Informalidade, baixos salários, pobreza. Em mais uma demonstração do gritante racismo estrutural existente no Brasil, estudo do IBGE, divulgado nesta quinta-feira (12), revela que a população negra enfrenta os piores índices sociais no país.
Com base nos dados da PNAD Contínua 2019, o estudo Síntese de Indicadores Sociais mostra que a situação no mercado de trabalho, a renda e as condições de moradia são desiguais conforme a cor e raça dos brasileiros. Pretos e pardos têm maiores taxas de desocupação e informalidade do que brancos, estão mais presentes nas faixas de pobreza e extrema pobreza e moram com maior frequência em domicílios com algum tipo de inadequação.
Desemprego, informalidade e baixos salários
Um dos principais indicadores do mercado de trabalho, a taxa de desocupação foi, em 2019, de 9,3%, para brancos, enquanto que para pretos ou pardos foi de 13,6%.
Entre as pessoas ocupadas em trabalhos informais, o percentual de pretos ou pardos chegou a 47,4%, enquanto entre os trabalhadores brancos foi de 34,5%.
O resultado reflete a maior participação dos pretos e pardos em trabalhos característicos da informalidade, como, por exemplo, atividades agropecuárias, que tinha 62,7% de ocupados pretos ou pardos, construção, com 65,2%, e serviços domésticos, 66,6%.
A maior inserção de pretos ou pardos em atividades informais, como serviço doméstico sem carteira assinada, que em 2019 tinha rendimento médio mensal de apenas R$ 755, também contribui para diminuir a renda média desse grupo populacional.
A população ocupada de cor ou raça branca ganhava em média 73,4% mais do que a preta ou parda. Em valores, significava uma renda mensal de trabalho de R$ 2.884 frente a R$ 1.663, em 2019.
Pobreza e extrema pobreza
A Síntese mostra que a extrema pobreza no país cresceu 13,5%, passando de 5,8% da população, em 2012, para 6,5%, em 2019, segundo a linha internacional fixada pelo Banco Mundial em US$ 1,90 por dia em termos de paridade de poder de compra (PPC).
Entre os que se declararam brancos, 3,4% eram extremamente pobres e 14,7% eram pobres, mas essas incidências mais que dobravam entre pretos e pardos.
Entre as pessoas abaixo das linhas de pobreza do Banco Mundial, 70% eram de cor preta ou parda, enquanto a população que se declarou com essa característica era de 56,3% da população total.
A pobreza afetou ainda mais as mulheres pretas ou pardas: eram 28,7% da população, mas 39,8% dos extremamente pobres e 38,1% dos pobres.
Condições precárias de moradia
A desigualdade também aparece nos indicadores de moradia. O estudo mostra que 45,2 milhões de pessoas residiam em 14,2 milhões de domicílios com pelo menos uma de cinco inadequações – ausência de banheiro de uso exclusivo, paredes externas com materiais não duráveis, adensamento excessivo de moradores, ônus excessivo com aluguel e ausência de documento de propriedade.
Desta população, 13,5 milhões eram de cor ou raça branca e 31,3 milhões pretos ou pardos.
Opressão e exploração capitalista
Para a integrante do Setorial de Negros e Negras da CSP-Conlutas, Maristela Farias, os dados reforçam o que os movimentos negro e sociais denunciam: o racismo estrutural existente na sociedade capitalista.
“No Brasil, tivemos mais de 300 anos de escravidão, que foi abolida sem que houvesse nenhum tipo de reparação ao povo negro. Ao contrário. O capitalismo usa a opressão para aumentar a exploração. Daí que negros e negras são relegados aos piores postos de trabalho e salários, sem acesso à educação e vítimas da violência e da pobreza, afetando ainda mais as mulheres negras que sofrem a dupla opressão do racismo e do machismo”, ressaltou.
“É contra essa situação que negras e negros no Brasil, mas também em todo o mundo, se rebelam ao longo da história e vemos, por exemplo, movimentos como o Vidas Negras Importam aqui no país, no EUA e em outros países”, explica.
“E este é o caminho. Precisamos aquilombar as lutas para derrotar este sistema. Se aproximam as datas simbólicas do dia 20 de novembro, da Consciência Negra, e de 25 de novembro, dia internacional de luta contra a violência às mulheres. Serão dias para denunciarmos esse racismo estrutural do capitalismo e também de mobilização”, concluiu Maristela.
Fonte: CSP-Conlutas (com informações da Agência de notícias do IBGE)