Terça, 29 Setembro 2015 13:44

 

- “Intolerância e dogmatismo: “as doenças infantis” do sindicalismo sectário” -

 Marcos Macedo Caron. Doutor em Educação/UnB; Professor do IE/ UFMT.

Nas mentes de sã consciência, uma greve que se estende por praticamente quatro meses tem alguma coisa de força, por durar tanto tempo, e alguma coisa de fraqueza, exatamente pelo mesmo motivo. Saber qual dos dois polos predomina num dado momento é um enigma tão complexo que, como é de se esperar, dificilmente conseguimos decifrá-lo de forma exata no calor da luta.

Desse modo, questionar a forma como vem sendo comandada a continuidade de uma greve (ou das greves do setor público em geral) é condição natural de reflexão não só acadêmica, obrigação primeira da nossa natureza profissional, mas de preocupação real e honesta com os destinos da categoria e da comunidade universitária.

Foi essencialmente na linha desta preocupação que elaborei, junto com outros companheiros da base da nossa categoria, dos mais variados posicionamentos e opiniões políticas, o “Manifesto à Razão” (anexo aqui ao texto), documento exposto de forma aberta e “sem tergiversação ou subterfúgios de propósitos e ideias” (como antecipava já no seu primeiro parágrafo) na última assembleia da Adufmat, em 17/09, na qual tratamos sobre o tema em debate.

O que dissemos ali? Basicamente, o que uma parte significativa da categoria (não saberíamos, nem poderíamos, dizer o percentual exato) provavelmente deve estar pensando neste difícil momento da luta, ou seja: 1º) “Há outras táticas e estratégias de fortalecimento da greve?” 2º) “Devemos buscar outros caminhos e saídas de negociação que não apenas a extensão “ad infinitum” dos dias paralisados?”

No entanto, para as posturas intolerantes e sectárias, esta preocupação legítima consiste em “grave heresia” ou “traição de classe” pelo simples fato de debater, em algum dado momento da luta, o “pecado original” da suspensão da greve, mesmo que esta se dê claramente sob a defesa de condições favoráveis à categoria e exigindo do governo uma pauta digna para o acordo. Infelizmente, a referida postura foi a escolhida por um membro do comando local de greve (e por vezes do comando nacional), contumaz colunista aqui do “Espaço Aberto”, ao comentar de forma bastante descortês as questões por nós levantadas no “Manifesto à Razão”. Ao invés de polemizar conosco politicamente sobre as divergências em pauta neste fórum - direito pleno e necessário do colunista – ele optou por ataques pessoais em um nível ético que não condiz com o respeito que nos esforçamos em cultivar no cotidiano profissional acadêmico.

Críticas políticas, e por vezes duras, são necessárias e nada temos contra, nem as tememos, até porque também as fazemos. Porém, em nenhum momento resvalamos para o campo do ataque pessoal. Nesse sentido, ao nos chamar de “lunáticos”, ao dizer que “destilamos o nosso ódio contra os trabalhadores e a categoria nas assembleias”, ao afirmar que nosso lugar “não é na universidade pública” e ao insistir que “deixamos a categoria constrangida, no sentido ético e profissional, pela nossa presença e opinião, bem como outros impropérios (como o absurdo de supor que nossos alunos devem ser “infelizes” e “mal preparados” em função das nossas reflexões, além de outros termos que a boa educação me impede em dizê-los), o frequente colunista entorpece o debate e não contribui para sairmos do impasse do conflito, mas sim o agrava, ao criar a funesta ficção de que há “inimigos por todos os lados”, marca comum nas análises de viés autoritário.

Ao tentar nos imputar a falsa imagem de “agressores da classe trabalhadora” e de “capituladores da categoria”, simplesmente por divergências na condução do movimento, nosso oponente parece que avalia, numa versão moderna e adaptada do lema, como se “La Classe Ouvrière c’est moi”, ou seja, “A Classe Trabalhadora sou eu”. Trata-se de uma personificação despropositada que não corresponde em hipótese alguma à realidade, uma vez que a classe trabalhadora, na sua verdadeira integridade histórica, é muito maior do que o nosso meio e nossas polêmicas internas, ainda que dela façamos parte. Não sei de onde nosso oponente retirou sua “autorização” para falar exclusivamente em nome dela, talvez por se identificar com uma direção sindical nacional que se sente “orgulhosa” por não terminar as greves, mas sim em esgotá-las.

Contudo, obviamente que reconhecemos que nossas reflexões não são isentas de defeitos nem imunes às críticas. Nesse sentido, convidamos o leitor a analisar o “Manifesto à Razão” e tirar dali suas próprias conclusões. A despeito de concordar ou não com o que propusemos no documento, cremos que o leitor, desde que liberto do sectarismo dogmático, reconhecerá que ao menos há esforços e tentativas de contribuição sobre questões que nos aflige no campo imediato da greve e no nosso cotidiano profissional, além de propostas concretas e objetivas de reajuste e carreira no sentido sindical dos termos.

Por último, como acadêmicos que somos e eternos crentes na capacidade de reflexão e tolerância de nossos colegas, chamamos o nosso oponente, tal como o título do nosso “Manifesto”, à razão. Pela capacidade e preparo que tem como professor e intelectual da UFMT, temos a certeza que refletirá com ponderação sobre o que disse sobre nós e, principalmente, da forma como o disse. Estaremos sempre de alma e coração abertos ao debate político de alto nível, como é da tradição de todos aqueles que lutam verdadeiramente em prol da emancipação dos trabalhadores e por um mundo mais justo e igualitário.

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Segunda, 28 Setembro 2015 18:46

 

“Cada hora, de cada dia, a gente aprende

uma qualidade nova de medo!”

GUIMARÃES ROSA, Grande Sertão Veredas. 

Confesso que não imaginava que a ideia de radicalização, evocada na assembleia de greve dos docentes da UFMT, realizada no dia 17/09/2015, provocasse tanto temor em alguns colegas, a exemplo do que fora manifestado em Carta publicada no Espaço Aberto, do dia 18/09/2015.

É bem verdade que tempos sombrios parecem querer instaurar-se, outra vez, na vida de muitos de nós, afugentando-nos da luta interminável pela conquista de direitos políticos e sociais em nosso país, distanciando-nos do reconhecimento de nós mesmos como sujeitos da própria ação política.

Creio que a organização social do trabalho na universidade, especialmente nos dias de hoje, oculta a sua relação com o mundo real, com a dinâmica do capital em sua etapa globalizada. A produção e a difusão do conhecimento, já faz tempo, deixou de ser um exercício filosófico artesanal diletante (se um dia o foi), praticado em nome do sacerdócio. Cada vez mais o trabalho docente, nas universidades e fora delas, subsume-se aos ditames do mercado nos moldes do capitalismo avançado, reduzindo a sua autonomia intelectual e científica às técnicas de controle e reprodução da ordem social, segundo os interesses das forças hegemônicas.

Sem que nos apercebêssemos, fomos gradativamente reduzidos à condição de trabalhadores assalariados, regidos pela lógica da produção de mercadorias em sentido lato, submetidos à cadeia de produção de bens e serviços. Querendo ou não, somos todos vendedores de força de trabalho no mercado, somos todos proletários modernos, apesar da distinção que gostamos de evocar em relação ao produto do nosso próprio trabalho.

Sei que o desvelamento de nossa condição proletária consiste em um processo difícil, complexo. Trata-se de uma dimensão relacionada ao exercício da própria prática política, nela residem os limites estruturais impostos pela ordem social vigente, impossibilitando-nos de nos reconhecer como sujeitos historicamente determinados.

Todavia, são nos momentos de crise estrutural, como esta que estamos enfrentando agora, que o capital revela as suas formas mais plenas de produção e reprodução social, expondo de maneira mais aberta a força de trabalho ao processo de mercantilização geral em curso na sociedade.

É, também, nos momentos de crise que os trabalhadores reagem às ofensivas do capital no processo de exploração e precarização de seus direitos e conquistas sociais e políticas. A greve é, nesse contexto, o instrumento mais radical de luta empreendida pelos trabalhadores, inclusive pelos setores classificados como trabalhadores abstratos, produtores de bens imateriais como é o nosso caso.

Diante das considerações acima, creio que podemos pontuar alguns elementos relacionados à noção de “radicalidade”, a partir de pressupostos filosóficos. A radicalidade, nessa perspectiva, pressupõe a capacidade de realizar uma reflexão rigorosa e de conjunto sobre os problemas apresentados em uma dada realidade, mas não problemas quaisquer. Nesse particular, cabe então, recuperar a nossa pauta de greve, a centralidade da nossa LUTA.

Desde a sua fundação, o ANDES-SN defende, incondicionalmente, a Educação como um direito social, pública e socialmente referenciada, cabendo às Universidades, em especial, a produção e difusão do conhecimento gratuitamente a todos os segmentos sociais, na perspectiva de sua universalização.

Na contra face da centralidade exposta acima, o que vem ocorrendo é exatamente o seu contrário. As possibilidades de concretização desse direito distanciam-se do horizonte de seus defensores, mediante as ofensivas, cada vez mais agressivas, de governos e agencias de desenvolvimento, a fim de colocar a Educação a serviço da lógica mercantil. As práticas e os instrumentos aplicados são inúmeros e eficazes. Debates e denúncias sobre essa questão já vêm de longa data, em vários fóruns locais e nacionais.

Concomitante, e como parte do processo de desmonte da Educação Pública em geral, e da Universidade Pública em particular, verifica-se a precarização acelerada das condições de trabalho nessa instituição, reveladas, entre outras, pelo desmonte da carreira docente e pelos baixos salários pagos pelos sucessivos governos. É contra isso que estamos em greve. Radicalizar significa, sobretudo, ser capaz de identificar a raiz dessas questões, por meio do debate coletivo entre professores e estudantes, na interface mais geral com a sociedade.

Não se trata aqui de fechar e/ou quebrar laboratórios, tampouco manchar a imagem de nossa instituição. Definitivo e irrecuperável é deixar, pelo medo ou pela omissão, que o patrimônio público seja reduzido tão somente à sanha do lucro desenfreado de alguns em detrimento da perda de direitos da maioria. A Universidade hoje, diferentemente daquilo que supõe alguns, está carregada de interesses privados, de caráter mercadológico. Perdeu a sua dimensão de instituição social, afastou-se da crítica dos problemas da sociedade em que se insere.

Vejamos a greve como a oportunidade de ação pedagógica e política para além dos horizontes de nossos gabinetes de produção científica. Quanto mais negamos a nossa condição de sujeitos coletivos, as nossas entidades de organização política - os sindicatos, os partidos - e os nossos instrumentos de resistência e luta, a exemplo da greve como forma de mobilização e ação político-social, a opressão e precariedade invadem o nosso cotidiano no trabalho e na vida privada.

Como nos ensinam os estudiosos dessa questão, “A proletarização não é apenas proletarização da vida produtiva strictu sensu, mas proletarização da totalidade da vida social [...]”, expressa na perda de direitos, no aumento da exploração da força de trabalho, entre outros.

Vejamos a organização, a mobilização e a pressão coletiva como requisitos para o êxito da ação política. Somente a democratização dos direitos políticos e sociais pode libertar-nos da barbárie em curso, e a socialização do conhecimento como conquista coletiva é imprescindível nesse processo. 

Sirlei Silveira

Professora do Departamento de Sociologia e Ciência Política/ICHS/UFMT

Quarta, 16 Setembro 2015 12:56

 

JUACY DA SILVA* 

Um dos motivos da Inconfidência Mineira, que acabou levando Tiradentes à forca , mas que solidificou o sentimento libertário dos habitantes do Brasil, então colônia de Portugal, foi a chamada “derrama”,  ou seja, o  aumento exagerado  da carga tributária que era imposta ao povo brasileiro.

Ao longo das últimas sete décadas,  desde o início dos anos quarenta,  os sucessivos governos foram e continuam aumentando uma abusiva carga tributária sobre todos os setores  econômicos  e diferentes camadas sociais.  Uma  constante em todos os governos tem sido a implementação de um  sistema tributário regressivo, ou seja, as camadas mais humildes e os consumidores pagam proporcionalmente  um montante mais pesado de impostos.

O sistema  tributário brasileiro além  de extremamente injusto, recai muito mais sobre o consumo,  enquanto diversos outros países tributam menos o consumo e mais a renda,  a riqueza  e a propriedade de forma progressiva.  Além  deste aspecto, o nosso sistema tributário cria  uma série de  mecanismos que abre brechas para que grandes  empresas e camadas de alta renda, os milionários e ultimamente  os bilionários,  acabem sendo ajudados pelo Estado no processo de acumulação de capital. O Estado  brasileiro é um “Robin wood”  as  avessas, tira dos pobres  para ajudar os ricos e isto é a maior contradição no atual  governo Dilma/Lula, que tem uma retórica trabalhista e socialista, apenas de fachada.

Diversos incentivos fiscais,  a  título de alavancar investimentos para   o desenvolvimento de algumas regiões  ou setores econômicos, acabam gerando enormes distorções no sistema tributário, principalmente pela  falta de transparência e falta de fiscalização pelas  estruturas governamentais. Exemplos típicos, bilhões de cruzeiros  ou ultimamente  reais, que foram desviados sob o manto dos incentivos fiscais concedidos pela SUDAM, SUDENE e outros setores.

Agora mesmo,  em Mato Grosso, uma CPI  instalada na Assembleia Legislativa do Estado  está retirando um verdadeiro véu que ao longo dos últimos  20  anos encobria  uma política opaca de incentivos fiscais que a cada ano subtraia  bilhões de reais  que seriam melhor empregados  na saúde, na  educação, na  segurança, no saneamento, na infraestrutura urbana e rodoviária, do que para beneficiar  uma minoria privilegiada que tem acesso a tais recursos graças  `a sua  aproximação com o poder  e ao tráfico  de influência.

Outra distorção que afeta o sistema tributário brasileiro é a prática da renúncia fiscal  adotada pela União, pelos Estados e Municípios, quando o poder público , deliberadamente, abre mão de uma parcela da arrecadação a que  faz jus.  Só o Governo Federal a cada  ano abre mão de  arrecadar  mais de 250 bilhões  de reais, afetando não apenas o OGU –Orçamento Geral  da União, mas  também os Estados e municípios, através da redução dos recursos a serem transferidos  constitucionalmente através do FPE e FPM,  respectivamente, Fundo de Participação dos Estados e Fundo de Participação dos Municípios.

Outra  sangria nas receitas  públicas tem sido a enorme parcela  de tributos que são sonegados, graças  à incompetência no processo de arrecadação e de recebimento de impostos sonegados, além da corrupção que acaba criando mais uma distorção no sistema. A  cada ano só a União perde mais de 350 bilhões com a sonegação. O montante acumulado de tributos federais sonegados até julho ultimo, já ultrapassava  R$ 1,1 trilhões, sendo que723,3  bilhões (65,7%) deste valor são de  grandes  sonegadores, que representam apenas 1% do universo das empresas sonegadoras.

Finalmente, para completar  o quadro dessa  distorção do  sistema tributário/fiscal são os subsídios que acabam sendo pagos pelo tesouro nacional, onerando de uma forma generalizada os contribuintes. Os  empréstimos do BNDES, por exemplo, são captados pelo Tesouro pagando juros pela taxa Selic, que no momento está acima  de 14%  ao ano e aquele Banco empresta a outros organismos públicos como estados e municípios e principalmente a grandes grupos econômicos a juros que mal  chegam a metade dessas taxas.

Diante dessas distorções chegamos a conclusão de que não é preciso nenhum aumento da carga tributária para buscar-se  o equilíbrio orçamentário e fiscal como deseja o Governo Dilma, que está praticando um verdadeiro terrorismo sobre os contribuintes. Basta ter  mais   eficiência na arrecadação,  acabar com os favores que  o  governo concede, seletivamente, a grupos influentes e poderosos, reduzir a corrupção e melhorar a qualidade da gestão pública, combatendo a incompetência generalizada da administração pública.

O povo não  aguenta mais tantos impostos e em troca serviços públicos de baixíssima qualidade  e uma corrupção enorme. Está  na  hora de um basta  nesta extorsão institucionalizada. Voltarei a  este tema oportunamente!

*JUACY DA SILVA,  professor  universitário, titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog  www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Terça, 08 Setembro 2015 16:45

 

 

JUACY DA SILVA*

A Guatemala é o terceiro maior país  da América Central,   com 108.9 mil km2, pouco maior do que o Estado de Pernambuco que tem 98.300 km2,  com uma população de 15,5 milhões de  habitantes, sendo que  na  área metropolitana  da cidade de Guatemala, a capital, estão concentrados aproximadamente 4,8 milhões de habitantes, 31%  do total da população, que em sua grande maioria ,  mais de 80% são  descendentes dos  Maias.
Apesar  de ser um país  subdesenvolvido, como tantos outros da América Central, Caribe e do Sul, tem uma das mais fortes economias da região, o PIB deste ano está previsto em 90,0  bilhões de dólares ou aproximadamente 340  bilhões de reais, pouco menos do que o PIB de Minas Gerais ou quase cinco  vezes  o PIB de Mato Grosso.

Este é  um país marcado  por revoluções, golpes de estado  e que viveu em Guerra civil entre 1960 e 1996, tendo de um lado grupos que recebiam apoio dos EUA  e de outro grupos  de esquerda. Durante  este período mais de cem mil  pessoas  foram mortas, incluindo alguns massacres contra indígenas  e quase  um  milhão  deixaram o país,  fugindo da Guerra civil, a maioria com  destino aos EUA.

Em 1990, como integrante do Inter-American Defense College, tive a oportunidade de visitar a Guatemala  e a Costa  Rica por duas semanas em viagem de estudos. Apesar do clima de violência e medo decorrente da Guerra civil, como observadores podíamos ver que a esperança de um futuro sem violência, com desenvolvimento e democracia  era a energia que movia aquele povo humilde  e sofrido da Guatemala.
Todavia, os  atuais governantes traíram  as esperanças do povo ao transformarem a corrupção em instrumento de gestão pública, podendo lançar novamente o país  em um novo  período de conflito e instabilidade econômica, política, institucional e social.

O atual governo que teve inicio em 2012 e tudo levava a crer que a Guatemala  iria  passar  por um período de estabilidade democrática. Todavia, aos poucos vários integrantes do governo passaram a ser acusados de corrupção, muitos dos quais acabaram  renunciando, até  que há  poucas semanas a vice-presidente da República foi afastada  do cargo e presa, por  envolvimento com a corrupção, conforme organismos vinculados a ONU que combatem  a corrupção constataram que tais práticas  estavam alastradas pelas diversas  instâncias do Governo.

Inconformada com a situação, há meses, bem  mais de um ano, a população da Guatemala está  saindo às ruas em protestos  contra a corrupção no Governo.  Atendendo aos reclamos populares, o Congresso há poucas semanas  cassou a imunidade do Presidente e iniciou um processo de investigação quanto ao envolvimento  do mesmo em casos de corrupção e por considerar que o Presidente  sabia e na verdade comandava um grande esquema de corrupção, responsável por verdadeiras quadrilhas que dilapidavam  os cofres públicos e faziam  tráfico de influência.

Como  as pressões  populares aumentaram não  restou ao Presidente  Otto Molina, agora ex-presidente, outra alternativa a não ser a renúncia, na esperança de que seu ato pudesse  trazer a tão sonhada paz social e política e estancar as acusações de corrupção contra o seu governo, as  vésperas das eleições  gerais, incluindo para Presidente da República.

O que o Presidente não  imaginava é que tão logo deixasse o cargo seria preso e iria ter que prestar contas à justiça  e ao povo guatemalteco e poderá  ser condenado  a décadas na cadeia, local de residência de todos os corruptos  tanto naquele país  quanto em outros abaixo  ou acima do linha do equador.

Qualquer semelhança da situação da Guatemala e  o que tem sido revelado no MENSALÃO, no PETROLÃO/LAVA JATO e em outros setores  da Administração  brasileira, pode não ser  mera coincidência, já que a corrupção é  uma verdadeira epidemia que  está muito presente em todos os países, principalmente na América Latina.

Oxalá  também no Brasil,  como  está acontecendo na Guatemala, os corruptos possam pagar pelos seus crimes  e ver o sol nascer quadrado por vários anos e que isto possa  servir  de exemplo para  que outros ladrões de colarinho branco ou outras vestimentas  também sejam  demovidos de roubar o dinheiro público!

*JUACY DA SILVA, professor universitário,  titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia, Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Quinta, 03 Setembro 2015 16:51

 

JUACY DA SILVA* 

Parece que nossas autoridades, governantes em todos os níveis e poderes, não conseguem encontrar  um rumo para que o Brasil possa sair de uma das  mais graves crises  em que se encontra atualmente. Não  bastassem as crises econômica, social, moral, financeira, orçamentária que estão  destruindo a economia e as esperanças do povo brasileiro, aos poucos também está vindo à tona  uma crise institucional que pode lançar o país em um caos maior do que imaginamos, com sérios riscos para a estabilidade institucional e a democracia.

A inflação acumulada de janeiro a agosto já chegou a 7,35%  e ainda temos mais sete meses pela frente, tudo leva a crer que a inflação em 2015  deva superar os 10%, sendo que nos últimos doze meses já chegou a  9,04%. Como normalmente a inflação penaliza  mais as camadas mais pobres  e a classe média baixa, além de aposentados, cujos ganhos estão abaixo  de dois salários mínimos, isto  deverá fomentar mais insatisfação não apenas nessas camadas, mas também e principalmente junto aos servidores públicos, cujos salários estão muito defasados em relação à inflação acumulada nos  últimos dez anos, próximo de 45%  e isto é sentido por todas as categoriais de trabalhadores, que recorrem às greves não por aumento salarial mas sim pela recomposição das perdas inflacionárias, ocorridas nos governos Lula e Dilma.

Em um cenários como este não é difícil prever  que o Brasil irá enfrentar uma das  maiores fases  de greves e manifestações populares, cuja origem da insatisfação é a perda do poder aquisitivo, a queda da renda dos trabalhadores e aposentados  a que se somarão mais de 12 milhões de desempregados e o dobro de subempregados por este Brasil afora. São mais de 90 milhões de  pessoas insatisfeitas com o atual governo e nossas instituições que  estão aquém das necessidades e das aspirações do povo.

Neste  contexto  começam também a surgir rusgas entre autoridades como integrantes do STF, TSE, Procurador de Justiça,  Tribunal de Contas  da União, Senadores, Deputados Federais, Governadores  e a Presidência da República.
O que está acontecendo no Rio Grande do Sul pode ser uma amostra do que poderá vir a acontecer em diversos estados e municípios. Lá o atual governo eleito há  pouco mais de seis meses, herdou um estado   falido, com  um nível de endividamento acima do que  se consegue administrar. Esta é a herança deixada pelo   governo do PT que o antecedeu.

Sem recursos para pagar salários o atual  governo só encontrou duas alternativas, deixar de pagar parcelas da dívida com  a União e, ainda mesmo assim, ter que parcelar em duas ou até quatro vezes os salários dos servidores, gerando mais greves e o caos, agravado ainda mais pelo bloqueio que o Governo Federal fez em relação aos repasses para o Estado.  Se o atual governo, que não se alinha com o gestão Dilma ,  fosse do PT  com certeza o governo federal seria mais “compreensivo”, como tem sido com vários grandes  grupos econômicos que continuam mamando nas tetas dos bancos oficiais.

Outro dado ilustrativo da gravidade da atual crise é o fato de que o Governo Dilma, pela primeira vez na história recente, em mais de 50 anos,  apresentou ao Congresso um orçamento deficitário  para o ano seguinte (LOA para 2016), em mais de 30  bilhões, mas que para muitos analistas este déficit pode ser muito maior, atingindo a casa dos 70 ou 80  bilhões de  reais. O mesmo foi feito pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, LOA para 2016  com mais de 15 bilhões de déficit.

Se ao longo de décadas o Governo Federal apresentava “superavit primário”  para poder pagar parte dos juros e encargos da dívida pública, que mesmo assim, durante os governos Lula e Dilma passou de  586 bilhões de dólares para algo em torno de 2,4 trilhões em dezembro vindouro, podemos imaginar o impacto que este caos orçamentário e financeiro terá sobre a dívida pública, que já consome quase  50% do OGU – Orçamento Geral da  União, apesar do aumento descomunal da  carga tributária brasileira, que já beira 40%, uma das maiores do mundo e serviços públicos semelhantes aos países mais pobres da África, Ásia e América Latina e Caribe.

Em um cenário como este não é difícil prognosticar que os protestos, movimentos de massa e a pressão para que a presidente Dilma  renuncie ou sofra  o impeachment vai ficar cada vez mais forte. O FORA  DILMA, FORA PT, FORA LULA  vão estar ecoando com mais vigor pelos próximos meses  e no ano que vem quando serão realizadas eleições municipais.

 

*JUACY  DA SILVA,  professor  universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta.  Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.  Blog  www.profeessorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

Segunda, 31 Agosto 2015 12:34

 

Nessa terceira monstruosa mobilização do povo na rua, não houve um foco de reivindicação para tamanha indignação e, muito menos, um líder. 

O que fazer com essa massa de descontentes com a situação atual de crise econômico-financeira, moral e ética que atinge todo o território nacional? 
O staff político do Planalto está de plantão permanente com a sua elite (?) de entendidos sociais para decifrar o que fazer para desarmar esta bomba de efeito retardado que poderá destruir ou retardar o crescimento da nossa nação. 
Preocupações da desvalida classe média são totalmente sem importância para o jogo do poder. 
Os manifestantes sem líder querem apenas mais ética na política, com os ladrões dos cofres públicos na cadeia, o fortalecimento do trabalho do Juiz Sérgio Moro e colaboradores do Ministério Público e Polícia Federal e um país mais digno e justo para se viver. 
Estamos falando desses representantes que aparecem nas manifestações de rua. 
Enquanto o povão não se fizer representar por livre e espontânea vontade, nada acontecerá. Somente as massas têm algum poder de mudança. 
Tudo parece um grande sonho, pois os órgãos superiores responsáveis por esta nação dão sinais de um gigantesco acordo para que tudo continue como dantes. 
Inflação fora do controle, ajuste fiscal remendado, aumento do desemprego e subemprego, greves nos setores básicos ao nosso desenvolvimento, queda da arrecadação, aumento de impostos e maior número de brasileiros sem condições de se manterem em suas mínimas necessidades – tudo continuará assim. 
Enquanto isso, a economia americana nem se recorda mais da bolha imobiliária de 2008, e os preços estão caindo, como no caso da gasolina e dos impostos. 
Até a Grécia apresenta sinais de recuperação na sua economia! A Europa ressuscitou da sua má fase. Não vejo a hora em que seremos ultrapassados por Cuba.  
Ficaremos em companhia da Venezuela, Haiti, Nicarágua e Bolívia. 
E a nossa gente, mais esclarecida, indignada, permanece em casa, pois não temos líderes. 
Assim como importamos médicos para resolver o problema da nossa saúde pública, chegou o momento de importamos líderes. 
É o que enxergamos no horizonte conturbado do nosso futuro.

Gabriel Novis Neves
18-08-2015

Quinta, 20 Agosto 2015 18:17

 

Renúncia - uma palavra enaltecida pelos poetas e escritores como um ato de grandeza e de amor. 

Na vida real, nem sempre o discurso e a prática caminham na mesma direção. 
Cresce no país as correntes que sinalizam que o grave momento de crise econômico-financeira que vivemos seria resolvido apenas com a renúncia da nossa presidente da República. 
A figura em questão foi uma militante de movimentos revolucionários lá dos idos anos 60, 64, mas nunca foi um ser político. 
Naquela época ela ocupava o cargo de guarda livros do movimento, ou seja, meramente burocrático. 
Nunca foi questionado o seu aspecto de liderança.
Líder, o movimento sempre teve na figura do sindicalista de maior visibilidade do país. 
Sabemos que mandar é totalmente diferente de liderar. 
Temos na presidência alguém que manda pesado, mas sem habilidade política para liderar. 
Aí reside o grande sangramento do partido do poder que, desmascarado nas figuras de seus maiores líderes pela operação “Lava Jato”, vinculados a suspeições de irregularidades financeiras, já não consegue fazer as alianças necessárias para um mínimo de governabilidade.  
Alguns mais intelectualizados do poder, leitores contumazes da teoria marxista, acreditaram que organizando um plano através da distribuição de cargos de chefia por todo o Estado, teriam a tranquilidade necessária para fazer as mudanças sociais apregoadas como salvadoras. 
Eles esqueceram que o ser humano, na sua sede de poder, enlouquece diante das mordomias e dos prazeres mundanos. 
O enriquecimento pessoal vira a meta prioritária, e logo fica estabelecido o “salve-se quem puder”. 
A história nos mostra que isso já aconteceu em outros países, em outras épocas. 
O perfil psicológico da nossa gestora não combina com a possibilidade de uma renúncia ao cargo para o qual foi democraticamente eleita, ainda que isso se apresentasse como uma saída honrosa para o país. 
Não vemos em nenhuma das correntes de poder alguém que, no momento, possa, realmente, representar os anseios populares.  
O quadro geral é de pessoas totalmente desvinculadas das funções para as quais foram eleitas, numa busca insana de benesses pessoais como absoluta prioridade. 
O mais grave, a meu ver, é que o partido mais forte que apoia a presidente, e que detém a vice-presidência, vem se encantando muito rapidamente com o rumo caótico dos acontecimentos e, quem sabe, vislumbrando possibilidades próximas de uma nova liderança. 
Todos os grandes cientistas políticos aventam para a gravidade extrema da situação. 
Nessa oportunidade, seria configurada uma renúncia, não como ato de grandeza, mas simplesmente por absoluta falta de governabilidade. 
Num regime democrático impõe-se absoluta harmonia entre os três poderes, e isto não vem acontecendo. 
Essa é a grande gravidade da situação política brasileira! A população, atônita, assiste inerte ao desmoronamento de um dos países mais ricos do mundo. 
Resta-nos torcer para que os que detêm o poder abdiquem das suas vaidades e passem a agir com um pouco mais de patriotismo, evitando uma ainda mais grave crise institucional.

Gabriel Novis Neves
10-08-2015

Segunda, 17 Agosto 2015 11:31

 

Quem fez essa declaração foi o ministro da Fazenda Joaquim Levy. 

Disse que o Brasil vive uma fase de desconforto, com crescimento do desemprego e da inflação. 
Nenhuma novidade para qualquer um de nós que sentimos no bolso os efeitos de tanto imbróglio. 
Para nosso alívio, o ministro afirmou que a situação é transitória e que a inflação está começando a convergir para a meta nos próximos anos. 
Para quem está com a corda no pescoço, esperar por dois anos de possíveis melhoras, só em prognósticos otimistas de médicos em doenças terminais. 
Nossa gente não suporta mais tanto arrocho, especialmente os assalariados do poder executivo e aposentados do INPS.  
Para aquela gente bacana que compõem a tropa de funcionários especiais do Legislativo, Judiciário e Tribunais de Contas, esse “fenômeno”, tão bem descrito pelo competente Ministro da Fazenda, não existe. 
É bom saber que os sobreviventes terão melhores condições que os brasileiros de hoje, vítimas de políticas públicas equivocadas e de uma corrupção desenfreada. 
No Brasil os resultados têm que ser imediatos, pois a espera de dois anos para a possibilidade de o quadro político econômico melhorar é insuportável. 
Nossos equipamentos sociais estão sucateados, assim como as necessárias obras de infraestrutura, na sua quase totalidade, paralisadas. 
A grande locomotiva do desenvolvimento, que é a educação de qualidade, de sonho foi transformada em pesadelo. 
Não temos mais estoque de tempo de espera como pede o nosso Ministro da Fazenda. Até lá teremos um país fragilizado, propício ao grande capital estrangeiro de implantar por aqui um neocolonialismo. 
Desconfio que estejamos voltando à época do Brasil colônia. 
E o dinheiro acabou! Apesar da Lei da Responsabilidade Fiscal - que não foi cumprida.

Gabriel Novis Neves
27-07-2015

Quarta, 12 Agosto 2015 12:18

 

Se o objetivo do Ministro da Fazenda era acalmar o trepidante mercado financeiro e, principalmente, a população brasileira, o tiro saiu pela culatra. 

Após longa aula de erudição em macroeconomia pública, o nosso competente ministro finalizou seu discurso dizendo que tivemos alguns anos de progresso, agora este ciclo chegou ao seu final. 
Precisamos hoje reinventar uma nova economia - cuja fórmula ainda não foi encontrada - para fazer o Brasil voltar a crescer. 
As medidas emergenciais tomadas no primeiro semestre do ano, como o ajuste fiscal, arrocho salarial, cortes nas despesas, no orçamento e seu contingenciamento, não surtiram o resultado esperado. 
As receitas diminuíram e, em curto prazo, poderemos ter mais desempregos, diminuição da carga horária para os trabalhadores com diminuição dos salários e investimentos mínimos. 
Tudo isso para não deixar a situação piorar. 
Calcula o competente ministro que a retomada do crescimento com todas essas medidas de austeridade e a diminuição da corrupção, só será possível após quatro ou cinco anos de muito sacrifício para todos. 
As castas estão esperneando, negociando mais benefícios para os seus. 
Segundo recentes estatísticas nacionais, os que mais padecem com essa criminosa desarrumação das nossas contas públicas, inclusive atropelando a moralizadora Lei da Responsabilidade Fiscal, são os pobres e miseráveis. 
A classe média está com os seus gastos emagrecidos para sobreviver à crise econômica e, para complicar, também política. 
Pelo menos o Ministro da Fazenda foi transparente e claro na demonstração da real situação do país. 
Nada de maquiagem como em outros tempos. 
A população revoltada e impaciente com a falta de criatividade dos nossos políticos em apresentar propostas viáveis para minorar nosso sofrimento de falta de expectativa para um futuro promissor, já alertou que vai sair às ruas em protesto contra esse estado de coisas. 
As greves estão pipocando em todos os segmentos sociais e as investigações sobre a corrupção produzindo resultados cada vez mais alarmantes. 
O quadro é sombrio.

Gabriel Novis Neves
26-07-2015

Segunda, 10 Agosto 2015 19:19

 

Em sua peregrinação pelo Equador, Bolívia e Paraguai o Papa Francisco mais uma vez surpreendeu o mundo ao discursar no “Encontro dos Movimentos Sociais”. 

Com a sua franqueza habitual, sabedoria e muita diplomacia, deixou o seu recado em uma importante reunião de líderes e dirigentes sociais latino-americanos.  
A impressionante ressonância mundial foi imediata. Vozes discordantes apareceram advertindo que suas palavras não deviam ser levadas a sério. 
Tudo isso porque o Papa disse que “o capitalismo é um sistema esgotado, que já não se sustenta, que os ajustes sempre são feitos à custa dos pobres, que não existe tal coisa como o derrame da riqueza das taças dos ricos, que destrói a casa do comum e condena a Mãe Terra”. 
O Papa revolucionário também condenou os monopólios como uma grande desgraça, disse que o capital é o “estrume do dinheiro”, que se deve cuidar do futuro da Pátria Grande e estar em guarda frente às novas formas de colonialismo. 
Com suas palavras, Francisco abriu um espaço enorme para avançar no sentido de neutralizar a ideologia dominante, que difunde que o capitalismo é a única forma sensata – e possível – de organização econômica e social. 
O histórico discurso do Papa na Bolívia instalou no imaginário público a ideia de que “o capitalismo é um sistema desumano, injusto, predatório, que deve ser superado mediante uma mudança estrutural”. 
Graças às suas palavras estamos em melhores condições para vencer a batalha de ideias de forma a convencer todas as classes oprimidas, as principais vítimas do sistema, de que é preciso acabar com o capitalismo, antes que esse infame sistema acabe com a humanidade e com o planeta, no dizer do sociólogo argentino Atílio Boron. 
O Papa Francisco tem como prioridade a defesa dos três T: Terra, Teto e Trabalho. 
Com relação ao problema grego, ele alerta ao mundo para as novas formas de neocolonialismo que recrudescem no mundo. 
Mais do que o representante máximo da religião católica, Francisco vem se tornando um dos maiores símbolos, não de religião, mas de algo muito mais difícil de ser praticada, a religiosidade.

Gabriel Novis Neves
17-07-2015