Não é por acaso que lideranças mundiais mencionam, todos os dias, a situação do Brasil diante da Covid-19. Todos eles sabem que a extrema desigualdade social, que leva à extrema pobreza, fará um estrago sem precedentes na América Latina. Por mais que parte dos brasileiros ainda se esforce para negar a história do país, o Brasil, como um país latino, sofre os efeitos da absoluta exploração dos países de economia central e, embora seja hoje uma das dez maiores economias do mundo, sua realidade social é uma das mais desiguais, pois a riqueza produzida está muito concentrada nas mãos de poucos.
O retrato fiel dessa condição brasileira está sendo observado de perto em Cuiabá, por entidades que formam a Frente Popular em Defesa do Serviço Público e de Solidariedade ao Enfrentamento à Covid-19. O grupo está mobilizado desde o início de abril para ajudar trabalhadores em situação de vulnerabilidade na capital mato-grossense, e tem feito visitas regulares a alguns bairros, entre eles o “Terra Prometida”, na região da grande CPA.
No último sábado, 13/06, a Frente realizou atividades no referido bairro, onde os moradores se instalaram e têm vivido de acordo com a própria sorte há dez anos. “É impressionante a naturalidade com que córregos são depositados em locais sem estrutura alguma, e as pessoas vão sobrevivendo como podem, a partir da solidariedade de outras pessoas, doações, sem nenhum amparo do Estado. É isso que acontece com a América do Sul, com o Caribe, e é por isso que essa região será o epicentro da Covid-19 agora”, relata o diretor da Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat-Ssind), Aldi Nestor de Souza.
Para o docente, as contradições da disseminada riqueza brasileira estão presentes em todos os aspectos. “Do lado da avenida do CPA [um dos metros quadrados mais caros de Cuiabá], na capital do Agronegócio [ao qual atribuem importância na economia do país], há uma situação de fome e desamparo total dos trabalhadores”, relata.
Por esse motivo, as entidades que constroem a Frente defendem que a universidade pública deve ocupar o espaço e ajudar a população, oferecendo as ferramentas de pesquisa e extensão. No sábado, os trabalhadores organizados distribuíram 500 máscaras aos moradores do bairro, 80 litros sabão líquido, água sanitária e sabão em barra. Além disso, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, coletivo que pertence à Frente, realizou atendimentos médicos. “Foram 29 atendimentos completos, com aferição de pressão, dextro [exame de sangue realizado com um aparelho digital que mede a quantidade de glicose no sangue], consulta clínica e entrega de medicação”, informaram os participantes.
No Terra Prometida, como em tantos outros bairros de Cuiabá, não há asfalto, e os moradores realizam mutirão para construir casas com diversos materiais. Parte da ajuda também vem de igrejas e outras instituições não governamentais. Como o Estado tem responsabilidade, e a universidade também faz parte do aparato estatal, o representante da Adufmat-Ssind reafirma que a Universidade Federal de Mato Grosso deve compartilhar o conhecimento produzido para melhorar a vida da população de forma concreta.
“A universidade precisa estar presente nesses espaços, estar junto, ajudar. Não é ir lá uma vez e pronto. A ação, para ser efetiva, tem de se materializar nas relações que se estabelecem”, afirma o docente.
Nas visitas aos bairros, a Frente já realiza uma espécie de cadastro para acompanhamento das famílias, e informa os contatos das entidades envolvidas nas atividades. “Nós queremos saber quem são essas pessoas, de onde elas vêm, para pensar em projetos de extensão na universidade, levá-las à universidade, aproximar a universidade desse lugar”, afirmou Souza.
Vale destacar que o alerta das entidades de trabalhadores organizados sobre o aprofundamento da pobreza se deve às políticas neoliberais adotadas pelos governos brasileiros. A pandemia, entretanto, agrava o cenário, pois reafirma sobremaneira o desprezo histórico dos governantes pela população já empobrecida pelo sistema.
“No Terra Prometida tem gente de todo jeito e todos os lugares, de vários países do mundo e regiões do Brasil. Tem, inclusive, professor de Química e Biologia que fala cinco idiomas, mas não encontra emprego. De alguma forma, aquela realidade me pareceu o futuro de toda a classe trabalhadora”, avalia Souza, destacando a importância de unidade e mobilização da classe trabalhadora, para reverter a situação.
A Frente continua arrecadando alimentos e materiais de limpeza para doação:
CONTRIBUA COM DOAÇÃO DE ALIMENTOS
Ponto de Arrecadação:
Adufmat-Ssind (OCA - UFMT)
Avenida Fernando Corrêa da Costa, S/Nº, Coxipó, Cuiabá
CONTRIBUA COM DOAÇÃO DE RECURSOS
Caixa Econômica Federal
Agência: 0686 | Op.: 013
Conta Poupança: 00034474-8
CNPJ: 149120750001/53
Titular: ADUFMAT SOLIDARIEDADE COVID-19
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind