A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso – Seção Sindical do ANDES – SN (Adufmat-Ssind) recebeu o historiador argentino Osvaldo Coggiola nos dias 14 e 17/02, para dialogar com a comunidade no ciclo de debates “América Latina Insurgente: um panorama da luta de classes”.
O professor, vinculado ao Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) desde 1984, iniciou sua intervenção já no primeiro dia afirmando: “quem não se interessa pela história do capitalismo não se interessa por si mesmo”.
No dia 14/02, durante o lançamento do seu livro intitulado “Do Moderno ao Contemporâneo: uma história do mundo na Era do Capital”, Coggiola falou sobre a sua obra, explicando que foi com o capitalismo que as sociedades tomaram proporção mundial, e que o papel deste modo de produção é lidar com as forças produtivas até que não haja limites.
“A sociedade capitalista se caracteriza pela revolução constante dos meios de produção. Tudo está em perpétua transformação. Por isso é necessário traçar sua história, porque ela nunca é conclusiva. É um processo inacabado. O passado vai ser sempre objeto de novas aproximações”, disse.
Para o docente, o debate histórico, inclusive entre marxistas, é repleto de contradições e, por isso, muito rico, assim a disciplina História. Como exemplos, citou a história dos países árabes e islâmicos – objeto de uma de suas obras -, assim como as de povos latinos que tiveram sua história contada pelos colonizadores.
Com relação à situação crítica do Brasil, apontou que ainda haverá muita dificuldade para os trabalhadores. “As sociedades só se conscientizam de suas contradições quando entram em declínio. A coruja da sapiência só levanta voo no crepúsculo”, concluiu, acrescentando que a classe trabalhadora deve estar mobilizada e organizada para enfrentar e superar as adversidades.
América Latina Insurgente
Na segunda-feira, 17/02, segundo dia de debates, Coggiola desmistificou um pouco da história da chamada “esquerda” na América Latina, especialmente os governos tidos progressistas, reafirmando sempre a complexidade dos períodos históricos. “Nós tivemos governos nos quais as reivindicações econômicas se transformaram rapidamente reivindicações políticas. Por exemplo, os governos petistas podem ser considerados neoliberais na economia e sociais na política? Ora, não se pode fatiar um governo como um salame!”, ironizou.
“A América Latina teve um dos maiores planos de toda a história da humanidade para tirar milhares de pessoas do nível de pobreza absoluta. Só que não por distribuição de renda, mas por aproveitamento de uma situação econômica. No Brasil, um quarto da população recebeu o Bolsa Família, cerca de 150 milhões de pessoas. A pobreza diminuiu, mas a criminalidade aumentou. O que houve? O que houve é que as pessoas ficaram menos pobres, mas sem emprego. Continuaram sem perspectivas. Os planos sociais foram burocratizados, delegados à Ongs”, criticou Coggiola.
Assim, um dos grandes erros dos partidos considerados de esquerda no Brasil foi a adoção de políticas clientelistas, em vez de criar as condições para inserir efetivamente a classe trabalhadora no trabalho. “A esquerda tem de participar da política para defender outra política”, afirmou o docente.
A Educação, no entanto, apareceu no debate como um importante papel na construção das condições para a insurgência de movimentos sociais no Brasil. Segundo o professor, isso se deve à enorme expansão do setor nos últimos 40 anos, superior a qualquer outro país da América Latina.
Por esse motivo é grande a disputa das classes pelo formato da Educação. Enquanto o neoliberalismo apoia o empreendedorismo, retirando as disciplinas históricas das grades curriculares, os movimentos sociais apontam a imprescindibilidade do conteúdo crítico. “Não precisa de história para abrir uma empresa. Mas a esquerda está perdida justamente porque não tem o referencial histórico que deveria”, disse o convidado.
A história é viva
“Não está nada morto”, defendeu Coggiola com relação ao pessimismo de algumas análises políticas. “O capitalismo não está morto, o PT não está morto, muito menos os movimentos sociais estão mortos, ou os trabalhadores estão mortos. Lutar contra o capitalismo faz a classe trabalhadora ser capaz de governar. E se o capitalismo cai sozinho, nasce qualquer outra coisa pior. A saída para o capitalismo por si mesmo é algo que pode acabar com a humanidade. É socialismo ou barbárie, como disse Rosa Luxemburgo. E para construir o socialismo é necessário planejamento e a classe operária consciente e organizada. Sem isso vamos para a barbárie”, garantiu.
Graves crises ecológicas e o desaparecimento de parte do planeta foram algumas das consequências listadas pelo historiador caso os trabalhadores não reivindiquem as forças produtivas para si com o objetivo de construir o socialismo.
O debate realizado com o professor Osvaldo Coggiola será disponibilizado no canal da Adufmat-Ssind e redes sociais, assim como uma entrevista aberta também realizada na sede do sindicato.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind