui), que não haja encaminhamento dos projetos sem que o debate seja realizado e a comunidade - não apenas de Sinop, mas de toda a UFMT, em todo o estado - se sinta em condições de decidir.
“A Adufmat-Ssind tem posicionamento, vai encampar esse debate, mas ele não é apenas de interesse da categoria docente, é um tema de interesse de toda a comunidade acadêmica – docentes, técnicos-administrativos e estudantes – e, portanto, uma responsabilidade da instituição”, afirmou o diretor-geral da Adufmat-Ssind, Breno Santos.
Apesar desse posicionamento, a representação local da Adufmat-Ssind e outros professores de Sinop, presentes na reunião, reclamaram que há uma imposição de determinado grupo político no campus, cujos interesses particulares têm apontado para o desmembramento como única alternativa aos problemas, à revelia da comunidade acadêmica. De acordo com os relatos, há uma campanha aberta em Sinop, refutando até o uso da palavra multicampia e, por vezes, utilizando informações falsas para justificar uma “emancipação”.
Os presentes lembraram, ainda, que não há perspectiva de aumento de orçamento mesmo com eventual desmembramento. No entanto, há quem deposite esperanças de melhoria por meio de emendas parlamentares. Segundo relatório divulgado pelo Observatório do Conhecimento, de 2014 a 2025 as emendas parlamentares passaram de 0,8% para aproximadamente 7,2% do orçamento das universidades federais, no entanto, isso faz com que a universidade fique mais dependente de políticos – e em “dívida” com eles.
A reitora afirmou que já se manifestou publicamente contrária ao desmembramento, neste momento, e se comprometeu a fazer o debate junto a comunidade acadêmica, inclusive como preparação para a assembleia universitária que marcará os 55 anos da instituição ainda este ano. Ela também afirmou que disponibilizará um relatório sobre as reais condições do campus de Sinop.
A Adufmat-Ssind reforça a convocação da categoria para Assembleia Geral Extraordinária que será realizada nesta sexta-feira, 19/09, às 13h30, na sede e subsedes de Cuiabá.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
A Diretoria da Adufmat, no uso de suas atribuições, torna público o presente Edital para a seleção de 1 (um/uma) profissional de Comunicação (Analista de Redes Sociais) e formação de cadastro de reserva.
Todas as vagas disponibilizadas pela Adufmat em editais específicos são destinadas à ampla concorrência, com prioridade para mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTI+, quilombolas e/ou com deficiência.
1. DO CARGO E ATRIBUIÇÕES
Cargo: Analista de Redes Sociais
Carga Horária: 20 horas semanais
Horário do Expediente: 14h às 18h, de segunda-feira a sexta-feira
Local de atuação: Sede da Adufmat, em Cuiabá (MT)
Remuneração Inicial: R$ 2.277,00 + VR e VT (mediante aceitação)
Atribuições:
- Planejar, criar e publicar conteúdo para redes sociais (textos, imagens, vídeos e infográficos e alimentar com as campanhas os canais do Adufmat nas plataformas de comunicação);
- Gravação e edição de vídeos;
- Interagir com o público das redes sociais, respondendo comentários e mensagens de forma adequada, conforme o orientado pela Diretoria da Adufmat para cada situação específica;
- Acompanhar tendências e boas práticas no universo digital para aplicação nas estratégias institucionais;
- Trabalhar em equipe para alinhamento na disseminação de informações;
- Trabalhar para que toda comunicação esteja alinhada à identidade visual e institucional da entidade;
- Apoiar na cobertura de eventos e mobilizações, garantindo atualizações em tempo real nas redes sociais da entidade.
- Assessorar na síntese, elaboração e execução de conteúdos para divulgação das ações ou atividades de interesse do sindicato, pelos meios de comunicação utilizados pelo sindicato, podendo ainda atuar na elaboração, formatação e edição dos mesmos;
- Seleção de materiais, realização da arte e acompanhamento da execução da agenda anual distribuída a filiados.
2. REQUISITOS MÍNIMOS
- Graduação em Comunicação Social: Publicidade e Propaganda; e/ou Cinema e Audiovisual e/ou áreas correlatas;
- Conhecimento em estratégias de marketing digital, tráfego orgânico e engajamento em redes sociais;
- Domínio de programas de plataformas para design gráfico e edição audiovisual;
- Habilidade na produção de conteúdo textual e audiovisual para múltiplas plataformas;
- Habilidades de comunicação e trabalho em equipe.
3. ETAPAS DO PROCESSO SELETIVO
3.1. Inscrições
Período: 22/09/25 a 26/09/25
Por e-mail, com envio da ficha de inscrição (Anexo I) e documentação exigida, para o e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.;
Documentos necessários (em PDF):
- Currículo e portfólio atualizados e documentados correlatos, de forma a comprovar formação e experiência;
- Documento de identificação;
3.2. Homologação das Inscrições
Divulgação das candidaturas homologadas: 29/09/25 (no site da Adufmat)
3.3. Análise de currículo (Eliminatória)
Resultado: 06/10/25 (no site da Adufmat)
3.4. Prova prática e entrevista, por ordem de inscrição (Eliminatória e classificatória)
Data: 08/10/25, das 08h às 18h (e, se necessário, 09/10/25, das 8h às 18h)
Prova Prática: Elaboração de conteúdo para redes sociais (texto, imagem e/ou vídeo) com base em um tema fornecido. O trabalho será avaliado por três membros do sindicato que, de maneira individual, irão considerar o conteúdo elaborado como apto ou inapto. Será eliminado o candidato que obtiver dois votos desfavoráveis.
Local: Sede da Adufmat (Cuiabá)
3.5. Resultado Final
Divulgação: 10/10/25, pelo site da Adufmat (https://www.adufmat.org.br/)
4. DISPOSIÇÕES FINAIS
● A(o) candidata(o) aprovada(o) assumirá o cargo imediatamente após a conclusão do processo de admissão.
● À Adufmat reserva-se o direito de, a seu critério, alterar o cronograma ou cancelar o processo seletivo, caso necessário.
● Dúvidas e informações adicionais podem ser esclarecidas através do e-mailO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
CLIQUE AQUI PARA BAIXAR O ANEXO I (também disponível para download no Arquivo Anexo Abaixo)
O Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT-10) concedeu mandado de segurança impetrado pelo ANDES Sindicato Nacional e determinou a suspensão do registro sindical da Proifes Federação, entidade cartorial que atenta contra a unidade sindical ao buscar exercer representação de docentes de instituições federais de ensino superior e da educação básica, técnica e tecnológica, alinhada aos interesses do governo. A decisão foi tomada pela 2ª Seção Especializada do TRT-10, em sessão realizada no dia 9 de setembro de 2025.
Segundo o acórdão, redigido pelo desembargador Alexandre Nery de Oliveira, ficou evidenciado que a Proifes não atendia ao requisito legal previsto no artigo 534 da CLT, que exige a filiação mínima de cinco sindicatos da mesma categoria para a constituição de uma federação. No caso, uma das entidades filiadas representa trabalhadores da educação básica, técnica e tecnológica do Paraná, sem delimitação à categoria docente do ensino superior, o que descaracteriza o cumprimento do requisito legal.
O voto vencedor apontou que a concessão do registro sindical à Proifes pelo Ministério do Trabalho foi irregular, uma vez que ignorou as exigências da legislação e acabou por criar sobreposição de representatividade com o ANDES-SN. Dessa forma, a Corte reconheceu o direito líquido e certo do Sindicato Nacional dos Docentes à suspensão do registro da federação adversa, até que haja decisão definitiva no processo principal de conflito de representatividade sindical
A decisão foi aprovada por maioria, revertendo o voto original do relator, desembargador José Leone Cordeiro Leite, que defendia a denegação da segurança. O Ministério Público do Trabalho havia se manifestado pela não concessão do pedido, mas prevaleceu a divergência aberta por Alexandre Nery de Oliveira.
Para a secretária-geral do ANDES Sindicato Nacional, Fernanda Maria Vieira, a decisão da Justiça do Trabalho, que suspendeu o registro da Proifes – concedido pelo Ministério do Trabalho - é emblemática. “O Mandado de Segurança é um instrumento processual que se concede quando se reconhece o direito líquido e certo de quem o impetra, e foi esse o caso do ANDES-SN. O desembargador do TRT 10ª Região reconheceu irregularidades para concessão do registro”, comenta. E provoca: “A decisão não só atesta a irregularidade da Proifes como também questiona a ausência de zelo do ministério (Ministério do Trabalho) ao não verificar as condicionantes legais para a concessão do registro.”.
Fernanda Maria lembra ainda que a Proifes - que tem atacado a legitimidade do ANDES-SN com postagens violentas em suas redes comunicacionais - foi deslegitimada diante do reconhecimento pelo Poder Judiciário, de que a entidade cartorial, ao tentar representar uma série de categorias, acaba por não representar ninguém: "Mas ao instante em que não se verifica atingida a representação sindical do sindicato Impetrante no Estado do Paraná emerge pecar a representatividade da federação litisconsorte pelo quantitativo mínimo exigido à conta de envolver sindicato que não representa necessariamente professores e trafega por ensino básico, médio e técnico-tecnológico sem sequer alcançar professores de ensino superior, resultando numa soma de sujeitos diversos para buscar algo igual.", diz o trecho da sentença do desembargador Alexandre Nery de Oliveira, destacado pela dirigente.
Na avaliação da Assessoria Jurídica Nacional (AJN), a estratégia surtiu o efeito esperado, após a negativa da antecipação de tutela. “ A partir da impetração desse Mandato de Segurança houve esse julgamento e o voto do desembargador-relator, trazendo explicitamente a questão, uma vez que a base de sindicatos fundadores da federação não preencheu os requisitos específicos da lei”, explica Adovaldo Filho, advogado que integra a AJN do ANDES-SN. Ele lembra que a decisão do Tribunal, mesmo passível de recurso, já está valendo e, com isso, a Proifes “não pode agir como entidade sindical típica, ou seja, não há representatividade, sob a ótica constitucional, daqueles sindicatos que a compõe e nem da categoria em si. Passa a ser uma associação e não um sindicato, na forma do artigo 8⁰ da Constituição Federal”.
O advogado explica ainda que, mesmo sem previsão de uma sentença final, a decisão proferid em acórdão será comunicada ao juízo de origem. “ Nós já informamos ao juiz de origem que esse acórdão foi proferido, em sede de razões finais, obviamente, para que ele seja considerado e que isso importe na sentença a ser proferida daqui a algum tempo”, informa.
ANDES-SN pela unidade da categoria
O ANDES-SN tem denunciado reiteradamente as tentativas de enfraquecimento da representação nacional da categoria docente por meio da criação de entidades sem a base legal necessária. A atuação do sindicato na esfera judicial foi decisiva para impedir a consolidação de uma federação irregular, que poderia fragilizar a unidade da categoria e legitimar um modelo de representação que não respeita a organização histórica construída pelos docentes das instituições federais de ensino superior.
Ao recorrer ao mandado de segurança, o ANDES-SN foi contundente na defesa da legalidade e da representatividade sindical. A decisão judicial representa uma vitória importante não apenas para o Sindicato Nacional, mas para toda a categoria docente, ao resguardar a autonomia organizativa e a legitimidade da luta sindical.
Com a suspensão do registro da Proifes, permanece assegurada a representação nacional exercida pelo ANDES-SN, enquanto o mérito da ação que questiona a legalidade do registro segue em tramitação.
Coordenadora do Grupo de Trabalho de Organização Sindical das Oposições (GTO), Livia Gomes dos Santos, 1ª vice-presidenta da Regional Planalto do ANDE-SN, resgata o papel da campanha “Só o ANDES-SN me representa!”, que ganhou força durante a greve federal de 2024 e foi encampada com grande força também, por docentes de base da Proifes. “Não é mera retórica. É a certeza de que apenas o ANDES Sindicato nacional é construído pela base e, por isso, capaz de defender nossos interesses. Por isso essa decisão é, sobretudo, uma vitória da categoria, que não estará submetida às decisões de uma entidade cartorial e que não tem representação significativa entre os/as docentes das IFEs”, analisa. E dispara: “Sempre vale a pena lembrar que a carta sindical foi um presente do governo que a Proifes ganhou depois de tentar trair a categoria, entrando em reuniões pelas portas do fundo e tentando assinar acordos que não tinham legitimidade, indo contra as decisões de suas bases”.
Fonte: Andes-SN
A Diretoria da Adufmat-Ssind, no uso de suas atribuições regimentais, convoca todos os sindicalizados para Assembleia Geral Extraordinária PRESENCIAL a ser realizada na sede e subsedes da Adufmat-Ssind:
Data: 19 de setembro de 2025 (sexta-feira)
Horário: 13h30 (Cuiabá) com a presença mínima de 10% dos sindicalizados e às 14h, em segunda chamada, com os presentes.
Pauta:
1. Informes;
2. Análise de conjuntura;
3. Proposta de desmembramento do campus de Sinop.
A Assembleia será presencial e ocorrerá simultaneamente no auditório da sede de Cuiabá e nos campi do Araguaia e SINOP.
Cuiabá, 17 de setembro de 2025
Gestão Adufmat é pra lutar!
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
Desde o dia 01 deste mês de setembro, estamos vivenciando e celebrando o TEMPO DA CRIAÇÃO, que termina no dia 04 de outubro, Dia de São Francisco de Assis — não apenas o defensor da natureza e padroeiro da Ecologia, mas também um PROFETA que revolucionou, com seus gestos simples, mas de cunho extremamente transformador e até mesmo revolucionário (daí a importância da EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA OU REVOLUCIONÁRIA), tanto a percepção, a visão quanto as ações que devemos promover em nossas relações com a natureza, com o universo, conosco mesmos e com o Criador.
Todas as pessoas sabem que é importante a gente estudar, observar, refletir, dialogar sobre as questões socioambientais e os desafios ecológicos que estão colocados para a humanidade, e que estão se agravando sobremaneira e de forma rápida ultimamente.
Diante disso, além de tudo o que já foi mencionado, as nossas AÇÕES são importantes. Costuma-se dizer que só as ações transformam, revolucionam a realidade, mas, para tanto, são precisos alguns pressupostos, como o despertar da consciência crítica e libertadora, a vontade de mudar, o aprofundamento na compreensão da dinâmica que existe não apenas no planeta, na natureza, mas nos efeitos que os diferentes modelos e sistemas de produção e de relações de trabalho e de consumo produzem tanto na natureza quanto na apropriação que cada pessoa e classe social fazem dos frutos do crescimento econômico, do desenvolvimento social, econômico e político.
Precisamos cuidar da natureza, do planeta, não como um objeto de adoração, mas para que tanto as atuais quanto as futuras gerações possam desfrutar, para seu bem-estar, dos frutos do “progresso”, do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, do crescimento econômico e do desenvolvimento integral, sustentável e integrado.
Diante disso, ao longo do ano, diversos momentos (dias, semanas ou meses) são criados para servirem como pontos de referência para uma reflexão mais profunda, crítica e criadora sobre a situação da saúde do planeta, a partir de cada dimensão dessa realidade, a partir de “nossos quintais”, ou seja, dos territórios nos quais vivemos, sofremos e também sonhamos e cultivamos a esperança e a paz — enfim, a harmonia com todas as obras da criação.
Voltando ao início desta reflexão: se estamos ainda no TEMPO DA CRIAÇÃO, até o dia 04 de outubro próximo, seria interessante observarmos o que o CALENDÁRIO ECOLÓGICO reserva nessas três semanas, ou poucos dias a mais, como oportunidade para, tanto refletirmos quanto, fundamentalmente, AGIRMOS — por um mundo melhor, por uma economia solidária, por uma produção agroecológica, uma agricultura realmente sustentável, uma economia circular, com menos consumismo, menos desperdício, menos degradação, menos poluição, menos voracidade diante dos biomas e ecossistemas; por mais justiça social, justiça climática, com mais respeito aos direitos humanos, de uma forma ampla, que inclua também o direito que todas as pessoas têm a um meio ambiente saudável, sustentável e inclusivo.
Vejamos o que este Calendário Ecológico nos reserva para as próximas semanas:
Restante deste mês de setembro:
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16: Dia Internacional de Luta para a Preservação da Camada de Ozônio
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19: Dia Mundial de Luta pela Limpeza das Águas (ver também 22 de março)
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21: Dia da Árvore (ver também 21 de março e 17 de julho)
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22: Dia Nacional em Defesa da Fauna
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25: Dia da Bandeira dos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
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29: Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos (Dia Internacional do Desperdício Zero – ver também 30 de março)
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29: Dia Mundial dos Rios
Outubro:
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01: Dia do Vegetarianismo
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03: Dia Nacional da Agroecologia
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04: Dia de São Francisco de Assis
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04: Encerramento do Tempo da Criação
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04: Dia da Natureza
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04: Dia dos Animais
Como podemos perceber, temos diversos momentos (dias) em que somos chamados para um despertar profundo, uma reflexão sobre aspectos e desafios fundamentais para buscarmos uma correção de rumo em nossas relações com a natureza e relações humanas e sociais, enquanto pessoas, cidadãos, cidadãs e também como governantes e empresários responsáveis pelo que estamos fazendo e contribuindo — tanto para a crise climática, que tantos efeitos perversos tem causado no mundo todo, inclusive no Brasil, quanto para a correção de rumo, através de políticas públicas e também mudanças de hábitos, estilos de vida e sistemas produtivos.
Isto é o que o Papa Francisco sempre insistia em seus pronunciamentos, encíclicas e exortações apostólicas, quando fala sobre a CONVERSÃO ECOLÓGICA — tanto individual quanto coletiva ou comunitária.
Todas as ações na defesa da ecologia integral, por mais simples que sejam, fazem a diferença. Mas as ações coletivas, comunitárias, têm um impacto muito maior. Por isso, precisamos estar unidos, juntos, nesta cruzada na defesa e em um melhor cuidado com o meio ambiente, com o nosso Planeta, que “sofre e geme” ao ser tão maltratado!
Pense nisso. Reflita sobre o que você está fazendo, deixando de fazer (omitindo-se) ou pode fazer para mudar o rumo desta catástrofe socioambiental anunciada!
*Juacy da Silva, professor fundador, tiular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste, E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy
Prezados/as docentes sindicalizados/as da Adufmat-Ssind,
Informamos que, para a folha do mês de setembro, com efeitos em 01 de outubro de 2025, a Secretaria Financeira da Adufmat-Ssind efetuou o reajuste dos descontos referentes à contribuição sindical, considerando o reajuste de 9% fruto do Acordo de Greve 2024 da categoria docente. A mudança implementou o ajuste do valor da contribuição com a incidência dos 9% sobre o 1% mensal (por exemplo, o docente cujo desconto era 100 reais, passa a ter descontado 109 reais).
A parte financeira do acordo de greve começou a ser efetivada em maio deste ano, mas não havíamos feito a inclusão no sistema, por conta de dificuldades no próprio sistema que operacionaliza o desconto. Fizemos agora, mas não implementamos (nem iremos implementar) o desconto retroativo do período desde a efetivação do acordo) e consideramos um reajuste 9% para todos e todas, embora para alguns níveis e classes o percentual tenha sido maior, posto que o reajuste não foi linear, na prática.
De qualquer forma, seguimos com os valores desatualizados para praticamente todos/as os/as docentes, dado que a última atualização havia sido em outubro de 2023 - desde lá não conseguimos mais os dados atualizados junto à PROGEP, o que nos impossibilita de realizar os reajustes individualizados, como sempre fazíamos, considerando promoções e progressões funcionais. Seguimos insistindo para que a administração superior nos subsidie os dados necessários para tal.
Quaisquer dúvidas, ficamos à disposição.
Atenciosamente,
Diretoria Colegiada da Adufmat-Ssind 2025-2027
Cuiabá, 16/09/2025
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Por Danilo de Souza*
Se o fogo foi a primeira grande conquista energética dos Sapiens, permitindo cozinhar, iluminar e proteger, e a fotossíntese domesticada pela agricultura foi a segunda, construindo as bases para civilizações sedentárias, e se a terceira veio com a domesticação da força animal, que multiplicou a capacidade de trabalho dos Sapiens, a quarta revolução energética pode ser entendida como o domínio dos fluxos naturais. Refiro-me aqui sobretudo aos fluxos do vento e da água, que passaram a ser apropriados de modo sistemático para gerar movimento, trabalho mecânico e, em última instância, para ampliar a produtividade e transformar a organização social.
O vento, que por milênios foi apenas uma manifestação climática associada a fenômenos naturais e religiosos, tornou-se força útil quando os Sapiens aprenderam a dominá-lo e a convertê-lo em trabalho. Um dos marcos dessa conquista foi a navegação à vela, que permitiu explorar mares e rios de maneira mais eficiente. As embarcações movidas pelo vento conectaram territórios, ampliaram o comércio, permitiram expedições de exploração e guerra, e criaram um novo horizonte de mobilidade. A navegação, além de unir comunidades distantes, também consolidou impérios, transformou economias e abriu caminho para a globalização incipiente. O vento, ao encher as velas, moveu exércitos, mercadores e aventureiros, alterando o curso dos Sapiens (Casson, 1959).
Paralelamente, em terra firme, os moinhos de vento começaram a desempenhar um papel fundamental na conversão da energia cinética dos ventos em movimento rotativo. Esses moinhos, inicialmente simples, foram aperfeiçoados em diferentes regiões do mundo, assumindo formas e técnicas variadas, mas todos voltados à mesma finalidade: substituir o esforço humano ou animal pela força da natureza. O moinho de vento, seja para moer grãos, bombear água ou serrar madeira, representou uma libertação parcial do peso do trabalho físico cotidiano. Ele também significou a possibilidade de acumular excedentes, de aumentar a produção de alimentos, de reduzir o tempo despendido em tarefas básicas e, assim, de abrir espaço para outras atividades econômicas e culturais (Langdon, 2004).
Enquanto o vento se tornava motor de barcos e moinhos, a água se convertia em uma das mais poderosas fontes de energia mecânica. O princípio da roda d’água, que transforma a energia potencial e cinética dos rios em movimento rotativo, foi um divisor de águas na história tecnológica. Estima-se que uma roda d’água vertical pudesse gerar entre 2 e 5 kW, equivalentes ao trabalho contínuo de 40 a 100 homens (Smil, 2017). Da mesma forma, um moinho de vento bem projetado podia substituir a força de 30 a 50 trabalhadores em tarefas como moagem de grãos e bombeamento de água (Gies; Gies, 1994). No mar, as velas multiplicaram ainda mais essa capacidade, permitindo que embarcações do período moderno deslocassem centenas de toneladas de carga apenas com o aproveitamento da energia eólica (Cipolla, 1965). Essa constância e escala permitiram estabelecer oficinas e centros de produção em torno das correntes de água, criando núcleos de atividade econômica que, em muitos casos, foram embriões de cidades industriais.
Nesse cenário, a importância da energia hidráulica não se limitava à produção material. O controle das águas tinha também dimensão política e simbólica. Povos e reinos que dominavam as margens de rios caudalosos, além de possibilitar o cultivo de alimentos e o desenvolvimento do transporte, também disponibilizada de produzir trabalho mecânico, a partir da energia cinética e potencial dos rios. Assim como os ventos impulsionavam caravanas marítimas, as águas moviam moinhos e ferrarias, transformando paisagens e fortalecendo as relações de dependência entre a natureza e a sociedade, que estão acopladas.
A quarta revolução energética, portanto, ampliou a capacidade humana de gerar trabalho mecânico sem depender exclusivamente da força muscular, seja de homens ou animais. Esse avanço, embora técnico em sua essência, teve profundas implicações sociais. Com mais energia disponível, a produtividade aumentou. O tempo antes destinado a tarefas repetitivas pôde ser redirecionado para o artesanato, o comércio, a ciência, a arte e a guerra. As sociedades tornaram-se mais complexas, com maior especialização de funções e maior diferenciação social.
Esse domínio dos fluxos também introduziu uma nova mentalidade. Ao perceber que o vento e a água podiam ser domesticados e colocados a serviço da produção, os Sapiens desenvolveram uma visão mais instrumentalizada da natureza. Se no início o fogo parecia dom da divindade e a agricultura dependia de rituais para garantir fertilidade, agora os fluxos eram interpretados como recursos que podiam ser explorados de forma racional, com técnicas e cálculos.
Ao mesmo tempo, os limites dessa revolução eram claros. Nem todos os lugares dispunham de ventos constantes ou de rios caudalosos. A distribuição geográfica da energia natural criava desigualdades entre regiões. Locais com abundância de ventos ou cursos d’água tinham vantagens comparativas, podiam produzir mais e com menor esforço, enquanto outros permaneciam dependentes da força animal e do trabalho humano. Isso explica, em parte, a concentração de atividades econômicas e a formação de polos de desenvolvimento em determinadas regiões.
Na Antiguidade, os romanos exploraram rodas d’água em larga escala no complexo de Barbegal, próximo a Arles, no sul da Gália, enquanto na China o uso de rodas hidráulicas se difundiu ao longo do rio Amarelo. Na Idade Média, entre os séculos XI e XIV, cidades como Londres, Paris e Milão prosperaram com moinhos d’água, enquanto Amsterdã e outras regiões dos Países Baixos se destacaram pelos moinhos de vento usados no bombeamento e na produção agrícola. No Mediterrâneo, Veneza e Gênova ampliaram seu poderio com a navegação à vela, e, a partir do século XV, a energia renovável dos ventos nas velas impulsionou a expansão marítima principalmente de portugueses, espanhóis e ingleses por todo o mundo.
Assim, apesar das limitações, a quarta revolução energética teve impacto duradouro. Ela inaugurou a lógica que se manteria nas revoluções seguintes: a busca por converter forças naturais em trabalho útil, armazenável e aplicável em larga escala. O vento e a água, transformados em movimento por moinhos e rodas, foram precursores diretos das turbinas modernas. As turbinas eólicas e hidrelétricas que hoje geram grande parte da eletricidade mundial são descendentes diretas desses primeiros dispositivos. O que antes movia pedras de moer hoje alimenta redes elétricas inteiras.
É significativo notar também o aspecto simbólico dessa etapa. O vento, invisível, mas palpável em sua força, sempre esteve associado a divindades e mitos de liberdade, movimento e transformação. Esse domínio dos fluxos pode ser visto como um elo entre as primeiras formas de energia controlada e a era industrial. Sem moinhos e rodas d’água, dificilmente os Sapiens alcançariam a mecanização em grande escala. Eles representaram uma etapa intermediária, desde antes da Idade Média, até uma pré-industrialização, em que a energia natural começava a ser convertida em trabalho de forma cada vez mais sistemática.
A quarta revolução energética, portanto, pode ser entendida como a etapa em que os Sapiens aprenderam a dominar os principais fluxos da natureza para transformar o movimento invisível do ar e o curso incessante da água em trabalho produtivo. Essa conquista aumentou a capacidade de gerar excedentes e consolidar sociedades mais complexas, e lançou as bases para a modernidade energética.
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CASSON, Lionel. The Ancient Mariners: Seafarers and Sea Fighters of the Mediterranean in Ancient Times. Londres: Victor Gollancz, 1959.
CIPOLLA, Carlo M. Guns, Sails and Empires: Technological Innovation and the Early Phases of European Expansion, 1400–1700. New York: Pantheon, 1965.
GIES, Frances; GIES, Joseph. Cathedral, Forge, and Waterwheel: Technology and Invention in the Middle Ages. New York: HarperCollins, 1994.
LANGDON, John L. Mills in the Medieval Economy: England 1300–1540. Oxford: Oxford University Press, 2004.
SMIL, Vaclav. Energy and Civilization: A History. Cambridge, MA: MIT Press, 2017.
VAN RUISDAEL, Jacob. The Windmill at Wijk bij Duurstede. c. 1670. Óleo sobre tela. Rijksmuseum, Amsterdã. Disponível em: https://www.rijksmuseum.nl/en/collection/SK-C-211. Acesso em: 7 set. 2025.
VAN RUISDAEL, Jacob. Water mill near a farm [Landscape with a watermill and men cutting reed]. c. 1653. Óleo sobre madeira de carvalho, 37,6 × 44 cm. Museum Boijmans Van Beuningen, Roterdã. Disponível em: https://collectie.boijmans.nl/en/object/2520OK. Acesso em: 7 set. 2025.
Coluna publicada mensalmente na revista - "O Setor Elétrico".
*Danilo de Souza é professor na FAET/UFMT e pesquisador no NIEPE/FE/UFMT e no Instituto de Energia e Ambiente IEE/USP.
A excelência da ciência desenvolvida pelas universidades públicas – as melhores do país - se deve a um fator primordial: tempo para análise e maturação dos dados. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) tem se destacado, nos últimos anos, como uma das 40 mais bem colocadas em alguns dos principais rankings, mas o esforço desses mais de 50 anos de existência pode estar ameaçado por iniciativa política, alheia à comunidade, apressada e prematura.
Isso porque a Comissão de Educação do Senado aprovou, nesta terça-feira, 16/09, a indicação ao Executivo para criação da Universidade do Nortão, por meio do desmembramento do campus da UFMT em Sinop. A ação é resultado da análise do Projeto de Lei 4.812/2020, de autoria do senador licenciado e atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD/MT).
A iniciativa tem se dado sem debate dentro da comunidade acadêmica. Como ficou evidente em matéria divulgada pela Adufmat-Ssind em junho deste ano, diferentemente de outros campi que foram emancipados (as federais de Rondonópolis e Catalão, por exemplo), os campi da UFMT não construíram um projeto de universidade, e isso vai fazer total diferença, já que a disputa política fora dos muros da universidade tem se pautado em interesses econômicos (leia aqui a íntegra da matéria divulgada pelo sindicato em junho).
A comunidade tem pedido tempo à Reitoria e aos parlamentares, mas a notícia da apreciação do projeto pela Comissão de Educação nesta terça-feira voltou a causar apreensão. “Nós entendemos que há uma indisposição entre a gestão do campus de Sinop e a Reitoria. Essa relação conflituosa é usada, aqui, para justificar um divórcio nada amigável. Sinop já tem uma universidade federal: ela se chama UFMT. A ideia de multicampia, com gestão compartilhada e propositiva está, de fato, longe dos objetivos institucionais. Contudo, esse desmembramento vem para alimentar interesses de alguns poucos que encaminham essa pauta sem discussão e à revelia da comunidade acadêmica. Desmembrar para dar independência a uma instituição sucateada e com problemas crônicos de pessoal e infraestrutura não é um ato simples. Nós corremos sério risco de, por conta do alinhamento político, ver a instituição criada virar um colégio do agronegócio, dando apoio irrestrito a pautas e projetos desse setor”, afirmou o professor Juliano dos Santos, coordenador-geral da subseção da Adufmat-Ssind em Sinop.
Para a professora Gerdine Sanson, também lotada na UFMT Sinop e diretora do sindicato, é preciso amadurecer a ideia, especialmente sobre como a nova universidade seria mantida. “A gente não sai de um lugar neutro. Estamos num momento muito desfavorável da relação entre Cuiabá e Sinop, pois, durante muito tempo, tivemos problemas administrativos, a questão do PAC [o campus perdeu recursos do Programa de Aceleração do Crescimento], até mesmo de desarticulação dos movimentos estudantis. Assim, foi construída uma animosidade, de forma deliberada, para cavar essa situação. Toda a movimentação é da parte política de Sinop, usando a separação do campus como algo positivo. Mas a gente sabe que não basta criar uma universidade; ela precisa ser mantida, e esse debate já deveria estar sendo feito há muitos anos no campus. Depois que se cria uma universidade, ela pode ser deixada, porque, politicamente, manter a qualidade de uma universidade não dá tanta visibilidade quanto criar uma nova. Esse é o nosso cotidiano, basta observar o caso de Cuiabá, todo o esforço que está sendo feito para reconstruir o campus de Cuiabá. É o que vai acontecer em Sinop numa escala muito pior, porque o campus já está sucateado antes mesmo de se tornar uma universidade autônoma. Vai nascer uma universidade sucateada. Ela vai viver ao sabor das emendas? Porque o orçamento nunca vai ser suficiente para tapar os buracos que já existem”, afirma a docente.
Para parte importante da comunidade acadêmica de Sinop, está evidente que a movimentação é apenas uma disputa por visibilidade política, já que o debate interno nunca foi realizado. O desmembramento do campus da UFMT de Rondonópolis, por exemplo, foi uma solicitação elaborada pela própria comunidade acadêmica e demorou 10 anos para ser uma realidade. Bem diferente disso, os servidores e estudantes dos campi de Sinop e Araguaia foram surpreendidos pela existência de mais de um projeto nesse sentido em 2024. “Nós tivemos uma única reunião há cerca de duas semanas aqui em Sinop, e mais nada. Não há amadurecimento interior nenhum, nós estamos longe disso. Essa universidade não vai nascer de uma construção interna, não reflete a vontade da comunidade acadêmica de Sinop, não tem movimento estudantil, a categoria docente não tem acúmulo. Eu mesma pedi ao pró-reitor que a convocação para a reunião para avaliar os projetos de lei fosse intitulada ‘emancipação ou multicampia’, e ele me respondeu que não poderia usar a palavra multicampia. Isso é neutralidade? Não é. Eles queriam fazer uma única reunião para dizer que a comunidade estava se posicionando a favor da emancipação. Algumas pessoas chegaram a sugerir que fizéssemos uma votação nesse sentido, o que conseguimos evitar, mas mesmo durante a reunião não se podia usar a palavra multicampia, porque para eles não é uma alternativa. Para quem quer a emancipação, já não existe mais a opção da multicampia”, contesta Sanson.
Devido a essas iniciativas, o próprio Andes – Sindicato Nacional sentiu a necessidade de formar um Grupo de Trabalho “Multicampia e Fronteira”, que teve início, em Mato Grosso, em 2024, reunindo docentes de todos os campi. O professor Edson Spenthof é um dos representantes do Araguaia no GT, e manifesta preocupações no mesmo sentido.
“Sobre Sinop, temos uma novidade: a ideia da relatora em transformar o PL do Fávaro em Indicação ao Executivo, o que coloca a iniciativa nos termos corretos, pois nos parece que isso é mesmo matéria do Executivo. Contudo, membros do GT já levantaram o medo de que, nas mãos do Executivo, isso possa virar moeda de troca diante de um Congresso sequestrado pelo que o jornalista Octávio Guedes chamou de Parlamentarismo de Emendas, ao que se pode acrescentar a expressão Congresso conservador e chantagista. E vamos lembrar da tese central até aqui defendida pelo nosso GT, de que sem garantias de recursos, sem que estejam resolvidos diversos gargalos e sem um projeto claro de universidade, ou para cada campus, é temerário aprovar o desmembramento. Ao campus do Araguaia valem os mesmos medos. Em Barra do Garças e região, o poder econômico, representado pelas lideranças políticas, também está ansioso por instrumentalizar a UFMT para os seus interesses. E isso gera o mesmo medo que muitos colegas de Sinop estão enfrentando. Contudo, até agora, o Conselho de campus (Consua) mantém certa cautela, cedendo menos a essas pressões pelo que chamam de ‘emancipação’, e que, de emancipação pode não ter nada”, conclui Spenthof.
A Adufmat-Ssind também foi surpreendida pela notícia da apreciação do projeto pela Comissão de Educação do Senado. No entanto, já havia solicitado reunião com a Reitoria para tratar sobre o tema, agendada para a tarde desta quarta-feira, 17/09.
“É importante que a Reitoria tenha uma posição política em relação à questão da multicampia, que não delegue apenas para decisão de cada uma das unidades ou cada um dos campi da UFMT, como se a decisão não fosse uma questão de interesse de toda a comunidade acadêmica, em todo o estado de Mato Grosso. Então, dado que é uma questão de interesse de toda a UFMT em todo o estado de Mato Grosso, isso tem que ser pauta do conjunto da comunidade e não apenas dos campi que se pretende desmembrar. Nós esperamos que nesta reunião com a reitora, na quarta-feira, nós tenhamos uma indicação de qual é a posição política que a Reitoria vai assumir diante de um possível desmembramento, que não passa pelo debate democrático junto à comunidade e pelo interesse expresso, genuíno, da comunidade”, disse o diretor geral da Adufmat-Ssind, Breno Santos.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind