Imagens: Heitor Gomes/ Adufmat-Ssind
Avenidas Marielle Franco e Olga Benário. Rua Sônia Guajajara. Praças Patrícia Galvão (Pagu) e Elza Soares. Quem passou pelo centro de Cuiabá nessa segunda-feira, 8 de março, teve a honra de transitar por esses locais. Praças, ruas e avenidas da cidade tiveram, pelo menos por algumas horas, nomes de mulheres revolucionárias que fizeram história no estado, no país e no mundo.
Essa foi a intervenção de coletivos feministas organizados para marcar o Dia Internacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras - apesar da pandemia. O ato "Pela Vida das Mulheres: por auxílio emergencial, vacinação em massa, empregos e vida digna", que teve início às 8h na Praça Maria Taquara e terminou na Praça rebatizada Tereza de Benguela (até então, Alencastro), reivindicou vacina para todos e pelo SUS, a volta imediata do auxílio emergencial e vida digna.
“Hoje foi um dia muito importante, em que nós reunimos representantes de diversas entidades e coletivos de mulheres e rebatizamos os espaços públicos. Praticamente todas as ruas de Cuiabá têm nomes de homens, alguns deles militares, ditadores. Então, o 8 de Março promoveu simbolicamente a tomada de poder das mulheres, rebatizando a avenida Getulio Vargas, que virou Olga Benário [uma vítima do Getúlio, entregue aos nazistas em 1936], a Praça Alencastro virou Praça Tereza de Benguela [líder quilombola no estado, no século XVIII], e assim por diante. Por fim, substituímos os bustos das personalidades históricas de Mato Grosso que estão na Praça Alencastro por fotos de mulheres revolucionárias e camisetas do nosso ato, representando a tomada do poder das mulheres para uma sociedade radicalmente diferente, em que a vida seja a preponderância das nossas preocupações e investimento dos nossos recursos, e não os interesses de meia dúzia de homens ricos e mimados, acostumados com privilégios e a regerem a vida de uma nação inteira submetida aos seus interesses mais mesquinhos e vis”, explicou a diretora de Comunicação da Adufmat-Ssind, Lélica Lacerda.
Para a docente, a data tem ganhado muita força pela internacionalização, e atraído a classe trabalhadora para a luta organizada até mais que do que o primeiro de maio. “É muito potente esse ato, porque a gente está na rua lutando e tem certeza de que, em todas as partes do mundo, há mulheres nas ruas lutando por causas importantes, que convergem. A gente bota nossa vida em risco para agitar essa data, porque a gente entende que precisa de uma mudança radical da sociedade, e são as mulheres que mais sofrem com a forma como essa sociedade está hoje”, acrescenta.
As políticas genocidas adotadas pelos governos brasileiros têm demonstrado a banalização da vida. Chegando a registrar quase duas mil mortes diárias por mais de uma vez, o Brasil continua a promover um extermínio interno, e a representar uma ameaça externa. Um ano após o anúncio da pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 266 mil pessoas já perderam a vida no país oficialmente – sem contar os casos não confirmados -, e o chefe de Estado brasileiro além de não investir na política de vacinas, considera que o pavor da morte e a dor de quem perdeu familiares são, em suas palavras, “mimimi”.
Nesse momento, não há vagas na nas Unidades de Tratamento Intensivo em praticamente todas as regiões do país, a precarização sistemática do SUS reflete sobre a enorme demanda por atendimento, e o Governo Federal resiste em garantir o auxílio emergencial para milhares de desempregados. São as mulheres, especialmente as chefes de família, que mais sofrem com este cenário. Em setembro de 2020, a taxa de desemprego entre as mulheres era de 16,9%, enquanto entre os homens era de 11, 8%. Boa parte das mulheres empregadas trabalha na área da Saúde – chegaram a ser 65% no ano passado, segundo o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS). Ou seja, as mulheres estão mais expostas à doença, considerando também que são a maioria da força de trabalho na área da limpeza e alimentação. Além de tudo isso, os números de feminicídio e violência doméstica aumentaram expressivamente – em Mato Grosso, aumentou em 300% os casos de estupro, que alguns jornais denominaram “atos sexuais sem permissão”.
São as mulheres que mais estão sofrendo com a pandemia. São as mulheres que se organizam, historicamente, para reivindicar profundas mudanças sociais. As mulheres fizeram e fazem história no Brasil e no mundo, demonstrando que suas demandas não são “mimimi”. No 8 de Março de 2021, num mundo arrasado por questões sanitárias, mais uma vez, as mulheres apontam a necessidade de construir um outro percurso para a história.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind