Terça, 19 Julho 2022 11:13

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Terça, 19 Julho 2022 11:04

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Quinta, 21 Julho 2022 00:00

 

“A trabalhadora teve parte de sua remuneração mensalmente retirada para destinação não demonstrada, muito embora encontre correlação de valores e periodicidade com as alegadas transferências ao ex-diretor”. Esse é um trecho conclusivo do relatório formulado por comissão indicada pela diretoria do Andes – Sindicato Nacional, que investigou denúncias de assédio moral, sexual e apropriação indevida, supostamente praticadas pelo então diretor da Regional Pantanal, Reginaldo Araújo, entre 2019 e 2020. Sem provas, mas com “convicções”, o 65º Conselho do Andes-SN (Conad) decidiu, neste domingo, 17/07, excluir da base do sindicato o militante, que atualmente é diretor-geral licenciado da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind).

 

A denúncia, feita por uma funcionária da Secretaria Regional Pantanal do Andes-SN em meados de 2021, ao perceber que seria demitida pela atual diretoria - da qual Araújo não faz parte -, se restringiu à esfera política, justamente pela ausência de provas. Na ocasião da denúncia, os atuais diretores da Regional também foram acusados pela funcionária de prática de assédio moral, mas sobre este caso, ainda não houve nenhum pronunciamento público do Andes-SN.  

 

Apesar da insegurança do relatório elaborado contra Araújo, o Andes-SN condenou o professor previamente, defendendo sua exclusão do quadro de sindicalizados em um Texto Resolução publicado no Caderno de Textos do 65º Conad, em 14/06, no qual a diretoria afirma que ao docente seria assegurado o direito de apresentar sua defesa no Conselho – segundo maior espaço deliberativo do sindicato nacional. O prazo anunciado no TR para o envio do texto de sua defesa foi de 15 dias, com o argumento de fazê-lo circular no Caderno Anexo, disponibilizado 21 dias depois, em 05/07. No entanto, o professor foi notificado oficialmente, via e-mail, no dia 15/06, informando a mesma data (28/06) para o envio da defesa.  

 

No Conad, Araújo denunciou que representantes de outras seções sindicais reclamaram da dificuldade de acessar os documentos (o texto da defesa tem 40 páginas, mas os anexos com provas documentais ultrapassam 300 páginas), pois a liberação dos mesmos se deu por intermediação do Andes-SN. Durante o evento, tanto nos grupos mistos quanto na plenária que debateu a questão - Tema III -, docentes reafirmaram as declarações de Araújo, de que não conseguiram acessar a documentação, ou que, mesmo acessando, não se sentiam preparados para qualquer julgamento devido ao pouco tempo destinado à apreciação do mesmo.

 

Na plenária realizada no domingo, o professor solicitou 30 minutos para fazer sua defesa oral, mas foram concedidos apenas 15 - que dividiu com a colega de Seção Sindical, Alair Silveira. Inicialmente, os docentes apresentaram críticas à metodologia adotada pelo sindicato para apuração das denúncias. A própria Adufmat-Ssind aprovou, em assembleia geral realizada em 23/06, a “inconformidade com a forma como foi conduzido o processo que resultou na apresentação do Texto Resolução (TR) n. 05, do Caderno de Texto para o 65º CONAD” (leia a nota aqui).

 

Na Seção Sindical do Andes-SN na UFMT, parte da categoria também se sente atacada pela TR nº 5, já que, para a direção nacional, Araújo teria orquestrado diversas situações em benefício próprio, implicando, portanto, na omissão ou conivência por parte de outros diretores que estavam à frente do sindicato na época. Além disso, alguns docentes questionam se a direção nacional teria competência para decidir o futuro de um militante local, apresentando um relatório que, de fato, não demonstra responsabilidade sobre essas acusações, e sem que a própria Seção possa fazer a discussão a partir da apresentação do contraditório.

 

No total, a plenária de domingo do 65º Conad autorizou a intervenção de 24 inscritos, mas o número de candidatos foi maior. Dessas 24 intervenções, 10 foram no sentido de que não havia possibilidade de decidir sobre a exclusão de Araújo. As outras 14 intervenções, feitas, em sua maioria, por membros da diretoria atual ou da anterior, insistiu na ideia de que o rito procedimental foi o adequado e que houve tempo para apropriação e análise de todos os argumentos.

 

Entretanto, o próprio Andes-SN, em matéria publicada após o Conad, atribui a exclusão do professor à “denúncia de assédio”, sem abordar detalhes imprescindíveis de um dos debates mais importantes do evento, não só pela gravidade das acusações, mas pela abertura de precedentes acerca de como a entidade passará a lidar com questões desse tipo.

 

Se, com relação às acusações de apropriação indevida, a própria comissão reconhece a “não demonstração” das acusações, com relação ao “assédio”, apontado publicamente como única causa da exclusão, a constatação é praticamente a mesma, quando afirma a comissão: “[...] expressão do assédio sexual caracteriza-se ante uma conotação estrutural, e à própria percepção da vítima quanto a esta situação de constrangimento, que independe de ato de violência, coação ativa ou assemelhada – condições que, de fato, nem ao menos foram aventados no caso. Neste sentido a prática de assédio sexual, mesmo que aparentemente não expressa por ter sido uma relação vivida, apresenta-se como tal pela condição assimétrica desta relação, pela narrativa e percepção de sensível coação da trabalhadora, contextualizadas na responsável compreensão da lógica machista que estrutura as relações de gênero.”  

 

Em sua intervenção, o professor Waldir de Castro, da Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense (Aduff) tentou alertar aos participantes do Conad. “A primeira questão é: quem aqui leu os relatórios? E não é só caso de leitura, mas de estudo. Aqui nós pegamos informações de forma fragmentada, isso dificulta qualquer análise. É claro que não acreditamos na neutralidade de um julgamento, a chamada letra fria da lei, ainda mais em ambiente extremamente emocional, como esse que temos aqui. E outra, a gente sabe que tem uma corrente política majoritária que dirige o sindicato e hegemoniza as seções sindicais, e isso aqui é um conselho de dirigentes, não de base, como é o Congresso. Ninguém aqui quer jogar nada para de baixo do tapete, mas qualquer decisão agora seria prematura. Nós temos um Congresso à frente”, disse o professor, sugerindo que a conclusão do debate se desse no Congresso do Andes-SN, que será realizado no início de 2023.

 

A direção do sindicato nacional, no entanto, alegou que, conforme o Estatuto da entidade, remeter o debate para o próximo Congresso “castraria” o direito legal do professor Reginaldo Araújo de recorrer à decisão do Conad.

 

Em sua defesa, Araújo afirmou que não cometeu nenhuma das acusações, e que as provas estão reunidas na documentação entregue – muito embora alguns documentos solicitados, como atas e gravações, ainda não tenham sido concedidos pelo Andes-SN. Além disso, lembrou que havia pedido à comissão para que ouvisse outras pessoas diretamente envolvidas, pois as entrevistas se limitaram à audição da acusadora, de membros da ex-diretoria do sindicato nacional que tentam expulsar o docente desde 2018 por divergências políticas, de uma ex-funcionária da Secretaria Regional, demitida em 2019 mediante a constatação de irregularidades, de uma diretora da Regional Pantanal que reside no Mato Grosso do Sul e do próprio Reginaldo Araújo, que na época foi convocado na condição de testemunha, e não de acusado.

 

Para o professor, a ideia de perseguição política por parte do grupo hegemônico dentro Andes-SN se revelou também na votação que aprovou o TR5. Muito embora o curto espaço concedido para o debate tenha registrado diversas intervenções contrárias à aprovação sem debate aprofundado, resguardando o direito ao contraditório, os votos, prerrogativa apenas dos delegados/ diretores das Seções, foram: 40 favoráveis ao TR, cinco contrários e nove abstenções.       

 

Para a diretora da Adufmat-Ssind, Marlene Menezes, delegada eleita em assembleia geral para representar a Seção Sindical no 65º Conad, a decisão de exclusão foi uma decepção. “Na assembleia que realizamos em 23/06, os docentes repudiaram o método escolhido pela diretoria do Andes para averiguar as denúncias a respeito do professor Reginaldo, diretor geral da Adufmat. Desta decisão, surgiram duas ações: a aprovação de uma nota, marcando a posição, e a indicação para defesa e voto contrário à TR 5, que propôs a exclusão do professor no Conad. A ausência das garantias democráticas e constitucionais, entre elas e o direito à defesa no tempo e espaço da acusação continuaram presentes na plenária que deliberou pela aprovação da TR 5, portanto, da filiação do professor. Em nome da deliberação da nossa assembleia, da qual fui portadora como delegada, me sinto decepcionada”, disse a docente.

 

Após o debate, várias solicitações de “esclarecimentos” foram feitas, indicando, mais uma vez, que a plenária não estava preparada para se posicionar, e não tinha compreensão dos efeitos posteriores a qualquer posicionamento. Embora a diretoria do Andes-SN tenha reivindicado, algumas vezes, autonomia política para indicar a decisão, a Assessoria Jurídica da entidade foi acionada para responder alguns questionamentos. Após muita confusão, afirmou-se que, caso Araújo opte pela apresentação de recurso, sua exclusão será suspensa até apreciação definitiva pelo Congresso do Andes-SN.

 

Com a intenção de oportunizar a ampla defesa do professor Reginaldo Araújo, a Adufmat-Ssind realizou uma entrevista, cuja íntegra será disponibilizada abaixo:

 

Adufmat-Ssind: Professor, qual a sua avaliação sobre o processo que resultou na sua exclusão do quadro de sindicalizado do Andes-SN?

 

Prof. Reginaldo Araújo: Eu avalio tudo isso com muita tristeza e indignação, porque as acusações que me foram imputadas são muito graves, especialmente quando a gente vê a partir de uma perspectiva de militante. Acusações de assédio moral, de assédio sexual, de rachadinha - uma expressão que alguns membros do Andes-SN utilizaram para me acusar de apropriação de recursos da servidora -, contra toda uma história, toda uma prática de construção que nós fazemos dentro do movimento sindical. Eu vejo com muita tristeza e indignação como esse processo foi feito para garantir uma condenação. Por que eu estou dizendo isso? Porque eu fui convidado para duas oitivas pelos membros de uma comissão investigativa do Andes, e eles não revelaram que eu era investigado. Nas duas oitivas em que eu fui chamado, estava muito explícito, e eu mostro isso nos e-mails. Quem lê a minha defesa vai ver: eu fui convidado como testemunha para o que eles estão chamando de “desarmonia entre a atual diretoria e a servidora, e questões da diretoria anterior e a servidora”. Então, eles terem feito esse processo que me levou à exclusão sem me garantir o direito de saber que eu estava sendo acusado de alguma forma, foi absolutamente desrespeitoso, inclusive da perspectiva do que a gente chama de direito garantido constitucionalmente. Outra questão lamentável é o procedimento que eles construíram. Na Constituição brasileira está muito evidenciada a ideia de inviabilidade da intimidade, ela não pode ser colocada abertamente para as pessoas. E eles violaram a minha intimidade quando revelam para o país inteiro que eu tive um relacionamento íntimo com a servidora, e eu assumi isso desde o início das oitivas junto à comissão, mas não tinha ideia do que eles iam fazer e, inclusive, fiz isso no sentido de ajudar a comissão. Eu não tinha ideia de que eles iam colocar isso para 75 mil professores, é uma coisa simplesmente absurda. Outra garantia constitucional violada é que, mesmo que você tenha uma acusação, o espaço da defesa tem de ser no mesmo tamanho, local e tempo. E aí me assustou, inclusive, que alguns dirigentes do sindicato afirmam que estão cumprindo o Estatuto da entidade, mas ignoram a Constituição. A coisa foi bem pensada para não me dar chance dentro do processo do Conad, a estrutura de enviarem os textos no dia 14 de junho para todos sindicalizados, para que eles realizassem assembleias até 5 de julho. Essa estrutura impossibilitou as decisões de assembleias, porque o Conad começa antes das pessoas chegarem ao evento; ele começa com as assembleias, se posicionando sobre os textos de resolução, e eles fizeram de uma forma que não me daria chance mesmo de ter qualquer tipo de vitória, quando colocam o TR [Texto Resolução] no dia 14 de junho e a minha defesa só foi anexada no dia 5 de julho. Na experiência dentro do Conad, foi evidenciado, por vários delegados e vários observadores, que as pessoas votaram sem ter acesso à minha defesa. Coisas escandalosas como, por exemplo, dentro do evento, a diretoria se colocar contra a entrega da defesa nas mãos das pessoas, depois de a gente denunciar que elas não estavam conseguindo acesso ao documento via internet, conforme foi com o relatório da acusação. O próprio tempo estipulado dentro do grupo misto, eu tive entre seis e oito minutos para fazer fala de defesa de uma acusação tão grave. Tudo isso criou uma estrutura que levou a esse resultado, um processo de exclusão que só causa indignação, porque nem a minha Seção, ou seja, os meus companheiros, que atuam comigo, sequer tiveram a oportunidade de acompanhar esse processo, inclusive para dizer: não, a gente chegou à conclusão de que o Reginaldo é culpado, ou que o Reginaldo é inocente, porque nós acompanhamos de perto. Nem isso foi oportunizado. Fizeram uma discussão de sujeitos que são de outras regiões, que se apropriaram de informações incompletas, na minha opinião, construída de forma pensada para me retirar do sindicato.

 

Ad: De forma resumida, o que você tem a dizer sobre a acusação de orquestração da demissão da funcionária da Secretaria Regional em 2019?

 

Prof. R: Isso, para mim, é parte de um movimento para não dar nenhuma chance de eu tentar mostrar o quanto esse processo todo é viciado. Só para as pessoas compreenderem, de forma breve: eu estava na direção de um sindicato no finalzinho de 2018. Havia quatro, cinco meses que tínhamos assumido, quando eu e o diretor tesoureiro percebemos que havia uma situação grave. Qual era? Nós tínhamos uma servidora, na Regional Pantanal, que simulava o pagamento a uma diarista que deveria fazer a limpeza do sindicato todas as segundas-feiras. No entanto, tanto eu quanto o tesoureiro percebemos que essa limpeza não estava sendo feita. Quando nós percebemos isso, levantamos as gravações das câmeras externas, que mostravam quem entrava no sindicato. E aí não foi muito difícil: pegamos recibos que mostravam que as diárias estavam sendo pagas, pegamos as filmagens das segundas-feiras, e observamos que não tinha esse serviço. Levamos para a diretoria, fizemos a denúncia, entregamos as imagens, e aí três, quatro anos depois, parte da diretoria anterior vem dizer que não assistiu a filmagem. Não era responsabilidade minha eles assistirem às filmagens. Eu assisti e garanto que ninguém esteve trabalhando naquele período. A própria funcionária que foi demitida diz, na oitiva, que a diarista faltou alguns dias porque sofreu um acidente, e que ela continuou fazendo os pagamentos. Bem, se a diarista faltou, ela deveria ter avisado a direção do sindicato e aguardado a nossa decisão a respeito. Mas ela mesma admitiu que a diarista não estava trabalhando.

 

Ad: E a diretoria do Andes-SN orientou o processo de demissão e contratação de novo funcionário?

 

Prof. R: Essa decisão foi tomada no dia 04 de fevereiro, na cidade de Belém, após o Congresso ocorrido na cidade. Está em ata. A diretoria orienta que é papel do primeiro vice-presidente, no caso, eu, demitir a funcionária e contratar outra. Quem teve acesso à minha defesa vai observar que a gente levou quase 40 dias para contratar a nova funcionária. Consultamos a direção do sindicato, a partir da sua Secretaria Geral e essa Secretaria me orientou a procurar funcionários para ver o modelo de edital. Nós vimos o modelo, eu divulguei entre a diretoria, depois divulguei em toda a rede de filiados da Adufmat. Eu não estava na primeira banca montada, que contava com dirigentes da Regional Pantanal e da direção nacional. As duas tiveram problemas de última hora que as impediram de participar da banca, uma bateu o carro e a outra teve um problema de saúde. Então, eu convidei professores da diretoria da Adufmat para contribuírem, e contribuíram, fizemos ata, foi um processo republicano, tomamos todos os cuidados, tivemos 19 candidatos, avaliamos currículos, fizemos as entrevistas, sabe? É simplesmente absurdo, hoje, quererem fazer uma acusação de algo que, inclusive, uma comissão averiguou lá em julho de 2019, e atestou que foi um processo absolutamente lícito. Esse relatório, inclusive, é um dos anexos da defesa.

 

Ad: De forma resumida, o que você tem a dizer sobre as acusações de assédio moral e sexual contra a funcionária que fez as denúncias?

 

Prof. R: Primeiro, que tudo isso é muito caro para nós, militantes do movimento sindical. Nós somos sujeitos que lutamos contra o assédio moral e assédio sexual. Isso está espalhado para todos os lados. Em segundo lugar, eu tive um relacionamento íntimo com a funcionária, desde o início eu assumi isso, publicamente, e acredito que eu tenho que lidar com isso, especialmente com a minha companheira, com a minha família. Também me disponho a responder sobre isso a qualquer um que considere necessário. Agora, tudo isso ocorreu de forma consentida. Nós estamos tratando de uma militante política, de movimento social. Não houve assédio sexual, eram duas pessoas adultas que estavam se relacionando. Não houve assédio moral. Eu nunca a desrespeitei em nenhum momento. Há, inclusive, mensagens trocadas em 2021, quando eu já não era mais dirigente, dela reconhecendo que eu fui um dos melhores chefes que ela já teve, agradecendo atos de solidariedade para com ela quando adoeceu de Covid-19. Nesse processo de relacionamento íntimo, eu fiz empréstimos financeiros e demonstro isso. Àqueles que puderem ler a minha defesa, ela está à disposição, eu mesmo entrego para qualquer pessoa, porque estou aberto a qualquer tipo de questionamento e esclarecimento sobre este processo. Eu não tenho nada a esconder. Eu fiz esses empréstimos e uma gravação que aparece no relatório - e só tem essa gravação, algumas pessoas andam dizendo que tem filmagens, que tem outras gravações; bem, se tem, só me chegou essa -, uma gravação na qual eu estou cobrando dela o empréstimo que eu fiz, inclusive para comprar o celular que ela admite que eu comprei para ela, no meu cartão de crédito. Então, na minha opinião, esse processo não passou de uma cilada. Lamentavelmente, eu fui muito ingênuo nesse processo todo, por não perceber que esse envolvimento e esses empréstimos me causariam tanta dor. Para mim, é dolorido ter que sair de um sindicato que eu tenho ajudado a construir nos últimos cinco, dez anos. Então, assim, eu tenho todos os documentos que mostram o saque, repasses para a servidora como empréstimo. Ela me devolveu os recursos, e eu coloco isso até para reconhecer que ela foi honesta comigo nesse sentido. Eu lamento profundamente, e disso eu não tenho dúvidas, de que ela só traz essas denúncias porque percebeu que poderia ser mandada embora pela atual direção. Isso fica muito evidenciado quando ela revela que tem um desentendimento com a atual direção do sindicato e vai fazer as denúncias contra eles, porque teve acesso a e-mails, trocas de conversas. E aí ela, diante da ameaça de ser mandada embora, acha elementos que criam fatos para não ser demitida.

 

Ad: Quer falar mais alguma coisa, professor?

 

Prof. R: Já que as instâncias dentro da estrutura do sindicato não me dão a oportunidade de fazer a minha defesa, eu vou recorrer judicialmente, porque lá eu acredito que posso demonstrar que não me permitiram demonstrar a minha defesa, mesmo que eu tenha produzido um documento de 40 páginas de texto, com 45 anexos. Isso é gravíssimo. Eu não vou dizer que eu sou vítima, porque não sou. Eu errei, admito isso publicamente, mas ao mesmo tempo, não dá para permitir que manchem a minha história, minha honra, a minha caminhada dentro da luta sindical desse jeito. Então, eu vou recorrer judicialmente, vou constituir um advogado, e eu tenho muita esperança de que a gente consiga reverter isso, nem que seja da forma mais difícil - principalmente pra nós que somos do campo da esquerda -, que é recorrer ao espaço da justiça burguesa para restabelecer aquilo que é de direito.

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind  

Sexta, 15 Julho 2022 16:30

 

Para balizar as avaliações e encaminhamentos dos três dias de trabalho do 65º Conselho do Andes-SN (Conad), docentes de todo o país contribuíram para a atualização da análise de conjuntura.

 

A abertura da Plenária do Tema I foi feita pela presidente do Andes-SN, Rivânia Moura, apresentando o texto com análise de conjuntura da Diretoria. A leitura é de que, a partir do cenário internacional, o Brasil continua sendo impactado pela crise capitalista e pacto burguês, levando adiante a contrarrevolução permanente de ataques aos direitos sociais e trabalhistas. Assim, a tarefa do sindicato continua sendo, entre outras coisas, lutar contra a PEC 32 (Reforma Administrativa), contra as opressões de gênero, raça e sexo, e construir uma greve geral de trabalhadores.

 

As professoras Eleonora Ziller (AdUFRJ) e Nicole Pontes (Aduferp) apresentaram o texto com título “O que a conjuntura impacta na vida docente: remover o governo criminoso de Bolsonaro para reconstruir e transformar o Brasil”, que aborda, entra outras coisas, a defesa da participação do Andes-SN na Conferência Nacional Popular da Educação (Conape).

 

A tese “Lutar pelo poder popular! Pelo socialismo e o internacionalismo! Fora Bolsonaro! Construir a universidade popular!”, foi defendida pelo professor Luis Acosta (AdUFRJ). Ele iniciou lembrando que este ano será comemorado 200 anos da independência do Brasil e 100 anos do Partido Comunista Brasileiro, parte importante da história de organização da classe trabalhadora, pois demonstra a disposição de construção de outra sociedade. O texto reivindica, ainda, a luta pela Memória, Verdade e Justiça, que transformou lutadores em mártires na ditadura militar. Por fim, os autores do texto reivindicam a independência de classe, afirmando que a luta dos trabalhadores não se esgota nas eleições, mas a construção de propostas como: uma Lei de Responsabilidade Social, referenciada pelas propostas da classe trabalhadora; um Projeto de Educação que deve incluir uma Universidade Popular, além de uma grande greve, ao menos do setor da Educação.

 

A professora Alair Silveira (Adufmat-Ssind) defendeu a tese “Nas Ruas ou nas Urnas?”, criticando a tendência de defesa da candidatura de Lula como alternativa a um novo Governo Bolsonaro e o esforço da Diretoria do Andes-SN em transformar a importante luta contra as opressões em ferramenta de perseguição entre os próprios militantes da categoria. “Não há quem discorde da tragicidade deste governo, que é intolerante, perseguidor. No entanto, há discordâncias sobre o porquê a classe está como está, e como deve agir para avançar, para sair disso. Eleições não devem ser prioritárias. ‘Fora presidentes’, insígnias que usamos desde o Governo Collor, esvazia o debate central contra o projeto societário. Da mesma forma, as cisões criadas entre a categoria, a partir da opção de centrar no debate das opressões no lugar da classe, só nos enfraquece”, afirmou.

 

As defesas foram seguidas por debate aberto entre os presentes sobre os temas apresentados, e a Plenária I foi finalizada sem encaminhamentos. Para saber mais sobre as análises, leia o Caderno de Textos e o Caderno Anexo do 65º Conad.

 

 

Ao final, a delegação da Adufmat-Ssind apresentou o segundo caderno produzido pelo Grupo de Trabalho de Política e Formação Sindical (GTPFS) local, intitulado "Capital e Trabalho: ofensivas e resistências". O trabalho reúne análises acerca da identificação e sistematização de toda a legislação contrária aos interesses dos trabalhadores aprovadas nos últimos anos.   

 

Ainda no período noturno dessa sexta-feira, os docentes se concentrarão nos textos dos temas II (Plano de Lutas Geral e dos Setores) e III (Questões Organizativas e Financeiras) nos Grupos Mistos. 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Sexta, 15 Julho 2022 11:30

 

Começou, na manhã dessa sexta-feira, 15/07, no auditório do anfiteatro Glauber Rocha, localizado dentro da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), em Vitória da Conquista, o 65º Conselho do Andes Sindicato Nacional (Conad), segundo maior espaço deliberativo da entidade.

 

Estão representando a Adufmat-Ssind os professores Marlene Menezes (delegada indicada pela Diretoria), Maria Luzinete Vanzeler, Alair Silveira, Waldir Bertúlio, Reginaldo Araújo, Haya Del Bel e Maelison Neves, todos indicados pela assembleia geral realizada no dia 23/06. A professora Qelli Rocha, que também foi indicada para participar como observadora, não irá por questão de saúde.  

 

A apresentação cultural para receber os participantes vindos de diversas regiões do país para o 65º Conad foi feita pelo projeto social Marujada Mirim do Beco de Dôla, que transforma vidas de crianças e adolescentes do bairro Pedrinhas e região por meio da música, utilizando material reciclável para produzir instrumentos e valorizando a herança cultural do povo negro.

 

Em seguida, a Mesa de Abertura foi formada por entidades parceiras, com representantes estudantis, docentes, de técnicos-administrativos, entre outras categorias, além da Reitoria da Uesb.   

 

A coordenadora geral da Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Técnico (Fenet), Ana Luiza Rocha, falou sobre os ataques de Jair Bolsonado à Educação pública, dificultando o acesso e permanência dos estudantes, especialmente durante a pandemia.

 

A representante do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), Luísa Senna, que é diretora de acessibilidade, observou que os próprios movimentos organizados de trabalhadores não estão prontos para receber pessoas com deficiência nos ambientes. Em seguida, destacou os desafios enfrentados nestes mais de dois anos de pandemia, em que os trabalhadores não tiveram o devido respeito por parte dos governos, vendo seus direitos sendo sistematicamente retirados. “Isso não é acaso, é produto de um projeto político de sociedade. Precisamos combater não só a criatura que ali está, mas os valores que ali o colocaram”, disse.

 

O coordenador da CSP-Conlutas, Paulo Varela, lembrou que o Andes-SN tem uma história que se mistura à CSP-Conlutas, central a qual é filiada. “Estivemos juntos não só na luta em defesa da Educação, mas também em momentos muito cruciais da própria existência do sindicato, como no momento em que tentaram dividir os trabalhadores da Educação, rompendo com o Andes e criando uma outra entidade para servir a um governo, e também logo depois, quando tentaram cassar o registro do Andes”, afirmou, destacando que é preciso reconhecer o Andes-SN como uma das maiores entidades de trabalhadores do país, fundamental para a organização dos servidores.

 

Varela defendeu, ainda, que é preciso discutir a auto defesa dos lutadores sociais nesse momento, citando os diversos ataques e assassinatos recentes praticados por aqueles que semeiam a intolerância. “Não acaba o protofascismo e a ultradireita com a eleição seja de quem for”, apontou.

 

 

Após as saudações das entidades, a Mesa anunciou o lançamento da edição 70 da Revista Universidade e Sociedade, que traz tema semelhante ao do 65º Conad: “Retorno Presencial com Condições de Trabalho e Políticas de Permanência para Fortalecer a Luta por Educação Pública e Liberdades Democráticas”.

 

Para finalizar, a presidente do Andes-SN, Rivânia Moura, fez seu discurso, com base no esperançar, termo cunhado por Paulo Freire, fazendo um breve histórico das lutas travadas pelo sindicato ao longo dos anos até o período atual.

 

“Temos feito história nesse último período com enfrentamento muito firme, em conjunto com outras categorias dos servidores públicos, contra a PEC 32 [Reforma Administrativa]. O Andes-SN foi, sim, uma das entidades que mais colocou gente nas ruas. O nosso esperançar é na luta, na nossa organização e mobilização”, disse, concluindo que a atuação dos servidores foi fundamental para que o Congresso Nacional não encontrasse forças para aprovar o projeto. Da mesma forma, a presidente atribuiu à luta da categoria a aprovou na, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara, a PEC 96/22, que garante orçamento para a Educação, sem contingenciamento. “Só foi possível porque nós estávamos lá”, afirmou.

 

Moura destacou, ainda, a preservação do caráter classista do sindicato ao longo dos anos, compreendendo também as singularidades da classe, explorada de diferentes formas por sua raça, gênero e sexo. A presidente falou, ainda, do apoio às lutas indígenas, do Ocupa Brasília realizado há algumas semanas, além das campanhas feitas pelo Andes-SN, como a “Defender a Educação Pública, essa é a nossa escolha para o Brasil” e “Quem conhece, defende”.

 

Antes de anunciar oficialmente a abertura do 65º Conad, a presidente afirmou que independentemente de quem estiver no poder após as eleições de 2022, a postura do Andes-SN será de seguir na defesa da Educação pública e gratuita, e reforçou o apoio à professora Elizabeth Lewis que, com ajuda das entidades docentes, está negociando com a Reitoria da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) sobre a ameaçada de anulação de sua posse, após oito anos de dedicação à instituição (saiba mais aqui). A plenária foi encerrada com um coral da plateia, repetindo: Elizabeth Fica!  

 

Ainda pela manhã, a categoria deu início à Plenária de Instalação, anunciando que, no primeiro Conad presencial desde o início da pandemia, estiveram presentes 58 Seções Sindicais, representadas por 55 delegados, 109 observadores, 7 convidados e 26 diretores, totalizando 197 participantes.

 

Plenária de Instalação

 

A Plenária de Instalação é responsável pela leitura e aprovação do Regimento do encontro, e também da pauta e do cronograma.   

 

Nesta plenária, o professor Reginaldo Araújo, diretor licenciado da Adufmat-Ssind, solicitou à Diretoria do Andes-SN, a disponibilização do documento físico contendo a sua defesa, voltada a responder o Texto Resolução de número 5, de duas formas: a distribuição apenas do texto a todos os presentes, e a disposição do texto com os anexos em uma sala reservada, para acesso de todos os que preencherem os requisitos indicados pelo Sindicato Nacional. O pedido se deu porque vários docentes tiveram dificuldade de acessar a defesa de forma virtual, acusando que, mesmo seguindo o ritual imposto pelo Andes-SN para liberação do mesmo, demoraram a receber ou não receberam os documentos.   

 

Após algumas defesas e propostas e a partir do empate na votação, a plenária encaminhou a apresentação do texto da defesa a todos os presentes, conforme solicitou o professor Reginaldo Araújo.

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Quarta, 13 Julho 2022 10:46

 

 

Entre os dias 15 e 17 de julho, as e os docentes da base do ANDES-SN se reunirão em Vitória da Conquista (BA) para o 65º Conad. Cada seção sindical poderá enviar um delegado ou uma delegada com direito a voto. Demais representantes podem participar como observadores e observadoras, com direito à voz, conforme o estatuto do Sindicato Nacional.

A Adufmat-Ssind terá como representantes os docentes Marlene Menezes (delegada indicada pela Diretoria), Maria Luzinete Vanzeler, Alair Silveira, Waldir Bertúlio, Reginaldo Araújo, Haya Del Bel e Maelison Neves, todos indicados pela assembleia geral realizada no dia 23/06. A professora Qelli Rocha, que também foi indicada para participar como observadora, não irá por questão de saúde.  

Com o tema central "Retorno presencial com condições de trabalho e políticas de permanência para fortalecer a luta por Educação Pública e liberdades democráticas", o encontro acontecerá na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), sob a organização da Associação de Docentes da Uesb – Seção Sindical do ANDES-SN (Adusb SSind.).

De acordo com Milton Pinheiro, 1º vice-presidente do ANDES-SN, o 65º Conad será um momento importante de atualização do debate sobre a conjuntura, que tem se manifestado de forma bastante complexa, não só pelos movimentos do governo federal, mas por aquilo que a postura de Jair Bolsonaro estimula na sociedade. 

“Será um momento de discutir as questões mais relevantes da pauta política brasileira, mas também atualizar aquilo no que o ANDES-SN deve se orientar para compreender a conjuntura e fazer seus movimentos políticos dentro dessa conjuntura”, acrescenta Pinheiro. 

O 65º Conad terá como tarefa a atualização dos planos de lutas gerais e dos setores do ANDES-SN, aprovados durante o 40º Congresso realizado este ano em Porto Alegre (RS), e também deliberar sobre questões organizativas e financeiras, como a aprovação das contas da entidade e do local do próximo Conad. Além disso, as e os participantes discutirão os textos de resoluções que foram remetidos a esse encontro deliberativo pelos delegados e pelas delegadas do 40º Congresso.

“Precisamos avançar na luta em defesa da educação e dos serviços públicos. Esse é um ponto do nosso Conad, em especial pelos ataques ao financiamento das políticas públicas, pelo rotineiro bloqueio no orçamento da Educação e da Ciência e Tecnologia, que afeta a pesquisa, as condições de trabalho e o acesso e permanência dos estudantes, em especial aqueles mais carentes, advindos dos setores que são rotineiramente excluídos da vida social, que são negros e negras das mais diversas periferias”, explica. 

De acordo com 1º vice-presidente do Sindicato Nacional, durante a atualização do plano dos setores os e as participantes debaterão acerca da Educação Federal, das melhores formas de enfrentar a defasagem salarial e de atacar outras questões que atingem a categoria, tanto no setor das Federais quanto das Estaduais e Municipais. “Será um momento oportuno de grande debate e espero que consigamos atualizar nossas diversas pautas e avançar na luta”, afirma.

Confira aqui:

- Caderno de Textos
- Anexo do Caderno de Textos
- Consolidado Tema III
- Circular nº 254/2022 - Orientação acerca dos procedimentos para apresentação dos testes para COVID-19 para o 65º Conad

 
 
Fonte: ANDES-SN (com edição da Adufmat-Ssind)
Terça, 12 Julho 2022 16:44

 

Diante de casos de Covid-19 confirmados e suspeitos entre diretores e funcionários da Adufmat-Ssind, a Diretoria decidiu cancelar a Assembleia Geral Ordinária convocada para esta quarta-feira, 13/07, com os pontos de pauta: informes; análise de conjuntura; atividades do sindicato nos campi e democracia interna; cortes de orçamentos na UFMT; PL Nº 5.594/2020 - Educação como atividade essencial; reajuste do Plano Unimed.

 

Uma nova convocação para debater essas questões será publicada a partir da próxima semana. 

 

A Diretoria. 

Terça, 12 Julho 2022 11:20

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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Por Vicente Machado Ávila

Professor Aposentado da UFMT
 

 

                       I.            Neoliberalismo & Universidades Federais

LESADYRO BRASUDO: O que é neoliberalismo?
SAKATUDO TANAKARA:O Neoliberalismo é uma doutrina socioeconômica que retoma os antigos ideais do liberalismo clássico ao preconizar a mínima intervenção do Estado na economia, através de sua retirada do mercado, que, em tese, autorregular-se-ia e regularia também a ordem econômica. Na campanha eleitoral de 2018, FAKENARO prometeu tirar o Estado do cangote dos empresários. A afirmação pressupõe que a produção/comercializaçãode bens e serviços e o pagamento de impostossão funções exclusivas dos empresários, ignorando os trabalhadores.

                    II.            A Reforma Trabalhista de Bolsonaro

                                               a.            Quatro anos depois da “reforma” Trabalhista promovida pelo golpista Michel Temer (MDB), o governo de Jair Bolsonaro (PL) encomendou um estudo para embasar uma nova redução dos direitos dos trabalhadores brasileiros. Trata-se de um documento de 262 páginas criado pelo Grupo de Altos Estudos do Trabalho (GAET), que foi entregue ao Conselho Nacional do Trabalho no final de novembro de 2021.Font; INTERNET

                 III.            Neoliberalismo & Universidades Públicas

FAKENARO começou quebrando a democracia nas Federais.
ANTES a comunidade universitária elegia uma lista tríplice e o governo nomeava a pessoa mais votada. A relação reitor/comunidade era do tipo: “Estamos juntos” – democrática.
AGORA o Presidente escolhe o(a) reitor(a). A relação reitor/comunidade universitária é hierárquica.
IVCavalo de tróia- Se cobra aluguel dos professorese mensalidades dos alunos, o que falta para privatizar a universidade pública?
VUFMT – Um Caso Absurdo na UFMT, o reitor  decidiu cobrar aluguel da ADUFMAT. Trata-se de um caso “absurburro”.

 

Cuiabá, 05/07/2022
SakatudoTanakara e LesadyroBrasudo

Segunda, 11 Julho 2022 11:37

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Jornalismo/USP. Prof. de Literatura da UFMT
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            Por mais paradoxal que possa parecer, com todo respeito a quem pense de forma contrária, vivo a plenitude de minha crença na importância social da vigência da visão antropocêntrica de nossa existência; por isso, sinto-me na obrigação cívica de resgatar uma passagem bíblica, registrada por dois evangelistas do “Novo Testamento”, para, depois, politicamente, com ela dialogar.
           Em uma circunstância de certo tumulto popular, em algum ponto de uma viagem que Cristo teria empreendido da Galileia à Judeia, algumas crianças tentavam dele se aproximar, ao que seus apóstolos se opunham, dificultando a aproximação dos pequeninos. Percebendo essa atitude arredia dos apóstolos contra os infantes, Cristo faz a seguinte repreensão, narrada, de forma muito parecida, em Matheus 19: 14 e em Marcos 10: 14:
           “Depois trouxeram crianças a Jesus, para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas. Mas os discípulos os repreendiam. Então, disse Jesus: "Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam; pois o Reino dos céus pertence aos que são semelhantes a elas".
           Pois bem. Diante da recente exposição de corrupção no Ministério da Educação (MEC), a primeira imagem que me veio à mente foi a desse excerto bíblico, acima transcrito, lido em idos tempos, mas, agora, por mim, invertido em sua essência. Trocando em miúdos, como quem não tem Cristo passa-se por reverendo, ou seja, seu representante legal cá na Terra, podemos ver a figura do ex-ministro da Educação, que posa de “bom pastor”, pedindo que deixassem vir até ele, não as crianças, que dependem dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), mas os dois pastores (Arilton Moura e Gilmar Santos, pelo menos no nome!), envolvidos no escândalo que abalou o setor da educação brasileira; tudo e todos, ao que tudo indica, envoltos em despudorados troca-trocas de “presentes”, que poderiam vir até em “barrinha” de um quilinho de ouro!; afinal, dele (o ouro, é claro) é o reino do... capital; logo, no caso em pauta, dos oportunistas da fé alheia.
           A título de contextualização, num resumo extraído do site O Globo (24/06/2022), “O escândalo de corrupção no Ministério da Educação— que levou à prisão o ex-ministro Milton Ribeiro(imediatamente solto no dia seguinte)— teve início com suspeitas relacionadas à atuação de pastores dentro da pasta. O ex-ministro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura são acusados de operar um balcão de negócios no MEC: os religiosos, mesmo sem ter cargo no governo, negociavam com prefeitos o repasse de verbas em troca de propina. Eles cobravam entre R$ 15 mil a R$ 40 mil e até mesmo a compra de Bíblias para facilitar a liberação dos recursos aos municípios, que conseguiam a verba semanas depois da negociação”.
           Dessa matéria, vale lembrar que um desses pastores só não se tornou um servidor do MEC, mesmo que temporariamente, porque teria considerado o cargo de Direção e Assessoramento Superior (DAS-3) muito baixa: algo em torno de cinco mil e quinhentos reais. Independentemente de sua recusa, interessante seria saber como o ex-ministro faria para lhe “dar” essa remuneração, pois as DAS são gratificações recebidas por servidores públicos federais efetivos, logo, concursados, e que atendam algumas exigências contidas na Constituição Federal, além de leis específicas. Mas como no Planalto Central para os enviados de Deus nada parece ser mais impossível, o Sr. Milton, ao que tudo indica, nem precisaria de recorrer a qualquer tipo de reza brava, até porque dela provavelmente corre tanto quanto o diabo corre da cruz. Talvez, no máximo, bastasse um telefonema ao poderoso chefão, ou ao “cristão-mor”(kkkkkk) dessa nação completamente abandonada à própria sorte.
           Diante desse cenário, não sem razão, encerro este artigo trazendo à tona a figura de Karl Marx (Séc. XIX), que sintetiza o pensamento de alguns filósofos do século XVIII, que viam a religião como algo próximo do ópio para o(s) povo(s).
           Pobres filósofos! Pobre Marx! Acertaram só a metade da assertiva. No Brasil, a religião, que até pode ser diferente da fé, não é apenas o ópio de nosso povo; nesta contemporaneidade, parodiando o nome de um programa de TV, muitas das religiões existentes incorporam, cada vez mais, a lógica das pequenas igrejas, grandes negócios.
           Em tempo: por conta de fatos mais recentes envolvendo o MEC, o título deste artigo também poderia ser algo como “Pai, afasta de mim essa CPI”. Pedido que já deu certo, pois, mesmo tendo sido criada, a CPI não terá funcionamento por ora; talvez, quem sabe, depois da eleição. Talvez...

Segunda, 11 Julho 2022 09:39

 

 

Imagem: Shutterstock

 

O investimento em Ciência e Tecnologia, em 2021, foi menor do que nos 12 anos anteriores, segundo nota técnica divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em 2013, a mesma área havia recebido o maior valor da série histórica desse período, totalizando um investimento de R$ 27,3 bilhões.

Em meio à maior crise sanitária atravessada por essa geração, a pandemia de Covid-19, que imprimiu urgência às pesquisas sobre vacinas, testes e medicamentos, o orçamento destinado para C&T foi reduzido para R$17,2 bilhões - valores corrigidos pela inflação do período. No mesmo ano, o repasse para o Ministério da Defesa percebeu reajuste de 16,16% e para o Ministério da Economia, 19%. Já a Saúde também sofreu corte da ordem de 12%, enquanto a Educação perdeu 8,61% em verbas destinadas.

Porém nem os cortes de verba, nem a perseguição ideológica e a política de sucateamento das universidades públicas e institutos de pesquisa foram capazes de derrubar a excelência do trabalho realizado no âmbito das instituições públicas no país. Mesmo sob ataque cerrado, a produção científica brasileira ainda respira.

Relatório divulgado pela Clarivate Analytics apontou que a produção científica brasileira aumentou 30% - o dobro da média mundial – no período entre 2013 e 2018, sendo que mais da metade desse resultado nacional foi produto do trabalho de 15 universidades, todas elas públicas.

O Brasil é o 13° produtor de Ciência no mundo em número de trabalhos publicados desde 2018, revelam dados da Scimago, tendo a produção de artigos científicos brasileiros aumentado 32,2% (frente a uma média mundial de 27,1%), em 2020, segundo o estudo Panorama da Ciência Brasileira 2015-2020, produzido pelo Observatório em Ciência, Tecnologia e Inovação (OCTI) e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Também cresceu o número de brasileiros e brasileiras entre os pesquisadores e as pesquisadoras mais citados e citadas do mundo em 2020, segundo pesquisa publicada na Revista Fapesp.

Uma amostra cronológica de afrontas às quais a C&T teve que resistir inclui: a Lei de Inovação (Lei 10.973/2004); a “Lei do Bem” (Lei 11.196/2005); o Decreto 5.563/2005 (revogado pelo Decreto 9.283/2018); o Decreto 5.798/2006, sobre incentivos fiscais à pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação; a Lei 11.587/2007, que abre ao Orçamento Fiscal da União crédito suplementar ao Ministério do Meio Ambiente; a Instrução Normativa 1.187/2011, que disciplina incentivos fiscais a pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação; a Emenda Constitucional 85/2015, que acrescenta “inovação” ao lado de C&T na CF/1988; a Lei 13.243/2016, que instituiu o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (MLCTI); o Decreto 9.283/2018, que regulamenta o MLCTI; a Lei 13.969/2019, “Lei da Informática”; a Lei 13.800/2019, “Fundos Patrimoniais”; a Lei Complementar 177/2021, sobre o FNDCT; a Lei Complementar 182/2021, do “Marco Legal das Startups”.

Já o orçamento federal foi inclemente com a pesquisa brasileira. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), que teria R$ 10,8 bilhões em 2022, viu pouco mais de R$ 5,1 bilhões serem bloqueados para reduzir o déficit nas contas públicas. R$ 1,2 bilhão aparece como crédito suplementar, ainda sujeito à aprovação do Congresso para ser executado – caso a arrecadação de impostos aumente. Excluídos esses valores e despesas obrigatórias, como salários, o MCTI conta com apenas R$ 1,8 bilhão para o ano, o equivalente a 16% do orçamento de 2013.

Imagem: Shutterstock

 

Universidade pública é maior produtora de conhecimento científico

César Minto, 1° tesoureiro da Regional São Paulo do ANDES-SN, chama a atenção para a informação de que, no Brasil, quem faz ciência, em especial a ciência básica, está nas universidades e nos institutos públicos de pesquisa. "A realização de pesquisa precisa ser adequadamente financiada e seus resultados em geral podem não corresponder às hipóteses formuladas originalmente", lembra.

O diretor do ANDES-SN ressalta, ainda, que não é possível ter plena certeza de que seus resultados ocorram no tempo previsto. "Esse processo todo implica a existência e manutenção de financiamento adequado, que permita o planejamento e a realização das pesquisas em todas as suas etapas", destaca Minto.

"As áreas de Ciência e Tecnologia, bem como a assim chamada 'inovação' - caracterizada como conhecimento transformado em produto para ser colocado no mercado e gerar receita - estão submetidas a políticas predatórias articuladas por setores da sociedade nada preocupados com o social, os quais avançaram significativamente na produção de legislação que permite o usufruto de recursos públicos e de instituições igualmente públicas para alcançar os seus interesses privados", afirma.

Uma das maiores vítimas do aperto orçamentário no MCTI é a agência federal de fomento a projetos de pesquisa, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O orçamento em 2022 é de R$ 1,15 bilhão, 12% menor que em 2020. Além dos cortes orçamentários, o governo não cumpriu a promessa de liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal ferramenta de financiamento à pesquisa e à inovação do governo federal, abastecido com receitas de segmentos da economia – como petróleo, energia, saúde, biotecnologia –, recolhidas para os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia.

Em abril, ao sancionar com atraso de cinco meses o orçamento de 2021, o governo manteve o bloqueio de parte expressiva dos valores do FNDCT, ignorando a lei aprovada pelo Congresso em 2020 que proibia novos contingenciamentos. No conjunto, os cortes levaram a crise de financiamento do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação, crescente desde 2015, a um novo e alarmante patamar.

Como resultado do desmonte na área de Ciência e Tecnologia, o financiamento insuficiente dos últimos anos tem corroído a capacidade de manter laboratórios relativamente bem equipados. Atividades de rotina, bolsas e projetos de pesquisa se encontram agora sob risco de asfixia. Tão grave quanto os impactos dos últimos cortes, é a instabilidade que criam no sistema e na confiança dos jovens pesquisadores e pesquisadoras, desestimulando-os a seguir a carreira acadêmica. A chamada ‘fuga de cérebros’ que vem ocorrendo nos últimos anos pode experimentar crescimento exponencial em um cenário de profundo desestímulo.

Diante dessa realidade, César Minto afirma que "o ANDES-SN tem exercido um protagonismo quase isolado – com exceções que permitem tal afirmação – na luta para que a política de ciência, tecnologia e inovação no país tenha como eixo central os direitos e interesses da maioria da população brasileira".

Leia aqui o Informandes de Junho/22

C&T em debate
No último dia 1 de julho, a Regional São Paulo do ANDES-SN e o Fórum das Seis – que reúne as entidades representativas de docentes, técnicos e técnicas das três universidades estaduais paulistas USP, Unicamp e Unesp – realizaram o seminário “Política de Ciência e Tecnologia e mercantilização das universidades e dos institutos públicos de pesquisa”.

 

Fonte: ANDES-SN