O ANDES-SN iniciou o processo de articulação para integrar a campanha de solidariedade organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), intitulada “Remédios para o Povo Cubano”. Na quinta-feira (18), em Brasília (DF), houve reunião da diretoria do Sindicato Nacional com as integrantes da coordenação nacional do MST, Ceres Hadich e Judite Santos, para tratar do tema.

A decisão de apoiar a campanha foi aprovada no 68º Conad, que ocorreu de 11 a 13 de julho, em Manaus (AM). A ação tem caráter emergencial e busca arrecadar recursos para a compra de medicamentos, insumos médicos e assistência hospitalar e envio por via aérea ao país. Somente no mês de agosto, a campanha arrecadou R$ 31 mil, o equivalente a um quarto da meta inicial. A campanha não tem prazo para acabar.
Cuba enfrenta há mais de seis décadas um duro bloqueio econômico, financeiro e de transportes dos EUA, o que impacta diretamente o acesso da população a medicamentos. Para enfrentar essa situação, o MST, em conjunto com movimentos populares, lançou a campanha de arrecadação.
De acordo com o MST, foi feita uma parceria com um laboratório para adquirir os medicamentos a preço de atacado. Entretanto, cada encomenda precisa ter um valor mínimo de R$ 200 mil. “Por isso, propomos que cada militante contribua com pelo menos R$ 200. Se mil companheiros e companheiras participarem, já poderemos enviar a primeira carga e manter essa corrente solidária ao longo do ano”, afirma o economista e fundador do MST, João Pedro Stédile.
Segundo a secretária-geral do ANDES-SN, Fernanda Maria, as representantes do MST ficaram animadas em saber que o Sindicato Nacional apoiará a campanha. “Elas agradeceram essa solidariedade tirada pela nossa categoria. Nos apresentaram, no entanto, um pouco da dificuldade que é o processo de encaminhar a medicação até Cuba, em especial por conta do bloqueio estadunidense. Isso cria dificuldades para que a gente possa enviar com maior grau de rapidez essa medicação”, explica.
Caroline Lima, 1ª vice-presidenta do ANDES-SN, informa que o encontro foi produtivo e uma nova reunião será realizada nos próximos dias com João Pedro Stédile, que é o responsável dentro do MST pelo diálogo com o governo cubano, para garantia da compra e envio dos insumos hospitalares e medicações. Após essa reunião, o ANDES-SN implementará a efetivação da resolução aprovada no 68º Conad.
Participe da Campanha!
Confira os dados para contribuição:
Instituto Cultivar
CNPJ: 11.586.301/0001-65
Caixa Econômica Federal
Chave pix: a34d8347-2a43-4ed6-b2d7-c755291bd917
Fonte: Andes-SN
Como parte da Semana Unificada de Lutas contra a reforma Administrativa, organizada pelo ANDES-SN em articulação com demais entidades do Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), ocorreu na tarde de segunda-feira (22), a mesa de debate "Os ataques às universidades públicas são ataques à democracia!".

O encontro reuniu especialistas no auditório da Associação de Docentes da Universidade de Brasília (Adunb – Seção Sindical do ANDES-SN) para discutir a crescente ofensiva da extrema direita contra as instituições de ensino superior, e sua relação com um projeto mais amplo de desmonte dos serviços públicos e fragilização do país.
Marcos Soares, 1º vice-presidente Regional São Paulo do ANDES-SN e encarregado de Relações Sindicais da entidade, ressaltou que os ataques às universidades fazem parte de uma estratégia maior. Segundo ele, essa ofensiva se expressa no desgaste da imagem das instituições, nos cortes orçamentários que comprometem sua infraestrutura e nas alterações de regras relacionadas à escolha e nomeação de reitoras e reitores.
Soares destacou que a resposta deve ser coletiva e articulada. “O combate à reforma Administrativa, à escala 6 por 1 - que precariza e adoece os trabalhadores -, aos ataques às universidades, tudo isso faz parte de uma mesma luta contra os ataques da extrema direita. Por isso, é necessário que a gente se unifique”, afirmou.
A mesa contou também com a participação de Maria Lídia, presidenta da Adunb SSind., mediadora do debate, e de Cláudia Maria Dadico, representando a Associação Juízas e Juízes para a Democracia (AJD). A magistrada aposentada também é diretora do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Agrários do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (DEMCA/MDA).

Dadico destacou o papel estratégico das universidades no desenvolvimento nacional e na inserção internacional do Brasil. Para ela, os ataques têm raízes coloniais. "Na medida em que as universidades também representam essa dimensão fundamental no sentido de permitir que o país também tenha inserção nos mecanismos globais multilaterais, ela se torna também uma ameaça a esses projetos extremistas que ao fim e ao cabo são também projetos coloniais", ressaltou.
Ela classificou a ofensiva como uma forma de "ódio ao conhecimento", que busca bloquear a pesquisa científica e manter o Brasil em uma posição de dependência e exportador de commodities.
Semana Unificada de Lutas
O debate marcou a abertura da Semana Unificada de Lutas contra a reforma Administrativa, em Brasília (DF), que segue até sexta-feira (26). A programação inclui atos, debates e reuniões organizativas. Nesta terça-feira (23), ocorreu ato no aeroporto pela manhã. Na quarta (24), está previsto um ato público às 9h em frente ao Anexo II da Câmara dos Deputados, seguido de visitas a gabinetes parlamentares e uma audiência pública na Câmara. Saiba mais sobre a programação aqui.
Clique aqui e assista ao debate na íntegra.
Fonte: Andes-SN
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
“Os nossos avós foram e são para nós exemplos de fé e de devoção, de virtudes cívicas e compromisso social, de memória e perseverança nas provações; os idosos são as primeiras testemunhas de esperança; a velhice é um tempo de bênção e de graça; a fragilidade dos idosos precisa do vigor dos jovens e a inexperiência dos jovens precisa do testemunho e exemplo dos idosos para projetar um futuro com sabedoria”. Papa Leão XIV, mensagem para o V DIA Mundial dos Avós e dos Idosos em 27 de julho de 2025.
Ontem recebi um vídeo da manifestação que ocorreu na Av. Paulista, em São Paulo, contra a PEC da Bandidagem/Blindagem, que, se aprovada, transformará o Congresso Nacional em reduto de criminosos e bandidos de todas as espécies, enquanto as demais pessoas serão cidadãos e cidadãs de segunda classe perante o sistema Judiciário brasileiro, abolindo o preceito constitucional de que “todos/todas são iguais perante a lei” e, também, um grande protesto contra o Projeto de Lei, o PL da Anistia aos golpistas do 8 de Janeiro de 2023, alguns já condenados e outros ainda a serem condenados.
Durante praticamente 10 anos, desde 2014, quando a direita e a extrema-direita tomaram as ruas e avenidas do Brasil participando das pressões que redundaram na derrubada da presidente Dilma, legitimamente eleita e reeleita pelo povo, passando pela eleição e os quatro anos terríveis do governo Bolsonaro, até o 08 de janeiro de 2023, quando da destruição da Praça dos Três Poderes, parecia que as forças de esquerda haviam desaparecido do cenário político, institucional e eleitoral do Brasil.
Todavia, parece que os ataques ao Judiciário, principalmente contra o STF e seus integrantes, e também as pressões internacionais contra a soberania nacional e a soberania popular, e ainda um Congresso Nacional que, além de extremamente conservador, quer aumentar seus privilégios, reservando para seus integrantes um sistema de proteção para todas as formas de ação, inclusive vários tipos de crimes, que ficariam longe dos tentáculos da justiça, acabaram acordando o povo que, sem medo, de forma pacífica e ordeira, demonstrou o seu desapreço e seu repúdio com os rumos e o que está acontecendo no Congresso Nacional, que, de defensor da democracia, do Estado Democrático de Direito, da soberania nacional e popular, deseja legislar para proteger interesses menores de seus integrantes, em lugar dos interesses dos eleitores que os elegeram e dos interesses e objetivos nacionais.
O Congresso Nacional, vale dizer, a maioria conservadora de direita (Centrão) e extrema-direita, há pelo menos nas três últimas legislaturas, tem se transformado em força que tem tentado ou vem tentando “emparedar” os demais poderes: o Executivo e o Judiciário, seja através do orçamento da União, ampliando absurdamente as emendas que são gastas sem a devida transparência, como o próprio orçamento secreto, e também via aprovação de PECs – Projetos de Emendas Constitucionais, enfim, afrontando o princípio da independência e harmonia entre os poderes.
Contra tudo isso, parece que, finalmente, o povo, única fonte real de poder, acordou, e sua voz começa, novamente, a ser ouvida pelos quatro cantos deste país.
Em mais de 40 cidades de médio e grande porte, incluindo as 27 capitais, ocorreram manifestações semelhantes, com dezenas ou centenas de milhares de pessoas que se manifestaram também em defesa da democracia, da soberania popular e soberania nacional, de direitos trabalhistas, resgatando a bandeira nacional e outros símbolos que há algum tempo foram “sequestrados” pela direita e extrema-direita golpistas e entreguistas.
Em lugar de bandeiras de outros países, como tem acontecido nas manifestações da direita e extrema-direita, ontem o que podia ser visto na Avenida Paulista, em São Paulo, por exemplo, foi uma grande, imensa bandeira brasileira, com o verde e amarelo tremulando, lembrando e relembrando que “o Brasil é dos brasileiros”.
A bandeira brasileira e os símbolos nacionais pertencem ao povo brasileiro e jamais podem ser sequestrados por um partido político, por uma ideologia ou por qualquer outro segmento populacional. Afinal, independentemente de nossas predileções políticas, partidárias e ideológicas, somos todos e todas brasileiros e brasileiras, jamais inimigos internos ou inimigas internas. Este é o único caminho para a pacificação nacional.
Pelas fotos, pode-se perceber que a esquerda, vale dizer, os partidos de esquerda, os movimentos sociais, as ONGs, os sindicatos, as entidades comunitárias, os estudantes, as donas de casa, os trabalhadores e trabalhadoras, finalmente acordaram e tomaram, novamente, as ruas, praças e avenidas do Brasil.
Além dessas entidades, notamos ainda a presença de muitas pessoas idosas, cujo símbolo maior foi o pronunciamento do padre Júlio Lancelotti, nascido em 27 de dezembro de 1948, ou seja, com quase 77 anos, lá estava ele, defendendo não apenas o povo, os moradores de rua, os sem teto, sem moradia, sem comida, sem saúde, sem voz e sem voto, mas também a causa do povo palestino, vítima de um verdadeiro genocídio, onde já foram mortas 65 mil pessoas e 166 mil feridas, a grande maioria, mais de 90%, crianças, jovens e idosos, enfim, população civil indefesa, além da destruição física daquele território.
Padre Júlio Lancelotti é sacerdote católico e conhecido pelo seu trabalho com a população em situação de rua e pela promoção da dignidade e dos direitos humanos fundamentais (comida, água, abrigo, moradia, trabalho, uma nova chance, enfim, dignidade humana), demonstrando, na prática, como podemos unir fé com cidadania, com ação sociotransformadora e mobilização profética.
Da mesma forma que o padre Júlio Lancelotti, que é responsável pela Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, milhares de pessoas idosas por este Brasil afora ainda lutam por um Brasil menos desigual, mais justo, democrático, soberano e sustentável, enfim, por um mundo melhor, a partir de cada território onde estamos.
Com certeza, diante de tantas ameaças que o Brasil e as instituições nacionais, principalmente os poderes Executivo e Judiciário, vêm enfrentando nos contextos interno e internacional, a mobilização popular é o único caminho para fortalecer as instituições nacionais, a democracia e eleger um presidente da República, governadores, Congresso Nacional e parlamentos estaduais que estejam realmente à altura das aspirações, dos interesses e dos objetivos do povo brasileiro, em que a política, a ética e a justiça, principalmente a justiça social, estejam umbilicalmente interligadas.
Finalizando, gostaria de destacar uma das primeiras mensagens do Papa Leão XIV sobre alguns dos desafios da atualidade: “A guerra e todas as formas de violência nunca são inevitáveis, as armas podem e devem silenciar, porque não resolvem os problemas, mas os aumentam; pois entrará para a história quem semeia a paz, não quem provoca vítimas; porque os outros não são inimigos a serem odiados, mas seres humanos com os quais devemos dialogar”. Papa Leão XIV.
Este foi e sempre será o sentido e o significado do povo ocupando as ruas, praças e avenidas do Brasil inteiro, pavimentando o caminho das urnas em 2026.
*Juacy da Silva, 83 anos, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy
A Adufmat - Seção Sindical do ANDES Sindicato Nacional, representante legítima da categoria docente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que, em 2025, completa 47 anos de luta em defesa da UFMT e da educação pública, gratuita e de qualidade, vem a público manifestar posição da categoria sobre as propostas de desmembramento do campus universitário de Sinop.
No último período, tomamos conhecimento de algumas propostas que visam a separação do campus de Sinop e do campus do Araguaia da estrutura institucional da UFMT. Todas as propostas tomaram a comunidade universitária com espanto, dado que nenhuma delas foi elaborada ou discutida junto à comunidade antes de ser submetida ao Legislativo Federal. A mais recente das propostas a ganhar notoriedade foi a apresentada pelo PL 4812/2020, do senador Carlos Fávaro (PSD/MT), hoje ministro da Agricultura, que “autoriza a criação da Universidade Federal do Nortão de Mato Grosso”. Recentemente, o PL foi objeto de discussão e deliberação na Comissão de Educação do Senado Federal e o parecer, que indica que o Executivo Federal delibere sobre a matéria, foi aprovado nessa ocasião.
Na mesma semana em que o tema foi discutido no Senado, a Adufmat-Ssind realizou uma reunião com a Reitoria da UFMT e uma Assembleia Geral, espaço deliberativo máximo da categoria, ambas com o tema do desmembramento. Nas duas ocasiões, tanto a Diretoria da Adufmat-Ssind quanto a categoria docente da base manifestaram preocupação pelo caráter das propostas apresentadas, e da proposta específica que havia sido votada pela Comissão de Educação do Senado. Todas elas foram elaboradas sem quaisquer movimentos de consulta ou debate democrático junto à comunidade acadêmica. Vale lembrar que a criação ou extinção de campus universitário é de prerrogativa dos conselhos superiores da UFMT, por meio das suas representações legitimamente eleitas nas bases. Isso significa que quaisquer mudanças que venham a ser feitas na estrutura da UFMT são de interesse de toda a comunidade docente, discente e de técnicos(as)-administrativos(as).
Os e as docentes da UFMT, reunidos em assembleia no dia 19/09, indicaram frontal contrariedade ao processo de desmembramento que se planeja pôr em curso, sob uma ideia enganadora de “emancipação”, por entender que não apenas ela não cumpre os requisitos do debate democrático com toda a comunidade, como exposto acima, mas também por se tratar de proposta construída de fora para dentro, expressando fundamentalmente os interesses do setor empresarial, em especial do Agronegócio, via entidades privadas que, ao legislar de fora para dentro sobre os destinos da UFMT, violam a autonomia universitária, desrespeitam toda a comunidade acadêmica e a sociedade que dizem querer representar - quando, na verdade, representam apenas seus próprios interesses econômicos.
O desmembramento de um campus universitário para conversão em universidade é um processo longo e que demanda um debate aprofundado sobre as vantagens e riscos dessa ação, no que diz respeito à garantia da sua estrutura administrativa, de ensino, pesquisa e extensão, da sua segurança orçamentária e patrimonial, do estatuto legal dos seus trabalhadores, etc. Uma canetada não converte um campus em uma universidade - no máximo, fragiliza toda uma comunidade que se vê invadida e desrespeitada pelo interesse daqueles que querem apenas “uma universidade para chamar de sua”, para atender aos seus interesses econômicos de lucrar sobre o que é público, para desvirtuar a função social daquilo que eles veem apenas como “lugar para fazer negócios”.
Além disso, a diretoria da Adufmat-Ssind registra seu repúdio às movimentações espúrias de representantes do Poder Público e do setor empresarial que, pela via da ameaça velada ou explícita, ou de declarações que mostram uma suposta “preocupação” com a sociedade sinopense, defendem ferrenhamente a consecução dessa proposta antidemocrática de desmembrar a qualquer custo. A Adufmat-Ssind defende a necessidade de um amplo debate sobre que projeto de universidade nós queremos e defendemos, e qual projeto de multicampia deve fazer parte dessa concepção; defende que o tema da multicampia, ou seja, da coexistência administrativa, pedagógica e científica entre os campi, seja ponto central de pauta dos debates da UFMT no próximo período, inclusive na realização da Assembleia Universitária de 2025 e suas etapas preparatórias.
Não aceitaremos que os interesses econômicos de uma pequena elite que tem aversão ao que é público invadam a autonomia universitária e tentem exercer controle autoritário sobre os destinos da UFMT. A UFMT é um valorosa instituição pública, com 55 anos de produção de ciência, educação, cultura, política, e não está à venda aos interesses privados. Os rumos da UFMT, quem decide é sua comunidade, em diálogo franco, amplo e democrático com a sociedade mato-grossense. Seguiremos firmes em defesa da UFMT, em diversidade, em sua complexa e necessária multicampia, em sua totalidade!
Mato Grosso, 24 de setembro de 2025
Diretoria da Adufmat-Ssind
Gestão “Adufmat é pra lutar!”
Milhares de pessoas saíram às ruas em diversas cidades do Brasil, nesse domingo (21), para protestar contra a chamada "PEC da Blindagem" e a proposta de anistia às condenadas e aos condenados pela tentativa de golpe que culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023, em Brasília (DF).
As manifestações, convocadas por movimentos sociais, estudantis, sindicais, populares, partidos de esquerda, centrais sindicais e artistas, ocorreram sob o mote "Congresso Inimigo do Povo" e foram registradas em mais de 33 cidades brasileiras, incluindo todas as 27 capitais, com shows e apresentações musicais. Além de repudiar a PEC e a proposta de anistia, as e os manifestantes exigiram ainda a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, entre outros crimes.
O ANDES-SN esteve presente nos atos em Brasília e em vários outros estados, reforçando a luta contra os ataques à democracia e aos direitos da classe trabalhadora. Na capital federal, milhares de pessoas se reuniram na Esplanada dos Ministérios, em um dos principais protestos do país.
Em São Paulo, segundo o Monitor do Debate Político, da Universidade de São Paulo (USP), 43 mil pessoas participaram da manifestação na Avenida Paulista. Já no Rio de Janeiro, 42 mil ocuparam a orla de Copacabana.
Na cidade de Salvador (BA), milhares de pessoas se concentraram na Barra. Em Belo Horizonte (MG), uma multidão ocupou a Praça Raul Soares. Outras capitais com atos registrados foram Natal (RN), Fortaleza (CE), Recife (PE), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Cuiabá (MT), Manaus (AM), Belém (PA), Teresina (PI) e Florianópolis (SC).
Em João Pessoa (PB), as e os manifestantes direcionaram palavras de ordem ao presidente da Câmara, o deputado paraibano Hugo Motta. Brasileiras e brasileiros no exterior também protestaram em cidades como Lisboa (PT), Londres (UK), Paris (FR) e Berlim (DE).
Imagem de drone do ato em Cuiabá
Motivação
As manifestações foram uma resposta direta a duas recentes decisões da Câmara dos Deputados. Na terça-feira (16), foi aprovada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 3 de 2021, apelidada de "PEC da Blindagem" ou "PEC da Bandidagem". A medida, que ainda precisa ser aprovada pelo Senado, torna quase nulos os caminhos para punir judicialmente congressistas, permitindo prisão apenas em flagrante de crimes inafiançáveis e condicionada à autorização da respectiva Casa Legislativa.
No dia seguinte, quarta-feira (17), foi aprovado o regime de urgência para o Projeto de Lei (PL) 2162/23, de autoria do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), que propõe anistiar as envolvidas e os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Com a urgência, o projeto pode ser votado diretamente no Plenário, sem análise das comissões.
Avaliação
Caroline Lima, 1ª vice-presidenta do Sindicato Nacional, presente no ato em Brasília, destacou a importância da mobilização popular diante dos retrocessos.
“Nós, do ANDES Sindicato Nacional, nunca saímos das lutas e das ruas. Hoje, nessa conjuntura marcada por golpes, por tentativa de anistiar golpistas, estamos em Brasília, e em todo o país, dizendo basta! Basta para o centrão e à extrema direita que querem golpear o nosso povo. A classe trabalhadora não permitirá que a PEC da Blindagem ou a anistia de golpista avance. Fascistas não passarão. Nosso lugar é nas ruas contra a extrema direita. Vamos fazer como a Revolta dos Malês, como a Cabanagem, como Canudos: é a insurgência popular já!”, disse.
Já Cláudio Mendonça, presidente do ANDES-SN, ressaltou o significado das manifestações em um momento em que o Congresso Nacional ataca os direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores e o serviço público, reforçando a centralidade da mobilização popular. Ele também reforçou a disposição da diretoria nacional do sindicato, que suspendeu sua reunião de trabalho para se somar à construção dos atos.
“Este ato tem um significado fundamental. Enquanto o Congresso, inimigo do povo, aprova medidas que atacam os direitos dos trabalhadores e tenta aprovar a reforma Administrativa, que quer destruir o serviço público, nós, lutadores e lutadoras, estamos mobilizando a categoria. Compreendemos que somente com muita mobilização e luta derrotaremos esse Congresso inimigo do povo. Estamos nas ruas e nas lutas contra o Congresso, com firmeza e convicção de que iremos derrotar a extrema direita. Vamos à luta, sem anistia aos golpistas”, finalizou.
Fonte: Andes-SN (com informações de Agência Brasil de Notícias e da Adufmat-Ssind) | Fotos: Eline Luz/Imprensa ANDES-SN
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Juacy da Silva*
“Propomos definir o pecado ecológico como uma ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade e o meio ambiente. É um pecado contra as gerações futuras e se manifesta em atos e hábitos de contaminação e destruição da harmonia do ambiente, em transgressões contra os princípios da interdependência e na ruptura das redes de solidariedade entre as criaturas e contra a virtude da justiça”. Fonte: Documento Final do Sínodo dos Bispos da Amazônia, matéria publicada por Elisangela Cavalheiro, em 30/01/2024 no Portal A12.
Bom dia, amigas e amigos, ótimo, abençoado e feliz domingo, 21 de setembro, DIA DA ÁRVORE e amanhã, 22 de setembro, é o início da primavera no Hemisfério Sul (Brasil, América do Sul, boa parte da África e vários outros países) e o início do outono no Hemisfério Norte (Europa, EUA, Canadá e outros países).
A primavera representa o fim de um verão cada vez mais escaldante, de poucas chuvas, baixa umidade do ar, que afetam tremendamente a saúde humana, mas também o mês das flores, do verde, da renovação da vida, da esperança, principalmente para o meio ambiente, para a ecologia integral, um melhor cuidado com o Planeta, a nossa Casa Comum, ou seja, um tempo benfazejo.
E por estarmos no ANO DO JUBILEU, convocado pelo Papa Francisco, que ao longo de seus 12 anos de magistério nos deixou um rico legado de exortações quanto à degradação dos biomas e ecossistemas, à necessidade de a Igreja ser e estar sempre em saída, no espírito da sinodalidade e do profetismo, para caminhar junto com os pobres, oprimidos e excluídos, os mais afetados pelas consequências da degradação ambiental e da crise climática.
Sempre é bom recordarmos que o tema do Jubileu de 2025 é PEREGRINOS DA ESPERANÇA, que deve representar um período especial de graça e renovação espiritual em todas as dimensões da vida humana, inclusive na caminhada ecológica da Igreja, representada pelos fiéis e também pela hierarquia eclesiástica, principalmente quando, por coincidência, estamos também celebrando o TEMPO DA CRIAÇÃO, representado por tantas obras da natureza e da humanidade. Isto deve nos iluminar para percebermos que precisamos construir uma harmonia total entre os seres humanos e destes com a natureza.
Quanto às celebrações do DIA DA ÁRVORE, não basta apenas plantarmos umas poucas mudinhas em diferentes locais, principalmente onde houver visibilidade, para fotografarmos e compartilharmos nas diferentes redes sociais com nossos contatos, como tanto gostam de fazer nossos governantes.
O importante é também refletirmos sobre a destruição que temos assistido de imensas áreas de florestas, a extração ilegal de madeira, a contaminação por mercúrio e agrotóxicos, o desmatamento e as queimadas, legais ou ilegais, de milhões de hectares e BILHÕES DE ÁRVORES, de forma irracional, transformando essas áreas em terras degradadas, como tem acontecido em todos os biomas brasileiros, principalmente no CERRADO, na AMAZÔNIA LEGAL e no PANTANAL.
Apenas para “refrescar” nossa memória e aquilatarmos o tamanho desta destruição, basta mencionar que em 2023 o desmatamento e as queimadas no CERRADO atingiram mais de 1,1 milhão de hectares, o que corresponde a 750 MILHÕES DE ÁRVORES.
Entre 1985 e 2023, o desmatamento e as queimadas no Cerrado destruíram 38 milhões de hectares, o que representa 27% da perda de toda a cobertura vegetal originária deste bioma e uma perda significativa de sua biodiversidade vegetal e animal, além de afetar todas as nascentes que formam os rios que alimentam tanto a Bacia Amazônica quanto a do Paraguai/Paraná, do São Francisco e do Parnaíba, inclusive os aquíferos que estão nesta vasta região.
Em termos de árvores destruídas, é algo extremamente gigantesco. Em quatro décadas este bioma “perdeu” nada menos do que 24,7 BILHÕES DE ÁRVORES.
É fundamental também que se diga que em 2023 o desmatamento e as queimadas que destruíram boa parte do Cerrado representaram um aumento de 68% em relação ao ano anterior e que esta destruição superou as perdas registradas na Amazônia.
Quanto à Amazônia, mesmo que tenha havido uma queda significativa em relação às décadas anteriores, mesmo assim o desmatamento e as queimadas devoraram 515 mil hectares, o que representa a destruição de aproximadamente 335 MILHÕES DE ÁRVORES.
Todavia, apesar desta “queda” no desmatamento e queimadas, na Amazônia Legal, no período de 1984 até 2023, ou seja, em 39 anos, foram destruídos 12,7 milhões de hectares de florestas nativas. Isto é algo assustador, pois representa 8,3 BILHÕES DE ÁRVORES destruídas e, pior ainda, boa parte deste vasto território teve os solos degradados, não se prestando mais para qualquer uso produtivo.
Já em relação ao nosso PANTANAL, considerado pela nossa Constituição, juntamente com a Amazônia, como Patrimônio Nacional, estabelecendo que, enquanto tais, devem ser preservados e cuidados, pelo respeito que devemos ter para que as presentes e, principalmente, as futuras gerações possam desfrutar de um meio ambiente saudável e sustentável.
Apesar de toda esta preocupação dos Constituintes em 1988, o Pantanal, nos últimos trinta ou quarenta anos, tem experimentado um aumento e agravamento do desmatamento e das queimadas e a redução significativa do volume de suas águas. Mesmo com uma redução significativa, em 2023 foram destruídos por desmatamento e queimadas uma área de 21 mil hectares, ou seja, 13,7 MILHÕES DE ÁRVORES desapareceram neste bioma que, pela sua exuberância, também é considerado pela UNESCO como PATRIMÔNIO NATURAL DA HUMANIDADE e não apenas patrimônio brasileiro.
Para compreendermos melhor a dinâmica da destruição, seja de forma legal ou ilegal ou por queimadas, é bom que vejamos qual o tamanho desta destruição nas últimas quatro décadas.
Entre 1985 até 2023, nada menos do que 1,8 milhão de hectares do Pantanal foram destruídos, sendo que em algumas regiões as queimadas atingiram áreas de uma forma totalmente devastadora, ocasionando também a degradação total das mesmas. Quando traduzimos esta destruição em relação ao total de árvores que desapareceram, chegamos a um número também absurdo. Em 39 anos foram destruídas 1,17 BILHÕES DE ÁRVORES que sumiram deste bioma, que, pela sua dimensão, corre o risco de desaparecer totalmente em algumas décadas, tanto pelo desmatamento e queimadas quanto por outros fatores como a destruição e degradação de todos os cursos d’água, como rios e córregos que alimentam o Pantanal e formam a Bacia Paraguai/Paraná.
Assim, quando estamos celebrando o TEMPO DA CRIAÇÃO, o DIA DA ÁRVORE e também o início da primavera em nosso país, plantando algumas mudinhas de árvores, como em Cuiabá, que há anos vem sofrendo perda de sua cobertura vegetal urbana, substituindo árvores por concreto, de outrora quando recebia a alcunha de CIDADE VERDE, para hoje que nem mesmo o PDAU (Plano Diretor de Arborização Urbana) tem, apesar de a cada ano experimentarmos temperaturas mais escaldantes, é imperioso termos uma visão crítica sobre a questão da falta de arborização urbana e também a gravidade das perdas que já ocorreram pelo desmatamento e queimadas sem controle ao longo das últimas quatro décadas em todos os biomas e ecossistemas.
Resumindo, nessas últimas quatro décadas a soma das áreas que foram desmatadas e queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal chega a 52,5 milhões de hectares e 34,2 BILHÕES DE ÁRVORES, que simplesmente desapareceram nesses territórios. Convenhamos: algo que deveria nos preocupar quanto ao presente e também quanto ao futuro, nos contextos da COP30, da justiça climática, justiça social, justiça intergeracional e dos DIREITOS HUMANOS.
Oxalá, este DIA DA ÁRVORE, do início da primavera, da mesma forma que o DIA DAS FLORESTAS, dos RIOS e de todos os biomas brasileiros, nos imponha a necessidade de buscarmos soluções para os nossos grandes desafios socioambientais, tanto no Brasil quanto nos territórios de cada bioma e ecossistema, presentes em cada território.
Os desafios socioambientais em Mato Grosso, principalmente para a Igreja Católica e as demais Igrejas Cristãs e outras religiões, são muito maiores do que em outros estados, tendo em vista que em nosso território estão presentes a Amazônia Legal, o Cerrado e o Pantanal. Por coincidência ou não, os três biomas são os que têm sido mais devastados e destruídos nas últimas décadas.
Para a doutrina da Igreja Católica, a OMISSÃO é um pecado, e a OMISSÃO diante da destruição da natureza, da ecologia integral, é um PECADO ECOLÓGICO, mais uma razão para assumirmos nossas responsabilidades como católicos, católicas, cristãos e cristãs.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, Sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy
Em assembleia geral realizada na última sexta-feira, 19/09, docentes sindicalizados a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso - Adufmat-Seção Sindical do Andes Sindicato Nacional debateram e encaminharam ações sobre as tentativas de imposição de desmembramento dos campi de Sinop e Araguaia. A assembleia, que contou com a participação da reitora Marluce Souza e Silva, explicitou que a comunidade acadêmica não partilha da proposta e, muito pelo contrário, teme o que pode ocorrer se esses desmembramentos forem efetivados da forma como estão sendo incentivados.
A plenária começou, como de costume, com os informes. Pela Diretoria, o professor Breno Santos falou sobre a semana de mobilização em Brasília, entre 22 e 26/09 contra a ameaça de votação de uma proposta de Reforma Administrativa (confira aqui a agenda completa). Os professores Einstein Aguiar, Maria Luzinete Vanzeler e José Domingues de Godoi Filho representarão o sindicato. Santos falou também sobre a abertura do processo de contratação de profissional de Comunicação (veja aqui), a denúncia de inefetividade das nomeações por cotas na UFMT (leia aqui) e convidou a categoria para o ato contra a PEC da blindagem (número 03/2021, assinada pelo deputado Celso Sabino - PSDB/PA), o Projeto de Lei que concede anistia àqueles que atentaram contra o Estado Democrático de Direito (PL 5064/23, assinado pelo senador Hamilton Mourão - Republicanos/RS), e a ameaça de votação de uma nova proposta neoliberal de Reforma Administrativa, que em Cuiabá ocorreu pela manhã, na Praça Cultural do CPA II – bairro popular localizado na região norte da capital mato-grossense.
Pelo Grupo de Trabalho Política e Formação Sindical (GTPFS), a professora Irenilda Santos fez um informe qualificado sobre a reunião nacional realizada no início do mês, cujos principais debates foram sobre a questão da Palestina e a nova ameaça de aprovação de Reforma Administrativa.
O professor Aldi Nestor de Souza lembrou que, no dia 19/09, o Brasil comemora o nascimento de Paulo Freire, patrono da educação brasileira e um pernambucano cujas ideias continuam incomodando o capital mesmo quase 30 anos após sua morte. O docente também compartilhou a experiência que viveu ministrando aulas para um curso no Centro de Formação e Pesquisa Olga Benário Prestes (Cecap-MT). “Na maior parte do tempo, nós costumamos trabalhar somente teoria na sala de aula. Foi a primeira vez que eu ministrei um curso para detentores dos meios de produção, pessoas que têm um pedaço de terra, produzem ali e vivem dessa produção. Quando a gente pega uma turma que aplica a teoria, é sensacional. Só me fez perceber mesmo que o que nós temos que fazer, enquanto trabalhadores, é tomar os meios de produção”, afirmou.
O estudante da UFMT, Alexandre Peixoto, informou aos presentes que está empenhando esforço pessoal em campanha para salvar o bosque que fica ao lado do Museu de Arte e Cultura Popular (Macp) e do Cine Coxiponés.
Por fim, a professora Marluce Souza e Silva falou sobre a reforma em andamento do prédio que abriga os institutos de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) e Geografia, História e Documentação (IGHD), entre outras obras que ficaram cerca de 12 anos paradas na UFMT e foram retomadas.
Seguindo a máxima de que quem erra na análise de conjuntura, erra na tática e na ação, teve início o segundo ponto de pauta da assembleia. A análise de conjuntura foi bastante ampla, mas boa parte das intervenções girou em torno das movimentações mais recentes do Congresso Nacional que, tomado pela extrema-direita, tenta aprofundar ainda mais a pauta neoliberal, removendo direitos e abrindo mais espaço para os interesses econômicos particulares; a grande questão do debate, no entanto, foi como organizar a classe para responder a esses ataques.
“Está comprovado que qualquer esperança no governo de conciliação no Brasil já está fracassada. Estamos vivendo uma ofensiva brutal ao fundo público e aos direitos sociais, tudo rapidamente, em regime de urgência, enquanto nós enfrentamos a desmobilização por conta da rotina cada vez mais massacrante. Precisamos retomar o processo de reorganização da classe e os atos convocados para o domingo serão essenciais para isso”, afirmou o diretor geral da Adufmat-Ssind, Breno Santos.
A professora Lélica Lacerda concordou, acrescentando que a conjuntura, após a condenação dos golpistas, apresenta um cenário ainda mais polarizado. “O povo não se identifica mais com o Congresso e nós estamos diante de duas narrativas: uma que o considera um espaço desnecessário, que pode fechar - o que facilita uma postura ditatorial -, e uma segunda leitura, que seria a tomada desse espaço pelos trabalhadores. Para onde nós vamos? Precisamos superar o processo de cooptação da classe, porque as alternativas são ou neocolonialismo ou socialismo”, afirmou.
O professor Juliano Santos, de Sinop, também falou do esvaziamento dos espaços de luta, e da abertura da própria universidade para a lógica do mercado, além da influência concreta de organizações privadas.
Dialogar com a população sobre os efeitos concretos das investidas neoliberais no cotidiano, e também com a própria comunidade acadêmica da UFMT - que tem se deixado mover pela lógica mercadológica - foram as principais ações apontadas durante as intervenções.
Sobre a proposta de desmembramento dos campi da UFMT, especialmente o de Sinop, cujo projeto caminhou na última semana (saiba mais aqui), o diretor-geral do sindicato começou falando que o encaminhamento do projeto do senador Carlos Fávaro causou preocupação, mas não exatamente surpresa, e prosseguiu afirmando que o texto não representa a vontade da comunidade.
Os professores da UFMT em Sinop repetiram que não houve diálogo, que a administração local se utiliza da relação contaminada com a Reitoria para fazer campanha pelo desmembramento como se fosse a única solução possível, e que está evidente que os interesses de grupos privados têm impulsionado a ideia de separação.
Causou surpresa a intervenção da atual reitora, que afirmou participar da assembleia na qualidade de docente sindicalizada. Ela fez ponderações acerca do pavor gerado no campus após andamento do projeto de lei, afirmando que, mesmo com a propaganda, um eventual desmembramento não deve ser tão simples, nem do ponto de vista econômico, nem do político e nem do jurídico. Segundo a docente, apesar das tratativas internas de 2008, que transformaram o Centro Pedagógico do Norte Mato-grossense em campus e a diretoria local em Pró-reitoria, não é esse o entendimento do próprio Ministério da Educação (MEC). “Nós estamos preparando um relatório para desconstruir toda a narrativa criada em Sinop: vamos comprovar que o campus foi o mais beneficiado nos últimos anos e que suas fragilidades não são causadas pela administração de Cuiabá. Além disso, nós temos resposta do MEC de que não está autorizada a criação de nenhuma universidade esse ano. Pode mudar em 2026? Sim, mas, até do ponto de vista jurídico, não me parece que seja um processo tão simples”, afirmou a reitora, se comprometendo a compartilhar amplamente o documento assim que finalizado.
Após longo debate, concluindo que refletir sobre multicampia é refletir sobre o próprio futuro da universidade, os presentes encaminharam: pautar a multicampia a partir de outubro, nos debates preparatórios para a assembleia universitária que marcará os 55 anos da UFMT; atualizar os dados e fazer circular o documento elaborado pelo Grupo de Trabalho Multicampia e Fronteiras da Adufmat-Ssind (leia aqui); levar esse debate, juntamente com os dados levantados pela administração e pelo próprio GT para eventos presenciais também nos campi de Sinop e Araguaia; realizar uma assembleia da Adufmat-Ssind em Sinop na segunda quinzena de outubro, com a presença de docentes de Cuiabá, Várzea Grande e do Araguaia; estabelecer parceria entre o GT Multicampia e Fronteiras e Reitoria para elaboração da Resolução de Multicampia (que ainda não existe na UFMT); solicitar à administração da universidade que reforce o pedido de publicização das agendas das representações dos campi junto a políticos, para identificar eventuais solicitações de desmembramento à revelia da comunidade.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Juacy da Silva*
Ao publicar a Encíclica Laudato Si, em 24 de maio de 2015, ou seja, há dez anos, o Papa Francisco, utilizando o método da Igreja: VER, JULGAR/CELEBRAR e AGIR, pontuou diversos aspectos importantes quando se debruçou sobre a saúde do planeta, os direitos da natureza, a justiça social, a justiça climática e a justiça intergeracional. Assim, ele destacou alguns aspectos que estão diretamente relacionados com a questão da LIMPEZA, seja no plano individual ou doméstico e também da limpeza dos biomas, ecossistemas, enfim, a importância da limpeza como base da sustentabilidade, particularmente as questões da água, do saneamento básico e do lixo/resíduos sólidos.
Vejamos o que nos dizia Francisco há dez anos:
“A terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito de lixo” (LS 21);
“Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades” (LS 5);
“Estes problemas estão intimamente ligados à cultura do descarte, que afeta tanto os seres humanos, os excluídos, como as coisas que se convertem rapidamente em lixo” (LS 22).
Em relação à questão da água na Encíclica Laudato Si (LS), ele nos exorta textualmente:
“A água potável e limpa constitui uma questão de primordial importância, porque é indispensável para a vida humana e para sustentar os ecossistemas terrestres e aquáticos” (LS 28);
“Um problema particularmente sério é o da qualidade da água disponível para os pobres, que diariamente ceifa muitas vidas. Entre os pobres são frequentes as doenças relacionadas com a água, incluindo as causadas por micro-organismos e substâncias químicas” (LS 29).
Também o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, em novembro de 2024, numa mensagem de vídeo dirigida aos negociadores na Coreia do Sul, durante o evento para buscar um acordo histórico contra a poluição plástica (que, lamentavelmente, até os dias de hoje os países não chegaram a um acordo), disse textualmente que “até 2050 os oceanos poderão ter mais plástico do que peixes”, uma projeção baseada em estudos que indicam o aumento da poluição plástica e sua acumulação nos mares, lagos, rios e córregos do mundo todo, afetando a vida desses sistemas, particularmente a vida marinha e a saúde humana.
Desde 1992, quando a ONU aprovou a criação do Dia Mundial da Água, passando pelo Dia Mundial da Limpeza (World Cleanup Day), que surgiu na Estônia em 2028, a preocupação com a questão do lixo, dos resíduos sólidos, com o saneamento básico e a qualidade do ar e da água, principalmente para consumo humano, tem estado na “ordem do dia”, tanto das “celebrações” de diversos organismos internacionais quanto na agenda das discussões públicas em praticamente todos os países.
Aqui cabe um destaque quando se diz que água não pode ser considerada apenas um bem a ser comercializado pelo mercado visando ao lucro a ser acumulado por algumas pessoas em detrimento de bilhões de pessoas; mas um direito humano fundamental, da mesma forma que os alimentos e a moradia digna.
Assim, diante desses desafios que afetam diretamente a qualidade de vida, da saúde e do bem-estar das populações, principalmente de grandes camadas populacionais de pobres, excluídos e moradores das periferias de todas as cidades, e também de bilhões de “esquecidos” que moram no meio rural, não podemos mais nos omitir, “racionalizando” esta triste realidade como algo “normal”, que faz parte do processo de “desenvolvimento” mundial e nacional.
Para colocar este tema e esses desafios na agenda das discussões públicas e não apenas nos discursos demagógicos e manipuladores das elites dominantes e dos donos do poder, foi escolhido o terceiro sábado de cada ano, que, em 2025, é 20 de setembro, como o DIA MUNDIAL DA LIMPEZA.
Limpeza de nossas casas, de nossos quintais, de nossas comunidades, de nossos córregos, de nossos rios, dos mares e oceanos, de nossas praias e nossas cidades. É superimportante que possamos refletir, dialogar e não apenas fazermos nossa parte diante desses desafios, mas também exigir que nossos governantes deixem de se preocupar com seus privilégios, suas mutretas e pensem, de forma séria, na definição e implementação de políticas públicas que resolvam de forma rápida tais desafios e problemas que afetam mais de 2,5 bilhões de pessoas ao redor do mundo e mais de 110 milhões de pessoas em nosso Brasil.
Defender a democracia, defender o Estado Democrático de Direito, defender a soberania popular e a soberania nacional não pode ser apenas meros slogans, mas sim, definir e implementar políticas públicas, inclusive um amplo programa de educação ambiental crítica ou revolucionária, que possibilitem tanto o despertar da consciência ecológica, do cuidado com o planeta, nossa Casa Comum, quanto, em seus resultados, melhorem de fato as condições de vida da população, principalmente das grandes massas de excluídos, explorados, injustiçados, desrespeitados em seus direitos fundamentais como pessoas humanas, por meio de novos paradigmas que promovam mudanças e transformações profundas nos sistemas produtivos, nas relações políticas e, também, nas relações de trabalho e de consumo.
Sempre é bom refletirmos sobre dados concretos da realidade, tanto mundial quanto de nosso país, para percebermos a gravidade da falta de cuidado, no que tange, por exemplo, às consequências do descaso com questões ambientais importantes como a limpeza das águas, dos solos, em cada pedaço deste território planetário, como já mencionado.
De acordo com estatísticas oficiais de organismos internacionais (ONU), em 2024, mais de 3,4 bilhões de pessoas não tinham coleta e tratamento de esgoto e 2,2 bilhões de pessoas não tinham acesso à água tratada; 2,7 bilhões de pessoas não tinham acesso à coleta regular de lixo, sendo que dessas, em torno de 2 bilhões moravam em áreas rurais e 700 milhões nas periferias urbanas.
O resultado, muito claro, além da degradação do meio ambiente, ou seja, da natureza, como degradação dos solos, das águas e do ar, também tem consequências severas para a saúde humana — saúde individual e também saúde pública —, inclusive agravando a precariedade da falta de recursos públicos orçamentários para atender a bilhões de pessoas que diuturnamente buscam por cuidados médicos, hospitalares, ambulatoriais, além de milhões e milhões de mortes e muito sofrimento.
O número de mortes causadas no mundo em 2024, por falta de saneamento básico, foi de aproximadamente entre 1,4 milhão a 2,5 milhões de pessoas, sendo que dessas, mais de 70% eram crianças com menos de 5 anos, o que demonstra o tamanho do sofrimento para tantas famílias.
A poluição do ar, causada pelo descaso com o lixo e outros poluentes, em 2026 causou a morte de aproximadamente 1,2 milhão de pessoas por infecções do sistema respiratório.
Para o leitor menos avisado, provavelmente pode parecer: “Ah, isto é uma realidade distante, de países extremamente pobres da África, Ásia ou Oceania, e isto jamais vai me afetar no Brasil”, e por isso “não estou nem aí”.
Todavia, como resposta, invoco novamente as sábias palavras do Papa Francisco quando ele dizia:
“Tudo está interligado nesta Casa Comum, o Planeta Terra”, e mais, que não existem duas crises separadas — de um lado uma crise ambiental (da natureza) e de outro uma crise política, social e econômica —, mas sim, apenas uma complexa crise socioambiental que, para sua solução, requer medidas também complexas, integradas e “em regime” de urgência.
Tal como o nosso Congresso acaba de aprovar para a anistia dos golpistas do 8 de janeiro e da “PEC da Blindagem”, aumentando seus privilégios e status de cidadãos de primeira classe, enquanto o resto da população continuará sendo tratada como “cidadãos e cidadãs” de segunda classe perante o sistema judiciário brasileiro.
No Brasil, em 2024, na área urbana, nada menos do que 20,8 milhões de pessoas não tinham coleta regular de lixo, e mais de 25 milhões de habitantes rurais também não tinham acesso a este serviço público, ou seja, totalizando 45,8 milhões de pessoas. Além disso, praticamente metade dos municípios brasileiros não tem uma destinação correta do lixo coletado e menos de 10% do lixo coletado é reciclado, indicando alto índice de degradação ambiental por resíduos nocivos à saúde humana e uma perda bilionária de recursos financeiros.
Em torno de 110 milhões de pessoas não têm coleta e tratamento de esgoto, sendo comum, inclusive em inúmeras capitais e cidades de médio e grande porte ou até mesmo regiões metropolitanas de regiões consideradas ricas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e outras mais, esgotos escorrendo pelas ruas, populações “morando” ao lado de córregos, palafitas ou valões transformados em esgotos a céu aberto.
Mais de 15 milhões de pessoas que vivem nas áreas urbanas, principalmente nas periferias, também não têm acesso à água tratada e de qualidade — condição básica para limpeza e higiene doméstica, necessária para a saúde dessas famílias. E no meio rural, a população continua à mercê do uso de água contaminada por agrotóxicos, mercúrio de garimpos e outras formas de poluição.
A degradação ambiental também provoca centenas de milhares de atendimentos médicos, hospitalares e ambulatoriais. Relatórios recentes indicam que anualmente entre 50 a 80 mil mortes têm como causa a poluição do ar — número muito maior do que as mortes por assassinatos, feminicídios, acidentes de trabalho e de trânsito —, mas que não causam tanta consternação, seja por parte das autoridades, seja por parte da população em geral.
A falta de saneamento e água potável no Brasil causou, em 2023, cerca de 11.544 mortes. Em 2024, o número de internações ultrapassou 340 mil, sendo que 8.830 óbitos foram de idosos, que representam um grupo mais vulnerável a essas condições.
Cabe ressaltar, no caso do Brasil, que a questão da limpeza, problemas de coleta, tratamento e destinação correta do lixo e de esgotamento sanitário, e suas consequências para o meio ambiente/natureza e também — ou principalmente — para a saúde humana, são muito diferentes entre as diversas regiões. O Nordeste e a Região Norte/Amazônia Legal, que abrigam em conjunto mais de 85 milhões de habitantes, ou seja, 40% da população brasileira, ostentam indicadores socioambientais — principalmente relacionados com coleta, tratamento e destino do lixo e do esgoto, bem como de acesso à água potável e de qualidade — semelhantes ou piores do que vários países extremamente pobres da África e da Ásia.
Todavia, em meio a tudo isso, nossos empresários e nossos governantes demonstram um enorme ufanismo diante do nosso poderio, potencial e do desempenho de nossa economia, esquecendo desses números vergonhosos que dizem muito, de perto, sobre os níveis de desigualdades sociais, econômicas e políticas que caracterizam nosso Brasil.
Toda essa realidade deveria estar sendo objeto de nossas reflexões não apenas neste 20 de setembro, DIA MUNDIAL DA LIMPEZA, mas também ao longo de todos os anos, tanto e principalmente por parte de nossos governantes, de nossos empresários, de nossas lideranças civis, militares, eclesiásticas, enfim, pelos donos do poder e suas “troupes” e “asseclas”, quanto também da população em geral.
Ao invés de terem urgência em relação a temas que não dizem respeito aos interesses das grandes massas, mas apenas de seus próprios interesses, nossos parlamentares, nossos governantes e lideranças deveriam, no exercício de seus mandatos, cargos e posições, dedicar mais tempo, recursos e ações que transformem a realidade sofrida em que vive mais da metade da população brasileira.
Vamos pensar nisso?
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral – Região Centro Oeste. E-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.; Instagram @profjuacy
Imagem: docentes se manifestam a favor das cotas durante o 42º Congresso do Andes-Sindicato Nacional / Arquivo Andes-SN
Desde 2014, a Lei 12.990 determina reserva de 20% das vagas de concursos públicos federais para pessoas negras. Em 2025, a Lei 15.142 elevou esse patamar para 30%, incluindo indígenas e quilombolas. No entanto, na prática, essa reserva legal tem sido mal cumprida. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), por exemplo, a análise dos dados de 2016 a 2024 revelam que, das 532 vagas disponibilizadas para professor do magistério superior – 107 delas reservadas por sorteio -, apenas seis cotistas foram nomeados, o que representa inefetividade de 94,39% com relação às vagas reservadas pelo sorteio.
Os dados são do Relatório de pesquisa baseado em evidências: A implementação da Lei nº 12.990/2014: um cenário devastador de fraudes, elaborado por pesquisadores do Observatório das Políticas Afirmativas Raciais (Opará), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) em parceria institucional com o Movimento Negro Unificado (MNU) – disponível aqui.
E os pesquisadores alertam que a situação pode piorar com a aprovação da Instrução Normativa Conjunta MGI/MIR/MPI nº 261/2025, de 27/06 deste ano, que regulamenta os procedimentos já realizados para sorteio das vagas reservadas para candidatos pretos, pardos, indígenas e quilombolas em concursos públicos.
Os dados históricos mostram que, mesmo com reservas previstas em editais, muitas vagas reservadas não são preenchidas por falta de candidatos aprovados, ou são revertidas para ampla concorrência, porque o sorteio é realizado numa lista única de todas as vagas – reservadas e também da ampla concorrência.
Atualmente, a conversão de vagas destinadas a cotas em vagas de ampla concorrência é realizada por motivos como: falta de candidatos inscritos; falta de candidatos aprovados; quando o candidato cotista é aprovado com nota suficiente para classificação pela ampla concorrência; nos casos em que o candidato negro fica em segundo lugar na classificação geral e a instituição encontra uma “segunda vaga”, não prevista em edital, para nomear o candidato da ampla concorrência, convertendo a nomeação do candidato negro também para a ampla concorrência.
A crítica é que, embora a lei determine que as cotas precisam ser aplicadas em 30% das vagas totais, não exige que sejam distribuídas igualmente entre todas as áreas. Assim, a IN 261/25 cria um procedimento de sorteio para escolher onde aplicar as cotas dentro do total de vagas disponíveis. Este é o procedimento utilizado pela UFMT e outras universidades, mas para os pesquisadores do Opará, este modelo reforça o racismo estrutural, enquanto as universidades que adotaram como modelo uma lista única de candidatos cotistas têm obtido mais efetividade da política.
“A UFPEL [Federal de Pelotas] tem 100% de efetividade de nomeações em vagas reservadas. A Univasf tem 90% de efetividade em vagas reservadas. Ambas fazem lista única dos candidatos negros, considerando o conceito jurídico de cargo efetivo, expresso na lei. A UFMT tem 5,61% de nomeações de cotistas em vagas reservadas por sorteio de especialidades - seis nomeações em 107 vagas reservadas. Se considerarmos o universo de todas as vagas abertas, a efetividade de nomeações pela Lei de Cotas na UFMT é de 1,13% - seis nomeações em 532 vagas abertas para provimento do cargo efetivo de professor do Magistério Superior. Ou seja, inefetividade de 98,87% nas vagas abertas, no período de 2016 a 2024 e inefetividade de 94,39% nas vagas reservadas pelo sorteio”, afirma a professora Ana Luisa Oliveira, professora da Univasf e uma das coordenadoras da pesquisa realizada pelo Opará.
A Associação dos Docentes da UFMT - Seção Sindical do Andes (Adufmat-Ssind) realizou dois debates com a professora Ana Luisa Oliveira este ano, e pautou o assunto em reunião com a Gerência de Exames e Concursos da UFMT, apresentando detalhadamente todos esses dados. A Gerência compreendeu e se comprometeu verbalmente a corrigir a questão do sorteio nos editais futuros, e ficou de enviar formalmente o reconhecimento do compromisso. O documento ainda não chegou, e o sindicato pretende retomar a cobrança do cumprimento da integralidade da Lei de Cotas à Reitoria.
"É grave quando há tentativas de burlar a Lei de Cotas, o processo de heteroidentificação, mas é ainda mais grave quando essa violação parte da própria estrutura institucional, comprometendo a efetividade da lei em âmbito local. É urgente que a UFMT suspenda imediatamente esse sistema de sorteio, e também que assegure, de forma retroativa, o preenchimento das vagas que deixaram de ser ocupadas. A reparação precisa ser real e efetiva, o que exige o cumprimento integral da legislação e a garantia de que todas as vagas, negligenciadas ao longo dos anos por esse mecanismo, que entendemos como uma burla institucional, sejam devidamente preenchidas", afirmou o diretor-geral da Adufmat-Ssind, Breno Santos.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciências da Comunicação/USP
Mesmo ciente de que a última “Semana da Pátria” e seus dias subsequentes tenham tido significado inaugural em nossa história, posto que, pela primeira vez, um ex-presidente da República foi condenado por diversos crimes, como tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado de Direito, eu não planejava escrever sobre isso. Entendia que muito do que eu compartilharia já havia sido dito no calor dos acontecimentos. De repente, mudei de ideia. Motivo: o “bando de pé de chinelo”, lembrado por Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, que confirmou, em evento no dia 13 pp., que a decisão do STF precisa ser respeitada. Elementar. Admitiu ainda que houve planejamento para o golpe de Estado. De novo, elementar; aliás, também por isso, a condenação exemplar; e não apenas ao nosso país!
Na sequência, Valdemar completou:
"O grande problema nosso (da direita e da extrema direita) é que teve aquela bagunça no 8 de janeiro e o Supremo diz que aquilo foi golpe... um bando de pé de chinelo (grifo meu) quebrando lá na frente e eles falam que aquilo é golpe”.
Dos pés de chinelo da extrema direita, lembro que aquela turba ignara – municiada 24 horas por fake news e (des)norteada pelo cínico lema Deus/Pátria/Família – tinha um mentor: um ex-capitão, hoje, usando tornozeleira e preso preventivamente. Em idos tempos, o ex-capitão usara as botinas do Exército; e destas dependia para o golpe pretendido.
Pois bem. Daqui pra diante, mesmo tudo parecendo estar no seu lugar, optei por tratar, agora, de alguns versos de duas composições musicais engajadas, mas não panfletárias, que dialogam com tópicos relevantes de nossa contemporaneidade política. Este meu exercício almeja se somar à necessária e constante prevenção contra novas incursões golpistas.
A primeira das canções é de Jonathan Silva, surgida no clima eleitoral de 2018. Em tom profético, trata-se do cadenciado “Samba da Utopia” (https://www.youtube.com/watch?v=KDXX7m3iBzc). Com alusões ao estilo autoritário de ser e estar na política por parte do então candidato Jair Bolsonaro, na canção, é dito que:
“Se o mundo ficar pesado/ Eu vou pedir emprestado/ A palavra poesia// Se o mundo emburrecer/ Eu vou rezar pra chover/ Palavra sabedoria// Se o mundo andar pra trás/ Vou escrever num cartaz/ A palavra rebeldia// ...Se acontecer afinal/ De entrar em nosso quintal/ A palavra tirania// Pegue o tambor e o ganzá/ Vamos pra rua gritar/ A palavra utopia”.
Desse samba, destaco que, por bem pouco, a “tirania” não entrou pra ficar e arrebentar o “nosso quintal”, pois o golpe cívico-militar foi planejado e tentado.
A segunda canção é “Pedrada” (https://www.youtube.com/watch?v=qfWoph8jxz0) de Chico César, constante do álbum “O Amor é um Ato Revolucionário”, de 2024. De maneira enfática, ela dialoga com o fantasma do fascismo, sempre presente na história. Eis alguns de seus versos:
“Cães danados do fascismo/ Babam e arreganham os dentes/ Sai do ovo a serpente/ Fruto podre do cinismo...// Ê, república de parentes, pode crer/ Na nova Babilônia eu e você/ Somos só carne humana pra moer/ E o amor não é pra nós// Mas nós temos a pedrada pra jogar/ A bola incendiária está no ar/ Fogo nos fascistas...”
No início do texto, quase tudo parece literal na tarefa de sintetizar o ser fascista como violentíssimo na produção dos males que produzem às sociedades que subjugam. Autoritário por excelência, esse tipo está sempre a serviço dos seus interesses ou dos de seus clãs; daí, em nosso caso, a expressão “república dos parentes” surgir, na canção, ultrapassando a lógica da já limitada “República das Bananas”. As ações do filho 03 do clã apeado do poder – hoje, incitando os EUA contra o Brasil – são exemplos sínteses e abomináveis, pois, na ânsia de contemplar interesses familiares, se lixam para a totalidade daquilo que chamam Pátria.
Na vida política, tais tipos são sedutores na oratória, mesmo que a essência de seus discursos seja das mais rasas de que se possa ter conhecimento; assim, tais sujeitos, aproveitando-se de uma ignorância coletiva, construída ao longo do tempo, mesclada com a decepção e o ódio ao adversário político mais imediato, não se constrangem de usar e manipular até discursos religiosos para obtenção de seus interesses; assim, o “Deus acima de tudo” não passa de um jargão tão balofo quanto cínico, pois é emitido por despossuídos de humanidade. Como um de tantos exemplos, faço lembrar daquela imitação de pacientes que morriam da Covid, buscando um pouco de ar para respirar. Lembram-se disso? Estarrecedor.
Como resposta a esse tipo desprezível de político, o texto de Chico César sugere as fortes metáforas da pedrada a ser jogada, bem como a do fogo a ser ateado, queimando qualquer resquício de atos fascistas. Na junção dessas metáforas, uma leitura possível desses versos pode ser a do revide nas urnas – eletrônicas, obviamente – em momentos eleitorais.
Em suma, metaforicamente, significa esmagar e transformar em cinzas qualquer pretensão autoritária de poder, pois isso é o maior símbolo do atraso da humanidade que se pensa evoluída pelo simples fato de se encontrar no atual milênio da história. Na essência, a “Pedrada” de Chico César pretende ser um verdadeiro réquiem, tanto às botinas quanto aos pés de chinelo, que adoram lamber botas de golpistas vis.