Segunda, 04 Janeiro 2016 12:06

 

Poucas vezes na nossa história um ano deixou tão poucas saudades quanto esse de 2015, que felizmente vai se despedindo, ainda que aos trancos e barrancos.
Aqui no Brasil fomos vítimas de todos os tipos de achincalhes, de humilhações, de desrespeito, de cenas inesquecíveis de escárnio e de canalhices de toda ordem da parte de pessoas por nós eleitas, supostamente para promover a ordem e o bem estar de todos.
Famílias inteiras desestruturadas pela alta inflação, pelo desemprego, pela angústia do não recebimento de seus salários, pela recessão galopante, pela falência gradativa dos governos estaduais e federal.
Enfim, clima de pânico total em função dos fatos políticos e econômicos cada vez mais alarmantes dos noticiários.
A classe política, de um modo geral, abusou de suas prerrogativas de poder e encastelou-se, alheia aos clamores de toda uma população cada vez mais deprimida e angustiada.
Corrupção escabrosa, conchavos criminosos, conivência explícita com organizações dirigidas para assaltar o erário público, enfim, tudo que conseguisse aniquilar com o tão propalado “brasileiro, profissão esperança”. 
Sabemos que o mundo todo passa por momentos difíceis, mas, nem de leve, a não ser nos países em guerra, vimos semelhantes desmandos vividos aqui na terrinha, outrora orgulhosa por ser uma das mais promissoras nações em desenvolvimento, tendo em vista o potencial de riquezas de que é possuidora.
Que 2016, ora raiando, afastem-se de nós a intolerância, a mesquinharia, a vaidade, a soberba.
Que a classe dirigente, seja ela de que partido for, se conscientize da necessidade de um entendimento maior, coletivo, que possa tirar todo esse povo, que vem sendo esgarçado ao limite máximo de suas perspectivas ordeiras  e bem humoradas, da situação afligente em que se encontra.
Esses são os meus votos para o novo ano que vai iniciar. 
Que a família brasileira possa readquirir a paz, aliás, modestamente, única das suas pretensões.

Gabriel Novis Neves
13-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:05

 

Mais um Natal! Acordei com um firme propósito: praticar o desapego. 
Segundo a filosofia oriental esta prática consiste em nos desapegarmos de tudo que não usamos - daquilo que não nos é mais necessário. 
A filosofia ocidental faz exatamente o contrário – torna as pessoas retentivas, algumas vezes beirando à mesquinharia. 
Essa conta é difícil de ser zerada, até porque, nós, idosos e velhos que moramos sozinhos, acabamos depositários de tudo que os filhos acham que precisarão um dia. 
Nossas casas se transformam num emaranhado de grandes entulhos, principalmente quando há espaço para isso. 
Como já chegamos à fase da não discussão, aceitamos resignados, às vezes nem tanto, essas imposições que a idade vai trazendo. 
Confesso que gostaria de uma grande jornada de desapego, mas, sei que isto me traria problemas de outra ordem. 
Entretanto, cada dia invejo mais os ditos egoístas, que conseguem priorizar os seus desejos, fazendo de suas velhices um mar de liberdades. 
Por agora, conforta-me apenas o sentimento de ser aquele velho cordato, sempre atento para agradar os circunstantes, tarefa que, convenhamos, muito pouco consigo fazê-la. 
O mundo mudou além do esperado nesses últimos oitenta anos, e todos os valores éticos se pulverizaram para as novas gerações. 
Tudo que aprendi foi, não só anulado, como considerado careta e jurássico. 
Cheguei à conclusão, depois de ouvir uma palestra em vídeo, que cada um de nós é um ecossistema próprio e único, composto de um quadrilhão de microrganismos, e que somente juntos podemos formar o ecossistema global que sustenta o planeta. 
Diante dessa lógica estamos totalmente vinculados uns aos outros, ainda que no cotidiano algumas vezes isso se torne muito pesado para nós.

Gabriel Novis Neves
28-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:04

 

Minha vida em nada combina com meu porte grifado e distante - sou um weimaraner. 
Possuo belíssimos olhos claros e pelagem acinzentada. Dizem que é uma cor de cinza só presente na minha raça. Sou carinhoso, dócil, brincalhão e curioso. 
Não sou agressivo, mas não sou subserviente. Estou habituado ao requinte das pessoas que praticam um dos espores mais elegantes da Europa – a caça. 
Em contraste com tudo isso, aqui na terrinha, tenho levado uma vida ao relento desde que o meu protetor, um simpático hippie dos anos 70, tornou-se um morador de rua. 
Tínhamos abrigo numa daquelas Kombis estacionadas na praia de Ipanema, onde ambulantes fazem a sua feriazinha diária à custa de vendas de cocos. 
Esse pequeno detalhe, entretanto, não tirou a nossa alegria, já que continuamos com o nosso despertar habitual logo aos primeiros raios de sol, quando partíamos, eu e meu protetor, para uma longa e prazerosa natação na bela Ipanema.  
Adoro essa parte do dia, quando posso, descontraidamente, exercitar a minha total liberdade. 
Em volta já começam os pequenos serviços para os banhistas madrugadores, geralmente atletas e idosos. 
Dessas tarefas ao longo do dia depende a única refeição que assegurará a sobrevivência do meu querido Pipão. 
A minha, fornecida pela simpatia e carinho que transmito, é da melhor qualidade, sempre fiscalizada por uma bela loura jogadora de vôlei de praia que me paparica como ninguém mais consegue fazê-lo. 
Tanto que estou sabendo que hoje ela me levará a um desses elegantes Pets para banho e embelezamento. 
Desde que a prefeitura nos tirou da praia, temos tido dificuldade na busca de uma marquise mais abrigada onde eu e meu protetor possamos dormir, pelo menos nos dias chuvosos. 
Graças à solidariedade dos nossos amigos frequentadores do Posto 9, parece que teremos um teto num quarto a ser alugado na comunidade do Pavãozinho, tudo pago pelos nossos admiradores em sistema de cotização. 
Muito avesso a qualquer tipo de aprisionamento, um desses dias, despreguei-me do que me acorrentava e saí em busca de novas experiências, quem sabe novos amores... 
Infelizmente a minha raça não tem um bom aparelho visual, apesar da beleza chamativa dos meus olhos, e acabei atropelado na praia de Ipanema. 
Mais uma vez a sorte me sorriu e tive apenas uma pequena luxação, logo resolvida com o auxílio de um bom veterinário.
Fui imediatamente cercado por muitos transeuntes e a única dificuldade foi que eles aceitassem a minha entrega ao meu protetor, que logo foi avisado que eu estava ansioso por ele. 
A sua chegada devolveu-me a alegria e a segurança que o momento exigia e fez com que todos se questionassem por que razão um simples mendigo tinha sido agraciado com amizade de um cão tão elegante. 
Como caçador, perco as estribeiras quando vejo gatos, pombos e aves em geral. Eles não me interessam como alimentação, apenas como troféus para serem mostrados aos que confiam na nossa capacidade de exímios caçadores. 
Preciso entender que não estou no lugar onde meu DNA se fazia necessário e que aqui, na selva urbana, preciso usar de outros atrativos para continuar a ser amado. 
Enfim, sem IPTU, sem IPVA, sem IR, sem os impostos escorchantes que aviltam os bolsos e as cabeças de todos os outros mortais, eu e meu protetor, vamos levando uma vida de total descompromisso e plenos de liberdade... 
Gosto de frisar “protetor”, pois a palavra “dono” não me agrada em nada. Ninguém é dono de ninguém, e muito menos de animais ou coisas. 
A mãe natureza faz questão de nos dar tudo e, invariavelmente, nos tirar em seguida. 

Gabriel Novis Neves
10-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:03

 

Quando penso em novos cursos de medicina fico preocupado com a qualidade e com o número excessivo de autorizações concedidas pelo governo. 
Em apenas cinco anos - de 2011 a 2015 - foram liberados para funcionar 79 novos cursos, segundo o Conselho Federal de Medicina. 
Evidentemente não houve o mínimo cuidado das autoridades responsáveis com a qualidade desses novos cursos, pois um bom médico, não necessariamente, será um aceitável professor de medicina. 
Só para se ter uma ideia dessa minha preocupação com a formação dos nossos futuros médicos, de 1808, quando foi criado o primeiro curso de medicina no Brasil com a chegada da Família Real, até 1994, foram abertos 82 estabelecimentos desse tipo. 
Em 1960, quando terminei o meu curso de graduação em Medicina no Rio de Janeiro, na hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), antiga Universidade do Brasil (UB), existiam em nosso país apenas 23 escolas médicas! 
Tínhamos alunos de todo o Brasil e países vizinhos, além de excelentes professores com prestígio internacional. 
Naquela época o curso de graduação era o ponto final para a formação do médico que nossa nação precisava. 
O aluno deixava a faculdade com o seu diploma reconhecido pelo antigo Conselho Federal de Educação e com o título de médico, e não, de especialista. 
Habilitado em Clínica Médica - Cirurgia, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia - apresentava condições para exercer a medicina no interior do Brasil com eficiência e humanismo, além de ser capacitado para implantar serviços como de Ortopedia e Traumatologia, Neurocirurgia, Cirurgia Torácica, Oftalmologia, Otorrino, Emergência e Urgência, todos com amplo conhecimento de clínica médica e cirúrgica. 
Hoje, o aluno que conclui a graduação, necessita de Residência Médica, Especialização, Mestrado e Doutorado para conseguir entrar e permanecer no mercado de trabalho. 
As nossas escolas médicas abdicaram da função de formar o médico de visão holística e optaram pelo especialista. 
O paciente perdeu o seu médico de referência e tem dezenas de profissionais que o atendem sabendo muito de pouco. 
É fácil constatar o que afirmo. Basta perguntar a um cliente quem é o seu médico.  
Por opção a esse tipo de política educacional temos nichos de medicina de excelência para os ricos, e para os pobres importamos “médicos” de países pobres. 
O Brasil precisa de médicos hipocratianos - do corpo e das emoções - para povoar os mais de cinco mil e quinhentos municípios e restituir a dignidade daqueles que atendemos fragilizados. 
Vamos criar a carreira de médico de atenção primária de saúde e sua prevenção? 
As faculdades de medicina terão que se adequar, e o Brasil se humanizar no atendimento aos enfermos pobres, maioria entre nós. 

Gabriel Novis Neves
04-11-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:02

 

Acredito que a única justificativa para aqueles que não são viciados em jogos de loteria fazer uma “fezinha” todas as quartas e sábados, seja a de acreditar no acaso.
Apostar na Mega-Sena, onde a possibilidade de acertar é de um para cinquenta milhões, significa ser adepto do imenso grupo de pessoas que tem a sorte como um dos seus mandamentos.
Especialmente um sorteio que há anos vem criando suspeitas no Congresso Nacional sobre a sua lisura, sendo apresentado dado substancial pelo Senador Álvaro Dias do Paraná, que solicitou a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Até hoje reinam grandes suspeitas com relação ao peso das “bolinhas da sorte” para resultados programados.
Não sei jogar cartas nem jogos de cassino, mas, como ideologicamente acredito na sorte, fiquei condicionado a fazer dois jogos por semana na Loteria da Caixa Econômica Federal, o que significa uma despesa extra de catorze reais.
Interessante que fazemos o jogo sabendo de todas as dificuldades e que a possibilidade de acerto é apenas um sonho. Satisfeitos ficamos quando sabemos que ninguém acertou.
O que me chama a atenção ultimamente é o número de prêmios acumulados. 
Quando esses jogos foram iniciados os vencedores eram mais frequentes. Será que existe também alguma explicação para este fenômeno?
Dezembro foi um mês de acúmulos de não acertadores, fechando com o superprêmio da Mega-Sena da Virada.
Enfim, ludibriados ou não, vamos mantendo a esperança em alguma coisa que possa nos devolver a perspectiva de algum tipo de futuro, já que aquele que nos é apresentado pela nossa classe dirigente é dos mais sombrios.
Nada mais promissor que cultuar uma longínqua esperança de ganhar um superprêmio do Papai Noel!

Gabriel Novis Neves
21-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:00

 

Desde a mais remota antiguidade o coração é tido por muitos como a casa da alma, da razão, do pensamento e da emoção.
Até hoje, mesmo com o avanço da medicina, esse conceito permanece.
Sabemos que é meramente simbólico, sem nenhum fundamento científico, ainda mais sendo o coração o órgão mais investigado tecnologicamente.
Com as pesquisas recentes, ficou claro que o cérebro, este sim, passou a ser o grande receptáculo de todas as emoções, sendo o coração apenas um dos órgãos mais afetados durante esse processo.
As demonstrações de afeto, carinho, amor, são sempre direcionadas para a bomba muscular responsável pela distribuição de sangue para nutrir as células do corpo humano.
Em jogos de futebol é comum observarmos jogadores apontando as mãos para o coração, transmitindo com esse gesto toda a emoção sentida no gol feito.
Erroneamente, na crença popular, ficará ainda por muitos anos o coração como um centro maravilhoso de emoções.
Sabemos que todos esses fenômenos atribuídos ao coração são fabricados por esse órgão misterioso e tão pouco conhecidos dos cientistas, que é o cérebro.
As nossas emoções são resultados de bilhões de conexões de neurônios que, com perfeição, atingem todos os órgãos do nosso organismo, principalmente o coração.
Devido ao estímulo recebido do sistema nervoso autônomo, o coração pode ser afetado pelas emoções, não só nos momentos de felicidade ou atos de amor, porém, também, em sensações de tristezas ou perigo.
Mesmo com o cérebro indecifrável e responsável por tudo que nos acomete, é o coração que continua como o centro das atenções das pessoas e autoridades de saúde de todo o mundo.
Basta verificar que todos nós morremos de parada cardíaca, que significa a interrupção do funcionamento da máquina que irriga o nosso organismo de oxigênio.
O motivo é a falência múltipla dos órgãos, todos comandados pelo cérebro, que morre antes da ausência dos batimentos cardíacos, muitas vezes mantidos por medicamentos.
A verdade é que a emoção interfere no coração, e as doenças cardíacas ocupam o primeiro lugar como a causa de morte no mundo.
O professor Elias Knob El, do Hospital Albert Einstein, lançou um livro, com vários colaboradores, tentando explicar a influência das emoções sobre o coração.
“Coração... É emoção”

Gabriel Novis Neves
19-11-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 12:00

 

Tenho um amigo jornalista do qual sou grande admirador. 
Certa ocasião, em conversa informal, revelou-me que só publicava em seu blog notícias que não estão na mídia, pois estas já foram lidas e relidas, vistas e ouvidas à exaustão.  
Preenchia o seu espaço com notícias culturais e informações úteis, ou então, com artigos e crônicas não pasteurizadas. 
Concordei com o competente mestre. Estamos intoxicados de assuntos repetitivos, com anorexia para a leitura dos jornais e noticiário de televisão. 
Com essa turbulência política, até canais pagos trocam suas excelentes programações e dedicam o seu tempo transmitindo as sessões do Congresso Nacional. 
Posteriormente, os seus jornais repetem as notícias fartamente divulgadas durante todo o dia. 
Ficamos sem alternativa para usufruir de bons programas de lazer e aprimoramento cultural. 
Dezembro deveria ser um mês de festas e confraternizações. 
Foi transformado em um terrorismo de más notícias políticas, econômicas, sociais, em um planeta de intolerância de todas as ordens.  
Infelizmente, são essas notícias que são consumidas pela maioria da nossa população. 
Até os chineses querem saber o que acontece na terra de Pedro Álvares Cabral! 
Enquanto isso, países detentores de moeda forte, como o dólar e o euro, estão comprando tudo que é bom por aqui a preço de banana. 
Estamos pagando um preço altíssimo por esse modelo político que democraticamente escolhemos, e que agora se fala em destituí-lo constitucionalmente por intermédio de um dispositivo legal que é o impeachment. 
Espera-se um grande debate jurídico, já que a decisão é essencialmente política e não encontra solução por si mesma. 
Que o sábio que nasceu na manjedoura ilumine os nossos caminhos, tão obscuros nesse momento. 
Queremos escrever sobre assuntos que não são notícias sensacionalistas, impossível neste momento de turbulência política. 
Que a lucidez prevaleça entre os responsáveis por esta nação!

Gabriel Novis Neves
11-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:58

 

A mímica do Ministro da Fazenda brasileiro, após 347 dias em que tentou implantar um ajuste fiscal para a economia brasileira, era de quem estava levitando.  
Sim, Joaquim Levy deixou, finalmente, o governo petista sem conseguir os seus objetivos, porém, cônscio de tudo ter tentado. 
Se continuasse no governo teria sucumbido às exigências de uma política econômica expansionista com a qual não concordava. 
O remédio que propunha era amargo para uma economia cambaleante. Não teve êxito nas suas propostas e, elegantemente, saiu de cena com a mesma classe com que entrou. 
O novo antigo Ministro da Fazenda empossado, já no governo na área do planejamento, adepto da chamada política monetarista, desenvolvimentista, é totalmente afinado com os desejos da Presidência da República que, no fundo, insiste em não delegar maiores poderes aos seus subordinados, principalmente na área econômica. 
Segundo os mais influentes economistas internacionais, voltamos a pisar num terreno escorregadio, com poucas ou nulas possibilidades de êxito, ainda que num curto período inicial de tempo haja uma perspectiva de algum alívio para o mercado. 
Concluem ainda que a médio e longo prazo correremos o risco de entrar em absoluto caos econômico, tal como os ocorridos na Grécia e na Argentina que adotaram políticas semelhantes. 
Resta-nos contar com o espírito patriótico de toda essa nossa classe dirigente e torcer para que esse país, o mais surreal do planeta, consiga sair desse enorme imbróglio em que se meteu no mais rápido espaço de tempo possível. 
Sua população, ordeira, apática e submissa, muito em função de seu baixo nível educacional, não merece passar outros Natais como esse, desesperançosa de dias melhores.

Gabriel Novis Neves 
21-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:57

 

Fiquei fascinado com a entrevista de um dos mais consagrados intelectuais do Ocidente, prestes a completar 90 anos, o Dr. Zygmunt Bauman que, com a sua inteligência e brilhantismo, a todos encantou em sua recente passagem pelo Brasil. 
Nascido na Polônia foi vítima dos efeitos do estalinismo e do antissemitismo.  Morou na União Soviética e vivenciou os horrores da Segunda Guerra Mundial até que, com seus mais de cinquenta livros publicados, ser considerado uma das mentes mais brilhantes da nossa época. 
Seu tema mais discutido no momento é “A Fluidez do Mundo Líquido”. 
Ele nomeia de interregno “essa fase difícil pela qual passa a humanidade, em que os valores arcaicos do século passado foram todos superados sem que novas práticas de condutas político partidárias, econômicas, educacionais, sociais e até mesmo interpessoais tenham se estabelecido na sociedade”. 
Resumindo, uma nova ordem mundial, ainda engatinhando, deverá substituir outra, antiga, já obsoleta. Isso é o que tanto diferencia o século XX do atual século XXI. 
O Dr. Bauman, com a sua lucidez e discernimento, é um exemplo de que a sociedade nem sempre condena os mais idosos ao abandono e à indiferença. 
Trata-se de uma velhice premiada!  Aconselho a todas as mentes mais aguçadas a se interessarem pela bela entrevista do Dr. Bauman feita pelo jornalista Marcelo Lins através do programa Milênio, do canal Globo News.

Gabriel Novis Neves
10-12-2015

Segunda, 04 Janeiro 2016 11:52

 

Conceito vago, cheio de definições, todos questionáveis e, principalmente, subjetivas.
Até porque, vários são os tipos de amor, e todos muito diferentes de pessoa para pessoa.
Amamos numa dimensão muito própria, raramente compreendida pelo “outro”, que seria a finalidade em si.
A capacidade de doação é específica em cada ser humano e está sujeita a modificações, que dependem da época e dos costumes.
Somos todos imperfeitamente formados por uma mistura de sentimentos, tais como amor, ódio, vingança, raiva, ciúme, vaidade, egoísmo, altruísmo, enfim, a matriz humana não é lá das melhores.
Em alguns de nós predomina os sentimentos positivos, enquanto em outros, dados os seus condicionamentos, os sentimentos negativos.
Excluídos os fatores genéticos, com certeza de real importância, chegamos todos mais ou menos “puros” ao mundo.
As circunstâncias e o meio em que somos criados vão, progressivamente, moldando o nosso caráter e fazendo com que sejamos tão diferentes uns dos outros.
Com relação ao amor como ele se apresenta nos dias atuais, o chamado amor romântico, só passou a existir a partir do século XIX.
Antes disso, as pessoas se uniam através das escolhas familiares, sempre voltadas para possíveis benefícios financeiros.
Não que isso tenha mudado muito, mas já existe uma espécie de escolha do ser amado, ao menos aparentemente.
Começam a ser aceitas escolhas independentemente de raça, religião, cor ou gênero, coisas até então inadmissíveis nos diferentes sistemas sociais.
Quantos sofrimentos a humanidade carregou em função de suas escolhas consideradas inadequadas e, nem por isso, menos intensas?
A história está aí para confirmar os inúmeros casos de pessoas do mais alto nível intelectual vítimas de preconceitos que lesaram irreversivelmente as suas vidas.
Dentre as definições de amor, a que mais consegue me tocar, ainda que sem saber da autoria, é a que diz que: “o amor é o encontro das peles e a troca das fantasias”.
Parece-me perfeita, vendo o lado químico da relação.
Todos os outros tipos de amor são circunstanciais e obedecem a regras rígidas de convivência, com as quais nem sempre concordamos, mas somos obrigados a aceitar pelas normas sociais.
Tenho, por exemplo, amigos que se vangloriam de terem curado suas carências afetivas escolhendo famílias para serem suas - não necessariamente vinculadas a laços sanguíneos.
Fácil ver isso nos inúmeros grupos familiares que, quando reunidos, o que menos conta é o afeto entre eles.
Permanecem juntos, apesar de suas idiossincrasias, apenas para fortalecer aquele clã, num resquício tribal, em que aglomerados são sempre mais fortes que indivíduos isolados.
Depois da revolução industrial, estabeleceram-se leis e princípios para que se mantivesse unido e crescente o patrimônio.
Tomou força as leis de herança, a condenação do adultério, o celibato em algumas religiões, tudo em função de preservar os bens adquiridos por determinado clã durante a vida.
A organização social é basicamente econômica, e não, amorosa, como querem pintar os mais românticos.
Até o século X era permitido o casamento aos padres, quando, a partir de então, a igreja, para proteger o patrimônio por eles deixado, estabeleceu o celibato.
O mesmo com relação ao adultério feminino, demonizado pela possibilidade de transmitir bens de herança a outras proles que não à do clã economicamente organizado.
Tanto que o adultério masculino nunca foi muito levado em conta, a não ser agora, com o aparecimento dos testes de paternidade.
Enfim, tudo que nos gere é a ordem econômica, sendo ela apenas travestida de algum romantismo para que se torne mais fantasiosa.
Quem sabe um dia, talvez em outra galáxia, poderemos nos amar um pouco mais uns aos outros, independentemente das gulas financeiras e da selvageria das competições?
Mais uma utopia... Infelizmente, sem ela, a humanidade não caminha. 

Gabriel Novis Neves
14-10-2015