Segunda, 22 Setembro 2025 09:55

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*
 

Ao publicar a Encíclica Laudato Si, em 24 de maio de 2015, ou seja, há dez anos, o Papa Francisco, utilizando o método da Igreja: VER, JULGAR/CELEBRAR e AGIR, pontuou diversos aspectos importantes quando se debruçou sobre a saúde do planeta, os direitos da natureza, a justiça social, a justiça climática e a justiça intergeracional. Assim, ele destacou alguns aspectos que estão diretamente relacionados com a questão da LIMPEZA, seja no plano individual ou doméstico e também da limpeza dos biomas, ecossistemas, enfim, a importância da limpeza como base da sustentabilidade, particularmente as questões da água, do saneamento básico e do lixo/resíduos sólidos.

Vejamos o que nos dizia Francisco há dez anos: 

“A terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo” (LS 21);
“Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades” (LS 5);
“Estes problemas estão intimamente ligados à cultura do descarte, que afeta tanto os seres humanos, os excluídos, como as coisas que se convertem rapidamente em lixo” (LS 22).

Em relação à questão da água na Encíclica Laudato Si (LS), ele nos exorta textualmente: 

“A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos” (LS 28);
“Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres são frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo as causadas por micro-organismos e substâncias químicas” (LS 29).

Também o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, em novembro de 2024, numa mensagem de vídeo dirigida aos negociadores na Coreia do Sul, durante o evento para buscar um acordo histórico contra a poluição plástica (que, lamentavelmente, até os dias de hoje os países não chegaram a um acordo), disse textualmente que “até 2050 os oceanos poderão ter mais plástico do que peixes”, uma projeção baseada em estudos que indicam o aumento da poluição plástica e sua acumulação nos mares, lagos, rios e córregos do mundo todo, afetando a vida desses sistemas, particularmente a vida marinha e a saúde humana.

Desde 1992, quando a ONU aprovou a criação do Dia Mundial da Água, passando pelo Dia Mundial da Limpeza (World Cleanup Day), que surgiu na Estônia em 2028, a preocupação com a questão do lixo, dos resíduos sólidos, com o saneamento básico e a qualidade do ar e da água, principalmente para consumo humano, tem estado na “ordem do dia”, tanto das “celebrações” de diversos organismos internacionais quanto na agenda das discussões públicas em praticamente todos os países.

Aqui cabe um destaque quando se diz que água não pode ser considerada apenas um bem a ser comercializado pelo mercado visando ao lucro a ser acumulado por algumas pessoas em detrimento de bilhões de pessoas; mas um direito humano fundamental, da mesma forma que os alimentos e a moradia digna.

Assim, diante desses desafios que afetam diretamente a qualidade de vida, da saúde e do bem-estar das populações, principalmente de grandes camadas populacionais de pobres, excluídos e moradores das periferias de todas as cidades, e também de bilhões de “esquecidos” que moram no meio rural, não podemos mais nos omitir, “racionalizando” esta triste realidade como algo “normal”, que faz parte do processo de “desenvolvimento” mundial e nacional.

Para colocar este tema e esses desafios na agenda das discussões públicas e não apenas nos discursos demagógicos e manipuladores das elites dominantes e dos donos do poder, foi escolhido o terceiro sábado de cada ano, que, em 2025, é 20 de setembro, como o DIA MUNDIAL DA LIMPEZA.
Limpeza de nossas casas, de nossos quintais, de nossas comunidades, de nossos córregos, de nossos rios, dos mares e oceanos, de nossas praias e nossas cidades. É superimportante que possamos refletir, dialogar e não apenas fazermos nossa parte diante desses desafios, mas também exigir que nossos governantes deixem de se preocupar com seus privilégios, suas mutretas e pensem, de forma séria, na definição e implementação de políticas públicas que resolvam de forma rápida tais desafios e problemas que afetam mais de 2,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo e mais de 110 milhões de pessoas em nosso Brasil.

Defender a democracia, defender o Estado Democrático de Direito, defender a soberania popular e a soberania nacional não pode ser apenas meros slogans, mas sim, definir e implementar políticas públicas, inclusive um amplo programa de educação ambiental crítica ou revolucionária, que possibilitem tanto o despertar da consciência ecológica, do cuidado com o planeta, nossa Casa Comum, quanto, em seus resultados, melhorem de fato as condições de vida da população, principalmente das grandes massas de excluídos, explorados, injustiçados, desrespeitados em seus direitos fundamentais como pessoas humanas, por meio de novos paradigmas que promovam mudanças e transformações profundas nos sistemas produtivos, nas relações políticas e, também, nas relações de trabalho e de consumo.

Sempre é bom refletirmos sobre dados concretos da realidade, tanto mundial quanto de nosso país, para percebermos a gravidade da falta de cuidado, no que tange, por exemplo, às consequências do descaso com questões ambientais importantes como a limpeza das águas, dos solos, em cada pedaço deste território planetário, como já mencionado.

De acordo com estatísticas oficiais de organismos internacionais (ONU), em 2024, mais de 3,4 bilhões de pessoas não tinham coleta e tratamento de esgoto e 2,2 bilhões de pessoas não tinham acesso à água tratada; 2,7 bilhões de pessoas não tinham acesso à coleta regular de lixo, sendo que dessas, em torno de 2 bilhões moravam em áreas rurais e 700 milhões nas periferias urbanas.

O resultado, muito claro, além da degradação do meio ambiente, ou seja, da natureza, como degradação dos solos, das águas e do ar, também tem consequências severas para a saúde humana — saúde individual e também saúde pública —, inclusive agravando a precariedade da falta de recursos públicos orçamentários para atender a bilhões de pessoas que diuturnamente buscam por cuidados médicos, hospitalares, ambulatoriais, além de milhões e milhões de mortes e muito sofrimento.

O número de mortes causadas no mundo em 2024, por falta de saneamento básico, foi de aproximadamente entre 1,4 milhão a 2,5 milhões de pessoas, sendo que dessas, mais de 70% eram crianças com menos de 5 anos, o que demonstra o tamanho do sofrimento para tantas famílias.

A poluição do ar, causada pelo descaso com o lixo e outros poluentes, em 2026 causou a morte de aproximadamente 1,2 milhão de pessoas por infecções do sistema respiratório.

Para o leitor menos avisado, provavelmente pode parecer: “Ah, isto é uma realidade distante, de países extremamente pobres da África, Ásia ou Oceania, e isto jamais vai me afetar no Brasil”, e por isso “não estou nem aí”.

Todavia, como resposta, invoco novamente as sábias palavras do Papa Francisco quando ele dizia:

“Tudo está interligado nesta Casa Comum, o Planeta Terra”, e mais, que não existem duas crises separadas — de um lado uma crise ambiental (da natureza) e de outro uma crise política, social e econômica —, mas sim, apenas uma complexa crise socioambiental que, para sua solução, requer medidas também complexas, integradas e “em regime” de urgência.
Tal como o nosso Congresso acaba de aprovar para a anistia dos golpistas do 8 de janeiro e da “PEC da Blindagem”, aumentando seus privilégios e status de cidadãos de primeira classe, enquanto o resto da população continuará sendo tratada como “cidadãos e cidadãs” de segunda classe perante o sistema judiciário brasileiro.

No Brasil, em 2024, na área urbana, nada menos do que 20,8 milhões de pessoas não tinham coleta regular de lixo, e mais de 25 milhões de habitantes rurais também não tinham acesso a este serviço público, ou seja, totalizando 45,8 milhões de pessoas. Além disso, praticamente metade dos municípios brasileiros não tem uma destinação correta do lixo coletado e menos de 10% do lixo coletado é reciclado, indicando alto índice de degradação ambiental por resíduos nocivos à saúde humana e uma perda bilionária de recursos financeiros.

Em torno de 110 milhões de pessoas não têm coleta e tratamento de esgoto, sendo comum, inclusive em inúmeras capitais e cidades de médio e grande porte ou até mesmo regiões metropolitanas de regiões consideradas ricas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e outras mais, esgotos escorrendo pelas ruas, populações “morando” ao lado de córregos, palafitas ou valões transformados em esgotos a céu aberto.

Mais de 15 milhões de pessoas que vivem nas áreas urbanas, principalmente nas periferias, também não têm acesso à água tratada e de qualidade — condição básica para limpeza e higiene doméstica, necessária para a saúde dessas famílias. E no meio rural, a população continua à mercê do uso de água contaminada por agrotóxicos, mercúrio de garimpos e outras formas de poluição.

A degradação ambiental também provoca centenas de milhares de atendimentos médicos, hospitalares e ambulatoriais. Relatórios recentes indicam que anualmente entre 50 a 80 mil mortes têm como causa a poluição do ar — número muito maior do que as mortes por assassinatos, feminicídios, acidentes de trabalho e de trânsito —, mas que não causam tanta consternação, seja por parte das autoridades, seja por parte da população em geral.

A falta de saneamento e água potável no Brasil causou, em 2023, cerca de 11.544 mortes. Em 2024, o número de internações ultrapassou 340 mil, sendo que 8.830 óbitos foram de idosos, que representam um grupo mais vulnerável a essas condições.

Cabe ressaltar, no caso do Brasil, que a questão da limpeza, problemas de coleta, tratamento e destinação correta do lixo e de esgotamento sanitário, e suas consequências para o meio ambiente/natureza e também — ou principalmente — para a saúde humana, são muito diferentes entre as diversas regiões. O Nordeste e a Região Norte/Amazônia Legal, que abrigam em conjunto mais de 85 milhões de habitantes, ou seja, 40% da população brasileira, ostentam indicadores socioambientais — principalmente relacionados com coleta, tratamento e destino do lixo e do esgoto, bem como de acesso à água potável e de qualidade — semelhantes ou piores do que vários países extremamente pobres da África e da Ásia.

Todavia, em meio a tudo isso, nossos empresários e nossos governantes demonstram um enorme ufanismo diante do nosso poderio, potencial e do desempenho de nossa economia, esquecendo desses números vergonhosos que dizem muito, de perto, sobre os níveis de desigualdades sociais, econômicas e políticas que caracterizam nosso Brasil.

Toda essa realidade deveria estar sendo objeto de nossas reflexões não apenas neste 20 de setembro, DIA MUNDIAL DA LIMPEZA, mas também ao longo de todos os anos, tanto e principalmente por parte de nossos governantes, de nossos empresários, de nossas lideranças civis, militares, eclesiásticas, enfim, pelos donos do poder e suas “troupes” e “asseclas”, quanto também da população em geral.

Ao invés de terem urgência em relação a temas que não dizem respeito aos interesses das grandes massas, mas apenas de seus próprios interesses, nossos parlamentares, nossos governantes e lideranças deveriam, no exercício de seus mandatos, cargos e posições, dedicar mais tempo, recursos e ações que transformem a realidade sofrida em que vive mais da metade da população brasileira.
Vamos pensar nisso?

 

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy 

Quarta, 17 Setembro 2025 09:24

 

 

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Juacy da Silva*

 

Desde o dia 01 deste mês de setembro, estamos vivenciando e celebrando o TEMPO DA CRIAÇÃO, que termina no dia 04 de outubro, Dia de São Francisco de Assis — não apenas o defensor da natureza e padroeiro da Ecologia, mas também um PROFETA que revolucionou, com seus gestos simples, mas de cunho extremamente transformador e até mesmo revolucionário (daí a importância da EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA OU REVOLUCIONÁRIA), tanto a percepção, a visão quanto as ações que devemos promover em nossas relações com a natureza, com o universo, conosco mesmos e com o Criador.

Todas as pessoas sabem que é importante a gente estudar, observar, refletir, dialogar sobre as questões socioambientais e os desafios ecológicos que estão colocados para a humanidade, e que estão se agravando sobremaneira e de forma rápida ultimamente.

Diante disso, além de tudo o que já foi mencionado, as nossas AÇÕES são importantes. Costuma-se dizer que só as ações transformam, revolucionam a realidade, mas, para tanto, são precisos alguns pressupostos, como o despertar da consciência crítica e libertadora, a vontade de mudar, o aprofundamento na compreensão da dinâmica que existe não apenas no planeta, na natureza, mas nos efeitos que os diferentes modelos e sistemas de produção e de relações de trabalho e de consumo produzem tanto na natureza quanto na apropriação que cada pessoa e classe social fazem dos frutos do crescimento econômico, do desenvolvimento social, econômico e político.

Precisamos cuidar da natureza, do planeta, não como um objeto de adoração, mas para que tanto as atuais quanto as futuras gerações possam desfrutar, para seu bem-estar, dos frutos do “progresso”, do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, do crescimento econômico e do desenvolvimento integral, sustentável e integrado.

Diante disso, ao longo do ano, diversos momentos (dias, semanas ou meses) são criados para servirem como pontos de referência para uma reflexão mais profunda, crítica e criadora sobre a situação da saúde do planeta, a partir de cada dimensão dessa realidade, a partir de “nossos quintais”, ou seja, dos territórios nos quais vivemos, sofremos e também sonhamos e cultivamos a esperança e a paz — enfim, a harmonia com todas as obras da criação.

Voltando ao início desta reflexão: se estamos ainda no TEMPO DA CRIAÇÃO, até o dia 04 de outubro próximo, seria interessante observarmos o que o CALENDÁRIO ECOLÓGICO reserva nessas três semanas, ou poucos dias a mais, como oportunidade para, tanto refletirmos quanto, fundamentalmente, AGIRMOS — por um mundo melhor, por uma economia solidária, por uma produção agroecológica, uma agricultura realmente sustentável, uma economia circular, com menos consumismo, menos desperdício, menos degradação, menos poluição, menos voracidade diante dos biomas e ecossistemas; por mais justiça social, justiça climática, com mais respeito aos direitos humanos, de uma forma ampla, que inclua também o direito que todas as pessoas têm a um meio ambiente saudável, sustentável e inclusivo.

Vejamos o que este Calendário Ecológico nos reserva para as próximas semanas:

Restante deste mês de setembro:

  • 16: Dia Internacional de Luta para a Preservação da Camada de Ozônio

  • 19: Dia Mundial de Luta pela Limpeza das Águas (ver também 22 de março)

  • 21: Dia da Árvore (ver também 21 de março e 17 de julho)

  • 22: Dia Nacional em Defesa da Fauna

  • 25: Dia da Bandeira dos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

  • 29: Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos (Dia Internacional do Desperdício Zero – ver também 30 de março)

  • 29: Dia Mundial dos Rios

Outubro:

  • 01: Dia do Vegetarianismo

  • 03: Dia Nacional da Agroecologia

  • 04: Dia de São Francisco de Assis

  • 04: Encerramento do Tempo da Criação

  • 04: Dia da Natureza

  • 04: Dia dos Animais

Como podemos perceber, temos diversos momentos (dias) em que somos chamados para um despertar profundo, uma reflexão sobre aspectos e desafios fundamentais para buscarmos uma correção de rumo em nossas relações com a natureza e relações humanas e sociais, enquanto pessoas, cidadãos, cidadãs e também como governantes e empresários responsáveis pelo que estamos fazendo e contribuindo — tanto para a crise climática, que tantos efeitos perversos tem causado no mundo todo, inclusive no Brasil, quanto para a correção de rumo, através de políticas públicas e também mudanças de hábitos, estilos de vida e sistemas produtivos.

Isto é o que o Papa Francisco sempre insistia em seus pronunciamentos, encíclicas e exortações apostólicas, quando fala sobre a CONVERSÃO ECOLÓGICA — tanto individual quanto coletiva ou comunitária.

Todas as ações na defesa da ecologia integral, por mais simples que sejam, fazem a diferença. Mas as ações coletivas, comunitárias, têm um impacto muito maior. Por isso, precisamos estar unidos, juntos, nesta cruzada na defesa e em um melhor cuidado com o meio ambiente, com o nosso Planeta, que “sofre e geme” ao ser tão maltratado!

Pense nisso. Reflita sobre o que você está fazendo, deixando de fazer (omitindo-se) ou pode fazer para mudar o rumo desta catástrofe socioambiental anunciada!

 

*Juacy da Silva, professor fundador, tiular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste, E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy 

 

Segunda, 08 Setembro 2025 14:27

 

 

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Juacy da Silva*

O Dia Nacional do Cerrado, a ser comemorado em 11 de setembro de cada ano, foi instituído pelo Decreto de 20.8.2003, assinado pelo presidente Lula em seu primeiro ano do primeiro mandato, há 22 anos e, desde então, a destruição deste bioma ganhou proporções assustadoras.

O objetivo da criação do Dia Nacional do Cerrado em 2003 foi conscientizar a sociedade e os governantes sobre a importância da preservação do bioma Cerrado, um dos mais ricos em biodiversidade e, ao mesmo tempo, um dos mais ameaçados do Brasil, incentivando a criação de estratégias para a sua proteção, conservação e exploração racional e sustentável.

A data serve como um alerta sobre a destruição da biodiversidade, incluindo a perda de vegetação nativa devido ao desmatamento e à extinção de várias espécies animais, e busca mobilizar a sociedade para práticas sustentáveis, enquanto é tempo.

No Senado, está em análise, a passos de tartaruga, na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR), o PL – Projeto de Lei 5462/2019, de autoria do senador Jacques Wagner, do PT/BA, que cria a política de desenvolvimento sustentável do Cerrado brasileiro.

“Povos, saberes e natureza do Cerrado: resistência à crise climática” é o tema da V Semana Nacional do Cerrado (V SENACER), que será realizada no período de 8 a 13/09/2025, abrangendo o Dia Nacional do Cerrado (11 de setembro).

Este será um evento coordenado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), Campus Senador Canedo/GO. Este ano, será elaborada a Carta de Repúdio ao Ecocídio no Cerrado, destinada aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e à coordenação da COP 30 (Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima), que acontecerá em Belém/PA (10 a 21/11/2025).

Oxalá diversas outras instituições, como universidades federais, institutos federais de ensino, ONGs, igrejas e também organismos públicos federais, estaduais e municipais, bem como entidades representativas dos diversos setores econômicos situadas nos estados que integram o bioma Cerrado, também pudessem refletir e despertar a consciência para esta tragédia já bem conhecida, enfim, um desastre anunciado sobejamente.

Tendo em vista que a destruição do Cerrado afeta todos os demais biomas, creio também que diversos eventos deveriam ser realizados não apenas no território do Cerrado, mas também em outras localidades pelo Brasil afora por diversas instituições públicas e não governamentais, na tentativa de despertar a opinião pública para as consequências da destruição do Cerrado, incluindo a destruição das nascentes, a poluição das águas, dos solos e do ar; a destruição de sua rica biodiversidade animal e vegetal, a questão da degradação dos solos e, também, para o aumento médio da temperatura, que a cada dia tem se elevado muito.

Aqui estão algumas informações para entendermos a importância do Cerrado para a ECOLOGIA INTEGRAL, diante do papel que o mesmo tem para a biodiversidade brasileira, o clima e as águas, tendo em vista que o Cerrado é considerado o “berço das águas”, onde estão as nascentes das bacias do Prata (Paraná, Paraguai), Amazônica (rios Xingu, Araguaia, Tocantins etc.), do São Francisco e do Parnaíba.

Lamentavelmente, o CERRADO está sendo destruído implacavelmente pela ganância de uns poucos, em detrimento da natureza e dos brasileiros, e também afetando a crise climática nacional e mundial, pelo desmatamento, pelas queimadas, pelos garimpos, pela mineração inconsequente e pelos agrotóxicos.

Conforme dados do MAPBIOMAS e IPAM, mencionados por Camila Santana, “de 1985 a 2023, foram desmatados 38 milhões de hectares no Cerrado, uma área maior que o Estado de Goiás. Isso representa uma redução de 27% na vegetação original do bioma, que hoje tem quase metade de sua área (48,3%) alterada por atividades humanas. A outra metade, que ainda permanece em pé, corresponde a 101 milhões de hectares, representando 8% de toda a vegetação nativa do Brasil. No período analisado, a pastagem e a agricultura foram os usos que mais se expandiram no bioma, com aumentos de 62% e 529%, respectivamente. Atualmente, 26 milhões de hectares do Cerrado estão ocupados pela agricultura, dos quais 75% são destinados ao cultivo de soja. O bioma responde por quase metade da área cultivada com o grão no Brasil, totalizando 19 milhões de hectares. Os dados são do levantamento realizado pelo MapBiomas, uma rede colaborativa da qual o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental) faz parte”.

E esta devastação coloca o Cerrado como o bioma e ecossistema mais vulnerável no momento, tendo em vista que, tanto em 2024 quanto em 2025, este bioma é o mais destruído no Brasil, pelo 2º ano consecutivo. Só em 2024, foram desmatados nada menos do que mais de meio milhão de ha, ou seja, 652.197 hectares, e esta saga destruidora não tem limites, razão pela qual precisamos refletir quais as consequências futuras, a curto, médio e longo prazos, se nada for feito para impedir esta destruição.

Além do desmatamento e suas consequências, o Cerrado também tem sido vítima das queimadas, incluindo as queimadas criminosas. Conforme matéria publicada pela CNN Brasil há um ano, em 11 de setembro de 2024, “Embora possua tipos de vegetação que evoluíram para lidar com queimadas, o aumento das secas e das temperaturas extremas, aliado ao uso indiscriminado de queimadas, tem agravado os incêndios no bioma, colocando em risco sua biodiversidade”.

A mesma reportagem informava que “Considerado um dos cinco grandes biomas do Brasil, o Cerrado sofreu com a devastação de 88 milhões de hectares nos últimos 39 anos, segundo dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) nesta quarta-feira (11). Entre 1985 e 2023, a média anual de área queimada foi de 9,5 milhões de hectares”.

A situação do Cerrado é extremamente grave e, mesmo assim, parece que pouco ou quase nada tem sido alterado para conter este processo de degradação. Os dados sobre a destruição do Cerrado são alarmantes. “Incêndios devastam 88 milhões de hectares no Cerrado em 39 anos”, diz pesquisa recente, chamando a nossa atenção para o fato de que a área queimada equivale a 43% de toda a extensão do bioma e supera o território de países como Chile e Turquia, sendo maior do que alguns estados brasileiros.

Outra questão importante para nossas reflexões sobre a degradação ambiental no Brasil e que está presente de uma forma intensa no Cerrado é a degradação dos solos. O Brasil encontra-se diante do desafio de mais de 100 milhões de ha de áreas degradadas, e o Cerrado é campeão nesta triste estatística.

Conforme revelado por Lucas Geraldo, em publicação do IPAM em 5 de julho de 2024, “A área de vegetação nativa remanescente que pode estar degradada no Cerrado está entre 18 milhões e 43 milhões de hectares. Essa é a maior área de vegetação degradada dentre todos os biomas – corresponde a 19% e 45% de toda a vegetação nativa do bioma, respectivamente. Os dados foram levantados de forma inédita em iniciativa coordenada por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e lançada nesta sexta-feira (05) para compor o leque de módulos disponibilizados pela rede MapBiomas”.

Tudo isso é muito contraditório diante da massificação sobre a COP30, a ser realizada dentro de apenas dois meses em Belém, evento que tem mobilizado todos os organismos públicos federais, estaduais e municipais, bem como o mundo empresarial, e também as organizações não governamentais e até mesmo igrejas e religiões diversas, incluindo a Igreja Católica, que estará presente, bem como movimentos sociais, sindicais e representações de povos originários, ribeirinhos e agricultores familiares e, ao mesmo tempo, a saga da destruição ecológica continua a todo vapor. Parece que a destruição do Cerrado nada tem a ver com os temas que serão debatidos na COP30.

Diante desta sanha destruidora que afeta drasticamente três biomas importantes para o presente e o futuro de nosso país e do planeta (Amazônia, Cerrado e Pantanal), dias especiais como este dedicado ao CERRADO, da mesma forma que há poucos dias “celebramos” o Dia da Amazônia e, em 12 de dezembro, será o Dia do Pantanal, devem servir para o despertar da consciência coletiva e chamar a atenção também da opinião pública nacional para a urgente necessidade de mudarmos profundamente os paradigmas, os modelos e os sistemas produtivos e de relações de trabalho e também de nossas relações com a natureza, que tem seus direitos e limites, bem como o direito das próximas gerações a um ambiente equilibrado e sustentável.

Isto só pode ser atingido no contexto da justiça ambiental, justiça climática, justiça intergeracional e também justiça social, considerando que os desequilíbrios, a degradação e a destruição socioambiental afetam, como tem sido sobejamente conhecido, principalmente os pobres e excluídos, como tanto sempre enfatizou o Papa Francisco e, atualmente, o Papa Leão XIV também tem chamado a atenção mundial para a necessidade de um melhor cuidado com a nossa Casa Comum, ou seja, o Planeta Terra.

Esta, pois, deve ser a mensagem neste DIA NACIONAL DO CERRADO.

 

*Juacy da Silva, professor funndador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy

Sexta, 05 Setembro 2025 14:45

 

 

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Juacy da Silva*

“Chorai com os que choram e regozijai-vos com os que se alegram” Romanos 12:15.

Olá, amigas e amigos, como cristãos formamos uma grande comunidade de fiéis ao redor do mundo: mais de 2,64 bilhões de pessoas, das quais 1,4 bilhão de católicos e católicas, tendo como elemento que nos identifica e nos une como irmãos e irmãs, além de nossa fé, também nossa caminhada unida por uma Igreja Sinodal, Samaritana e profética.

Como cristãos, somos chamados, vocacionados e predestinados a curar as dores do mundo, e isto envolve diferentes formas de praticarmos nossa fé em Cristo Ressuscitado, tanto pelas nossas orações quanto por nossas ações sociotransformadoras e de mobilização profética, através das ações pastorais.

Da mesma forma que, na Igreja primitiva, São Paulo, na Carta aos Romanos, exorta os cristãos daquela época, e que viviam em um território determinado, a serem solidários entre si, apoiando uns aos outros tanto na alegria quanto no sofrimento; também hoje, no mundo todo e em nossas Igrejas locais, precisamos cultivar a fraternidade, a solidariedade, o amor verdadeiro ao nosso próximo, o profetismo e a esperança.

Por isso, a evangelização, inclusive através das ações das diversas pastorais, é importante como nossa característica identitária em todas as dimensões da vida, presentes em todas as obras da Criação, cujo Tempo da Criação estamos celebrando até o próximo dia 04 de outubro, Dia de São Francisco de Assis, o Padroeiro da Ecologia Integral.

Como irmãos e irmãs, unidos e unidas em uma Igreja que também coloca o Cuidado com a Ecologia Integral, chamando-nos à responsabilidade em relação à necessidade de uma conversão ecológica individual e também comunitária, em que a Pastoral da Ecologia Integral cumpre ou deve cumprir um papel fundamental que demonstre nossa responsabilidade como cristãos católicos.

Há aproximadamente dois meses e meio, nos dias 22 e 23 de junho último (2025), quatro pessoas, integrantes da PEI da Arquidiocese de Cuiabá (Olindina Bezerra, a nossa Coordenadora da Pastoral da Ecologia Integral; o Luiz Eduardo; a Mônica Oliveira, Agentes da PEI; e eu – Juacy, Articulador e Assessor), estivemos, a convite do Pe. Divino, Coordenador de Pastorais Sociais da Diocese de Primavera do Leste/Paranatinga, assessorando uma formação para capacitar agentes que pudessem organizar e coordenar a Pastoral da Ecologia Integral naquela diocese.

Há alguns dias, o Pe. Divino solicitou-me informações e modelos de logomarca para a PEI; percebi que algo maravilhoso estava para acontecer e, realmente, aconteceu.

Hoje (04 de setembro), em mensagem, o Pe. Divino informou-me o seguinte: “Já tivemos 2 reuniões para alinhar nossas atividades e marcar o dia oficial da criação da pastoral na paróquia para dia 3 de outubro, na abertura da novena de Nossa Senhora Aparecida, e dia 4 assumirmos, juntos com as pastorais sociais, a novena no dia de São Francisco”.

Seguindo o conselho de São Paulo em sua Carta aos Romanos, estamos realmente felizes com os irmãos e irmãs da Diocese de Primavera do Leste/Paranatinga por esta notícia tão auspiciosa.

Mais uma Pastoral da Ecologia Integral está surgindo no território do Regional Oeste 2 da CNBB (MT), graças às “Sementes de Paz e de Esperança” que temos semeado ao longo dos últimos cinco ou seis anos, como o Papa Francisco escolheu para ser o tema do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação e do Tempo da Criação deste ano de 2025, e que coube ao Papa Leão XIV elaborar sua mensagem para essas celebrações voltadas à ecologia integral, exortando-nos a continuar como semeadores de paz no mundo: paz com a natureza e paz com a humanidade e entre os povos, ou seja, substituirmos todas as formas de violência pela cultura da paz e, ao mesmo tempo, plantarmos também as sementes da esperança de um mundo mais humano, mais solidário, justo, inclusivo e sustentável.

Isto nos conforta e nos anima muito, principalmente por sabermos que, mesmo a “messe sendo grande e os trabalhadores poucos”, com certeza o “Senhor da messe, o Criador” nos fortalece sempre, até mesmo nos momentos de tristeza, sofrimento e desânimo, para continuarmos a nossa caminhada sempre confiantes, mesmo diante de tantos obstáculos, do negacionismo ecológico, às vezes presente até mesmo dentro da Igreja Católica ou das Igrejas Evangélicas e outras religiões. Sabemos que cada semente de paz, de esperança e de libertação que plantarmos, se caírem “em solo fértil”, se conseguirmos despertar a consciência ecológica individual e comunitária, com certeza dentro de algum tempo a PEI estará presente em muitas ou talvez na maioria esmagadora das Arquidioceses, Dioceses, Prelazias, Paróquias e Comunidades Eclesiais deste nosso imenso Brasil, que continua enfrentando tantas agressões à ecologia integral, incluindo a natureza e os seres humanos.

Com certeza a Igreja (composta pela hierarquia eclesiástica e pelos fiéis, leigos e leigas engajadas/engajados, ou seja, o Corpo de Cristo) estará na linha de frente, cumprindo o seu papel, sendo “Sal da terra e Luz do mundo” nesta cruzada em prol da Casa Comum, da Ecologia Integral, da saúde do planeta e da Justiça Social.

 

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia integral. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram@profjuacy 

Quinta, 28 Agosto 2025 10:03

 

 

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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*

 

 

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, tem expressado, em diversas ocasiões, consistentemente, a necessidade de os países controlarem as big techs e regulamentarem a tecnologia, particularmente a inteligência artificial (IA). Ele argumenta que essas empresas têm uma "responsabilidade desproporcional" pelos danos que seus produtos causam ou podem causar, e que os modelos de negócio que lucram com a desinformação e o ódio devem ser não apenas controlados, mas expressamente coibidos, principalmente em nome dos direitos humanos e da saúde coletiva, marcadamente das crianças, adolescentes e jovens, ou até mesmo das pessoas idosas, que são grupos extremamente vulneráveis em todos os países e que mais sofrem as consequências dessas ações e negócios, como se estivessem em um mundo sem leis e normas de convivência.

Neste sentido, a postura de Guterres reflete a crescente preocupação global sobre o poder dessas big techs e a falta de regulamentação das grandes empresas de tecnologia, especialmente em relação ao impacto de suas plataformas na sociedade e à rápida evolução da IA.

A ONU tem buscado promover o diálogo e a cooperação entre governos, empresas e sociedade civil para enfrentar esses desafios e garantir que a tecnologia seja usada de forma ética, responsável e que garanta os direitos humanos e a dignidade humana.

Além do Secretário-Geral da ONU, também o Papa Leão XIV já, em diversas ocasiões, tem enfatizado que tanto a inteligência artificial quanto o uso das redes sociais e das plataformas digitais, bem como o espaço de atuação das big techs — enfim, o “mundo” tecnológico e digital e os próprios meios de comunicação — precisam estabelecer limites para as suas ações e, neste sentido, a dimensão ética e de respeito aos direitos humanos é o ponto central. Esses limites não podem ser apenas através da chamada “autorregulação”, que nem sempre atende aos princípios já amplamente aceitos como base para a atuação dessas corporações transnacionais.

As big techs são grandes empresas de tecnologia (grandes conglomerados econômicos transnacionais) que dominam o mercado digital global, mundial, como, por exemplo, Google, Apple, Amazon, Microsoft e Meta, e centenas de outras mais, e têm um impacto significativo nas sociedades e nas economias de todos os países.

As big techs são proprietárias das chamadas plataformas e “redes sociais”, que têm bilhões de usuários mundo afora, inclusive no Brasil, tais como Facebook, Instagram, LinkedIn, YouTube e outras mais.

O número de usuários das redes sociais no mundo, em 2024, era superior a 5,24 bilhões de pessoas, empresas e, inclusive, organismos públicos. As big techs/redes sociais têm o maior arquivo de dados de pessoas e instituições do planeta, maior do que qualquer país possa conseguir. Isso nos aproxima da figura do “Big Brother”, descrito por George Orwell no livro 1984, publicado em 1948, que também foi transformado em um filme, alertando o mundo quanto ao uso da tecnologia para servir de base para regimes autoritários e totalitários, em detrimento das liberdades individuais das pessoas.

Por exemplo, em janeiro de 2024, o Brasil tinha cerca de 144 milhões de usuários ativos em redes sociais, o que representava 66,3% da população do país, de acordo com o relatório DataReportal. Este dado reflete a crescente importância da internet e das plataformas digitais na vida dos brasileiros, com grande parte do tempo online sendo dedicado às redes sociais e outras atividades na internet.

Conforme Juliana Diana, professora de Biologia e Doutora em Gestão do Conhecimento, as redes sociais são espaços virtuais onde grupos de pessoas ou empresas se relacionam através do envio de mensagens, da partilha de conteúdos ou como consumidores dos mais variados serviços públicos ou privados, entre outros.

Mesmo que a adesão das pessoas a essas plataformas e redes seja feita de forma gratuita e voluntária, razão pela qual têm uma grande massa de usuários no mundo, as big techs usufruem deste uso e ganham muito dinheiro. A cada ano ampliam seus lucros e domínios econômicos, tecnológicos, financeiros, sociais e políticos. São grandes corporações transnacionais que geralmente julgam-se acima do bem e do mal, inclusive querem estar acima da soberania dos países e de seus ordenamentos jurídicos, e resistem a serem controladas e fiscalizadas.

Só para termos uma ideia do poder dessas big techs, apenas as cinco maiores delas representam, em termos de valor de mercado, valor superior ao PIB de centenas de países juntos.

O valor de mercado das cinco maiores big techs, no final de janeiro de 2024, era de US$ 10,5 trilhões, ou seja, se essas empresas fossem um país (valendo ressaltar que todas são empresas norte-americanas), este valor seria o quarto maior PIB mundial, perdendo apenas para os Estados Unidos, cujo PIB nominal em 2023 foi de US$ 27,0 trilhões; para a China, que vem a seguir em segundo lugar com um PIB de US$ 17,8 trilhões; e para a União Europeia (27 países), com US$ 15,8 trilhões.

A seguir, vejamos o tamanho do PIB de alguns países: Alemanha, o terceiro país entre as dez economias mundiais, com US$ 4,4 trilhões; Japão, em quarto lugar com US$ 4,2 trilhões; Índia, em quinta posição com US$ 3,7 trilhões; e o Brasil, na nona posição, com US$ 2,1 trilhões.

O valor de mercado das cinco maiores big techs, no final de janeiro de 2024, era o seguinte:

  • Apple: US$ 3,0 trilhões

  • Microsoft: US$ 3,0 trilhões

  • Google: US$ 1,9 trilhão

  • Amazon: US$ 1,6 trilhão

  • Meta (Facebook): US$ 1,0 trilhão

As dez maiores big techs têm um valor de mercado simplesmente impressionante. Em 2024, a soma chegava a US$ 18,9 trilhões, valor maior do que o PIB da China, o segundo maior do planeta naquele e neste ano também.

Vale ressaltar que, no final de 2023, apenas 19 países tinham PIB acima de US$ 1 trilhão. Ou seja, 175 países e territórios autônomos tinham PIB nominal (Produto Interno Bruto) menores do que o valor de mercado da quinta colocada no ranking das big techs.

Impressionante, por exemplo, é que o PIB do Brasil, que é a nona maior economia do planeta, com mais de 213 milhões de habitantes, representa apenas 20% do valor de mercado dessas cinco big techs. Isto é algo para refletirmos sobre o domínio e a hegemonia não apenas desses grandes conglomerados transnacionais, mas, principalmente, sobre o poder dos países onde elas estão situadas e quais as implicações geopolíticas e geoestratégicas no contexto das relações internacionais — e o que tudo isso tem a ver com a soberania de cada país, seja em termos de comércio internacional, de organização e ordenamento jurídico, de poderio militar e de ingerência nos “negócios” internos de cada nação.

Esta é uma relação totalmente assimétrica (desigual), que nem mesmo o direito internacional e as ações de organismos internacionais como a ONU e suas agências especializadas conseguem estabelecer normas e formas de convivência civilizada e democrática no contexto internacional — razões maiores para a falência do multilateralismo diante das ações e decisões de quem se julga, muitas vezes, ou na maior parte das vezes, acima dos demais países e sempre pode mais.

Diante disso, a regulamentação e o estabelecimento de limites às plataformas digitais, redes sociais e big techs são uma necessidade em todos os países, antes que os regimes democráticos sucumbam diante deste “poder invisível”, porém concreto, que tem donos bem conhecidos e que lucram bilhões e bilhões de dólares todos os anos, aumentando seus poderes e dando-lhes a ideia de que estão — e devem estar — acima das leis nacionais e do direito internacional.

Diante do avanço científico e tecnológico em curso, inclusive com o avassalador poder da inteligência artificial, podemos concluir, com toda a certeza, sem sombra de dúvida, que a divisão do mundo, a partir de agora e no futuro, será entre quem tem domínio nessas áreas e quem passará a ser apenas usuário de tais tecnologias.

Com este avanço, podemos concluir que estamos diante de uma verdadeira “guerra” tecnológica, cujo poder é imensamente maior do que todas as armas e artefatos militares, onde as big techs substituirão boa parte das atribuições “tradicionais” das Forças Armadas e estarão cada vez mais a serviço dos interesses e objetivos dos países hegemônicos. Esta já é — e será — uma nova forma de “colonização” e de domínio nas relações internacionais, e uma questão geopolítica fundamental.

Por isso, tanto no Brasil quanto em outros países, a regulação das big techs e das redes sociais, para que tenham limites dentro do ordenamento jurídico nacional, é fundamental para o fortalecimento das instituições democráticas em nosso país e faz parte da nossa SOBERANIA!

 

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy 

Quinta, 28 Agosto 2025 10:00

 

 

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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*

 

“Queridos irmãos e irmãs! O tema para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deste ano, escolhido pelo nosso amado Papa Francisco, é “Sementes de Paz e de Esperança”. No décimo aniversário da instituição deste Dia de Oração, que coincidiu com a publicação da Encíclica Laudato Si, encontramo-nos em pleno Jubileu, “peregrinos de Esperança”. E é precisamente neste contexto que o tema adquire todo o seu significado.” Papa Leão XIV – Mensagem, Vaticano News, 30 de junho de 2025.

Essas serão as primeiras celebrações alusivas ao Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação e do Tempo da Criação que o Papa Leão XIV deverá participar e poder transmitir aos mais de 1,4 bilhão de fiéis católicos romanos espalhados pelos quatro cantos da Terra, além de mais de 300 milhões de católicos ortodoxos, além de 800 milhões de evangélicos, bem como 1,9 bilhão de fiéis não cristãos, sua mensagem alusiva a essas duas celebrações voltadas para um melhor cuidado com a natureza e com as pessoas, principalmente os pobres, oprimidos, injustiçados e excluídos tanto pelos problemas climáticos/ecológicos quanto pela ganância de uns poucos que tentam se apropriar de tudo o que é produzido pelos sistemas econômicos extremamente concentradores de renda, riqueza e propriedade.

Conforme o Movimento Laudato Si, “O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação acontece no dia 1º de setembro. Ele celebra o Deus Criador e o grande mistério da criação do cosmos, ao mesmo tempo que nos incentiva a curar nossa relação com a criação. É um dia que nos ajuda a refletir sobre o próprio ato da criação, mistério fundacional da nossa fé. Inspirado em ricas tradições, este dia também é conhecido como Dia da Criação ou Festa da Criação, e foi adotado pela Igreja Ortodoxa em 1989, o Conselho Mundial de Igrejas em 2008, a Comunhão Anglicana e a Igreja Católica em 2015. Este dia de oração alimenta o TEMPO DA CRIAÇÃO mais abrangente, que flui a partir dele e vai de 1º de setembro a 4 de outubro, festa de São Francisco.”

Coube ao Papa Francisco, na esteira de seu Magistério voltado para a Ecologia Integral, quando sempre enfatizou que “tudo está interligado, nesta Casa Comum”, incluir oficialmente no calendário da Igreja, em 2015, não apenas este dia especial, mas estendendo essas celebrações e reflexões sobre a saúde do planeta (a nossa Casa Comum), como oportunidade para as Igrejas locais, de uma forma ecumênica e inter-religiosa, não apenas refletirmos sobre o sentido e o significado dessas celebrações, mas também encontrarmos caminhos comuns que nos levem às ações sociotransformadoras e de mobilização profética para a restauração do que já foi destruído e, também, caminhos que representem mudanças profundas em nossos hábitos e práticas degradadoras do meio ambiente, respeitando, inclusive, o direito que as próximas gerações têm em relação a um mundo ambientalmente sustentável e com mais inclusão, equidade e dignidade humana.

Antes de ter sido internado e falecer, o Papa Francisco, no início deste ano, já havia definido o tema e os objetivos para orientar essas duas celebrações, principalmente o Tempo da Criação que vai de 1º de setembro até 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis, o Patrono da Ecologia Integral e dos animais, de quem Jorge Mario Bergoglio, ao ser eleito Papa, tomou o nome (Papa Francisco).

Assim, coube ao Papa Leão manter as decisões e grande parte das preocupações de Francisco, como os aspectos básicos de sua mensagem de 30 de junho último, dirigida inicialmente à Igreja Católica Romana, da qual Ele é o Pastor, e também às demais Igrejas e Religiões, para que, unidas, as diversas religiões possam ser uma força transformadora de resgate, restauração dos biomas e ecossistemas que já foram e ainda estão sendo destruídos, mas também inserir essas preocupações e exortações nos contextos da Justiça Social, da Doutrina Social da Igreja e da Justiça Climática, dimensões fundamentais para que mudanças profundas possam também acontecer em nossos sistemas econômicos, de relações de trabalho e de produção, e a garantia dos direitos humanos, único caminho para uma paz verdadeira, que o Papa Leão denomina de PAZ DESARMADA.

Assim, a mensagem do Papa Leão XIV para o Tempo da Criação de 2025, com o tema "Sementes de Paz e Esperança", é bem clara e não deixa dúvidas quanto à responsabilidade dos cristãos em geral e dos católicos romanos em particular, sendo, pois, um apelo claro e direto à ação contra a destruição ambiental e a injustiça social, convidando os fiéis a serem sementes de transformação e a defenderem a justiça ambiental e a solidariedade para construirmos um futuro sustentável, especialmente no contexto do Jubileu de 2025 (Peregrinos de Esperança).

Nesta mensagem, Leão XIV insere exortações, deixando ver tanto a importância da Justiça Climática em meio às consequências que a destruição dos biomas, dos ecossistemas, enfim, da biodiversidade, das águas, dos solos, das florestas, do ar impõe sofrimento e morte, principalmente aos pobres e excluídos, que são os mais afetados.

Para sarar, curar o nosso planeta, nossa Casa Comum, são necessárias ações concretas e não apenas orações — importantíssimas, claro —, mas fazendo ver que as transformações ocorrem a partir das ações concretas e da mobilização profética.

Vejamos um trecho desta mensagem de Leão XIV: “A justiça ambiental — implicitamente anunciada pelos profetas — já não pode ser considerada um conceito abstrato ou um objetivo distante. Ela representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera proteção do ambiente. Trata-se verdadeiramente de uma questão de justiça social, econômica e antropológica. Para os que creem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que para os cristãos tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido. Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade.”

Em outro trecho da mensagem, seu apelo e exortação são bem claros e não deixam dúvida de que cuidar da natureza, respeitar os limites da natureza e também mudar os sistemas econômicos e relações de trabalho é um imperativo para os cristãos em geral e para os católicos em particular. Diante disso, a OMISSÃO perante os pecados ecológicos, ou seja, os crimes ambientais e práticas que promovem a degradação ambiental e a exclusão social, a exploração dos trabalhadores, além de injustiça social, é também injustiça climática.

Esta exortação é bem clara ao enfatizar que: “Chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas. «Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã» (ibid., 217). Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança. Por vezes, são precisos anos para que a árvore dê os primeiros frutos, anos que envolvem todo um ecossistema na continuidade, na fidelidade, na colaboração e no amor, sobretudo se este amor se tornar um espelho do Amor oblativo de Deus.”

Neste TEMPO DA CRIAÇÃO de 2025 que se avizinha, imagino que caberia à Igreja local no Brasil, presente em todo o território nacional, diante de tantos desafios socioambientais e diante de eventos importantes que ainda estão para acontecer, como a COP30, em que a Igreja estará presente “levando” sua mensagem e abrindo espaço de diálogo com organismos públicos e também inúmeras organizações da sociedade civil que também se preocupam e lutam por Justiça Ambiental e mudanças nos paradigmas desta ECONOMIA DE MORTE, como tanto nos dizia o Papa Francisco, com a visão posta em novos paradigmas que embasem uma ECONOMIA DA VIDA e da Esperança, é fundamental que também esta mesma Igreja “faça o seu dever de casa”, que fiéis e a hierarquia eclesiástica passem por um processo concreto e real de conversão ecológica, individual e, principalmente, comunitário, demonstrando adesão a práticas e ações concretas sociotransformadoras e muita MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, visando agir junto aos poderes constituídos para a definição e implementação de políticas públicas voltadas para um melhor cuidado com a Casa Comum, neste território chamado Brasil, a partir de cada território eclesiástico.

A parte final da Mensagem do Papa Leão XIV não deixa dúvida quanto a um dos fundamentos de nossas ações sociotransformadoras e de mobilização profética ao mencionar que: “A Encíclica Laudato Si acompanha a Igreja Católica e muitas pessoas de boa vontade desde há dez anos: que ela continue a inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais escolhida e partilhada como caminho a seguir. Assim se multiplicarão as sementes de esperança, a serem “guardadas e cultivadas” com a graça da nossa grande e indefectível Esperança, Cristo Ressuscitado. Em seu nome, envio a todos vós a minha bênção.”

Além da mensagem do Papa Leão XIV para orientar a Igreja em suas celebrações globais e também locais (relembrando o “mantra” da importância de “pensarmos globalmente, mas agirmos localmente”), temos também o Calendário Ecológico que nos indica diversos momentos/dias também importantes para a realidade socioambiental em nosso país.

Durante os 40 dias do TEMPO DA CRIAÇÃO teremos diversos momentos especiais em que as Igrejas locais podem e devem refletir sobre a realidade socioambiental/ecológica em seus territórios, conforme podemos observar:

SETEMBRO
1º de setembro a 4 de outubro: Tempo da Criação
01 - Festa da Criação e momento de abertura do Tempo da Criação
01 - Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação
03 - Dia do Biólogo
05 - Dia da Amazônia
07 - Dia da Independência do Brasil
07 - Dia Mundial do Ar Limpo (Combate à poluição do ar)
11 - Dia Nacional do Cerrado
16 - Dia Internacional de Luta para a Preservação da Camada de Ozônio
19 - Dia Mundial de Luta pela Limpeza das Águas (ver também 22 de março)
21 - Dia da Árvore (ver também 21 de março e 17 de julho)
22 - Dia Nacional em Defesa da Fauna
25 - Dia da Bandeira dos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
29 - Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos (Dia Internacional do Desperdício Zero). Ver também 30 de março
29 - Dia Mundial dos Rios

OUTUBRO
01 - Dia do Vegetarianismo
03 - Dia Nacional da Agroecologia
04 - Dia de São Francisco de Assis
04 - Encerramento do Tempo da Criação
04 - Dia da Natureza

Como podemos perceber, temos muitos momentos relacionados à necessidade de aprofundarmos tanto as nossas reflexões quanto as nossas práticas, através de ações das diferentes pastorais, movimentos e organismos da Igreja, com destaque para a importância de que, em todos os territórios eclesiásticos (Arquidioceses, Dioceses e Comunidades Eclesiais de Base), a Pastoral da Ecologia Integral, que é uma pastoral de conjunto, uma pastoral transversal, possa estar devidamente presente, estruturada e promovendo essas ações sociotransformadoras, mobilização profética e também fortalecida pela espiritualidade ecológica tão enfatizada pelos Papas Francisco e, agora, Leão XIV.

Antes de concluir esta reflexão, gostaria de destacar parte da mensagem bem recente e ao mesmo tempo uma exortação de Leão XIV dirigida ao cardeal Pedro Ricardo Barreto Jimeno, presidente da CEAM - Conferência Eclesial da Amazônia, uma organização que reúne, além do episcopado, também leigos, agentes pastorais, mulheres e indígenas, bem como a todos os que recentemente estiveram reunidos em Bogotá, Colômbia, em que fica clara a responsabilidade da Igreja, não apenas no território amazônico, mas em todos os territórios do Brasil em que a mesma esteja presente: “Leão XIV convida todos os participantes do encontro que estão em Bogotá a refletirem sobre três dimensões que estão interconectadas na ação pastoral dessa região: a missão da Igreja de anunciar o Evangelho a todos os homens, o tratamento justo aos povos que ali habitam e o cuidado da Casa Comum.”

Oxalá tais “sementes” de esperança e de transformações profundas em nossos hábitos consumistas, de desperdício e de egoísmo possam ser transformadas profundamente, e nós, como cristãos, católicos, evangélicos e não cristãos, possamos parar um pouco e constatarmos que os desafios socioambientais, principalmente a crise climática e suas consequências, precisam ser enfrentados de forma efetiva e não apenas com palavras, belos discursos ou documentos que acabam apenas enfeitando arquivos.

Este é o único caminho que nos resta. O chamado “ponto do não retorno” já está presente neste momento; só não percebe quem não quer ver ou quem faz do negacionismo ecológico/ambiental sua “filosofia de vida” — e de morte!

 

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy 

Segunda, 25 Agosto 2025 11:16

 

 

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Juacy da Silva*

 

 

“Para o Papa Leão XIV, a Igreja é a comunidade de fé fundada em Jesus Cristo e unida por uma fé comum, com um compromisso com a unidade dos cristãos, a reconciliação e a luta pela justiça social. Ele a vê como um instrumento de evangelização, promovendo a Boa Nova de Cristo e cuidando dos pobres, e também como uma instituição que deve cultivar o pensamento crítico e a compaixão. A Igreja também é um símbolo de unidade e continuidade da tradição apostólica.”

Muita gente imagina ou pensa que, com a morte do Papa Francisco, as preocupações e compromissos da Igreja em relação aos cuidados com a ecologia integral seriam “esquecidos”, diante de novos enfoques em seu magistério.
Todavia, em diversas ocasiões, o mesmo tem não apenas reforçado a importância da caminhada ecológica da Igreja na defesa da ecologia integral, mas também inserido essa caminhada em seu magistério.

Assim, “o Papa Leão XIV, ao discutir o compromisso da Igreja no cuidado com o meio ambiente, tem enfatizado a necessidade de um olhar contemplativo que transforme a relação da humanidade com a criação. Ele recordou que ‘somente um olhar contemplativo pode transformar esta relação com a criação e nos fazer sair da crise ecológica, cuja causa é a ruptura das relações com Deus, com o próximo e com a terra’. Além disso, Leão XIV destacou a importância de uma liturgia que celebre a Eucaristia como um ato de agradecimento ao Senhor e um meio de cuidar da criação, inspirando a conversão e a transformação da sociedade em direção ao bem-estar humano e à dignidade humana. A Igreja, segundo o Papa, deve ser um exemplo de cuidado e responsabilidade social, refletindo os princípios da Encíclica Laudato Si, promovendo a proteção ambiental e a dignidade humana.”

Fonte: site Vaticano News.

Olá, amigas e amigos. Como algumas pessoas costumam dizer, “o tempo voa” e, quando menos percebemos, o ano já está quase terminando e ainda não realizamos tudo o que havíamos planejado no início deste ano — e percebemos quantas coisas importantes deixamos para trás.
Outro dizer popular nos acorda, enfatizando que “o passado já passou”; o importante agora é o momento presente, que também passa rápido, e o futuro que está batendo às nossas portas, como querendo dizer: “Acorda! O tempo de realizar as coisas, de mudar, de transformar a realidade está chegando!” Não se omita. Não deixe que a passividade, a procrastinação, o desalento e a alienação tomem conta de sua caminhada, como na canção/música de Geraldo Vandré, “Pra não dizer que não falei das flores”, escrita e interpretada em pleno 1968 (ano do AI-5, início dos anos de chumbo no Brasil), quando diz: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”

Em se tratando de Ecologia Integral, nunca é demais enfatizar que a luta pelo cuidado do Planeta, de nossa Casa Comum, está assentada em três pilares ou fundamentos: a espiritualidade ecológica, as ações sociotransformadoras e a mobilização profética. Sem isso, nada é transformado e os desafios ecológicos apenas aumentam dia após dia, como temos observado com a crise climática, que tem se agravado sobremaneira nos últimos tempos.

Isto significa que, conforme tanto enfatizou o Papa Francisco ao longo de seus 13 anos de magistério, voltado profundamente para o resgate das deliberações e definições do Concílio Vaticano II, por meio das encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti, e das exortações apostólicas Querida Amazônia e Laudate Deum, em relação aos cuidados com as obras da criação e também às relações sociais, econômicas e políticas, é fundamental combater a destruição do planeta, do meio ambiente e o desrespeito à justiça social, aos direitos humanos, à justiça climática e o resguardo do planeta também para as futuras gerações (justiça intergeracional).

Da mesma forma, resguardando o legado do Papa Francisco e também o legado do Papa Leão XIII, ao publicar a encíclica Rerum Novarum, em 15 de maio de 1891, estabelecendo as bases da Doutrina Social da Igreja (DSI), o Papa Leão XIV também tem insistido que a Igreja deve ser sempre sinodal, mas também profética, samaritana e encorajada a lutar por uma paz desarmada, cuidando das pessoas — principalmente dos pobres, oprimidos, famintos, injustiçados e, claro, sem descurar seu compromisso (da Igreja) com a defesa da ecologia integral, das obras da criação — e que isto só é realizado, não com palavras, mas sim com ações concretas, inclusive com mobilização profética.

Cabe ressaltar que, quando falamos em calendário ecológico, no momento atual, além de inúmeras celebrações, reflexões, ações sociotransformadoras e mobilização profética que podemos e devemos realizar nos diversos territórios onde a Igreja esteja presente, está também em curso uma série de providências, sob a mística “A Igreja rumo à COP30”, como forma de preparar a participação da Igreja no que é considerado o maior evento climático anual do planeta e que, neste ano, em novembro, será realizado em Belém, estado do Pará.

Diante disso, precisamos estimular não apenas as reflexões e ações, e a mobilização profética voltadas para transformações profundas em nossas relações com a natureza, mas também nossas relações com nossos semelhantes e com o Criador, buscando transformações profundas, inclusive quanto aos sistemas econômicos e às relações de trabalho e de produção. Vale dizer: substituir os paradigmas de uma economia da morte, como atualmente existem em nosso país e no restante do planeta, por uma economia da vida, como tanto nos exortou o Papa Francisco.

É neste contexto que precisamos observar o calendário ecológico, seguindo também o método da Igreja: ver, julgar e agir/celebrar, a partir das realidades concretas de cada território eclesiástico — arquidioceses, dioceses, paróquias e comunidades eclesiais de base — e tendo como “pano de fundo” a máxima que nos exorta a “pensarmos globalmente, mas agirmos localmente”. Só assim iremos promover a conversão ecológica (individual e comunitária), para atingirmos um novo patamar de realidade, que denominamos de cidadania ecológica.

Por isso, devemos sempre nos lembrar da máxima do Papa Francisco, quando ele tanto insistia, ao referir-se aos desafios ecológicos:
“Tudo está interligado, nesta Casa Comum.”

Este é o caminho, em tempos de crise e também de esperança, para ainda podermos lutar por um mundo melhor, com justiça, equidade, solidariedade, amor e paz desarmada, como tanto vem enfatizando o Papa Leão XIV.


SEGUE CALENDÁRIO ECOLÓGICO DOS MESES DE SETEMBRO E OUTUBRO DE 2025

SETEMBRO

1º de setembro a 4 de outubro: Tempo da Criação

01 – Festa da Criação e momento de abertura do Tempo da Criação
01 – Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação
03 – Dia do Biólogo
05 – Dia da Amazônia
07 – Dia da Independência do Brasil
07 – Dia Mundial do Ar Limpo (Combate à Poluição do Ar)
11 – Dia Nacional do Cerrado
16 – Dia Internacional de Luta para a Preservação da Camada de Ozônio
19 – Dia Mundial de Luta pela Limpeza das Águas (ver também 22 de março)
21 – Dia da Árvore (ver também 21 de março e 17 de julho)
22 – Dia Nacional em Defesa da Fauna
25 – Dia da Bandeira dos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
29 – Dia Internacional de Conscientização sobre Perda e Desperdício de Alimentos (Dia Internacional do Desperdício Zero) – ver também 30 de março
29 – Dia Mundial dos Rios

OUTUBRO

01 – Dia do Vegetarianismo
03 – Dia Nacional da Agroecologia
04 – Dia de São Francisco de Assis
04 – Encerramento do Tempo da Criação
04 – Dia da Natureza
04 – Dia dos Animais
07 – Dia Mundial do Habitat
12 – Dia do Engenheiro Agrônomo / Engenheira Agrônoma
15 – Dia do Educador Ambiental
16 – Dia Mundial da Alimentação (Fome Zero)
17 – Dia da Agricultura
31 – Dia Mundial das Cidades

 

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy

Quinta, 21 Agosto 2025 14:53

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*

 

“A justiça ambiental – implicitamente anunciada pelos profetas – já não pode ser considerada um conceito abstrato ou um objetivo distante. Ela representa uma necessidade urgente que ultrapassa a mera proteção do ambiente. Trata-se verdadeiramente de uma questão de justiça social, econômica e antropológica. Para os que creem em Deus, além disso, é uma exigência teológica, que para os cristãos tem o rosto de Jesus Cristo, em quem tudo foi criado e redimido. Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das alterações climáticas, do desflorestamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade. Chegou verdadeiramente o tempo de dar seguimento às palavras com obras concretas, vivendo a vocação de guardiões da obra de Deus para que as sementes de justiça possam germinar, “contribuindo para a paz e a esperança”. Papa Leão XIV.

Para a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) “pastoral é uma ação ou conjunto de atividades que a Igreja Católica realiza para cumprir sua missão de continuar a obra de Jesus Cristo, abrangendo diferentes grupos e realidades. Ela envolve a evangelização e o anúncio do Evangelho por meio de serviço, diálogo e testemunho.

Neste sentido, as pastorais são formas concretas de evangelização (através de ações sociotransformadoras e de mobilização profética), adaptadas às diversas realidades e necessidades da sociedade e, assim, as pastorais sociais, inseridas na dimensão sociotransformadora, em particular, buscam promover a justiça social, a caridade e a paz, atuando em áreas como a defesa dos direitos humanos, a assistência aos mais vulneráveis, a promoção da dignidade humana, combatendo as desigualdades, os preconceitos, o racismo e, também, a defesa da ecologia integral.

A ação pastoral busca o diálogo com a sociedade procurando construir pontos e parcerias tanto internamente na Igreja quanto com movimentos e organizações populares e organismos públicos, para responder aos desafios contemporâneos, incluindo os desafios socioambientais, entre os quais não podemos esquecer de destacar a grave crise climática que estamos vivenciando nos últimos anos e décadas e construir um mundo mais justo, fraterno, inclusivo, de paz e sustentável, com mais equidade e menos desigualdade social e violência.

O mundo todo, inclusive o Brasil, enfrenta inúmeros desafios socioambientais, como a destruição da biodiversidade, a poluição dos solos, das águas, do ar, o desmatamento, a destruição de nascentes e outros mais que culminam com a crise climática e suas terríveis consequências tanto em relação à natureza quanto em relação às pessoas e sistemas produtivos; mudanças essas que, se não forem interrompidas ou mitigadas a tempo, podem colocar em risco a própria sobrevivência de todos os tipos de vida no planeta, inclusive a vida humana.

Diante disso, não foi por acaso que o Papa Francisco, em 24 de maio de 2015, publicou a Encíclica Laudato Si (sobre a Ecologia Integral e o cuidado com a Casa Comum), mesmo ano em que a ONU estabeleceu os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e, durante a realização da COP 21, foi firmado o Acordo de Paris, ano considerado emblemático diante da gravidade da crise socioambiental planetária.

Novamente, em 12 de outubro de 2023, o Papa Francisco escreveu a Exortação Apostólica Laudate Deum, endereçada não apenas aos participantes da COP 28, que foi realizada naquele ano, mas também a todos os cristãos (católicos e evangélicos) e não cristãos, enfatizando que, apesar de naquele ano já terem se completado oito anos da publicação da Laudato Si, pouco havia sido feito, em termos concretos, diante de vários indicadores estabelecidos na Agenda 2030, para enfrentar de forma efetiva a mudança/crise climática e seus efeitos deletérios.

Neste ano de 2025, novamente a Igreja particular, no caso a Igreja do Brasil, escolheu o tema da Ecologia Integral para ser o lema da Campanha da Fraternidade, dando sequência a outras oito campanhas anteriores que também dialogaram com temas ecológicos.

Todavia, quando nos debruçamos sobre a situação socioambiental do Brasil e do planeta, na etapa do método da Igreja – VER – constatamos que poucos avanços têm sido feitos e a degradação dos biomas, dos ecossistemas continua a todo vapor, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, razão pela qual a Igreja, enquanto um todo no país, não pode se omitir diante desses desafios.

Sempre é bom lembrar que, para a Igreja Católica, omissão é pecado e, no caso da omissão diante da destruição das obras da criação e do agravamento da crise socioambiental, é um pecado ecológico, que para a sociedade civil são crimes ambientais.

Assim, cremos que uma das formas, ou a melhor forma, de a Igreja se posicionar de forma efetiva, permanente, com ações sociotransformadoras e mobilização profética, buscando tanto a conversão ecológica – individual e comunitária – bem como a mudança de paradigmas de uma economia da morte por outros e novos paradigmas que possibilitem o florescimento da economia da vida, como nos exortava o Papa Francisco ao falar e propor a “Economia de Francisco e Clara”, como um novo modelo de economia, poderia ser realizada através das ações e atividades da Pastoral da Ecologia Integral, devidamente apoiada e articulada nacionalmente pela CNBB; o que, atualmente ainda, inexplicavelmente, não existe.

Todavia, apesar desses dez anos de Laudato Si e dois anos de Laudate Deum, a presença da Pastoral da Ecologia Integral na Igreja no Brasil ainda é bastante insignificante, considerando que no Brasil existem 48 arquidioceses; 217 dioceses; 7 prelazias; mais de 12 mil paróquias; mais de 180 mil comunidades eclesiais (de base); mais de 320 bispos e arcebispos; aproximadamente 30 mil padres (sacerdotes, vigários e párocos); além de aproximadamente mais de 30 mil freiras de vida consagrada e em torno de 120 milhões de pessoas que se consideram católicas, ou seja, 56,7% da população total do Brasil, conforme o último Censo Demográfico do IBGE em 2022.

Convenhamos, a Igreja Católica tem ou poderia ter um peso considerável em todas as dimensões da vida nacional e, em relação ao que poderia estar fazendo no combate à degradação dos biomas, dos ecossistemas e por um melhor cuidado com as obras da criação, poderia ser algo extremamente grandioso.

Mas, para tal, é fundamental que, além de palavras e exortações, passemos às ações sociotransformadoras e muita mobilização profética, e tudo isso pode ser realizado pela Pastoral da Ecologia Integral, desde que a mesma esteja presente em todos os territórios eclesiásticos mencionados e também conte com o apoio e orientação (espiritualidade ecológica) da hierarquia eclesiástica e também a participação de dezenas de milhares de leigos e leigas engajados e engajadas na vida e caminhada pastoral, em defesa da Ecologia Integral.

No dia 19 de agosto de 2025, ocorreu, de forma virtual, uma reunião entre a Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB, três bispos diocesanos referenciais da PEI – Regionais da CNBB Leste 1, Sul 1 e Sul 2 – e quatro integrantes da Coordenação Geral da Pastoral da Ecologia Integral do Brasil (APEIBR).

O objetivo da reunião foi a promoção de um diálogo tendo em vista situar a PEI no contexto das ações pastorais sociotransformadoras e de mobilização profética da Igreja, no maior número de arquidioceses, dioceses, paróquias e comunidades eclesiais no Brasil como um todo.

Constata-se que a organização da PEI tem sido muito mais resultado do esforço de um grupo cada vez maior de leigos e leigas engajados, que têm abraçado a luta em defesa da Casa Comum, da Ecologia Integral, a partir da realidade socioambiental de cada território eclesiástico considerado.

Constata-se que, apesar desse esforço enorme, a Igreja, no caso a CNBB Nacional, ainda não abraçou totalmente a referida pastoral, não apenas a nível nacional, mas na grande maioria dos Regionais da CNBB não existe bispo ou sacerdote como referenciais, nem uma comissão regional para contribuir para um trabalho mais articulado, duradouro e profundo.

A estruturação, organização e implantação da PEI ainda encontram certa resistência ou desinteresse tanto por parte de leigos e leigas quanto de integrantes do clero e das organizações de religiosos e religiosas na maior parte dos territórios eclesiais.

Constata-se ainda a falta de uma consciência em relação à gravidade da crise socioambiental, principalmente da crise climática e de todas as formas de degradação dos biomas e ecossistemas, razão pela qual um, ou talvez o maior desafio, seja a conversão ecológica dentro da própria Igreja, tanto na dimensão individual quanto comunitária, como tanto nos exortava o Papa Francisco, além do negacionismo ecológico de amplos setores da sociedade brasileira, principalmente dos que ainda lucram com esta destruição da natureza.

Diante disso, conforme pode-se perceber da memória daquela reunião, existem inúmeros desafios que precisamos refletir em torno dos mesmos para que a Igreja, como um todo no Brasil inteiro, possa realizar um trabalho de forma mais orgânica e institucional e não apenas através de um esforço quase que marginal às ações planejadas de cada arquidiocese, diocese, paróquia ou comunidade, como vem acontecendo.

A leitura da memória desta reunião – a segunda propriamente dita, tendo em vista que há pouco mais de um ano foi realizada a primeira reunião presencial em 2024, em Brasília, entre nove representantes regionais da APEIB, Dom Vicente (bispo presidente da Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB) e o padre Dário, ocasião em que a maior parte das preocupações e assuntos abordados na reunião, objeto desta memória que integra esta reflexão, também foram objeto de reflexão.

Naquela reunião presencial, foi pontuada a importância do tema da Campanha da Fraternidade de 2025 (Fraternidade e Ecologia Integral), das celebrações dos dez anos da publicação da Encíclica Laudato Si, dos 800 anos das celebrações do Cântico das Criaturas e da realização da COP 30, em Belém, no final deste ano de 2025.

Todos esses eventos e celebrações foram considerados momentos significativos para a expansão dos trabalhos da PEI e a possibilidade de organização/estruturação da mesma em um maior número de territórios eclesiásticos, o que, lamentavelmente, não tem ocorrido como esperado, razão pela qual os integrantes do Conselho Nacional e da Comissão Executiva da Articulação Nacional da PEI do Brasil voltaram a buscar um diálogo mais formal, desta vez incluindo os três bispos referenciais já mencionados.

Oxalá a Igreja no Brasil possa “avançar para águas mais profundas” e abraçar de vez, e com determinação, o desafio de realmente defender, através de ações sociotransformadoras e de mobilização profética, a causa da Ecologia Integral e possamos promover mudanças de hábitos, costumes e de estruturas produtivas, seguindo os ensinamentos dos Papas Francisco e Leão XIV.

É neste contexto que esperamos que a Pastoral da Ecologia Integral possa inserir-se, de fato, no esforço da CNBB de sermos “o sal da terra e a luz do mundo” quando se fala em defesa da Ecologia Integral.

 

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..r" target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy

Quinta, 21 Agosto 2025 10:16

 

 

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Juacy da Silva*

 

Em um pronunciamento na Câmara Municipal de Cuiabá, o prefeito Abílio Brunini, já bem conhecido pelas suas formas estapafúrdias de “fazer política”, mais uma vez usou palavras chulas para tentar desqualificar o ensino público e, particularmente, a Universidade Federal de Mato Grosso, que, ao longo de mais de meio século (55 anos a completar em dezembro próximo), já formou dezenas de milhares de profissionais extremamente competentes em diversas áreas e que têm desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de Mato Grosso e do Brasil.

Hoje, com três campi (Cuiabá, Pontal do Araguaia - Barra do Garças e Sinop), e outros ainda em processo de instalação, além do antigo campus de Rondonópolis, hoje mais uma universidade federal no estado de Mato Grosso, a UFMT é uma referência em excelência tanto no ensino de graduação quanto de pós-graduação, lato e stricto sensu, com vários cursos de mestrado, doutorado e pós-doutorado, todos bem avaliados pelas instituições verificadoras (MEC), além de reconhecimento internacional.

Abílio disse que o ensino superior público em Mato Grosso é uma “BOSTA”, incluindo a UFMT, o que, além de demonstrar sua falta de educação, de polidez para uma autoridade como prefeito de uma capital, denigre não apenas a instituição UFMT em si, mas também todos os seus servidores técnicos e administrativos e, principalmente, o quadro docente da UFMT, da qual sou professor fundador, titular e aposentado, tendo tido a oportunidade de fazer parte dos três primeiros docentes desta universidade a ir para os EUA nos idos de 1974 realizar mestrado.

Posso testemunhar que a UFMT tem enfrentado problemas, principalmente de natureza financeira e orçamentária, que a impossibilitam de galgar novos patamares em termos de excelência, tanto no que concerne ao ensino ministrado na graduação quanto na pós-graduação; na pesquisa, que também tem contribuído sobremaneira para aprofundar o conhecimento local, regional e universal em várias dimensões e, claro, devolvido à sociedade brasileira e, particularmente, a Mato Grosso, através de diversos serviços de extensão, aproximando os alunos e docentes dos saberes populares, tradicionais e ancestrais à contemporaneidade do conhecimento científico e da revolução tecnológica em curso no mundo inteiro.

Além disso, a UFMT, ao longo desses 55 anos, tem estado ao lado dos movimentos e das organizações populares na luta contra a violência, por justiça social, igualdade de gênero, inclusão social e garantia dos direitos humanos fundamentais de tantos grupos demográficos existentes em nosso estado, como os trabalhadores urbanos e rurais, os quilombolas, os povos indígenas, ribeirinhos e também setores econômicos, industriais e agropecuários.

Como docente da UFMT, FUNDADOR, TITULAR E APOSENTADO, do que me orgulho sobremaneira, repilo e condeno veementemente a forma descortês, mal-educada e desrespeitosa como um prefeito de nossa capital, inclusive com uso de expressão chula, imprópria para qualquer pessoa — muito mais para alguém que exerce um cargo tão importante — achincalhou nossa Universidade Federal de Mato Grosso.

Oxalá os assessores do nosso prefeito possam fazer ver ao mesmo o seu equívoco e que o mesmo tenha a humildade suficiente de reconhecer seu erro e pedir desculpas/perdão a tantas pessoas, milhares de alunos que atualmente estão cursando a UFMT ou dezenas de milhares de profissionais que passaram pelos bancos da UFMT e hoje, ou outrora, foram profissionais altamente qualificados e prestaram um grande papel ao desenvolvimento de nosso estado e do Brasil.

Respeito e boas maneiras são formas civilizadas de nos relacionarmos publicamente, senhor prefeito, e todo mundo gosta e merece!

 

Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. ; Instagram @profjuacy 

 

 

Segunda, 04 Agosto 2025 13:34

 

 

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Por Juacy da Silva*

 

Há poucos dias, o noticiário da imprensa nacional e internacional deu destaque a um fato inédito, que foi a divulgação do relatório da ONU informando que o Brasil acabou de sair do mapa da fome no mundo, graças ao desenvolvimento da agricultura familiar e também ao avanço da participação da produção agroecológica.

Um dos grandes desafios que o mundo todo e, particularmente, o Brasil enfrentam é o uso excessivo e abusivo de agrotóxicos (o Brasil é o campeão mundial em uso de agrotóxicos, tanto por área cultivada quanto per capita; e Mato Grosso é o campeão brasileiro nesta triste estatística), que degradam tanto a natureza (meio ambiente), poluindo os solos, as águas e o ar, quanto afetam profundamente a produção de alimentos e a saúde humana.

A resposta a tal desafio tem vindo da produção de alimentos orgânicos, embasada na agroecologia, que, dia após dia, não sem dificuldades, tem ampliado sua participação e importância na produção de alimentos, principalmente tendo como base a agricultura familiar e, neste contexto, oriundos da agricultura urbana e periurbana, principalmente no sistema de economia solidária.

Diversas organizações ambientalistas, não governamentais e também a Pastoral da Ecologia Integral têm atuado com afinco para enfrentar este desafio, incentivando a organização de hortas domésticas, hortas escolares e hortas comunitárias, dando uma destinação mais nobre às diversas áreas — no caso das cidades, verdadeiros latifúndios urbanos — mantidas como estoque de terra para fins meramente especulativos. Além da produção de alimentos, cabe ressaltar também o estímulo para a produção de plantas medicinais, que inclusive contribuem neste enfrentamento à pobreza.

É comum defrontarmo-nos com enormes áreas mal cuidadas, que acabam sendo transformadas em depósitos de lixo, matagal, propriedades inadimplentes com suas obrigações fiscais (IPTU), sem calçadas, sem muros, enfim, áreas que apenas serão utilizadas para o lucro imobiliário futuro, afastando-se do princípio constitucional de que a propriedade, para ser garantida, precisa atender também à sua função social, o que nunca tem acontecido com esses latifúndios urbanos.

A função social da propriedade remete tanto à propriedade rural quanto urbana e, com o advento do Estatuto das Cidades, foi instituído o IPTU progressivo, impondo ao proprietário o pleno uso tanto da propriedade territorial quanto predial, sob pena de ser desapropriado por interesse social.

Assim, a função social da propriedade, um dos pilares da Constituição Federal de 1988 e de outras leis e normas legais, estabelece que o direito de propriedade deve servir não apenas aos interesses do proprietário, mas também às necessidades e interesses da coletividade, visando assegurar uma vida digna e justa a todos os cidadãos que estejam vivendo em um determinado território urbano ou periurbano.

Nos mais diversos estados brasileiros e no Distrito Federal, em centenas ou quase milhares de cidades, têm-se propiciado exemplos de como tais áreas podem ser transformadas em espaços para produção orgânica e contribuído também para a segurança alimentar das populações que vivem não apenas nas periferias territoriais das cidades, mas também nas periferias sociais e econômicas, enfrentando tanto a pobreza, a miséria, a fome quanto a exclusão socioambiental.

É importante que tais iniciativas recebam não apenas a adesão e participação da população local, mas também o apoio técnico de organismos públicos, como das secretarias de Agricultura, do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano dos Estados e Municípios e, claro, das universidades, tanto públicas quanto particulares, que tenham cursos como Agronomia, Veterinária (importantes para a criação de animais, granjas etc.), Economia, Nutrição e que, através de seus programas de extensão universitária, possam oferecer apoio e as orientações técnicas necessárias para que a população local, através da modalidade da economia solidária e do cooperativismo, possa desenvolver tais projetos.

Esses projetos, além de contribuírem para o aumento da produção orgânica de alimentos saudáveis, contribuem também para o uso mais racional dos espaços e do solo urbano e periurbano, contribuindo, assim, para um melhor cuidado com o meio ambiente e para o combate da crise climática, que a cada dia tem acarretado mais problemas para as cidades e seus habitantes.

Como vemos, existe um amplo espaço e grandes oportunidades para a dinamização das ações sociais de base comunitária e da economia solidária, como, por exemplo, a Economia de Francisco e Clara, tão enfatizada como a economia da vida, em substituição à Economia da Morte, como tanto nos exortou o Papa Francisco em seus 13 anos de Magistério.

Este é um dos desafios que a Pastoral da Ecologia Integral e o movimento comunitário devem conjugar esforços para um amplo programa de agricultura orgânica, agricultura urbana nas mais diversas cidades por este Brasil afora e mudar a realidade de exclusão, fome e miséria que existe em nosso país.

 

*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. ; Instagram @profjuacy