É com profundo pesar que a Adufmat-Ssind comunica o falecimento do bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, aos 93 anos, na manhã deste sábado (08/08). Símbolo de resistência e conhecido pelo seu trabalho pastoral ligado ao combate à violência dos conflitos agrários e defesa de direitos dos povos indígenas, o bispo emérito estava internado há uma semana devido a problemas respiratórios agravados pelo Mal de Parkinson. Ele havia sido transferido para um hospital em Batatais (SP) na noite de terça-feira (04/08).
Para a Adufmat-Ssind, Dom Pedro Casaldáliga foi um baluarte da resistência dos povos originários. Sua história foi de luta e resistência pela garantia de direitos humanos, pois a sociedade capitalista não reconhece a humanidade. Por fazer parte da mesma luta, o sindicato tem plena ciência da grandeza de Pedro Casaldáliga.
Alvo de inúmeras ameaças de morte e até mesmo de processos de expulsão do Brasil, durante a Ditadura Militar, ficou conhecido pela sua atuação pastoral e pela sua produção literária, que inclui poesias a manifestos, artigos, cartas circulares, obras ligadas a espiritualidade e de cunho político, editadas e publicadas no Brasil e no exterior.
Em meados dos anos de 1980, se aproximou de pesquisadores da UFMT compartilhando o seu conhecimento acerca da região amazônica durante a penetração do capital naquele espaço, na tentativa de incorporá-lo à economia nacional e internacional com o programa POLOAMAZÔNIA. Três dos pólos prioritários eram em Mato Grosso: Xingu-Araguaia, Juruena e Aripuanã. “O Polo Xingu-Araguaia se situava na região da Fazenda Suiá-Missu, na Prelazia do Araguaia, local onde está localizada a Terra Indígena Xavante-Marãiwatsede. Então, foi inevitável recorrer a D. Pedro Casaldáliga, em função do seu profundo conhecimento da região, do trabalho que realizava em defesa dos povos indígenas, dos quilombolas, dos posseiros e de todos os pobres e expropriados da frente de ocupação da Amazônia”, lembra o professor José Domingues de Godoi Filho.
Godoi ressalta que os laços de D. Pedro com a Adufmat-Ssind se estreitaram em 1999, quando dirigiu o sindicato e foi procurado por um trabalhador em regime de trabalho análogo à escravidão no noroeste do estado, que após conseguir se salvar do acampamento solicitou ajuda para encontrar outro colega. “Ele nos pediu ajuda e nos informou que um outro colega teria fugido para a região da Prelazia no Araguaia. Ao mesmo tempo que o acomodamos em local seguro, fomos procurar o seu colega. Eu, uma jornalista da Adufmat-Ssind, uma funcionária de apoio e um jornalista e um fotógrafo de um jornal de Cuiabá, seguimos para São Félix do Araguaia para consultar D. Pedro sobre a situação e para saber se ele tinha alguma notícia do fato ocorrido na região”, afirma Domingues.
Em 2002, o sindicato propôs que a UFMT concedesse o título de “Doutor Honoris Causa” à D. Pedro Casaldáliga, em reconhecimento ao seu trabalho e luta por defender os direitos humanos, especialmente dos povos indígenas e marginalizados e também por suas posições políticas e religiosas a favor dos mais pobres. Assim, o bispo foi a primeira pessoa a receber tal honraria por parte da UFMT.
Para José Domingues, o falecimento de D. Pedro é uma perda irreparável, especialmente no momento em que vivemos. "Grande D. Pedro, obrigada por seu exemplo de coragem e de luta. Honraremos a sua memória!”, declara.
Em 2018, a Adufmat-Ssind também realizou um ato em homenagem aos 90 anos de Dom Pedro.
Nas palavras do professor Domingues, o sindicato manifesta sua gratidão e respeito à vida de luta de D. Pedro Casaldáliga.
"Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar! Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos, para ampararem cercas e bois e fazer da Terra escrava e escravos os homens".
Dom Pedro Casaldáliga.
Dom Pedro Casaldáliga, presente hoje e sempre!
Informações sobre o velório:
De acordo com a Prelazia de São Félix do Araguaia, que comunicou o falecimento de D. Pedro neste sábado, o bispo será velado em três lugares:
Em Batatais – SP, no dia 08 de agosto de 2020, a partir das 15 horas na capela do Claretiano – Centro Universitário de Batatais, unidade educativa dirigida pelos Missionários Claretianos, situada à rua Dom Bosco, 466, Castelo, Batatais, São Paulo, Brasil.
A missa de exéquias será celebrada, em Batatais, no dia 09 de agosto de 2020 às 15h, no endereço acima e será aberta ao público em geral, além de ser transmitida ao vivo pelo link https://youtu.be/spto8rbKye0. O link estará aberto para que outros veículos de comunicação possam retransmitir.
Em Ribeirão Cascalheira – MT, no Santuário dos Mártires, a partir do dia 10 de agosto, sem previsão de horário de chegada do corpo.
Em São Félix do Araguaia – MT, no Centro Comunitário Tia Irene. O sepultamento será em São Félix do Araguaia, sem previsão de dia, pois antes passará por Ribeirão Cascalheira.
Layse Ávila
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind