A “Frente Popular pela Vida: em Defesa dos Serviços Públicos e de Solidariedade ao Enfrentamento à Covid-19” fez uma nova grande entrega. Na última semana, mil cestas básicas contendo 15 mil quilos de alimentos, e outros mil quites de higiene pessoal e limpeza foram distribuídos entre grupos e comunidades da periferia de Cuiabá e outros municípios de Mato Grosso.
A ação desse início de agosto levou um pouco mais de dignidade a famílias dos bairros Pedregal, Renascer, Jd. Glória 1, Parque Cuiabá, Pedra 90 e região do Cinturão Verde, Cohab São Gonçalo, Bela Vista e Jd. Vitória. Também foram distribuídas cestas e quites em outras regiões da cidade, com auxílio de entidades ligadas aos movimentos Estudantil, Camponês, Indígena, Negro, LGBTQI e de Imigrantes, atendendo venezuelanos, senegaleses, haitianos, senegaleses e cubanos.
Terceirizadas da UFMT, trabalhadores do Aterro Sanitário de VG, moradores da Casa do Estudante e professores interinos do Estado também estão na lista de receptores da ação que, desta vez, além da capital mato-grossense, também contemplou famílias de Várzea Grande, Cáceres, Jaciara, Nossa Senhora do Livramento, Barra do Bugres e Tangará da Serra.
O professor Reginaldo Araújo, vice-presidente da Regional Pantanal do ANDES - Sindicato Nacional e um dos membros da Frente, contabiliza cerca de 35 toneladas de alimentos distribuídos nos últimos dois meses. “Desde junho, quando a Frente lançou a campanha de solidariedade, já foram distribuídas aproximadamente 35 toneladas de alimentos, material de higiene e limpeza. Mas como nós ainda não vislumbramos o fim dessa pandemia, e a situação ainda será difícil por alguns longos meses, é preciso continuar arrecadando e distribuindo esses itens”, lembrou o docente.
Assim como a grande doação realizada em meados de junho, o material distribuído na última semana foram enviados pela Organização Não-governamental Ação Cidadania.
A Frente continua arrecadando alimentos, material de limpeza e também recursos para ajudar aos trabalhadores sem emprego ou qualquer tipo de assistência do Estado nesse momento. O coletivo destaca que divulgará um vídeo, nos próximos dias, para estimular a contribuição daqueles que têm uma situação mais confortável no momento.
Saiba como ajudar
PARA DOAÇÃO DE ALIMENTOS E MATERIAIS DE LIMPEZA: A Adufmat-Ssind é um ponto de arrecadação dentro da Universidade Federal de Mato Grosso. A Oca fica quase em frente ao Hospital Veterinário da UFMT. O endereço é Avenida Fernando Corrêa da Costa, S/Nº, Coxipó, Cuiabá.
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Titular: ADUFMAT SOLIDARIEDADE COVID-19
Saiba mais sobre a Frente Popular pela Vida: em Defesa dos Serviços Públicos e de Solidariedade ao Enfrentamento à Covid-19:
CAMPANHA “SOLIDARIEDADE PELA VIDA” JÁ ARRECADOU CERCA DE 20 TONELADAS DE ALIMENTOS
CAMPANHA ‘SOLIDARIEDADE PELA VIDA’ É LANÇADA NESTA QUINTA-FEIRA, 04/06
DESIGUALDADE SOCIAL FARÁ DA AMÉRICA LATINA EPICENTRO IMPORTANTE DA COVID-19
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Algum tempo depois ouvi de novo seu nome. Lembro de Pedro ganhar os noticiários mais uma vez, agora, numa greve de fome contra a dilapidação do Rio São Francisco. Ali, como fez em toda sua vida, encarou de frente os atalhos retóricos e fez de seu ato a palavra viva de transformação. Pedro foi um homem necessário. Um bisco contundente que ousou não cair no proselitismo diante da desigualdade promovida pelas elites para constituir soluções tão mágicas quanto destrutivas. Casaldáliga atravessou o tempo evidenciando uma Igreja cada vez mais distante, mas ainda mais necessária.
É pela forma como viveu que Pedro nunca morrerá e, por isso também, é preciso que ele continue conosco para nos ajudar a enfrentar esses tempos turvos e pensar a espiritualidade para além dos quadros dados pelas estruturas. Falar de Dom Pedro Casaldáliga é falar de um Deus vivo, materialmente ancorado nas causas dos oprimidos, é reconhecer tantos outros sujeitos que realizaram a busca do novo sob os torpedos do reacionarismo. Penso em Pedro como a rebeldia e a solidariedade em unidade transcendente.
Nessa hora onde seu espírito vira história e sua existência ainda nos inspira reproduzo parte das ideias que expus quando ocorreu lançamento de sua biografia, no dia 12/06/2019, no Instituto de Linguagem do campus de Cuiabá da UFMT, no livro “Um bispo contra todas as cercas: a vida e as causas de Pedro Casaldáliga”, escrito pela jornalista Ana Helena Tavares.
Naquele momento eu já era professor em Mato Grosso. Saí do interior do Ceará, onde Pedro me inspirou, mudei tantas vezes de endereço e de percepção sobre espiritualidade, cheguei ao Estado onde o Bispo virou rio e raiz e, da caatinga ao Cerrado, o meu ceticismo sempre esbarrou na capacidade de pessoas como Casaldáliga, pois conseguiam consubstanciar uma ideia substantiva em matéria, fermentar o alimento da alma coletiva, multiplicar a possibilidade de seguir em frente diante de um mundo violento.
Duvido da onipresença divina nos moldes antropomórficos, mas sei que a trajetória de Pedro atravessou a minha, os espaços que passei e a minha percepção política. Sei também que ele ainda tem muito o que ensinar, a mim e a todos que querem mudar o mundo.
Dom Pedro viveu para demonstrar que a eternidade está numa trajetória que busque uma vida com sentido. Nesses tempos de pandemia o obscurantismo segue costurando sua perversidade por todos os âmbitos e a desesperança fortifica o medo social. Se a vida pede coragem, envoltos na atmosfera fatalista é preciso lembrar a famosa frase de Pedro Casaldáliga de que “o problema é o medo de ter medo”.
Em tempos de cruzes laminadas e da sacralização das espadas se perpetua o mito de que a espiritualidade cristã caminha necessariamente com a intolerância, com a arrogância e com o comprometimento político com o fundamentalismo religioso e a ideologia econômica ultraliberal. No apogeu do protofascismo brasileiro as facções que catalisaram um “cristianismo de ódio” caminharam pelos rincões do país e pelas vielas das periferias, ocupando o vácuo do Estado e a ausência de políticas sociais universais, o distanciamento dos movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda, além do enfraquecimento da formação política popular com sentido emancipatório em todos os espaços.
Não é novidade que a história do Ocidente tem a cultura judaico-cristã e a estrutura religiosa como um importante pilar cultural do ethos moderno, burguês, branco, machista e eurocêntrico e que o processo de colonização impetrou particularidades históricas que fermentam as características da formação sócio-histórica do Brasil. No entanto, essa constatação em vez de enterrar os religiosos numa vala comum revela ainda mais a importância dos sujeitos individuais e coletivos que se expressaram na contracorrente desse processo.
Nesse percurso, a ação orquestrada na Igreja Católica, a partir dos anos 1980, de dilapidar o humanismo cristão latino-americano da Teologia da Libertação casou com o fortalecimento dos setores neopentecostais entre os evangélicos protestantes, onde foi ganhando espaço uma lógica ampla que unificava a forma modernizada da indústria cultural com um conteúdo reacionário nos valores morais, articulando a potencialização da lógica neoliberal consumista com questões tradicionais do cristianismo.
Esse processo se solidifica com o crescimento da ocupação da política formal por indivíduos e grupos fundamentalistas e reverbera a dificuldade de efetivação de um Estado laico, questão também fortalecida pelos recuos constantes dos governos ditos progressistas e sua ampliação em conchavos políticos para alimentar os demônios que, tão logo se aprofundasse as expressões de crise do capital, viriam os engolir.
Nesse sentido, pensando a atual conjuntura, é preciso pontuar como foi (e tem sido) ineficaz o contraponto centrado apenas no apontamento dos equívocos de quem reproduz os discursos de opressão e menos no combate de quem articula e estrutura esse fortalecimento. O tom abstrato e de superioridade intelectual e moral que julga o outro como inferior não é incomum quando o assunto é a fé popular.
Assim, a “hegemonia da contra-hegemonia” tem circulado no pragmatismo eleitoral, na naturalização das (im)possibilidades conjunturais e, quando busca sair disso, caminha apenas na esteira dos discursos em-si-mesmados, sucumbindo às particularidades em particularismos, potencializando falas apenas entre aqueles que já se tem identidade e convencimento.A atuação política performática instrumentaliza condições, reza para convertidos e joga no inferno a principal parcela dos sujeitos que sofrem as opressões.
O não-diálogo é o princípio do espírito do tempo histórico da barbárie não somente entre os conservadores. O resultado são os gritos sem direção, as guerras meméticas, divertidas mas estéreis e a incapacidade de descer do céu dos discursos e símbolos e pisar no chão da realidade concreta das pessoas que sofrem, vivem e reproduzem os valores que temperam sua própria exploração e o conjunto de complexos que os oprimem. A crítica radical se confunde com a mera auto-afirmação.
Mas há dissonância e ela é fundamental. A pedra de Pedro permanece viva. Na seara das disputas dentro das religiões cristãs poderíamos citar muita gente na atualidade, poderíamos nominar pessoas como os Pastores Ricardo Gondim e Henrique Vieira, poderíamos citar coletivos como as Católicas pelo Direitos de Decidir. Poderíamos lembrar tantos outros. Nesse sentido, se exemplos não faltam, nesse momento de desesperança, rememorar práticas inspiradoras é fundamental, por isso, é preciso reavivar um daqueles que marcou com sua vida a história de fé e sua existência na materialização de que vale a pena lutar.
Rememorar os caminhos e descaminhos de Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, nos coloca a certeza de que o ser humano imperfeito e criativo, individual, mas coletivo, historicamente determinado, mas um ser da práxis, pode muito, pode sempre mais, pode lutar nas condições mais adversas e nas instituições mais difíceis.
Pedro lembra cada liderança que não se rendeu ao status quo. Lembra Padre Augusto, pároco em Jaguaretama-Ce no fim no fim dos anos 1980, o padre que cantava samba enredo da Salgueiro, que falava das injustiças, que potencializava grupos de jovens para discutir política na paróquia, que era meu pai adotivo para que eu pudesse correr na calçada da igreja pelas manhãs enquanto meus pais trabalhavam.
Pedro me lembra quem está aqui no meio de nós, como o Padre Júlio Lancellotti, homem que demonstra uma energia inesgotável na luta contra as injustiças, na vida mergulhada na solidariedade e no dom de enxergar Jesus em cada sujeito que sofre. Pedro me lembra um jovem negro da periferia de Fortaleza que virou pastor, lembra Jamieson Simões, que no apogeu do neopentecostalismo nas igrejas vai às ruas e prega um Cristo que pensa o êxodo em unidade com a ancestralidade africana, com a sabedoria de quem percebe a espiritualidade na transformação, no abraço e no embate contra a intolerância, contra a lgbtfobia, contra o racismo.
Nesses tempos onde a intolerância parece ser quase unânime em alguns espaços, certamente o bispo do povo faz você lembrar também de várias mulheres e homens religiosas/os que estão na trincheira do lado de cá da história. Pedro foi pedra que cantou enquanto tentaram calar os profetas e, por isso, lembra cada mulher do movimento Católicas Pelo Direito de Decidir, cada Mãe-de-Santo que resiste ao fundamentalismo judaico-cristão, cada indígena e quilombola que sobrevive e ressuscita sua história sob o ataque dos tiros e do veneno do agronegócio. Pedro lembra o Sem-terra, o desempregado, lembra você. Você que é humano, que tem dúvidas e certezas, que tem esperança e que busca coragem e sentido.
Pedro é pedra, é padre, é poeta, é político e é povo. É o bispo das colisões linguísticas, políticas e ideológicas. Ousou mais que falar, viver, vivenciar o que se acredita. O bispo que reverberou uma verdade pujante, tão firme que foi capaz de se comunicar por o mundo todo e com todo mundo, falando com crentes e ateus, com acadêmicos e analfabetos, com doutores das letras e doutores da terra, com o universo de todos aqueles que buscam uma vida com sentido, pois cultivou ações para que o suspiro da criatura oprimida e o coração de um mundo sem coração sejam repletos de ares e batimentos de um horizonte emancipatório.
Sua caminhada permanece cada dia mais presente porque é preciso que sejamos o fio condutor dessa luta. Tantas lembranças servem para que ele nos recorde da humanidade que existe em nós, que, se em tempos de desumanização, de descrença no poder coletivo é difícil enxergar saídas, é possível ter fé, a crença no invisível, não é o pensamento mágico, o sofisma ideológico, mas o horizonte para olhar além da aparência e perceber a história aberta, pronta para a nossa ação. Pedro soube disso, gritou ao mundo e cochichou aos seus irmãos.
Não é preciso comungar da cosmovisão teológica do Bispo, mas é fundamental perceber que sua história resguarda uma contra-hegemonia que nos falta na batalha das ideias da atual conjuntura. Se queremos enfrentar as duras batalhas pelos direitos das pessoas da classe trabalhadora precisaremos romper as cercas e os muros para se comunicar organicamente, para escutar e se fazer ouvir, para pensar coerência mesmo na contradição, para ter menos crença no além e ter mais convicção, como Pedro, de que se pode ir além.
Por isso, quando o espírito da luta do nosso povo gritar "Casaldáliga", a história responderá: Presente, hoje e sempre!
08 de Agosto de 2020
Wescley Pinheiro
Professor da Universidade Federal de Mato Grosso
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Atônitos com tantas notícias ruins, a nós, brasileiros, soma-se a morte de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Felix do Araguaia, ocorrida na manhã do triste 08/08.
Desde as primeiras informações que tive sobre a vida de Casaldáliga, sempre fiz uma ligação espontânea com o percurso existencial de Severino, aquele personagem de Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto. Já no início do longo poema cabralino, quanto mais Severino tentava dizer quem ele era, mais ele próprio diluía sua identidade no meio de sua gente, igualando-se num coletivo que só tinha e via adversidades pela frente.
Sobre Casaldáliga, talvez por conta das incontáveis adversidades que teve durante sua vida, geralmente percorrida em agrestes terras batidas e literalmente minadas, a tarefa de quem tenta dizer quem foi esse senhor também entra no labirinto das reticências, ou seja, daquilo que pode nos levar a muitas outras informações, quase numa perspectiva de espelho refletido ao infinito. Perante algumas existências humanas, as palavras e as enumerações, definitivamente, são limitadas; elas não dão conta.
Assim que ingressei na UFMT, tive o privilégio de começar a conhecer diversas cidades do Mato Grosso. No início dos anos 90, fui a São Félix do Araguaia, por terra; e muita terra... Pelo trajeto, já fui compreendo melhor a dimensão do que poderia significar a luta de um sacerdote que usava chapéu de palha do sertanejo local contra todas as cercas levantadas pelos “senhores feudais” de nossa contemporaneidade. Mais: um trabalho assumidamente inserido na Teologia da Libertação, exercido com tanta altivez em um lugar tão inóspito, que parecia mesmo ser “um canto esquecido por Deus”.
Já em São Felix, participando de uma atividade do Sindicato dos Professores do Estado (Sintep), por uma das tantas ignorâncias assumidas, precisei de um dicionário para desempenhar uma parte de minhas atividades. Um professor, rapidamente, me convidou para ir à “Biblioteca do Bispo”.
- “Na casa do Bispo, certamente, há um dicionário”, disse-me ele.
Com a possibilidade de conhecer aquele senhor, dei graças à minha estupenda ignorância. Era a oportunidade que eu teria de estar, frente a frente, com um dos seres humanos mais humanos de que eu tinha conhecimento. Eu já sabia que exatamente por conta de sua humanidade, de sua preferência explícita às camadas populares, a ditadura militar dos golpistas de 64 havia lhe imposto perseguição.
Ao chegar à residência episcopal, em alguns lugares, “palácio episcopal”, só perplexidade, mas no sentido mais positivo do termo. Sua residência, de fato, era apenas uma casa, semelhante à maioria das outras casas da cidade. As portas estavam abertas, embora não houvesse ninguém dentro. Aquilo “era habitual”, disse-me o professor anfitrião.
Para minha tristeza, Casaldáliga havia viajado para Cuiabá, de ônibus... Ele era resistente ao avião.
- “Então, não podemos entrar”, concluí.
- “Podemos. A casa é nossa também. É assim que Dom Pedro tem suas coisas. Tudo dele é do povo. O povo da cidade cuida de sua casa, e cuida dele também, pois ele vive sendo ameaçado por fazendeiros.”
Superada minha tristeza por conta daquele desencontro, que seria um dos encontros mais felizes que eu poderia ter tido na vida, não me restava muito, a não ser fazer o papel indecente de uma visita curiosa, pois as referências que eu tinha de bispos e de seus palácios eram outras.
A simplicidade de tudo o que eu via podia ser resumida nas paredes sem reboco e no chão absolutamente rude; também na caminha de solteiro que sustentava um colchão de pouca ou nenhuma densidade, onde ele repousava. Era uma casa de um sertanejo cristão: tudo bem organizado, mas em cima da mais pura simplicidade, dessas que nos encantam, como aquelas velhas xícaras de esmalte já descascado pelo tempo, soltando a fumacinha de um café passado na hora.
Tudo aquilo era um choque para quem vinha de uma cidade imponente, que fazia questão de mostrar ao mundo que havia construído a catedral mais alta do país: pouco mais de 120m de altura, em tipo de um cone, supondo estar mais próximo de Deus...
Ao contrário daquela e de tantas outras imponências que podem ser vistas alhures, a vida religiosa de Casaldáliga foi pautada, do início ao fim, pelas palavras que estão no convite para sua sagração como bispo. Extraí essa pérola da p. 197, do livro Um bispo contra todas as cercas (Gramma Editora), da jornalista Ana Helena Tavares. Mais do que um texto, eis um conjunto sintético de princípios de um verdadeiro cristão:
“Tua mitra será um chapéu de palha sertanejo; o sol e o luar; a chuva e o sereno; o olhar dos pobres com quem caminhas, e o olhar glorioso de Cristo, o Senhor.
Teu báculo (cajado) será a Verdade do Evangelho e a confiança do teu povo em ti.
O teu anel será a fidelidade à Nova Aliança do Deus Libertador e a fidelidade ao povo desta terra.
Não terás outro escudo que a força da Esperança e a Liberdade dos filhos de Deus, nem usarás outras luvas que o serviço do Amor”.
Em uma das fotos mais significativas presentes no livro acima citado, vemos Casaldáliga recebendo um remo indígena durante a cerimônia de sua sagração. Ele não teve dúvidas: “usou aquele remo como seu báculo”. O melhor de tudo é que aquele gesto já lhe era incorporado em seu cotidiano, assim como o era estar ao lado de toda gente oriunda das comunidades tradicionais.
Por tudo, finda sua missão por aqui, só posso, respeitosamente, dizer: quanta fidelidade contida em um conjunto de palavras, que assim ditas, parecem tão benditas, pois foram todas vividas e respeitadas, dia após dia, em seus 92 anos de existência. Esse comportamento, marcado pela coerência, é próprio apenas das avis raras. Pedro Casaldáliga foi uma avis rara que pousou por aqui, dando-nos o privilégio de pertencer à sua contemporaneidade nesse longo e difícil percurso da história humana.
A União foi condenada a pagar R$ 50 mil em indenização por danos morais coletivos devido às ofensas proferidas por Abraham Weitraub, quando ainda ministro da Educação. A ação foi movida pela União Nacional dos Estudantes (UNE) contra as afirmações do ex-ministro que de que existiram plantações de maconha e laboratórios de produção de drogas em universidades federais do país. A decisão foi proferida na última quinta-feira (30).
Na ação, a UNE cita a entrevista concedida pelo então ministro Weintraub, ao programa “7 Minutos com a Verdade”, divulgada pelo Jornal da Cidade (on line). Na ocasião, o ex-ministro "fez graves acusações contra estudantes e universidades públicas. Foi, ainda, criticada, pelo agente público, a autonomia universitária." A entrevista foi divulgada por Weintraub em suas redes sociais e teve grande repercussão.
Lembra, ainda, que em outra oportunidade o mesmo ministro atacou injustamente estudantes e professores da rede pública, tendo cortado verbas da Universidade de Brasília (Unb) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA) por suposto baixo desempenho acadêmico e realização de balbúrdia.
A UNE afirma também, no processo, que Weintraub utilizava do espaço que lhe era dado, enquanto ministro, para atacar estudantes e professores, acusando-os reiteradamente "de promoverem balbúrdia e insubordinação, e culminado por chama-los de criminosos: traficantes e produtores de drogas ilícitas."
Para a juíza federal Silvia Figueiredo Marques, da 26ª Vara Cível Federal de São Paulo, o ex-ministro "ofendeu a honra coletiva dos estudantes sem dó nem piedade." Diante disso,
Na decisão, a juíza menciona que o Ministério Público Federal, em sua manifestação, salientou que "foram utilizados casos isolados para generalizar e atribuir, de modo geral, à universidade pública, conduta grave como a produção de entorpecentes. E que o Ministro não expressou simplesmente preocupação com o consumo e tráfico de drogas nas universidades, ele foi além e atingiu indiscriminadamente a dignidade e ética de toda a comunidade docente e discente das instituições".
A magistrada destaca também que "é fato notório, não necessitando, pois, de prova, o viés ideológico do ex-ministro. Aliás, tanto ele fez e falou que terminou por deixar o ministério. Sendo que ainda se apura se o uso do passaporte diplomático por ele, ao, imediatamente à saída do cargo, para adentrar o Estados Unidos, foi regular."
A juíza Silvia Marques conclui que ficou caracterizado o dano moral coletivo e deve havar uma indenização à vítima, no caso a coletividade dos estudantes.
Ainda cabe recurso à decisão. Caso a condenação seja mantida, o valor será repassado ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, gerido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Fonte: ANDES-SN
Na semana em que completaremos 3 milhões de casos de Covid-19 e 100 mil mortes causadas pela doença, que segue descontrolada, professores da Educação Básica se mobilizam contra o retorno das aulas presenciais. Preparamos uma matéria que analisa os principais movimentos em diversos estados e municípios do país. Acompanhe.
Isolados fisicamente, a tecnologia é a ferramenta que tem permitido que possamos manter a mobilização e realizar reuniões importantes. Entre elas, a realização de um Conad extraordinário online foi a escolha mais segura, transparente e de fácil acesso aos delegados, observadores e convidados para debater e referendar a prorrogação do mandato da atual diretoria. Participaram do 8º. Conad Extraordinário do ANDES-SN: 71 seções sindicais, 64 delegados/as, 133 observadores/as, 7 convidados e 20 diretores/as do Sindicato Nacional. Confira.
Outro encontro importante entre dirigentes sindicais, o Seminário do Fonasefe, irá acontecer nos dias 12, 13 e 14 de agosto. Com o objetivo de promover o debate sobre os ataques do governo Bolsonaro ao estado democrático de direito e suas consequências para a democracia e a população brasileira, também pretende avaliar a política da conjuntura atual, nivelando conhecimentos quanto ao cenário de destruição do Estado, projetado através das privatizações, reformas e seus impactos para os serviços e servidores públicos bem como para as organizações sindicais. Inscrições no site www.fonasefe.com.br.
Na quinta (6), a reunião foi com nova diretoria da Andifes para discutir conjuntura, ensino remoto e ataques às IFE. Leia sobre.
A internet, que tem possibilitado mobilizações e reuniões, foi, também, o tema da ótima live de terça (4). Marcos Urupá (LaPCom/UnB) e Helena Martins (Intervozes/UFC) conversaram sobre plataformas digitais, fake news e PL 2630, com mediação de Cláudio Mendonça, 2º tesoureiro do ANDES-SN. Você pode assistir e compartilhar agora mesmo.
Tecnologias não são boas nem ruins, dependem do uso que se faz delas. Essa semana destacamos a fragilidade das plataformas frente aos ataques virtuais a aulas e reuniões acadêmicas: saiba mais.
O Informandes de julho está no site, com matérias aprofundadas sobre diversos temas relevantes. Acesse aqui!
Na sexta-feira (7) , as 11 Centrais Sindicais, de forma unitária, vão realizar o Dia Nacional de Luta pela Vida e Emprego. Acompanhe nas redes e participe da denúncia contra a política desastrosa e negacionista do governo genocida de Bolsonaro! #ForaBolsonaro #BastaBolsonaroMourão
Fonte: ANDES-SN
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Publicamos a pedido da professora Rosa Lúcia Rocha Ribeiro, do Departamento de Enfermagem da UFMT
Mobilizadas pelo drama de trabalhadores de Enfermagem de Mato Grosso na luta contra a COVID-19, estudantes do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Cuiabá, se organizaram e produziram um vídeo em sua homenagem (disponível abaixo).
O vídeo tem a participação de estudantes de diversos semestres do curso e trazem mensagens de agradecimento, mas também de apoio na luta dos trabalhadores da enfermagem por valorização profissional, por proteção e por melhores condições de trabalho. A ação foi uma iniciativa do Centro Acadêmico de Enfermagem e do projeto de extensão Cuidar Brincando, da Faculdade de Enfermagem da UFMT.
Também denunciam as mortes de profissionais da enfermagem que faleceram em decorrência da doença, desde o início da pandemia até o mês de julho de 2020. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem, por meio do Observatório da Enfermagem, o Brasil registrou até o momento 334 óbitos de profissionais de enfermagem, sendo mais de 20 óbitos do estado de Mato Grosso, a maioria deles que estavam trabalhando diretamente no cuidado a pacientes e alguns poucos afastados do trabalho.
Segue o texto da homenagem:
Estamos vivendo um momento muito delicado. E nós estudantes não poderíamos deixar de agradecer e prestar o nosso apoio aos trabalhadores de enfermagem que estão na linha de frente em combate ao novo coronavírus em Mato Grosso.
Vocês são submetidos a jornadas de trabalho exaustivas e condições insalubres de emprego, onde faltam materiais, faltam EPIs, faltam medicações, mas estão fazendo o melhor trabalho que podem mesmo diante de tais condições.
São afastados de sua família para protegê-los. A saudade dói né?
São sobrecarregados de tensão emocional e cansaço físico, sem ter um lugar digno para repousar, sem ter como ir ao banheiro, sem beber água e sem ter como comer.
Além de excelentes profissionais, são seres humanos incríveis que dedicam a vida à pessoas desconhecidas.
Vocês não são anjos mas arriscam a própria vida pra cuidar de outras vidas, gratidão por fazerem isso com tanta excelência.
Vocês não são super-heróis, mas têm dado exemplo de heroísmo e alguns deram até mesmo, a própria vida.
É preciso que todos saibam que vocês, trabalhadores de enfermagem, não são heróis ou heroínas, mas são pessoas trabalhadoras que também precisam de proteção para que se mantenham vivas!
Porque não desejamos que vocês sejam mártires! Por essa razão, denunciamos o pouco cuidado de governantes e de patrões para a sua proteção! Exijam EPIs!
Não aceitamos que, num estado que se vangloria de ser o maior produtor de algodão do país, profissionais da linha de frente como a Enfermagem não tenham acesso a uma roupa decente para a sua proteção nessa guerra contra o coronavírus!
O nosso amplo agradecimento aos profissionais de enfermagem que hoje lutam por melhorias salariais e que estão, ainda que com pouca proteção, na linha de frente no combate à Covid 19.
Realmente não somos super heróis, somos seres humanos, necessitamos de um salário adequado para a nossa categoria e equipamentos de proteção individual, não podemos nos permitir ser mutilados pela falta de investimento na saúde e pelo descaso dos políticos devido o desvio de verbas da saúde.
Não romantizar esse momento é essencial, trabalhamos porque temos contas para pagar assim como todos e precisamos de condições dignas de trabalho. Por isso, é um momento de luta.
Luta por condições melhores de trabalho, está na hora de aprovar o Projeto de Lei n° 2564 de 2020 que dispões sobre o piso salarial da enfermagem e uma jornada de 30 horas semanais.
É tempo da enfermagem se unir e lutar por melhores condições de trabalho.
Sindicatos e Conselhos, contamos que vocês continuem com uma gestão séria e dedicada à Enfermagem, que lutem para que as vidas de técnicas de enfermagem, enfermeiras e enfermeiros sejam preservadas!
E a vocês, profissionais, nosso mais sincero agradecimento e o nosso apoio na luta!
Nós agradecemos a todos os profissionais de saúde pelo compromisso, dedicação e amor.
Prestamos homenagem também à todos aqueles TRABALHADORES DE ENFERMAGEM que perderam a vida para COVID-19, a maioria trabalhando, alguns afastados do trabalho:
1 - Athaíde Celestino da Silva - 02/05/2020
2 - Alessandra Bárbara Pereira Leite - 19/05
3 - Maria Eliane Queiroz da Silva - 12/06
4 - Simone Lima Oliveira dos Anjos - 12/06
5 - Joselita dos Santos - 17/06
6- Juciana Mendes dá Silva Melo- 22/06
7- Cleiton Viana - 25/06
8- Clarice Bamberg - 27/06
9- Gonçalo Benedito de Barros - 29/06
10- Fabrício Uprewa - 03/07
11- Rosilei Rech - 05/07
12 - Zilda de Moura Viana - 13/07
13 - Maria Alice Ramos da Silva- 14/07
14 - Pedro Ezídio - 14/07
15 - Dirce de Oliveira Souza - 14/07
16- Odair Correia - 16/07
17- Mariza de Jesus Silva - 16/07
18- Regina de Lira Sales - 20/07
19 - Luiz Carlos Weber - 21/07
20- Erivelton Luciano Silva Martins - 24/07
21 - Glaciela Marques Correia - 25/07
22 - Klediston Kelps - 25/07
23- Elisangela Morevo - 27/07
24- Geralda Leite Mendes - 27/07
25 - Juceli Pereira da Costa 30/07
26- Lauro Bassani - 30/07
27 - Marta Araújo Souto - 30/07
28 - José Maria da Silva Filho - 06/08
Se você não tem medo da Covid-19, ao menos colabore para que a gente não morra.
A vocês, profissionais de Enfermagem, todo o nosso apoio na Luta!
Alunas de Enfermagem UFMT
Cuiabá, 05 de agosto de 2020.
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José Domingues de Godoi Filho*
O Deputado Jair Bolsonaro, em 1998, declarou ao jornal Correio Brasiliense – “pena que a cavalaria brasileira não tenha sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios”. Em campanha para a Presidência da República, fez afirmações do tipo “essa política unilateral de demarcar a terra indígena por parte do Executivo vai deixar de existir, a reserva que eu puder diminuir o tamanho dela eu farei isso aí’; e, reiterou, por várias vezes, “se eu assumir (a Presidência do Brasil) não terá mais um centímetro para a terra indígena”. E, deixou claro que “se eleito eu vou dar uma foiçada na FUNAI, mas uma foiçada no pescoço. Não tem outro caminho. Não serve mais.” Bem ao gosto do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, se manifestou dizendo que “... vamos desmarcar (a reserva indígena) Raposa Serra do Sol. Vamos dar fuzil e armas a todos os fazendeiros”.
Os povos indígenas, convocados pelo Cacique Raoni, em janeiro-2020, se reuniram na Terra Indígena Capoto Jarina (MT) e, denunciaram algo que já estava claro: - "As ameaças e falas de ódio do atual governo estão promovendo a violência contra povos indígenas, o assassinato de nossas lideranças e a invasão das nossas terras”.
A chegada da pandemia de COVID-19 foi uma pérola para o Governo Bolsonaro, que apoiado por uma política econômica ultraliberal, a mesma adotada pela ditadura Pinochet e que está falindo o Chile, intensificou sua política genocida contra os povos indígenas, comunidades quilombolas e outras comunidades tradicionais
Frente ao descompromisso calculado do Governo Federal, o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei 1142/2020, que previa a obrigatoriedade da elaboração e execução de um “Plano Emergencial de Enfrentamento à COVID-19 nos Povos Indígenas, Comunidades Quilombolas, Pescadores Artesanais e Povos e Comunidades Tradicionais”. O Presidente Bolsonaro, ouvidos os Ministérios da Saúde, da Justiça e Segurança Pública, da Economia e da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, vetou vários artigos alegando ausência de demonstrativo do impacto orçamentário e financeiro. Os vetos atingiram a exigência do direito de fornecimento de acesso a água potável e distribuição gratuita de materiais de higiene, limpeza e desinfecção para as aldeias indígenas. Vetou ainda a obrigatoriedade de liberar verba emergencial para a saúde indígena e distribuição de cestas básicas. Nem pensar a obrigação de executar ações, para garantir a essas comunidades a instalação emergencial de leitos hospitalares e de terapia intensiva.
Enquanto isso, de março a junho, a OXFAM divulgou que os 42 maiores bilionários brasileiros aumentaram suas fortunas em US$ 34 bilhões, atingindo US$ 157,1 bilhões; as principais entidades indígenas, em 07/08/2020, registraram 23339 indígenas afetados e 651 indígenas mortos pela COVID-19, atingindo 148 povos e, culminando com a morte de uma das maiores e respeitadas lideranças indígenas brasileiras - o Cacique Aritana Yawalapiti. Tudo diferente do que defendia e fazia um outro militar o Marechal Candido Rondon. Esse pesadelo precisa ter um fim.
*José Domingues de Godoi Filho – Professor da UFMT/Faculdade de Geociências.
É com profundo pesar que a Adufmat-Ssind comunica o falecimento do bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, aos 93 anos, na manhã deste sábado (08/08). Símbolo de resistência e conhecido pelo seu trabalho pastoral ligado ao combate à violência dos conflitos agrários e defesa de direitos dos povos indígenas, o bispo emérito estava internado há uma semana devido a problemas respiratórios agravados pelo Mal de Parkinson. Ele havia sido transferido para um hospital em Batatais (SP) na noite de terça-feira (04/08).
Para a Adufmat-Ssind, Dom Pedro Casaldáliga foi um baluarte da resistência dos povos originários. Sua história foi de luta e resistência pela garantia de direitos humanos, pois a sociedade capitalista não reconhece a humanidade. Por fazer parte da mesma luta, o sindicato tem plena ciência da grandeza de Pedro Casaldáliga.
Alvo de inúmeras ameaças de morte e até mesmo de processos de expulsão do Brasil, durante a Ditadura Militar, ficou conhecido pela sua atuação pastoral e pela sua produção literária, que inclui poesias a manifestos, artigos, cartas circulares, obras ligadas a espiritualidade e de cunho político, editadas e publicadas no Brasil e no exterior.
Em meados dos anos de 1980, se aproximou de pesquisadores da UFMT compartilhando o seu conhecimento acerca da região amazônica durante a penetração do capital naquele espaço, na tentativa de incorporá-lo à economia nacional e internacional com o programa POLOAMAZÔNIA. Três dos pólos prioritários eram em Mato Grosso: Xingu-Araguaia, Juruena e Aripuanã. “O Polo Xingu-Araguaia se situava na região da Fazenda Suiá-Missu, na Prelazia do Araguaia, local onde está localizada a Terra Indígena Xavante-Marãiwatsede. Então, foi inevitável recorrer a D. Pedro Casaldáliga, em função do seu profundo conhecimento da região, do trabalho que realizava em defesa dos povos indígenas, dos quilombolas, dos posseiros e de todos os pobres e expropriados da frente de ocupação da Amazônia”, lembra o professor José Domingues de Godoi Filho.
Godoi ressalta que os laços de D. Pedro com a Adufmat-Ssind se estreitaram em 1999, quando dirigiu o sindicato e foi procurado por um trabalhador em regime de trabalho análogo à escravidão no noroeste do estado, que após conseguir se salvar do acampamento solicitou ajuda para encontrar outro colega. “Ele nos pediu ajuda e nos informou que um outro colega teria fugido para a região da Prelazia no Araguaia. Ao mesmo tempo que o acomodamos em local seguro, fomos procurar o seu colega. Eu, uma jornalista da Adufmat-Ssind, uma funcionária de apoio e um jornalista e um fotógrafo de um jornal de Cuiabá, seguimos para São Félix do Araguaia para consultar D. Pedro sobre a situação e para saber se ele tinha alguma notícia do fato ocorrido na região”, afirma Domingues.
Em 2002, o sindicato propôs que a UFMT concedesse o título de “Doutor Honoris Causa” à D. Pedro Casaldáliga, em reconhecimento ao seu trabalho e luta por defender os direitos humanos, especialmente dos povos indígenas e marginalizados e também por suas posições políticas e religiosas a favor dos mais pobres. Assim, o bispo foi a primeira pessoa a receber tal honraria por parte da UFMT.
Para José Domingues, o falecimento de D. Pedro é uma perda irreparável, especialmente no momento em que vivemos. "Grande D. Pedro, obrigada por seu exemplo de coragem e de luta. Honraremos a sua memória!”, declara.
Em 2018, a Adufmat-Ssind também realizou um ato em homenagem aos 90 anos de Dom Pedro.
Nas palavras do professor Domingues, o sindicato manifesta sua gratidão e respeito à vida de luta de D. Pedro Casaldáliga.
"Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar! Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos, para ampararem cercas e bois e fazer da Terra escrava e escravos os homens".
Dom Pedro Casaldáliga.
Dom Pedro Casaldáliga, presente hoje e sempre!
Informações sobre o velório:
De acordo com a Prelazia de São Félix do Araguaia, que comunicou o falecimento de D. Pedro neste sábado, o bispo será velado em três lugares:
Em Batatais – SP, no dia 08 de agosto de 2020, a partir das 15 horas na capela do Claretiano – Centro Universitário de Batatais, unidade educativa dirigida pelos Missionários Claretianos, situada à rua Dom Bosco, 466, Castelo, Batatais, São Paulo, Brasil.
A missa de exéquias será celebrada, em Batatais, no dia 09 de agosto de 2020 às 15h, no endereço acima e será aberta ao público em geral, além de ser transmitida ao vivo pelo link https://youtu.be/spto8rbKye0. O link estará aberto para que outros veículos de comunicação possam retransmitir.
Em Ribeirão Cascalheira – MT, no Santuário dos Mártires, a partir do dia 10 de agosto, sem previsão de horário de chegada do corpo.
Em São Félix do Araguaia – MT, no Centro Comunitário Tia Irene. O sepultamento será em São Félix do Araguaia, sem previsão de dia, pois antes passará por Ribeirão Cascalheira.
Layse Ávila
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind
Em diversos estados e municípios do país, professores do Ensino Básico público e particular têm se mobilizado contra a volta às aulas presenciais nas escolas, suspensas devido às medidas de isolamento frente à Covid-19. O Brasil entra no quinto mês da pandemia com mais de 2,8 milhões de casos e quase 100 mil mortos. Em muitos lugares, a curva de infectados não para de crescer.
No Rio de Janeiro, os professores da rede pública municipal de ensino decretaram greve contra o retorno previsto para segunda-feira (3). O mesmo aconteceu na rede estadual, com greve decretada para esta quarta-feira (5). De acordo com o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do estado (Sepe-RJ), a greve se fez necessária em decorrência da pandemia, que não está controlada, e resguardará "a vida de professores, funcionários de escolas, bem como estudantes e todos os seus familiares", diz o sindicato. As atividades on-line com os estudantes serão mantidas, segundo o Sepe RJ, que defende que elas "precisam ser complementares" e não obrigatórias.
Já na rede particular, os professores organizados pelo Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (Sinpro-RJ) decidiram, em assembleia realizada no dia 1° de agosto, manter a greve decretada em 6 de julho contra a volta às aulas presenciais prevista para ocorrer na segunda (3). O retorno, segundo a entidade, só deverá ocorrer com a garantia das autoridades da saúde e da ciência, com base em rígidos protocolos de segurança.
O Ministério Público e a Defensoria Pública tentam suspender o retorno das aulas em escolas particulares da capital. Porém, no domingo (2), o pedido foi negado pela Justiça. MP e DP tentam recorrer da decisão do plantão judiciário. As instituições consideram que o retorno às aulas presenciais "traz risco à vida e saúde da coletividade, além de promover desigualdade de acesso à escola" e basearam seus pedidos num estudo da Fundação Oswaldo Cruz Fiocruz (Fiocruz) que prevê 3 mil novas mortes no Rio de Janeiro com um possível retorno das aulas em agosto.
Fora o Rio de Janeiro, as escolas particulares do Amazonas e do Maranhão retomaram as aulas, de acordo com os dados da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep). Outros nove estados e o Distrito Federal têm propostas de data para retornar às atividades presenciais. São eles: Acre, Pará, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
Amazonas
Em Manaus (AM), os professores da rede pública aprovaram indicativo de greve para esta quarta-feira (5) contra a determinação do governador Wilson Lima (PSC) para o retorno dos professores às escolas na segunda (3), dos alunos do Ensino Médio no próximo dia 10 e dos estudantes do Ensino Fundamental no dia 24. Ainda não há previsão para retorno das aulas no interior do estado. "É um decreto genocida e transforma as escolas em verdadeiros abatedouros", diz, em nota, o Sindicato dos Professores e Pedagogos de Manaus (Asprom Sindical).
Segundo o sindicato, a pandemia da Covid-19 ainda não está controlada na capital amazonense e o plano de retorno apresentado pelo governo não previu as reformas das janelas das salas de aulas e dos professores, testagem em massa dos trabalhadores da Educação e dos alunos para a detecção dos possíveis contaminados assintomáticos e, ainda, não previu nenhum controle do poder público sobre o transporte coletivo urbano, que é o principal meio de transporte utilizado por professores e alunos para se locomoverem. Caso o governo do Estado não volte atrás na decisão, a categoria se reunirá em nova assembleia e deflagrará greve contra o retorno das aulas presenciais. Uma carreata foi realizada para chamar a atenção da população e cobrar dos parlamentares da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) uma audiência pública sobre os riscos do retorno precipitado das aulas presenciais. As escolas particulares de Manaus retomaram as atividades presenciais no início de julho.
Distrito Federal
No Distrito Federal, os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e de educação profissional retomam as atividades presenciais no dia 31 de agosto. O retorno presencial será pelo sistema híbrido, no qual metade da turma irá à escola em uma semana e os demais terão aulas remotas em plataforma online. Na semana seguinte, as turmas se invertem. No dia 8 de setembro, será a vez do Ensino Médio e em 14 de setembro retornam os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental. Em 21 de setembro, voltam os anos iniciais do Fundamental. Para a Educação Infantil, a retomada está marcada para 28 de setembro, enquanto para os centros de ensino especial, Educação Precoce e classes especiais, as atividades presenciais retornam em 5 de outubro.
O Distrito Federal assumiu a liderança no ranking dos estados com pior desempenho no combate à pandemia do novo coronavírus no país, conforme lista elaborada pelo Centro de Liderança Pública (CLP), publicada no dia 30 de julho. Os critérios adotados são proporção de casos confirmados, evolução logarítmica de casos e porcentual de mortalidade da Covid-19, entre outros. Logo depois, aparece o Rio de Janeiro.
O Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) apresentou uma carta aberta dos diretores de escolas públicas do DF ao governador Ibaneis Rocha (MDB), afirmando ser inaceitável a reabertura das escolas, especialmente, "num momento tão grave, onde se constata o avanço da pandemia do novo coronavírus, com o aumento drástico do contágio e do número de mortes". O retorno colocaria em risco a vida de professores, funcionários e alunos, de "forma desnecessária". Entre diversas ações, o sindicato também lançou uma campanha: "Diga não ao retorno presencial nas escolas".
Já em relação à reabertura das escolas particulares, após um impasse, a Justiça do Trabalho autorizou o retorno das aulas presenciais nas escolas da rede privada do DF. Em julho, o Ministério Público do Trabalho (MPT) entrou com uma ação contra o decreto do governo que autorizou o retorno das escolas particulares no dia 27 de julho. Em audiência de conciliação realizada na última segunda-feira (3), a juíza apresentou uma proposta de cronograma para retorno da rede privada a partir do dia 10, mas não houve anuência do governo do DF e do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe-DF), que defendem a autonomia das escolas para estabelecerem seus calendários.
Em comunicado, o Sindicato dos Professores em Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinproep-DF) informou que lamenta a decisão e que está em contato com o MPT para entrarem com recurso no Tribunal Regional do Trabalho, para a suspensão das aulas. "O sindicato mantém o seu posicionamento de que este não é o momento propício para o retorno das aulas presenciais, o que, por certo, colocará em risco a saúde e a vida dos trabalhadores da educação, dos alunos e da comunidade escolar", manifestou a entidade.
São Paulo
Em São Paulo, o governo do estado anunciou um plano para a retomada das aulas presenciais a partir do dia 8 de setembro em toda a rede de ensino. A medida valeria tanto para a rede pública quanto a privada, da educação infantil até o ensino superior. Entretanto, vários municípios - a maioria prefeituras do ABC Paulista e de Mauá - decidiram que a volta às aulas presenciais na rede municipal só deveria acontecer em 2021. Na cidade de São Paulo, após muita pressão, a Secretaria Municipal de Educação voltou atrás e não deu certeza sobre o retorno às aulas no dia 8 de setembro. Dias antes, professores de várias regiões do estado realizaram uma carreata em defesa da vida, com mais de 250 carros. Para o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) o retorno às aulas provocará uma nova onda de contágio da Covid-19, o que poderá levar a um novo pico da pandemia.
Maranhão
Instituições de ensino da rede privada retornaram às aulas presenciais na segunda-feira (3), no Maranhão. Em São Luís, com poucas exceções, a maioria das escolas optou por começar a volta pelos alunos do terceiro ano do ensino médio. Nos outros níveis de ensino, o retorno deve ser realizado na próxima semana.
O Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino da Rede Particular do Estado do Maranhão (Sinterp/MA) se manifestou de forma contrária ao reinício das aulas presenciais "em face da insegurança manifestada por pais de alunos, trabalhadores administrativos e professores das instituições de ensino privado, quanto ao risco de contaminação pelo coronavírus". Para a entidade, é contraditória, em termos de política de saúde, a obrigatoriedade do retorno dos trabalhadores da rede particular de ensino em momento distinto daquele dos trabalhadores da rede pública.
Já a rede de ensino pública segue sem data prevista para o retorno presencial nas escolas, após a volta ter sido adiada mais uma vez pelo governador Flávio Dino (PcdoB). Após uma reunião com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica das Redes Públicas Estadual e Municipais do Estado do Maranhão (Sinproesemma), o governo divulgou, no dia 28 de julho, comunicado adiando o retorno das aulas, programado para o dia 10 de agosto para o terceiro ano do ensino médio, bem como para os demais níveis de ensino na rede pública estadual. O governo estadual, em nota, afirmou que manterá as aulas não presenciais e dará mais tempo para que as comunidades escolares debatam. "Vamos continuar o processo de consulta aos estudantes e às suas famílias, assim como as reuniões com o Sinproesemma".
Paraná
No Paraná, a Secretaria de Educação e Esporte do Estado (Seed) publicou no dia 31 de julho as regras para o retorno das atividades escolares presenciais previstas para setembro. Porém, no domingo (2), a Seed voltou atrás e publicou que a previsão de retorno ainda será confirmada pela Secretaria de Saúde (Sesa) nos próximos 14 dias. Antes, professores denunciaram que a Seed teria apresentado um termo para responsáveis e estudantes assinarem os responsabilizando caso se contaminem pelo novo coronavírus durante as aulas. Após diversas críticas, o termo foi modificado.
De acordo com dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), o governo tem ciência que a retomada presencial das aulas causará aumento dos casos de contaminação e mortes e quer passar essa responsabilidade para a comunidade. O Sindicato vê com preocupação a ausência de posicionamento técnico da Secretaria da Saúde (Sesa), até o momento, e o indicativo de que o governo planeja o retorno das aulas ainda durante a pandemia do novo coronavírus.
No Paraná, 56% dos casos do novo coronavírus em crianças com menos de 12 anos foram confirmados em julho, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Dados do dia 3 de agosto mostram que o estado acumula, desde março, cerca de 80 mil diagnósticos positivos e 2.028 mortes.
Rio Grande do Norte
Após muita pressão da comunidade escolar e do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Rio Grande do Norte (Sinte-RN), que cogitou uma greve, o prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), recuou e divulgou na semana passada (29) um comunicado suspendendo o retorno às aulas presenciais previstas para 10 de agosto, no caso das escolas particulares, e 14 de setembro, para os estudantes da rede municipal. A governadora, Fátima Bezerra (PT), indicou que o decreto, que trata do funcionamento das instituições de ensino, deverá ser renovado, afirmando ser "mais prudente prorrogar a suspensão das aulas". Para o sindicato, as aulas presenciais não devem voltar este ano. Além dos riscos para a saúde ao retornar às aulas presenciais, os educadores de Natal têm um elemento que reforça a possibilidade de greve que é o não pagamento do piso salarial de 2020.
Estudo Fiocruz
Um documento publicado pela Fiocruz, sobre retorno às atividades escolares no Brasil durante a pandemia de Covid-19, afirma que o primeiro critério para a reabertura das escolas é o controle da transmissão da doença. A reabertura deveria ser "realizada à luz da ciência e orientada por diretrizes gerais de órgãos como a OMS, visto que recolhe informações diárias dos países que enfrentam problemas semelhantes na pandemia".
Na ausência de vacinas ou tratamentos específicos, defende a fundação, a política do distanciamento social tem sido a mais amplamente utilizada por outros países para o controle da pandemia, associada à medidas de vigilância e ampla testagem com identificação precoce de casos e contatos.
A Fiocruz aponta também que a abertura diferenciada entre o setor público e o privado acentua a desigualdade de acesso ao ensino e, realizada sem as melhores condições epidemiológicas, coloca em risco parcela de alunos e professores da rede escolar dos estados e municípios.
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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JUACY DA SILVA*
Dentro de um dia e meio a no máximo dois dias, ou seja, nesta sexta feira 07 ou sábado 08 de Agosto de 2020, o Brasil atingirá duas marcas tristes e vergonhosas. Serão TRÊS MILHÕES de casos de pessoas infectadas e CEM MIL MORTES, pelo coronavírus.
Esses são os números oficiais que, sabidamente, não representam o tamanho real do problema, pois existe uma enorme subnotificação de dados relativos aos casos de pessoas infectadas, principalmente porque o Brasil é um dos países que menos testes tem aplicado para constatar, rastrear e tratar o número real de pessoas infectadas. Entre os países que testam, tendo como base cada milhão de habitantes ocupamos a 101a. posição.
Se fossem realizados testes de forma massiva como tem acontecido em alguns países da Europa e EUA, as estimativas indicam que o número de pessoas infectadas poderia ser de até dez vezes mais, ou seja, mais de 20 ou 30 milhões de casos e talvez o Brasil estivesse ocupando o primeiro lugar neste campeonato macabro, já que no futebol há décadas não consegue.
Por exemplo, mesmo com a subnotificação o Brasil já, de alguns meses até hoje, ocupa o segundo lugar no ranking mundial tanto em número de casos quanto de mortes. Se o Estado de São Paulo, com mais de 575 mil casos, por exemplo, fosse um país estaria ocupando a quinta posição em número de casos de pessoas infectadas e a nona posição em número de mortes pela COVID 19.
Apesar de que no inicio da pandemia, de forma irônica, demonstrando sua insensibilidade, o Presidente Bolsonaro dizia que a COVID 19 seria apenas uma “gripezinha” e outras bravatas como “ e daí, todos vão morrer um dia, eu sou messias mas não faço milagres”, ao ser questionado certa feita sobre o crescente número de casos e de mortes respondeu também de forma irônica “não sou coveiro”. Chegou até insinuar que as crianças e pessoas que nadassem em esgoto estariam se tornando imunes a COVID 19.
Coube à falta de cuidados e a forma desdenhosa como tratava a pandemia, criticando o isolamento e o distanciamento social determinado por governadores e prefeitos e fazia questão de circular em público, provocando aglomerações, apoiando direta ou indiretamente, inclusive atos antidemocráticos, sempre sem uso de máscara; dando um mau exemplo, até que em um determinado dia foi diagnosticado com a COVID 19 e teve que ficar isolado por algumas semanas.
Em seu entorno sete ministros e a primeira dama já contraíram o novo coronavírus e diversos integrantes de sua equipe que foram aos EUA acabaram também contraindo o vírus, mas nenhum teve problemas mais sérios, diferente de milhões de brasileiros que sofreram por falta de atendimento e esses CEM MIL que acabaram sucumbindo, ante a falta de leitos de UTI, falta de respiradores, falta de insumos, medicamentos e de pessoal técnico para o pronto atendimento, milhares enterrados em valas comuns, sem nenhuma dignidade e sem sequer poderem ser velados pelos seus entes queridos.
Todos os especialistas não se cansam de enfatizar que faltou ao presidente Bolsonaro a capacidade de liderança neste processo, a quem caberia coordenar e articular os esforços com os governos estaduais e municipais, dando maior celeridade às ações e maximizando os resultados, o que ele não conseguiu fazer, deixando o país perdido e sem rumo, razão pela qual não houve planejamento nem coordenação das ações, aumentando o número de vitimas.
Em meio à pandemia, a única coisa que Bolsonaro fez o tempo todo foi realizar propaganda da cloroquina, medicamento banido como forma de tratamento em diversas países pela sua ineficácia. Descontente com dois ministros da saúde, com formação médica, que se recusaram a alterar os protocolos para que a cloroquina fosse receitada de forma ampla, principalmente pelo SUS, não teve dúvida em demiti-los, colocando em seu lugar um leigo em saúde publica, apesar de o mesmo ser um general com “expertise” em logística, como ministro interino que já perdura por meses no cargo.
Em meio a esta tristeza do avanço do número de casos que nas últimas semanas quase todos os dias é superior a 40 mil ou até mais de 53 mil e o número de mortes sempre também acima de mil por dia, o Brasil e os brasileiros assistem, entre um misto de vergonha e revolta, diariamente o noticiário , em que casos e mais casos de corrupção nos Estados, nos Municípios, surrupiando preciosos recursos orçamentários e financeiros, pelas quadrilhas de colarinho branco que continuam agindo dentro e fora das instituições públicas, verdadeiras máfias que sugam a saúde pública há décadas.
A explosão que aconteceu há dois dias no porto de Beirute, que causou a morte , que poderão chegar a pouco mais de 300 pessoas e a, talvez, 10 mil feriados é de longe muito menor do que as mais de 1.500 mortes que tem acontecido todos os dias, nas últimos semanas pelo coronavírus no Brasil e a mais de 53 mil de novos casos em alguns dias. Só nos últimos doze dias foram mais de dez mil mortes e mais de 500 mil novos casos, um drama que nem é notado e nem causa pesar em nossas autoridades.
Todavia, nossas autoridades, como soe acontecer, de forma super rápida demonstraram, corretamente, diga-se de passagem, a sua solidariedade ao povo libanês; enquanto o total das mortes por covid no Brasil até agora representam mais de 300 explosões da mesma magnitude que quase destruiu Beirute.
O Japão esta “comemorando”, relembrando os 75 anos do lançamento da bomba atômica que em 1945 destruiu a cidade de Hiroshima, matando 140 mil pessoas, e no Brasil que de março até o inicio de agosto deste ano de 2020 a COVID 19 já matou 100 mil pessoas e até o final do ano ceifará mais vidas do que a bomba de Hiroshima não desperta nenhuma solidariedade por parte de inúmeras autoridades que continuam agindo como se nada estivesse acontecendo de tão grave em nosso país.
Só se fala em reformas, eleições municipais, crise fiscal, equilíbrio das contas públicas, fake news e outros assuntos correlatos, pouca atenção é dedicada `a maior pandemia que está varrendo o mundo e destruindo milhares de vidas e nada é dito sobre como ficará o SUS, já falido, no pós COVID 19.
A situação da crise sanitária no Brasil, a maior desde a gripe espanhola em 1918, há mais de um século, que já era grave, gravíssima antes mesmo da chegada da COVID 19, piorou extremamente, apesar da suplementação dos recursos orçamentários e financeiros colocados `a disposição da saúde pública e deverá, assim permanecer ou até mesmo piorar no pós-pandemia.
Há poucos dias um médico sanitarista que já foi presidente da AVISA disse em uma entrevista a um canal de televisão, de forma clara e objetiva de que mesmo que a COVID 19 seja controlada e combatida com o surgimento de uma vacina que deve ocorrer talvez no primeiro semestre do ano que vem (2021), a degradação ambiental, principalmente o desmatamento da Amazônia, que segue a passos largos (a boiada continua passando) e as queimadas, contribuirão para que milhões de vírus que convivem com animais silvestres acabem afetando o ser humano, ou seja, o pior ainda está por vir.
O binômio COVID 19 e a degradação ambiental, incluindo o aumento acelerado do desmatamento da AMAZÔNIA e do CERRADO, as queimadas que já estão ocorrendo no Pantanal e nesses dois outros biomas referidos, onde mais de 120 mil ha já foram destruídos e ainda está longe de serem dominadas, bem como as queimadas na Amazônia que deverão ser superior a mais de 4, 5 ou mais vezes do que a destruição do Pantanal, estão afetando a qualidade do ar tanto no Pantanal e áreas de seu entorno, quanto na Amazônia Legal e no Centro-Oeste em geral, tornando o ar irrespirável, como já está acontecendo em Rondonópolis, Cuiabá, Corumbá, Campo Grande e região, quanto em outras regiões mais distantes.
Apesar dos “esforços” dos governos federal e estaduais, incluindo a atuação das Forcas Armadas, através da GLO e do Conselho da Amazônia, presidido pelo Vice Presidente da República, tanto em 2019 em relação a 2018, quanto 2020 em relação a 2019, tanto o desmatamento quando as queimadas aumentaram de forma acelerada.
Entre Agosto de 2019 e junho de 2020 foram desmatados na Amazônia Legal nada menos do que 754 mil ha. Entre 2008 e 2019 a área desmatada de forma ilegal na Amazônia e no Cerrado foi de 2,4 milhões de ha e o desmatamento legal foi ainda maior, uma área de mais de 3,8 milhões de ha.
Outro aspecto grave deste binômio é a situação da falta de saneamento básico que afeta mais de CEM MILHÕES de pessoas, que não tem água tratada e nem coleta e tratamento de esgoto e nem coleta regular de lixo urbano, acarretando o aumento de doenças e de pressão sobre um sistema público de saúde já totalmente falido.
Além desses aspectos, o Brasil está longe de cumprir as metas a que se comprometeu junto ao ACORDO DE PARIS, seja relativamente ao desmatamento e `as queimadas quanto `a emissão de gases que provocam o efeito estufa e está mais do que comprovado por diversas estudos e manifestações de pesquisadores e cientistas que os efeitos que advirão das mudanças climáticas, incluindo o aquecimento global, serão muito piores do que todas as pandemias que já ocorreram, inclusive o CORONAVIRUS que ainda não acabou, como imaginam diversas pessoas e governantes.
Além da demanda por atendimento médico hospitalar devido `a COVID 19, os casos de problemas respiratórios, principalmente em crianças e idosos tem aumentado assustadoramente, nas cidades e áreas atingidas pela fumaça das queimadas que “viajam” centenas de km, colocando o sistema de saúde pública em colapso e o aumentando o número de casos e de mortes decorrentes de problemas respiratórios.
Segundo o depoimento deste mesmo médico, o déficit de leitos hospitalares, principalmente de UTIs era superior a 40% tendo como comparação o ano de 2008 e mesmo com o aumento dos leitos de UTI para atendimento da COVID 19, não existe nada certo de que a situação possa melhorar após a COVID 19, seja pela falta de pessoal especializado, seja pela falta de medicamentos e, principalmente, pela falta de recursos orçamentários e financeiros, premidos tanto pela corrupção quanto pelo teto dos gastos, afinal, para os doutos entendidos em finanças públicas do Governo Federal e dos governos estaduais e municipais, o “equilíbrio fiscal” é mais importante do que a vida , do que o sofrimento e do que a morte das pessoas.
Se o Brasil tivesse um Sistema público de saúde melhor equipado e em condições de atender de forma rápida e efetiva às pessoas que ao contraírem a COVID 19 precisaram desses cuidados em UTIs e respiradores, com certeza milhares dessas mortes teriam sido evitadas. Foram o que se chama de “mortes desnecessárias” ou “mortes evitáveis”, enfim, tudo isso não deixa de ser uma negligência e desrespeito `a dignidade das pessoas, onde o direito a vida lhes foi negado pelo Estado.
Afinal, para diversos governantes que pensam desta forma, as pessoas tornam-se apenas números, estatísticas, esses governantes não conseguem ver as histórias de vida, as famílias destruídas como está acontecendo em consequência desta pandemia, com o aumento da fome e da miséria, o aumento do número de famílias que estão morando na rua, em baixo de viadutos, de marquises, nas praças públicas, implorando a caridade por um prato de comida, enquanto os marajás da República nos três poderes e nos estados e municípios continuam ostentando e ampliam seus privilégios e mutretas, como as famosas “VI” verbas indenizatórias, vale saúde e outras mordomias mais.
Alguns estudiosos e pesquisadores continuam afirmando que a COVID 19 deverá permanecer ativa em todos os países, em alguns mais e em outros um pouco menos, e uma segunda ou terceira onda não estão descartadas, como já esta acontecendo em alguns países da Europa e da Ásia, mas que com toda certeza o número de casos no mundo deverá ser superior a 25 ou 30 milhões e de mortes mais de 1,5 milhões ou até dois milhões, até que alguma vacina esteja `a disposição de forma universal para que a população possa ser imunizada, como ocorre com outras viroses.
No caso brasileiro imagino que até o surgimento da vacina e da imunização ampla da população poderemos ter mais de 20 milhões de casos de pessoas infectadas, tendo em vista que esses três milhões que deveremos atingir dentro de dois dias, representa uma grande subnotificação, como todos os estudos e pesquisas tem indicado e o número de mortes poderá ser superior a 150 mil ou até chegar a 200 mil vidas ceifadas desnecessariamente, caso as pessoas não se precavenham e as autoridades e organismos públicos continuem insensíveis, ineficientes, ineficazes e sem efetividade como ocorre no momento e a burocracia e a corrupção continuem aumentando o sofrimento e as mortes de tanta gente.
*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, sociólogo e mestre em Sociologia. Colaborador de alguns veículos de comunicação social. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy