Terça, 02 Maio 2017 21:29

 

 

JUACY DA SILVA*

O Brasil tem  um longo caminho a ser percorrido em busca da construção de uma sociedade democrática, justa, com equidade e  um estado de direito, que prima pela igualdade de todos perante a Lei. Estamos muito mais próximos de um país onde convivem, lado a lado, grandes massas empobrecidas e uma casta de marajás constituída de de dirigentes políticos e grandes grupos econômicos, ambos aliados na pilhagem dos cofres públicos, com a ajuda de gestores corruptos.


Assim, a falta de transparência, os privilégios e negociatas à sombra do poder são muito mais regra do que exceção. Fruto desta aliança espúria, não é novidade que  o Pode Legislativo, em todas os níveis, municipal, estadual e federal sejam constituídos por  representantes desses marajás e usam seus poderes para aprovarem Leis que beneficiam uma elite dominante e penalize a camada de baixo.


Alguns exemplos atestam  esta realidade. Como explicar ao resto do   mundo que os trabalhadores  precisam trabalhar até os 65  anos , depois de nada menos do que 47 anos de contribuição para a previdência enquanto Governadores, deputados, senadores, ministros possam se aposentar com oito, quatro anos ou ate poucos meses e ainda possam acumular três, quatro ou até cinco aposentadorias?


Como explicar que a jornada de trabalho  para a população em geral seja de oito horas diárias e de cinco a seis dias por semana, em condições extremamente precárias como   as dos  trabalhadores rurais e da construção civil, mineração estejam mais próximas do trabalho escravo enquanto nossos governantes trabalham apenas três ou quatro dias por semana  e usufruem de tantos privilégios  como residência, deslocamentos , auxílio paletó, banquetes para discutirem votações, enquanto o trabalhador tem que se contentar com um transporte que os aproxima de animais e comerem  marmitex e “boia fria”?

Como entender que uma pessoa que furta uma lata de doce ou um pacote de comida possa ser preso e jogado em verdadeira pocilgas que são nossas cadeias e sistema prisional e políticos, empresários e gestores públicos tenham privilégios de celas especiais, seus processos serem acobertados por segredo de justiça e ainda gozarem de foro privilegiado que representa  um manto protetor para crimes de colarinho branco, corrupção e outros mais, que representam bilhões de reais?


Como podemos aceitar que exista dois sistemas judiciais, um que representa os rigores da Lei, com penas duras para criminosos  ditos comuns  e  outro que mantem os privilégio dos donos do poder serem julgados na instância máxima do Sistema judiciário, que pela lentidão de seu  funcionamento já se considera como o foro privilegiado, onde a maioria dos investigados jamais sejam condenados e jamais devolvem o que roubaram dos cofres públicos?


É  neste contexto que devemos analisar  e perceber que a aprovação, em primeira votação da PEC, no Senado nesta semana, para acabar com o  FORO PRIVILEGIADO é apenas uma  VITÓRIA PELA METADE, pois ainda tem um longo caminho pela frente.  Para que o foro privilegiado seja abolido no Brasil ainda vai ser preciso uma segunda votação  no Senado e então  ser enviado à Câmara Federal, onde já dormem por quase duas décadas diversos projetos  que também pretendiam acabar com esta excrecência jurídica, que  funciona como um manto protetor aos privilégios dos marajás da República e de mais de 40 mil “autoridades” que são protegidas  por Leis aprovadas para garantirem seus privilégios.


Enquanto esses e outros privilégios que favorecem os donos do poder persistirem em nosso país, seremos uma nação dividida em duas grandes camadas, a dos que produzem e a outra que usufrui das riquezas produzidas pelos que trabalham. Isto não é democracia  e muito menos estado de direito, de base republicana.


Só acredito no fim do FORO PRIVILEGIADO no Brasil no dia em que uma PEC desta natureza for aprova pelo Legislativo e sancionada. Até lá, é apenas “bla blá blá” para entreter a opinião pública, como acontece nos grandes circos!


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação.

E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo." target="_blank">O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog  www.professorjuacy.blogspot.com

Terça, 02 Maio 2017 13:54

 

Estimativa é que 40 milhões de trabalhadores tenham cruzado os braços nessa sexta (28) contra as reformas da Previdência e Trabalhista. Manifestações foram reprimidas com violência em alguns estados

O Brasil amanheceu parado nessa sexta-feira (28). Por todo o país, piquetes e barricadas trancaram rodovias, acessos à entrada das cidades, de fábricas, montadoras, siderúrgicas, metalúrgicas, prédios de serviço público, bancos, universidades, escolas, garagem de ônibus, empresas, comércios, portos, aeroportos, paralisando diversos ramos econômicos. Metrôs, ônibus e trens de uma série de cidades não circularam por 24h.

Docentes de diversas instituições federais, estaduais e municipais de ensino superior se uniram a servidores públicos de diversas áreas, inclusive do Judiciário, aos bancários, metalúrgicos, comerciários, eletricitários, químicos, petroleiros, portuários, jornalistas, radialistas, trabalhadores da saúde, de saneamento básico e dos Correios, entre tantas categorias, ao que está sendo considerada a maior greve geral país.

Dezenas de universidades amanheceram com as portas trancadas. Várias seções sindicais realizaram manifestações em frente aos campi, com panfletagens e aulas públicas, também integraram outros atos como trancamento de rodovias, garagens de ônibus e comércios. Além disso, os docentes ainda participaram das grandes manifestações unificadas, em todos os estados do Brasil.

A estimativa das centrais sindicais é de que cerca de 40 milhões de trabalhadores aderiram à greve geral e cruzaram os braços. Alguns veículos de imprensa divulgaram que a greve teve impacto aproximado de R$ 5 bilhões na economia brasileira.

A paralisação foi convocada pelas Centrais Sindicais, de forma unificada, como protesto para barrar as contrarreformas da Previdência e Trabalhista e contra a Lei de Terceirizações aprovada recentemente. Os ataques promovidos pelo governo federal, com apoio de representantes do legislativo, sem diálogo com a população /brasileira, destroem direitos sociais e trabalhistas históricos. 

Confira abaixo alguns dos locais onde ocorreram atos. Veja também mapa interativo feito pela CSP Conlutas com as manifestações pelo país.

São Paulo
Durante todo o dia, tanto na capital quanto nas cidades do interior paulista, trabalhadores realizaram piquetes e trancamentos de vias. As principais rodovias do estado, como a Via Dutra e Airton Senna foram paradas, limitando o acesso aos polos industriais da região metropolitana. Milhares foram às ruas em diversas cidades. Na capital paulista, a tarde trabalhadores de diversas categoriais se concentraram no vão do Masp, na avenida Paulista. No início da noite foi realizada uma grande manifestação, que reuniu cerca de 70 mil pessoas, no Largo da Batata, segundo as entidades organizadoras. O ato marchou sentido a casa de Michel Temer. A polícia militar fez uso de bombas de gás, spray de pimenta e jatos d’água para expulsar as pessoas do local.

Rio de Janeiro
Em adesão à greve geral convocada para esta sexta-feira, aeroviários paralisam atividades nos aeroportos Santos Dumont e Galeão, no Rio de Janeiro. No Galeão, a maior parte dos cancelamentos de voos foram de companhias aéreas internacionais.

A greve geral teve impacto em várias regiões do Rio. A ponte Rio Niterói foi bloqueada por manifestantes. Houve também bloqueios na Av. Brasil, Radial Oeste, Linha Vermelha, Rodovia Niterói-Manilha e nos acessos às barcas e ao terminal rodoviário Nova Alvorada, um dos maiores da cidade. Esses são importantes pontos de circulação da cidade e região metropolitana, por onde passam milhares de trabalhadores todos os dias. Saiba mais sobre o dia de Greve Geral no Rio de Janeiro.

No final da tarde, dezenas de milhares protestaram no centro da capital fluminense e enfrentaram brutal repressão da polícia militar. A ação violenta da PM dispersou manifestantes, instalou clima de terror no centro do Rio, mas não conseguiu impedir gritos de “Fora Temer” e de resistência no maior ato contra as reformas já realizado no Rio de Janeiro.

Na Assembleia legislativa do estado (Alerj), milhares de pessoas se concentraram para sair em passeata até a Candelária e, depois, caminhar até a Cinelândia, onde aconteceria o ato unificado das centrais sindicais. 

Os trabalhadores e estudantes que estavam na Alerj mal começaram a se deslocar, rumo à Candelária, quando as primeiras bombas foram lançadas pela PM nas costas dos manifestantes, já que o ataque abordou a manifestação por tás. Mais à frente, quando a multidão já entrava na av. Rio Branco, a Tropa de Choque outra vez investiu de forma generalizada contra os manifestantes. Houve correria. Muita gente passou mal ao inalar o gás lacrimogêneo.

Por fim, quando o ato unificado acontecia na Cinelândia, reunindo dezenas de milhares de pessoas, a PM outra vez avançou contra os manifestantes – apesar do apelo dos organizadores da atividade que, do palco montado na Cinelândia, apelavam pelo fim da violência. Bombas também foram lançadas contra os carros de som e contra o palco forçando a dispersão.

Paraná
Mais de 90 categorias de trabalhadores do Paraná aderiram à paralisação contra as reformas trabalhista e previdenciária nessa sexta-feira (28). Cerca de 200 mil pessoas participaram de mobilizações e pelo menos 400mil aderiram à greve em todo o estado, de acordo com estimativas das centrais sindicais.

Em Curitiba, terminais de transporte público, ruas e praças estavam completamente vazias no início da manhã, devido à adesão dos trabalhadores do transporte coletivo à greve geral. Apenas carros transitavam pela cidade. Enquanto isso, em pontos diversos da capital, movimentos sociais e entidades sindicais promoviam atos e protestos localizados. Segundo a organização, 30 mil pessoas participaram da marcha que partiu do Centro Cívico, passou pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e seguiu até a Praça Tiradentes, onde houve o encerramento, perto das 14h. Protestos também ocorreram em várias cidades do interior do estado.

Pernambuco
Nas garagens de ônibus, braços cruzados ou mãos em punho e cartazes com anúncio da Greve Geral. Em vias importantes do estado e da cidade do Recife, bloqueios feitos por militantes de movimentos populares. Foi assim que esta sexta-feira (28) começou em Pernambuco.

Trabalhadores (as) das empresas de ônibus e integrantes de movimentos populares e sindicatos, se reuniram na frente das garagens de ônibus do Recife já na madrugada, com o objetivo de garantir que nenhum ônibus circulasse na capital pernambucana. Os principais terminais integrados de passageiros estavam vazios. A cidade de Petrolina, assim como diversas outras no estado, também foi palco de manifestação.

Rio Grande do Sul
O centro de Porto Alegre (RS) amanheceu vazio devido a grande adesão à greve geral de diversas categorias, como bancos, escolas e universidades, comércios e justiça do trabalho. Além disso, em todo o estado, foram bloqueadas diversas estradas. 

Na madrugada desta sexta-feira, a BR 290 nos sentidos interior-capital, próximo a Ponte do Guaíba em Porto Alegre , e capital-interior, em Eldorado do Sul foram trancadas por integrantes do MST, Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Desempregados (MTD), e centrais sindicais. As rodovias foram liberadas após ação truculenta do Batalhão do Choque da Brigada Militar, que lançou bombas de gás lacrimogênio contra os manifestantes.

Ainda em Porto Alegre, foram realizadas mobilizações em diversos pontos da cidade, entre elas, as empresas de ônibus, a rodoviária, a prefeitura, os terminais de ônibus e o Centro Administrativo do Estado. Manifestante também realizaram protestos e piquetes em cidades do interior como em Uruguaiana e Jaguarão, com o fechamento da fronteira, Pelotas e Santa Maria.

Pará
Diversas cidades do estado do Pará aderiram à greve geral desta sexta-feira (28). Em Belém (PA), as ações começaram ainda de madrugada. Cerca de 50 mil pessoas participaram da marcha convocada por vários movimentos e sindicatos. Vários pontos estratégicos da capital paraense foram fechados, como o trecho da Alça Viária, a BR 316, e as avenidas Almirante Barroso (próximo ao bairro de São Braz), Augusto Montenegro e Presidente Vargas.

Minas Gerais
De acordo com as entidades sindicais, milhares de pessoas participaram do ato em Belo Horizonte. A mobilização contou com presença de entidades sindicais, movimentos sociais, como trabalhadores sem-terra, estudantes e também indígenas da etnia Xakriabá.

Em várias cidades também ocorram atos e trancamentos de via. Em Uberlândia, a chuva não atrapalhou os protestos e cerca de 15 mil pessoas foram às ruas em marcha. Em Juiz de Fora, a Greve Geral reuniu na Zona da Mata mineira, cerca de 30 mil manifestantes. Também houve fechamento da BR 116, em Itaobim. Em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH, manifestantes bloquearam a rodovia BR 040. Em Ouro Preto, a população foi às ruas em protesto e às 12h os sinos de todas as igrejas da cidade histórica badalaram juntos contra as reformas da Previdência e Trabalhista.

Alagoas
Em Maceió, o ato saiu da Praça Centenário, no bairro Farol, e seguiu até a Praça dos Martírios, no Centro da cidade, onde fica o Palácio do Governo. A organização da manifestação contabilizou mais de 30 mil pessoas no percurso. Os manifestantes, independentes e reunidos em mais de 100 entidades sindicais, organizações políticas e movimentos sociais de luta pela terra e teto, tomaram conta da praça central da capital alagoana.

Espírito Santo
As duas principais vias de acesso à capital capixaba foram fechadas no início da manhã, impedindo a entrada na cidade. Durante o dia, diversas categorias realizaram protestos localizados e depois se uniram em manifestação pela

Bahia
Em Salvador, os trabalhadores também trancaram várias rodovias e realizaram manifestação pelas ruas da capital. Em cidades como Vitória da Conquista, Feira de Santana e Santa Cruz, houve piquetes e atos públicos.

Distrito Federal
Em várias cidades do entorno de Brasília como Ceilândia, Taguatinga e Estrutural, foram realizados piquetes e atos de rua. Na capital federal, houve trancamento das principais rodovias de acesso como as BR 020 e 040. Ônibus, metrôs não funcionaram e as ruas centrais estavam vazias. Diversas categorias realizaram protesto na Esplanada dos Ministérios, que foi cercada para limitar a área de manifestação. 

Além dos estados citados acima, os docentes também participaram de manifestações no Amazonas, Amapá, Roraima, São Luís, Piauí, Fortaleza, Tocantis, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraíba e Sergipe. Confira álbum na página do ANDES-SN no facebook, com imagens de algumas das manifestações.

Fonte: ANDES-SN (com informações do Brasil de Fato, CSP-Conlutas e Aduff SSind. Foto: Ponte Rio-Niterói, Luiz Fernando Nabuco/Aduff-Ssind)

 

Terça, 02 Maio 2017 11:38

 

A comissão de Educação da Câmara dos Deputados realizou, nessa quinta-feira (27), uma audiência pública para discutir os impactos da contrarreforma da Previdência (PEC 287/2016) na Educação. Participaram do debate representantes de entidades da educação pública e privada. Algumas, como o ANDES-SN, criticaram a Proposta de Emenda à Constituição e também convocaram quem acompanhou a audiência para a Greve Geral desta sexta-feira (28).

O Sindicato Nacional foi representado na audiência pela presidente do Sindicato Nacional, Eblin Farage, que criticou o que chamou de “mercantilização dos serviços públicos”. “Não acreditamos que a educação possa ser uma mercadoria a ser vendida”, disse ela, ao defender uma auditoria da dívida pública brasileira, a taxação de grandes fortunas e uma revisão tributária em vez da reforma na legislação previdenciária.

“O ônus da gestão da economia não pode cair sobre os trabalhadores. Não dá para os trabalhadores pagarem a conta de uma dívida que não foi ele que fizeram”, sustentou Eblin, que também convocou os presentes para a greve geral de amanhã.

Ainda durante sua fala, Eblin ressaltou para os deputados presentes que as entidades sindicais e os movimentos sociais irão denunciar à população aqueles que votarem contra os direitos dos trabalhadores e que isso terá impacto nas eleições de 2018. A fala incomodou os parlamentares da base governistas.

Após a audiência, Eblin ressaltou que é importante estar nesses espaços fazer o contraponto em defesa dos direitos da classe trabalhadora. “É importantes estarmos nesses espaços para defender nossas ideias e ver também o quanto os ataques vêm de todos os lados. Por que desde parte dos deputados da própria comissão, que se posicionam a favor da reforma da previdência e que desconsideram que a educação tem que ser de fato garantida pelo Estado, como a fala de outras pessoas que foram ali também defender a reforma da Previdência, como a representação das Mantenedoras das Instituições Privadas de Ensino, a revelia dos direitos trabalhistas”, comentou a presidente do ANDES-SN.

Fonte: ANDES-SN (com informação e imagem da Agência Câmara)


 
Sexta, 28 Abril 2017 00:27

 

 

Velas na frente do auditório da Adufmat-Ssind na noite de quarta-feira, 26/04, indicavam: seria uma noite de luto. As pequenas chamas iluminavam os nomes dos nove trabalhadores rurais vítimas da chacina praticada no último final de semana na Gleba Taquaruçu, em Colniza, a 1.065 km ao norte da capital de Mato Grosso. O crime, com evidências de tortura, foi cometido a mando de fazendeiros da região. No auditório da Seção Sindical do ANDES na UFMT, à convite de entidades solidárias à luta pela terra, a noite de quarta-feira foi de luto, e muita comoção.

 

Na mesma semana em que o massacre de Eldorado dos Carajás completa 21 anos, sem a condenação ou punição dos responsáveis pelas 19 mortes, a chacina em Colniza escancara que ainda há muito a avançar para garantir o direito efetivo à terra. Há outros dados igualmente preocupantes. Em Mato Grosso, somente em 2016, mais de 40 mil famílias se envolveram em conflitos no campo. Registramos o maior número de assassinatos dos últimos 13 anos no país: 61 no total; uma média superior a cinco por mês. Os primeiros quatro meses de 2017 já somaram 32% do total de mortes do ano anterior.  

 

As informações acima são da Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma das entidades organizadoras do ato, junto a Adufmat-Ssind, Instituto Caracol, Levante Popular da Juventude, PET Conexões de Saberes, Movimento dos Atingidos por Barragens em Mato Grosso (MAB/MT), Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA/UFMT), e Laboratório de Estudos e Pesquisas da Diversidade da Amazônia Legal (Leal - Juara/MT). Os números da violência foram lidos durante uma mística em volta de um rio de sangue, seguidos dos nomes das últimas vítimas. “Presente, presente, presente!”, diziam os convidados, após a pronúncia de cada nome.

 

“A violência e os assassinatos têm relação direta com o agronegócio”, disse a representante da CPT, Elizabete Flores. Ela afirmou ainda que o Estado é omisso e convivente com os crimes, pois as instituições responsáveis não tomam nenhuma providência, mesmo diante de centenas de denúncias. “No ano passado, uma comunidade registrou 396 boletins de ocorrência, e nenhum inquérito foi aberto até hoje”, garantiu.

 

Mas os depoimentos mais chocantes vieram de quem sofre a violência cotidianamente. Duas moradoras de assentamentos, que terão os nomes preservados, relataram diversos tipos de ameaças e agressões. Dentre as ações relatadas, constam absurdos como a queima dos lotes e residências; corte das cercas; sobrevoo com veneno, causando a internação dos assentados; ameaças às crianças; destruição das estruturas necessárias para a instalação de energia; destruição das plantações; capangas rondando as terras cedidas às famílias pelo Incra.

 

O principal apelo, apesar do descrédito e desânimo, foi para que as autoridades cumpram seu papel. “É preciso agir, abrir os olhos antes que provoquem outra tragédia como a de Colniza. A gente tem filho, a gente se preocupa. A gente recebeu a terra do Incra, e quer trabalhar”, afirmou uma das convidadas.

 

O vice-presidente da Adufmat-Ssind, Maelison Neves, destacou que as guerras químicas que causam terror no exterior também se dão no Brasil, em certo nível. A recorrente agressão direta com agrotóxicos, como relatam os trabalhadores do campo, além do uso dessas substâncias, muitas já proibidas em outros países, nos alimentos, oferecem riscos reais à população.

 

Além disso, o sindicalista evidenciou a posição do Estado diante desses conflitos. “As narrativas aqui mostram o caráter classista do Estado. Não somente os governos, mas a Justiça, o Ministério Público, todas as instituições estão do mesmo lado. Se mostram ligeiras para reintegração de posse de latifundiários, mas não conseguem apurar os crimes cometidos contra os trabalhadores rurais. Registro aqui o nosso repúdio, a nossa solidariedade aos companheiros, e o nosso compromisso com a luta pela terra”, afirmou.

 

Também fizeram parte da mesa os professores Alexandre César e Erivã Velasco, representando o Conselho de Direitos Humanos e a Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso, respectivamente. Ambos destacam o apoio das entidades nas lutas dos trabalhadores rurais.

 

No ato, bastante simbólico, os participantes entoaram ainda canções de luta, como “Funeral de um lavrador”, de Chico Buarque, e a versão em português de “Solo pido a dios”, de Mercedes Sosa. O Encerramento foi realizado após a leitura de uma nota, disponível para assinaturas de outras entidades no link: http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR99331

 

 

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind   

 

Quinta, 27 Abril 2017 11:35

 

Contrariando a Constituição Federal, que prevê a gratuidade da educação pública, corte suprema autoriza que universidades federais, estaduais e municipais cobrem por cursos de pós-graduação lato sensu 

O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou nesta quarta-feira (26) a cobrança de mensalidades, por universidades públicas, para a realização de cursos de pós-graduação lato sensu. A decisão, referente à um recurso extraordinário da Universidade Federal de Goiás (UFG), contou com 9 votos favoráveis e 1 contrário. Por ter repercussão geral, a decisão tem ‘efeito cascata’ e deve ser seguida pelos demais tribunais da Justiça. Com isso, outros 51 processos semelhantes que tramitavam no STF foram encerrados. A deliberação do STF ainda não se aplica à cursos de pós-graduação stricto sensu, como mestrado e doutorado. 

A posição dos ministros do Supremo contraria o inciso 4º do artigo 206 da Constituição Federal, que confere gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, e também vai contra decisão da Câmara dos Deputados, que rejeitou, em março, Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 395/14, que propunha liberar a cobrança de cursos de especialização e mestrado profissionalizante nas Instituições de Ensino Superior (IES) públicas do país.

O ANDES-SN participou da ação como amicus curiae, se posicionando e oferecendo elementos para a argumentação contrária à cobrança de mensalidade nas universidades públicas. Para a advogada Monya Ribeiro Tavares, que representou o Sindicato Nacional, o comando constitucional é expresso e claro no sentido da gratuidade do ensino. “Não traz nenhuma distinção em relação aos níveis da educação, se fundamental, médio ou superior. Também não traz nenhuma distinção entre as diversas modalidades de curso: ensino, pesquisa ou extensão”, disse.

Jacob Paiva, 1ª secretário do ANDES-SN e encarregado Jurídico da entidade, acompanhou o julgamento. Para ele, o desfecho corrobora a análise política conjuntural, com os ataques vindos do Executivo, Legislativo e Judiciário. O diretor do Sindicato Nacional analisa a decisão como mais uma demonstração do processo de desconstitucionalização, com o ataque aos princípios democráticos. “A decisão foi gravíssima, pois abre um precedente para a cobrança irrestrita desses cursos, ainda que a ministra Carmem Lúcia tenha pontuado que é uma possibilidade e não uma obrigação da cobrança. Conforme defendemos e nossa assessoria expôs no julgamento, essa decisão revela uma extrema agressão ao inciso 4º do artigo 206 da Constituição. Em nosso entendimento, a gratuidade se expande para todas as atividades de ensino, pesquisa e extensão das universidades públicas”, explicou Jacob. 

Único ministro contrário à cobrança, Marco Aurélio de Mello, defendeu o caráter público da educação e explicou a desvirtuação das instituições de ensino gratuito. “Nós teremos doravante entidades híbridas. Universidades que serão a um só tempo públicas e privadas mediante à cobrança desses cursos, que estabelece que somente estarão ao acesso daqueles que possam pagar a mensalidade”, criticou o ministro. 

Para Paiva, os ministros usaram o argumento de cortes orçamentários nas universidades públicas como argumento favorável para a possibilidade de cobrança sem fazer nenhuma critica à ausência de um adequado orçamento público para a manutenção do ensino, pesquisa e extensão das IES federais, estaduais e municipais, aceitando passivamente de que diante da crise, não teria outro jeito para essas instituições, senão a cobrança desses serviços, o que esconde de fato as prioridades que os governos vêm fazendo, ao longo dos anos, em relação à destinação de recursos para o pagamento da dívida pública e para o setor privado.

“Tomaram a decisão como se fosse natural a falta de orçamento, e sem entrarem na consequência disso para as condições de aprendizagem e ensino e para a carreira docente, a partir da desvalorização dos salários, da Dedicação Exclusiva, da perspectiva da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão. Nada disso foi argumentado por nenhum dos ministros”, criticou o secretário do Sindicato Nacional. 

A advogada Monya Tavares explica ainda que o entendimento da maioria dos ministros foi de que num futuro próximo essa decisão possa ser revertida para uma posição ainda mais ampla, no sentido de uma possiblidade de privatização das universidades públicas. “Temos que nos preparar juridicamente, trazendo a inconstitucionalidade desses argumentos sobre a possibilidade de abranger outros cursos, além da pós-graduação lato sensu. O relator, acompanhado da maioria dos ministros, adotou a tese de que a particularidade do curso da pós-graduação lato sensu abriu a possibilidade dessa interpretação extensiva à Constituição Federal, o que é um argumento falacioso, porque a Constituição Federal é clara em não haver nenhuma distinção à nenhuma modalidade dos cursos do ensino superior. Eles partiram do principio de que a pós-graduação lato sensu traz proveitos apenas aos estudantes e não à sociedade, diferentemente dos outros cursos”, disse Mônya. 

Votaram à favor da cobrança, além do relator Fachin, os ministros Ricardo Lewandowski, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e a presidente, Cármen Lúcia. O ministro Marco Aurélio Mello votou contra a manutenção das mensalidades. Celso de Mello não participou do julgamento.

Entenda – O Recurso Extraordinário (RE) 597854 julgado - com repercussão geral reconhecida -, foi apresentado pela Universidade Federal de Goiás (
UFG) contra a decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), que se manifestou favorável a um aluno que recorreu da cobrança de mensalidade do curso em universidade pública. O TRF decidiu que a cobrança era inconstitucional em razão da garantia do ensino público contido na Carta Magna.

A UFG questionava no STF acórdão do 
(TRF-1), que considerou inconstitucional a cobrança de mensalidade pela frequência de um curso de pós-graduação lato sensu em Direito Constitucional, oferecido pela instituição, tendo em vista a garantia constitucional de gratuidade de ensino público (artigo 206, inciso IV, da Constituição Federal).

No STF, o julgamento começou na última quinta-feira (20), com a leitura do relatório pelo ministro Edson Fachin. Também apresentaram seus argumentos os representantes da parte recorrente – Universidade Federal de Goiás – e dos amicus curiae, entre eles o ANDES-SN e a Fasubra. “O orçamento destinado às universidades públicas é para o ensino. E é indissociável na universidade, de acordo com o artigo 207 da Constituição, o ensino, a pesquisa e a extensão. E esse ensino é gratuito”, expôs o representante da assessoria jurídica da Fasubra, Cláudio Santos da Silva.

PEC rejeitada na Câmara 

A Câmara dos Deputados rejeitou, em março, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 395/14, que permitiria a cobrança de mensalidades nos cursos de pós-graduação lato sensu pelas universidades públicas. O ANDES-SN atuou durante toda a tramitação da PEC no Congresso Nacional, pressionando os parlamentares a fim de conscientizá-los quanto ao ataque ao princípio constitucional da gratuidade da prestação da educação nas Instituições de Ensino Superior (IES) públicas. A luta contra a aprovação da PEC 395 foi ponto de pauta das greves de 2015 e 2016, protagonizadas pelos docentes federais e estaduais, e também de todas as mobilizações realizadas pelo Sindicato Nacional durante a sua tramitação.

 

Fonte: ANDES-SN

 

Quinta, 27 Abril 2017 11:05

 


O relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/16, da contrarreforma da Previdência, o deputado federal Arthur Maia (PPS/BA) apresentou na última quarta-feira (19) seu relatório, com alterações na proposta, que destrói direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores brasileiros. A PEC recebeu um total de 164 emendas parlamentares.  Por acordo de lideranças, a votação do parecer deve ocorrer no dia 2 de maio, na comissão especial criada para debater o tema. 

O relatório traz alterações nas regras de aposentadoria tanto para servidores públicos quanto trabalhadores da inciativa privada. No caso dos servidores públicos, a mudança no parecer traz ataques ainda mais duros do que o previsto no texto original da PEC. Com a nova proposta, servidores que ingressaram no serviço público antes de 2003 perderam o direito à integralidade e à paridade na aposentadoria, o que não estava previsto anteriormente.

Caso o texto seja aprovado como está, os servidores que quiserem manter o direito à integralidade e paridade deverão cumprir a nova regra de aposentadoria e ir direto para a idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 anos, sem transição. Quem não optar por cumprir a idade mínima, ou aqueles que entraram no serviço público a partir de 2003, terão benefício correspondente à média de todos os salários de contribuição desde julho de 1994, com valor mínimo de aposentadoria correspondente a um salário mínimo e o máximo equivalente ao teto do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), atualmente R$ 5.531,31. Para os servidores que ingressaram no serviço público antes da instituição dos planos de previdência complementar, e não optaram pela adesão ao mesmo, o valor máximo do benefício poderá exceder o teto do RGPS.



Regras Gerais
O substitutivo ao texto original da PEC 287/16 prevê a elevação da idade mínima de para 62 anos para mulheres, e 65 anos para os homens, tempo de contribuição para garantir acesso ao benefício integral também de 40 anos e o tempo mínimo de 25 anos de contribuição para ter acesso à aposentadoria, tanto para trabalhadores da inciativa privada quanto do serviço público.

O texto apresenta um novo cálculo para o valor da aposentadoria. Para se alcançar ao valor final, será feita uma média com base em 70% da média de todos os salários a partir de julho de 1994, com adição de mais 1,5 ponto percentual para cada ano que superar o mínimo de 25 anos. Se o trabalhador superar os 30 anos de contribuição, o acréscimo será de 2 pontos percentuais; a partir de 35 anos, 2,5 pontos percentuais. As mudanças valerão tanto para empregados da iniciativa privada, que estão no RGPS quanto para servidores públicos, integrantes do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS). Políticos também estarão vinculados ao regime geral.



Transição
Os requisitos prévios para a regra de transição para servidores públicos são 20 anos de tempo no serviço público e 5 anos no cargo em que se der a aposentadoria. O pedágio será um acréscimo de 30% sobre o tempo de contribuição que faltar para 30 anos, no caso das mulheres, e 35 anos para homens, a partir da data da promulgação da emenda. 

Segundo o relatório preliminar, em relação às chamadas regras de transição, a idade mínima prevista para as mulheres é 53 anos e vai aumentar um ano a cada dois anos até a trabalhadora chegar aos 62 anos. Para os homens, a idade mínima está prevista em 55 anos, com aumento de um ano a cada dois anos, até alcançar 65 anos. Posteriormente, uma nova lei poderá alterar os patamares previstos. 

Quem estiver nesta faixa etária e solicitar a aposentadoria terá que passar pelo chamado "pedágio", que será de 30% e não 50%, como proposto inicialmente, sobre o tempo de contribuição que falta para atingir o tempo atual de contribuição - 35 anos (homens) e 30 anos (mulheres). O pedágio é o período que o trabalhador terá que cumprir para alcançar o tempo de contribuição previsto nas regras atuais. 

“A aposentadoria será concedida somente se o servidor possuir, caso seja homem, no mínimo, 25 anos de contribuição e 65 anos de idade. Nessa hipótese, sua aposentadoria será calculada em 70% sobre a média. Supondo que esse servidor alcance uma média de remunerações de R$ 5.000,00 (cinco mil e quinhentos reais), valor próximo ao teto do INSS vigente em 2017, o valor do seu benefício será de R$ 3,5 mil. Se, todavia, o servidor possuir 30 anos de contribuição, seu percentual será de 77,5% da média (70% mais 7,5% [5*1,5%]). Logo, para alcançar o percentual máximo da média (100%), o servidor precisará possuir 40 anos de contribuição”, explica a assessoria jurídica do Sindicato Nacional.



O texto proposto também exclui a aposentadoria por idade, proporcional ao tempo de contribuição vertido pelos servidores públicos que possuam 60 ou 65 anos de idade, mulheres e homens, respectivamente. “O titular de cargo efetivo não mais poderá se aposentar por idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, o que força aqueles que não completem o tempo mínimo de 25 anos contributivos a permanecerem em serviço até completar os 75 anos de idade, momento da aposentadoria compulsória”, diz a assessoria.

Para os servidores que entraram antes da Emenda Constitucional 41/2003, os proventos de aposentadoria corresponderão “à totalidade da remuneração do servidor no cargo efetivo em que se der a aposentadoria, para aqueles que ingressaram no serviço público em cargo efetivo até 31 de dezembro de 2003 e se aposentarem com sessenta anos de idade, na hipótese do § 4º [efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio], e sessenta e cinco anos de idade nos demais casos”. Cabe destacar que o texto do projeto traz algumas exceções.



No caso de aposentadoria por invalidez, o texto de Arthur Maia prevê que “o servidor titular de cargo efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, mediante perícia em saúde, enquanto permanecer nesta condição, desde que a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para o cargo de destino sejam iguais ou inferiores aos de origem, mantida a remuneração do cargo de origem”.

Para professores com dedicação exclusiva do ensino infantil, fundamental ou médio, que comprovem exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério, a idade mínima de aposentadoria passará a 60 anos, com 25 anos de contribuição.

Fonte: ANDES-SN (imagens explicativas da Agência Câmara)



Quinta, 27 Abril 2017 09:32

 

Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Novamente, estamos próximos de mais um 1º de maio. Este ano, ele vem com uma novidade na terra dos contrastes impensáveis, tão bem registrados pelo estudioso francês Roger Bastides há algumas décadas.

Esse 1º de maio chega empacotado em uma trapaça política chamada Reforma Trabalhista, que o governo quer vê-la aprovada a qualquer custo e o quanto antes. Seus defensores dizem se tratar de uma proposta moderna, promotora das flexibilizações que só trariam vantagens na relação patrão-empregado. Que todos sairiam ganhando.

Ledo engano. Essa relação é sempre desigual. E quando os parâmetros saem das mãos das decisões coletivas, como já registrou Marx, os trabalhadores só perdem. Daí a necessária unidade classista. E é essa unidade que essa “reforma” pretende desmanchar e/ou diminuir sua força. Mas, embora o tema merecesse e o momento fosse oportuno, não tratarei disso diretamente.

Também embora merecesse, não falarei do recente massacre de trabalhadores ocorrido em terras mato-grossenses, tão contrastantes quanto em tantas outras partes deste imenso país; aliás, historicamente, banhado de sangue dos mais fracos.

Portanto, mesmo em clima de manobras e ludíbrios políticos contra a classe trabalhadora, bem como de estarrecimento e dor, no que tange à atrocidade cometida contra quase uma dezena de trabalhadores assentados no norte de MT, tratarei de um trabalhador em especial; um trabalhador das artes, mais especificamente de nosso panorama musical. Farei alguns comentários acerca de Alfredo da Rocha Vianna, um funcionário dos Correios, mas também um flautista renomado do século XX, que sempre nos deixou de queixo caído. Falarei de Pixinguinha.

Este recorte se dá por um motivo: no último dia 23 de abril foi comemorado Brasil afora o Dia do Choro, uma das nossas mais lindas modalidades musicais. Essa comemoração se dá por conta de se acreditar que, há 120 anos, nascera o nosso Pixinguinha. Na verdade, seu nascimento teria sido no dia 04 de maio de 1897. Perante seu talento, isso pouco ou nada importa.

Das composições de Pixinguinha, há muitas que já se tornaram antológicas. De todas, aquela melodia de “Meu coração, não sei porque, bate feliz...” parece ser imbatível. Mesmo contra todas as adversidades, “Carinhoso” e outras tantas composições vão superando a força do tempo e as constantes intempéries, verdadeiras e monstruosas pedras no meio do caminho de nossa arte musical maior. Mas como já fiz entender, Pixinguinha não foi apenas “Carinhoso”; foi também um ser humano atento e sonhador de um “Mundo Melhor”, título de uma música que compôs em parceria com Vinícius de Moraes, autor, dentre tantas, de “Operário em Construção”.

Desse casamento, saíram versos como os que seguem:

Você que está me escutando...// Preste atenção, meu ouvinte// O negócio é o seguinte// A coisa não demora// E se você se retrai// Você vai entrar bem, ora se vai// Conto com você, um mais um é sempre dois// E depois, bom mesmo, é amar e cantar juntos// Você deve ter muito amor pra oferecer// Então pra que não dar o que é melhor em você?// Venha e me dê sua mão// Porque sou seu irmão na vida e na poesia// Deixa a reserva de lado// Eu não estou interessado em sua guerra fria// Nós ainda havemos de ver// Uma aurora nascer// Um mundo em harmonia...”.

Assim, se tomei um trabalhador da música para lhe prestar homenagens, ele, junto com Vinícius, retribuiu a homenagem, fazendo uma convocação a todos para percorrerem os caminhos de “um mundo em harmonia”; enfim, de um “mundo melhor”.

Quarta, 26 Abril 2017 14:30

 

A companhia era certa. Nas madrugadas das terças-feiras estava garantido o toque-toque da bengala na porta, a anunciar a hora da missa semanal de São Benedito. Alto, cabelos brancos, Frederico London era devoto piedoso do santo negro. Ourives, trabalhava em casa, na Rua Nova, ou a Avenida Dom Aquino, em sua varanda silenciosa com portas abertas. Dali saiu a coroa de ouro e pedras, artisticamente trabalhada para a imagem da Virgem do Rosário.


      A caminhada seguia a margem do Córrego da Prainha, passando pelo sobrado do Comendador Henrique José Vieira, depois Palácio das Águias, e o Bar Colorido. Subida íngreme do morro, contornávamos as picadas na argila rosa até adentrarmos à Capela, levantada em 1823, como anexo à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, cuja edificação primeira vem de 1727, quando o Arraial passa à condição de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. O paisagismo de pedras cangas surgiu com o governador Pedro Pedrossian que ainda vive em Campo Grande, com os seus 88 anos de idade.


      Comovente é a história dos festejos da Virgem do Rosário e de São Benedito, com origem portuguesa e suor e lágrimas dos negros escravos. A veneração a São Benedito avançou célere com milagres comprovados. Não se adora, venera-se. Bendita hora em que a memoração dos festejos tornou-se popular na Casa de dona Bembém; e, depois, na rua com o povo. Admiro profundamente a Companhia de Jesus. Os jesuítas são práticos na ação, missionários por excelência, atualizam-se tal como o jesuíta, o Papa Francisco.


       Há 20 anos, nem se falava em Copa do Mundo em Cuiabá (a do vexame dos 7x1) e já se ouvia ao final da Celebração Eucarística festiva: ‘no ano que vem, teremos o Largo do Rosário’. Um fiel abusado (corajoso) aludiu: ... ‘ e de São Benedito’. O País é tomado de euforia, obras nos Estados-Membros, dinheiro sendo desviado, levantaram-se tantas construções – como Cuiabá que ganhou as de grandes estruturas, nunca vistas. Até VLT, que se arrasta nas investigações e na incompetência. Pois bem: o casario existente em frente à Colina tem motivação para ser sacrificado em favor do Largo do Rosário e de São Benedito, muito antes desejado. Nele deverá existir uma das estações do veículo sobre trilhos.


      Verdade é que valeu a arrancada esportiva e mudanças ocorreram. Desde março de 2016, há autorização para a demolição do aglomerado de moradias desapropriadas, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Mato Grosso. A desocupação dos moradores já ocorreu, restando uns renitentes a serem motivados à mudança a favor do bem comum, com ação judicial em andamento. E bem sabemos o que seja amor telúrico fincado no espaço onde nasceu Cuiabá.


      O lado perverso é a ocupação das casas esvaziadas e semidestruídas por usuários de drogas – infelizes vítimas de um sistema capitalista desumano. Perambulam, assustam, amedrontam dia e noite. Pedestres, fiéis, turistas afastam-se. É voz uníssona: urgentíssimo
desalojar o casario em escombro, antes mesmo da final demolição. É muito doloroso, como presenciei, jovens que lá estão sob efeito químico das drogas, abandonados e doentes. Considera-se também o fator segurança da população. A responsabilidade é do poder público constituído; bem como da UFMT em serviços de Extensão.


       – O Largo será um espaço de lazer e de cultura com pisos de mosaicos e paisagismo compatível com a pedra canga e o barroco da Igreja.
      – Quem não se recorda, na antiga Capital da República, Rio de Janeiro, do bairro boêmio da Lapa que, mutilado, cedeu maior espaço e projeção dos Arcos. Ou o Morro de Santo Antônio transportado para fazer surgir o Aterro do Flamengo.  Entre nós, onde ficou o Beco Quente? Temos obrigação de preservar; todavia formosear Cuiabá é necessário, ademais para os 300 anos, em cuja soleira de 2019 já pisamos.  – Que haja encontro do Ministério Público com o Prefeito, com o Pároco, com os Festeiros, em diálogos diretos, em busca de solução imediata e justa – a conciliação.


        Participar da reunião da Paróquia faz estufar o peito de religiosidade e civismo. Muitos desejam e o jornalista Fernando Baracat imagina romper fronteiras tacanhas e nacionalizar os festejos, tais como o Círio de Nazaré, o Bom Jesus da Lapa, os festejos de Goiás, da Bahia e mais.  – Por que tudo é demorado para Cuiabá, como estrada de ferro (século XVIII), energia elétrica? Projetos ambiciosos existem para os festejos de São Benedito em julho próximo. Vamos ao Largo do Rosário e de São Benedito – com chão de barro batido, provisoriamente, para o cururu e siriri, e espetáculos nacionais.
 

 

                                                                               Benedito Pedro Dorileo, advogado.
                                                                          Membro do Ministério Público aposentado
                                                                          e foi reitor da UFMT

Terça, 25 Abril 2017 19:04

 

Famílias, que moram na área, são atacadas por fazendeiros desde 2004 
 
No dia 20 de abril, nove pessoas foram assassinadas em uma área rural, na gleba Taquaruçu do Norte, próximo ao Distrito de Guariba, no município de Colniza, localizada a mais de mil quilômetros de Cuiabá, capital de Mato Grosso. O município é um dos líderes no ranking de desmatamentos na Amazônia.
 
Segundo os técnicos da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) do estado, que realizaram os exames de necropsia nos corpos, algumas vítimas foram amarradas e apresentavam sinais de tortura – com golpes de facão e tiros de espingarda. São elas: Fábio Rodrigues dos Santos de 37 anos, Izaul Brito dos Santos de 50 anos, Ezequias Santos de Oliveira de 26 anos, Samuel Antônio da Cunha de 23 anos, Francisco Chaves da Silva de 56 anos, Aldo Aparecido Carlini de 50 anos, Edson Alves Antunes de 32 anos, Valmir Rangeu do Nascimento de 55 anos e Sebastião Ferreira de Souza de 57 anos, que era pastor da Assembleia de Deus. Sete vítimas são de Rondônia, uma de Mato Grosso e uma de Alagoas.
 
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), os conflitos fundiários no local ocorrem há mais de 10 anos, onde já aconteceram outros assassinatos e agressões. A CPT informou que investigações policiais feitas nos últimos anos apontaram que “os gerentes das fazendas na região comandavam uma rede de capangas, altamente armados, que usavam do terror para que a área fosse desocupada pelos pequenos produtores”.
 
Vitor Wagner de Oliveira, 1° vice-presidente da Regional Pantanal do ANDES-SN, explicou que a disputa pela terra na Amazônia Legal, entre fazendeiros e pequenos agricultores é histórica. “A disputa por terras resulta em enfrentamentos em que pistoleiros entram em ação, bancados por fazendeiros, e ameaçam e assassinam os indígenas e os pequenos produtores de terra. Sabemos que neste caso, especificamente, as pessoas estavam recebendo ameaças há muito tempo e eles resistiram até, infelizmente, essa chacina ocorrer”, disse.
 
Histórico do Conflito

Segundo a CPT, em junho de 2004, as famílias do Taquaruçu do Norte foram expulsas do assentamento por homens fortemente armados, que teriam destruído suas plantações. Na área estavam assentadas 185 famílias. O suspeito pela expulsão dizia ter comprado às terras. 
 
Na época, o Juiz de Direito da Comarca de Colniza concedeu reintegração de posse em benefício da Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt (Cooperosevelt), formada por trabalhadores rurais. Na ação, os trabalhadores argumentaram que desde o mês de outubro de 2002 possuíam a posse de uma área do Assentamento Roosevelt, a Gleba Taquaruçu do Norte, com 42.715 hectares, onde exerciam atividades agrícolas.
 
Após a decisão da Justiça, em 2007, pelo menos 10 trabalhadores foram vítimas de torturas e cárcere privado. Os responsáveis pelas violências são fazendeiros que atuam na região de Colniza, em associação com uma organização que atua especificamente na extração de madeira ilegal. Ainda em 2007, no mês de janeiro, o agricultor Gilberto Ivo da Rocha foi assassinado. Em abril do mesmo ano, mais dois agricultores foram assassinados, João Pereira de Andrade e Olivar Ferreira Melo. Os suspeitos pelas mortes são da mesma associação de pistoleiros.
 
Números da violência  
Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em colaboração com movimentos populares, apontam que em 2016 foram registrados 1.536 conflitos, envolvendo 909.843 famílias. No ano anterior, os índices respondiam por 1.217 conflitos e 816.837 famílias – resultando em um aumento de 26% no número de conflitos.
 
O relatório revela, com destaque, a elevação dos crimes contra a vida. O número de assassinatos aumentou em 22% em 2016, em relação ao ano anterior. Em 2015, 50 trabalhadores rurais foram assassinados. Já no ano passado, o número corresponde a 61 mortes. A maior parte dos assassinatos, cerca de 79%, ocorreu na Amazônia Legal, área que compreende os estados da região Norte somados ao Maranhão e Mato Grosso. Em 2006, o número de mortos era a metade, 30. A área, de grande interesse dos setores ruralistas pela potencialidade de exploração, também responde pela maior parte das tentativas de assassinatos (68%) e ameaças de morte (86%). 
 
O diretor do ANDES-SN afirmou que os números traduzem a ausência do Estado nestas aéreas. “Os conflitos acontecem em regiões que o Estado não está presente, na forma de garantir direitos básicos e segurança, ele só chega depois do ocorrido, geralmente para manter a ordem do Capital. Além disso, o isolamento dessas comunidades facilitam as ações de pistoleiros e dos seus mandatários”, explicou.
 
21 anos de impunidade
O último dia 17 desse mês, marcou os 21 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, quando 21 integrantes do Movimento Sem Terra (MST) foram assassinados após a polícia militar paraense tentar impedir uma marcha em protesto contra a demora da desapropriação de terras na rodovia PA-150. Outros 69 trabalhadores rurais foram mutilados com facões e foices. A chacina ocorreu no ano de 1996, no município de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, e ganhou repercussão nacional e internacional, ao lado do Massacre do Carandiru (1992) e da Chacina da Candelária (1993). Muitos dos envolvidos no massacre até hoje não foram punidos.
 
“O caso ocorrido no dia 20 de abril não é um caso isolado. Aconteceu de fato, assim como diversos casos emblemáticos - como exemplo o massacre de Eldorado dos Carajás -, que desnudam o que acontece no cotidiano e vem acontecendo há décadas”, lamentou o diretor do Sindicato Nacional.
 
Por fim, Vitor Wagner de Oliveira cobrou a punição dos pistoleiros e fazendeiros envolvidos na chacina em Taquaruçu do Norte. Para ele, é de extrema importância o posicionamento do ANDES-SN nesta luta e em favor da Reforma Agrária. “É papel do Sindicato, classista e combativo, estar ao lado dos movimentos sociais de luta pela terra e cobrar do Estado a Reforma Agrária de fato para garantir a defesa dessas comunidades diante dos ataques dos inúmeros ataques dos fazendeiros e seus pistoleiros. Precisamos lutar em defesa do direito a terra”, concluiu.
 
 
Saiba Mais
Governo Temer acelera agenda de medida que acaba com a reforma agrária no país

 

Fonte: ANDES-SN (com informações da CPT )

 

Terça, 25 Abril 2017 19:01

 

Mais de três mil indígenas tomaram a Esplanada dos Ministérios em manifestação contra os ataques aos direitos dos povos originários e pela demarcação de suas terras. Eles participam do Acampamento Terra Livre, na Capital Federal, que reúne lideranças de diversas etnias.

A marcha chegou ao Congresso Federal com mais de 200 caixões simbolizando o genocídio que o governo federal, junto com o Legislativo e o Judiciário, está promovendo contra os direitos da população indígena. Os caixões foram deixados no lago do Congresso como recado aos parlamentares.

Quando a manifestação se aproximou do espelho d’água em frente ao Parlamento, foi duramente reprimida pelas polícias legislativa e militar do Distrito Federal, que usaram de bombas, gás lacrimogênio, spray de pimenta e balas de borracha para dispersar a manifestação.  

Quatro indígenas foram detidos, e os manifestantes seguiram no gramado em frente ao Congresso, sob ataque da polícia, aguardando a liberação dos seus parentes. Do carro de som, as lideranças apelavam para que cessassem as bombas devido a presença de idosos, crianças e etnias que não tem contato com população urbana e também lembraram que havia sido feito um acordo com a polícia para que a manifestação ocorresse com tranquilidade. Deputados federais, representantes da Comissão de Direitos Humanos e das Minorias, tentou negociar o fim da repressão e a liberação dos detidos.

Acampamento Terra Livre
Na noite de ontem (24), aconteceu a plenária de abertura do 14º Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização indígena dos últimos anos. Mais de cem etnias estão acampadas ao lado do Teatro Nacional Claudio Santoro, na Esplanada dos Ministérios, onde permanecem até sexta (28). No espaço, foi lançado um conjunto documentos sobre a situação dos direitos indígenas no País.

A Relatoria de Direitos Humanos e Povos Indígenas da Plataforma de Direitos Humanos (Dhesca Brasil) reuniu em um só documento três relatórios: o Relatório da Missão ao Brasil da Relatora Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos dos povos indígenas, o Relatório do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) sobre a situação dos povos indígenas no sul do Brasil e o Relatório da Coalizão de defesa dos Direitos Indígenas para a Revisão Periódica Universal (RPU/ONU).

 “Apesar de termos uma constituição protetiva, ela está sob ataque, tanto do Legislativo, como do Executivo e do próprio Judiciário. Esse ataque se materializa na paralisação de demarcação de terras indígenas, na impunidade com relação aos crimes e violências de todos os tipos cometidos contra povos e comunidades indígenas e na crescente criminalização das lideranças e comunidades que resistem e lutam por seus direitos”, afirma Érika Yamada, relatora da Plataforma Dhesca. Ela avalia que há um padrão de graves violações de direitos humanos que o Estado brasileiro ainda precisa reconhecer.

Uma das questões centrais abordadas nos relatórios, todos elaborados com a participação de povos e organizações indígenas, é o forte racismo que persiste contra os indígenas no Brasil.

O cenário político do início de 2017 e as ações contrárias aos povos indígenas adotadas pelo governo Temer também são abordadas no documento, como a Portaria 80 do Ministério da Justiça, publicada em janeiro. A norma cria um Grupo Técnico Especial (GTE) na pasta para analisar os relatórios de identificação e delimitação das terras indígenas produzidos pela Fundação Nacional do Índio (Funai). A portaria foi duramente criticada por indígenas e indigenistas por criar, na prática, uma nova instância com a finalidade de dificultar as demarcações de terras.

Além destes pontos, a publicação analisa ainda a efetivação do direito de Consulta Prévia, Livre e Informada sobre projetos que afetem os povos indígenas, as políticas de saúde, educação e serviços sociais, a atuação da Funai, o acesso dos indígenas à Justiça e o as ameaças representadas por megaprojetos econômicos.

Segregação dos indígenas no Sul
“A situação que encontramos nos três estados da região Sul é muito dramática. É uma situação de confinamento, na qual nem sequer os direitos sociais mínimos, como bolsa-família, estão sendo assegurados aos indígenas. Esse confinamento se dá em locais nos quais os indígenas não tem nem sequer espaço para construir casas ou enterrar os mortos”, explica Adelar Cupsinski, assessor jurídico do Cimi e coordenador do grupo de trabalho que elaborou o relatório sobre a Região Sul.

“Esses relatórios são importantes porque são um momento em que nossa fala é mostrada, o que fortalece nossa luta. A sociedade tenta invisibilizar a nós, indígenas, todo o tempo, especialmente na região Sul, em que todo o tempo os políticos estão falando que não tem indígenas lá”, afirma Kerexu Yxatyry, liderança Guarani Mbya da Terra Indígena (TI) Morro dos Cavalos, uma das abordadas pelo relatório do CNDH.

Exemplo da situação enfrentada por vários povos indígenas do Brasil, os Guarani Mbya lutam pela demarcação de da TI Morro dos Cavalos há 24 anos. Desde 2008, os indígenas aguardam a homologação da TI, última etapa formal de reconhecimento de uma terra indígena.

“A não demarcação atrapalha todo o modo de vida Guarani, principalmente na questão do plantio, da caça e do acesso à matéria-prima para fazer nossas casas e artesanatos. De 1988 hectares, ocupamos menos de um quarto da terra indígena, um espaço bem pequeno. A maioria das casas dos indígenas estão concentradas próximas da rodovia BR-101 e as partes melhores ainda estão ocupadas por posseiros”, explica a indígena.

Recomendações ignoradas e direitos não efetivados
No relatório divulgado em setembro de 2016 a respeito de sua visita ao Brasil, ocorrida meses antes, a relatora especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, caracterizou a situação dos povos indígenas no Brasil como a mais grave desde a adoção da Constituição Federal de 1988.

Tauli-Corpuz apresentou uma série de recomendações ao Estado brasileiro para superar a grave situação que a relatora da ONU verificou durante sua passagem pelo Brasil. Um ano depois de sua visita, entretanto, nenhuma das recomendações foi cumprida, conforme denunciaram ao Alto Comissariado da ONU a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e outras 30 organizações no início de abril.

“O Brasil será sabatinado no dia 5 de maio na ONU. Como agora ele é membro do Conselho de Direitos Humanos, isso deveria forçá-lo a arcar de forma mais firme com esses compromissos. Depois da sabatina, espera-se que o governo faça uma apresentação das recomendações recebidas”, afirma Yamada.

“Olhando para o cenário político, eu vejo um cenário desesperador. É um trator passando por cima de todo o Brasil, especialmente dos indígenas. Mas, por outro lado, vejo que hoje os indígenas tomaram posse dessa questão da luta pelos direitos, como foi na década dos anos 1980 pela Constituinte. Infelizmente, hoje deveríamos estar usufruindo daquela luta do passado, mas estamos lutando para garantir que permaneçam esses direitos”, conclui Kerexu Yxatyry.

Segundo dia
Na manhã do segundo dia do acampamento Terra Livre (25), ocorreram apresentações de danças e cantos tradicionais dos mais de cem povos acampados ao lado do Teatro Nacional Claudio Santoro.

Por volta das 10h30, foram iniciados os debates com mesas temáticas que discutiram as ameaças aos direitos indígenas nos três poderes do Estado. Na segunda mesa temática, participaram membros das organizações de apoio ao ATL, que falaram principalmente sobre o papel do judiciário e do legislativo nos recentes ataques aos direitos dos povos indígenas.

À tarde, os participantes do Acampamento Terra Livre seguiram em marcha rumo ao Congresso Nacional, onde foram reprimidos pela força policial.

O Acampamento Terra Livre segue com atividades até sexta-feira (28), em Brasília (DF).

 

Fonte: ANDES-SN (com informações do CIMI e do Mídia Ninja. Fotos: Mídia Ninja)