Quarta, 26 Junho 2019 11:18

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Querendo ou não, vivemos uma “enxurrada” de novidades tecnológicas; por isso, a cada instante, vamos incorporando palavras até então inexistentes.

Nesse contexto, independentemente da razão ou não de Platão, no diálogo “Crátilo”, sobre o fato de os nomes espelharem a natureza das coisas, obviamente contestado pelo linguista Saussure, para o qual o signo é arbitrário, temos de nomear as novidades que vão surgindo. 

Diante dessa demanda, um exemplo bem comum talvez seja o verbo “deletar”, ou seja, apagar.

Esse verbo não é dicionarizado, por ex., nem mesmo pelo Novo Dicionário Aurélio, 1ª ed., 12ª impressão. Ali, o termo mais próximo disso é “deleitar”, que corresponde a “causar prazer”; ou seja, em geral, situação bem diferente daquilo que se quer anular ao olhar do outro.

Dessa forma, vamos nos cercando de muitos termos novos. Todavia, nem todas as palavras que estão “na moda” são novas. O verbo “seguir” é um exemplo.

Hoje, “seguir” é tão utilizado que, suponho, ele possa ter mais vigência e força do que o velho verbo “amar”, que, para Mário de Andrade, era o “verbo intransitivo” por excelência.

Aliás, neste momento de divisão política entre nós, brasileiros, o verbo “seguir”, em muitos casos, tem sido acionado pelo que catalisa a semântica de “odiar”. Há muita gente seguindo os passos em espaços alheios – principalmente nos virtuais – movida por ódio.

Logo, quando o verbo “seguir” atinge o patamar do “odiar”, ele pode passar ao grau semântico do verbo “perseguir”, que parece estar degraus acima do ato de “seguir”, que, em geral, é salutar entre os seres, afinal, “seguir alguém” pode até pontencializar experiências democráticas no campo dos debates sadios entre os humanos.

Mas por que estou tratando disso?

Por conta do quarto e-mail (todos arquivados) que recebi da leitora LMA. Cada correspondência, essa leitora exala ódio contra minha pessoa. Motivo: as opiniões que exponho em meus artigos. Seu ódio é tamanho que, às vezes, exala esse sentimento menor até contra pessoas que, por um motivo ou outro, elogio publicamente.

Isso acabou de ocorrer, pois, no recente artigo “Assim nasce um escritor”, parabenizo o jovem Márcio Felipe Holloway, que foi anunciado como vencedor do prêmio nacional Sesc/Literatura, com o romance “O legado de nossa miséria”. Holloway foi um brilhante estudante dos quadros de estudantes de Letras da UFMT; agora, ele cursa o mestrado conosco.

Pois bem. Sob o título “O novo comuna no pedaço”, a leitora LMA, em seu último e-mail a mim dirigido, diz:

Para receber tantos afagos o tal Marcio Felipe Holloway, (sic.) deve ser um COMUNISTA DE CARTEIRINHA. Como professor deverá exercer a tarefa de doutrinação ideológica do partido e repassar aos seus alunos fazer lavagem cerebral (sic.)  a que foi submetido no meio dos comunas na UFMT...”.

O ódio de LMA é tamanho que, sem a certeza de nada do que diz, odeia por tabela; logo, por suposição. Assim, supõe que Holloway seja “um comunista de carteirinha”. Supõe que, “como professor”, ele deverá ser um doutrinador. Antes, erradamente, supõe que eu seja um comunista; que eu seja um petista. Bizarramente, a criatura supõe a existência de “comunas na UFMT”.

Enfim, os seres que se movem pelo ódio, como LMA, são incapazes de enfrentar debates democráticos; são entulhos do autoritarismo; são perigosos, socialmente falando; são parecidos com aquela drummondiana “pedra no meio do caminho”, que em nada contribui para a edificação dos seres humanos, como verdadeiramente humanos.

Terça, 25 Junho 2019 15:44

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

A cada dia, parece que estamos viajando em uma espaçonave sem rumo, com tripulantes tresloucados e passageiros alienados e inconsequentes, nesta viagem planetária o grande desastre será apenas uma questão de tempo e o tempo urge.


Parece que estamos fadados a apressar o término do ciclo  da vida no planeta terra pelas ações que realizamos ao longo de nossa caminhada, onde a falta de cuidado com a “casa comum”, com a mãe natureza tem sido muito mais de desrespeito, de destruição e de degradação do que o cuidado necessário para que o equilíbrio entre seres humanos, demais animais e a natureza como um todo seja uma referência para a vida no planeta ou o novo paradigma de desenvolvimento.


Neste sentido, a educação ambiental deve ser cultivada em todos os lugares, em todos os países, abrangendo todas as faixas etárias e grupos sociais, vivemos em um mundo interconectado, tudo o que fazemos aqui, vai provocar consequência em outros locais.


Não basta cuidarmos de nossa casa, de nosso quintal, isto é apenas nosso dever individual, imediato e impostergável; precisamos alertar nossos vizinhos, nossos contemporâneos que todos e não apenas alguns, somos responsáveis por tudo que é bom ou ruim para a convivência humana, para a saúde do planeta e das pessoas.


Esta é uma verdade que se aplica tanto no plano individual em relação a cada sociedade e também no que diz respeito `as relações internacionais, onde todos os países e não apenas alguns devem mudar o rumo de como as questões ambientais são tratadas, de forma responsável ou em completo descaso.


Não podemos aceitar governos e governantes irresponsáveis que imaginam que desenvolvimento e soberania nacional sejam sinônimos de desrespeito ao meio ambiente.


Não destrua e nem contribua para a degradação da natureza, dos oceanos e demais cursos d’água, não desperdice, pois o desperdício aumenta a produção de lixo que acaba provocando o aquecimento global e as terríveis mudanças climáticas, que acabarão destruindo todo tipo de vida no planeta, inclusive e principalmente a vida humana.


Respeite os ecossistemas, combata o exagero dos agrotóxicos, a desertificação, o desmatamento e as queimadas, urbanas ou rurais, pois tudo isso só vai aumentar a poluição do ar e todos os demais tipos de poluição e reverterá negativamente para a vida de cada um de nós e a vida no planeta.


Pratique a reciclagem e fortaleça a economia circular, lembre-se devemos reduzir o  consumismo, através do consumo consciente e práticas sustentáveis; reutilizar tudo o que podemos e reciclarmos tudo o que é possível, aumentando a vida útil dos bens produzidos.


Cultive hábitos de consumo saudáveis, diga também ao sistema produtivo, com seu “marketing”/propaganda enganosa, para que também seja mais ambientalmente responsável, que aumente a produtividade, que busque mais inovação, que  utilize energias limpas, como a energia solar, a energia eólica e da biomassa, em lugar de energia suja advinda dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural. Lute para que cada país, inclusive o nosso, transforme sua matriz energética suja em uma nova matriz energética limpa, renovável e menos poluidora. Este deve ser o grande e novo paradígma a nos guiar no que concerne `a consciencia ambiental e cósmica.


Diga aos nossos governantes que precisamos de politicas públicas voltadas para o transporte coletivo moderno, eficiente e de massa, em substituição ao sistema de transporte individual que é uma das grandes fontes de poluição urbana, acidentes e mortes todos os anos em todos os países e ao redor do mundo.


Reduza ou substitua o consumo de carnes e derivados de animais por produtos vegetais, frutas e hortaliças produzidas organicamente, com adubação natural, sem agrotóxicos, dê o troco para esta indústria da morte.


A construção da SOCIEDADE DO BEM VIVER passa, necessariamente, por uma melhor convivência e respeito do ser humano com a natureza, incluindo o mundo vegetal e animal, a natureza deve seguir sua dinâmica, a ação humana não pode destruir o que Deus criou para o bem comum, o bem de todos e não como um objeto a ser explorado, na busca efêmera de um lucro fácil, por uma pequena minoria insaciável, deixando um passivo ambiental impagável para as próximas gerações.


Lembre-se, toda a natureza é uma harmonia divina, sinfonia maravilhosa que convida todas as criaturas a que acompanhem e respeitem sua evolução e progresso. Seja, em sua vida, um instrumento apto a sentir e promover as vibrações da paz e da serenidade da natureza e sua saúde física, mental, emocional e espiritual encontrará o perfeito equilíbrio necessário para prosperar cada vez mais. Só assim vamos reduzir as doenças, o sofrimento humano e a falta de esperança que tanto destroem a humanidade.


Não importa qual a sua religião ou sua crença, você precisa refletir e perceber que a natureza tem uma história de milhões ou bilhões de anos e não podemos em poucas décadas ou em apenas um século destruir impiedosamente tudo isso, promovendo uma relação de terra arrasada, depois de nossa geração, muitas outras hão de vir e não é justo que encontrem um planeta todo destruído que vai impor uma tremenda carga para que possam continuar vivendo de forma saudável.


Pense nisso e junte-se a tantas outras pessoas, no Brasil e mundo afora que estão realmente preocupados ante o desastre iminente caso medidas concretas que revertam esta corrida maluca não sejam tomadas urgentemente e passamos evitar desgraças maiores e piores a cada dia e a cada ano, como  as que presenciamos com frequência pelo noticiário em todos os veículos de comunicação.


Não destrua e nem permita que outras pessoas destruam impiedosamente a natureza, esta é a sua missão de vida ou morte em relação ao meio ambiente.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Twitter@profjuacy Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Segunda, 24 Junho 2019 10:15

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Até recentemente, pouco mais de uma década a questão da obesidade era considerada tanto pelas pessoas em geral quanto e inclusive pela comunidade médica, hospitalar e de saúde pública muito mais como apenas um problema estético, principalmente quando se tratava de pessoas do sexo feminino, do que propriamente uma doença que deveria ser prevenida e tratada adequadamente.

Já em 2008, uma clinica médica de Cleveland, nos EUA, através de estudos, passou a classificar a obesidade como uma doença, no que acabou sendo seguida por uma decisão de 2013 da Sociedade Médica Americana  e logo depois também pela OMS, Organização Mundial da Saúde e por sistemas de saúde pública de diversos países.

A partir deste período, os estudos, pesquisas, fóruns de debates foram intensificados e, atualmente, na maioria dos países os Sistema públicos e privados de saúde já classificam a obesidade como doença. Para conscientizar a população em geral e a comunidade de saúde em particular diversas campanhas de conscientização tem sido realizadas ao redor do mundo.

O passo seguinte, que já foi ou está sendo dado em vários países é a necessidade de  definir políticas públicas que possam contribuir para o alerta do problema da obesidade e, também, demonstrar que a obesidade tem causas multivariadas e que isto exige muito mais do que intervenções estéticas, recomendável, em princípio para quem sofre de obesidade mórbida, o mais importante é que cada pessoa procure ajuda especializada, através de equipes interdisciplinares tendo em vista que na questão da obesidade estão presentes fatores hereditários, distúrbios hormonais e psicológicos, estilo de vida, hábitos alimentares arraigados, errados e reforçados por aspectos culturais, através de sucessivas gerações.


Portanto, da mesma forma que a causa da obesidade não é apenas um problema estético, mas também de autoestima e de hábitos alimentares arraigados ao longo de gerações, segundo padrões de comportamento, é fundamental não epenas programas quase “milagrosos” de dietas e regimes que acabam fracassando para a maior parte das pessoas. O efeito sanfona é bem conhecido por milhares de pessoas que tentam embarcar nesses programas e acabam em frustração.


A ênfase atualmente, reforçada por diversas organizações de saúde , com o estímulo de universidades, centros médicos especializados e entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais, como a OMS, é no sentido de que o caminho para mudar hábitos alimentares arraigados culturalmente deva ser a RE-EDUCAÇÃO ALIMENTAR, exemplo do que vem sendo feito pela Coach/técnica em nutrição Keilla Oliveira em SP, através de sua “FÁBRICA DA JUVENTUDE”, cujos resultados tem sido observados através de mudanças significativas nesta área, com casos comprovados de redução definitiva de índices de massa corporal (IMC).


Além dos aspectos da saúde das pessoas, a obesidade já é considerada a segunda causa de mortalidade no mundo, de forma direta ou indireta, neste último aspecto devido ao fato de que a obesidade maximiza e contribui para o agravamento do outras doenças graves, crônicas e degenerativas como diversos tipos de câncer, doenças cardiovasculares, musculoesqueléticas, diabetes tipo 2 e outras mais.


De acordo com dados da OMS – Organização Mundial da Saúde de outubro de 2017, relativos ao ano de 2016, a obesidade foi responsável naquele ano pela mortalidade de 2,8 milhões de pessoas e os custos da obesidade só nos EUA chegam a aproximadamente a US$150 bilhões de dólares  por ano e no mundo esses custos diretos e indiretos são superiores a mais de R$650 bilhões de dólares por ano, maior do que o PIB de mais de 170 países.


Segundo ainda esses dados e os resultados de diversos outros estudos,  até recentemente imaginava-se que a obesidade era um problema apenas dos países desenvolvidos, Europa, EUA, Canadá, Japão. Todavia, ultimamente constatou-se que o aumento da obesidade é um problema sério que também está afetando países emergentes, como Brasil, China, Índia, Rússia e até mesmo países de média renda e outros subdesenvolvidos. Ou seja, a obesidade além de uma doença séria e grave pode se transformar, se não for tratada, em uma pandemia nas próximas décadas e estrangular os sistemas de saúde públicos e privados  de diversos países.


Existem diversas informações e resultados de pesquisas sobre este problema/desafio que facilita, o entendimento do mesmo, inclusive a presença perigosa e avassaladora da obesidade infantil e entre jovens, grupo populacional que serão os adultos e idosos dentro de poucos anos ou décadas.

Crianças e jovens obesos de hoje, serão os adultos e idosos que sofrerão com a obesidade dentro de poucos anos ou décadas, a não ser que procurem tratamento enquanto é tempo.


Em reflexões posteriores, pretendo destacar mais alguns aspectos da obesidade como doença e como desafio para milhões de pessoas que sofrem com esta terrível doença e que lutam desesperadamente para mudarem o curso de suas vidas.


Só existem três alternativas para se combater a obesidade: prevenção, reeducação alimentar e tratamento de acordo com cada caso, através, sempre de orientações de profissionais multidiscisplinares, que estudam e realmente entendam a obesidade em todas as suas dimensões.


Este é um tema da mais alta relevância e que devemos nos preocupar, afinal, em sendo a obesidade uma doença séria e grave, não tem sentido continuar sendo tratada com tanta negligência, em comparação com tantas outras doenças cujos índices de mortalidade e morbidade afetam muito menos as pessoas e os países do que a obesidade.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Quarta, 19 Junho 2019 11:39

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Das licenciaturas brasileiras, Letras objetiva formar professores de Língua Portuguesa e literaturas afins; isso não significa que não possa auxiliar na formação de outros profissionais, como, p. ex., na de escritores.

Isso acaba de ocorrer. Na edição 2019, Márcio Felipe Holloway – na categoria romance – foi anunciado, via mídia nacional, em 12/06, como vencedor do Prêmio SESC de Literatura, um dos mais relevantes e disputados do país.

Felipe cursou Letras (Português/Literatura) no Instituto de Linguagens (IL) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT. No momento, é pós-graduando em Estudo de Linguagem no mesmo local. Recentemente, foi um dos aprovados no concurso público para professor da Secretaria de Estado de Educação de MT.

Mas tudo isso é pouco; é preciso destacar que Felipe foi um acadêmico brilhante na graduação. Tive o privilégio de lecionar disciplinas à sua turma. Durante todas as aulas, a impressão que eu tinha era a de que eu já conversava com um profissional. Era impressionante vê-lo transitar com tanta desenvoltura pelo universo literário, sempre trabalhado como diálogo de determinado contexto histórico. 

Essa condição de Felipe foi adquirida pelo seu hábito de leitura; por isso, ele também apresentava excelente domínio dos códigos formais de nossa língua. Lembro-me de quando o encontrei como revisor da Editora da UFMT. Disse a ele que sua presença, naquele ambiente, era a certeza da melhor revisão possível que alguém poderia receber.

Por conta de seu alto nível acadêmico, em certa ocasião, perguntei-lhe sobre seu percurso escolar até aquele instante. Para minha surpresa, descobri que Felipe – dono de aguçado senso crítico, driblando adversidades – é rico “legado” do ensino público.

Assim, Felipe, hoje, com 30 anos, adquiriu, nesse curso tempo de existência, as condições para escrever O legado de nossa miséria, título do romance com o qual venceu o prêmio SESC, que o insere, a partir de agora, em seleto circuito nacional de escritores.

Nessa condição, Felipe já surge superando as fronteiras do regionalismo, que pode, via de regras, aprisionar ao local até mesmo bons escritores.

Conforme foi registrado nas matérias da mídia, “o livro de Felipe conta a história de um crítico literário e professor convidado para um evento, onde conhece um escritor, cuja obra sempre admirou, e com quem faz um balanço de sua vida”.

Seja como for, de chofre, o leitor percebe, pelo título dado ao romance, que ali já se estabelece intertexto com o epílogo de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.

O referido romance machadiano foi inaugural do nosso Realismo, uma das estéticas artísticas do séc. XIX. O Legado de nossa miséria, no início do sec. XXI, é inaugural na carreira do escritor Felipe Holloway.

Diante dessa conquista, resgato Drummond, que, em A rosa do povo, diz serem as palavras insuficientes para atestar nossos sentimentos. Por isso, se temos agora dificuldades de manifestar a dimensão de nossa felicidade, não temos dúvidas do privilégio de pertencer ao IL, local onde podemos ter contado com esse novo escritor nacional; estamos flutuando...

PARABÉNS, meu caro Holloway! Em geral, é pelo sobrenome que os grandes escritores são mais (re)conhecidos. Que venham outros legados seus. Nossa miséria precisa ser sempre tensionada para ser superada. A literatura é arma possível nesse processo que demanda tantas frentes de luta.

Segunda, 17 Junho 2019 10:15

 

 

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JUACY DA SILVA*

 
O futuro não é fruto do acaso ou de forcas divinas ou diabólicas, mas sim, de nossas ações no dia-a-dia ou de nossas omissões e comodismo ante os desafios que nos cercam ou seja da falta de compromisso de cada pessoa perante as mazelas que afligem milhões ou bilhões de pessoas ao redor do mundo.


Não deseje aquilo que não lhe pertence. Não queria enriquecer, ter a glória e status às custas das outras pessoas. Não explore e nem pisoteia sobre os mais humildes e excluídos, eles também são filhos e filhas de Deus, da mesma forma que você que goza de privilégios, os humildes, os excluídos, os injustiçados também merecem respeito e dignidade.


Tudo o que é seu, por direito divino ou temporal, lhe há de chegar às suas mãos, no momento certo e na hora oportuna, nem mais cedo, nem mais tarde, desde que você respeito a dinâmica social e da na mãe natureza, não tente  apressar o tempo, ele tem seu curso natural desde a origem do universo. Na hora exata voce receberá o que almeja ou espera receber por merecimento.


Portanto, trabalhe, ame a Deus, ame o próximo como a ti mesmo e confie no Pai, pois, conforme as Escrituras Sagradas (Bíblia) não cai um fio de cabelos de sua cabeça, sem a vontade d’Ele.


Nossas vidas estão fundadas no pilar: FÉ, Esperança e Caridade, dessas três, a última (a caridade/fraternidade) é a mais importante. Sempre que puder procure fazer o bem, não importa a quem, procure tornar a vida das pessoas em sua volta ou com as quais você mantém relações pessoais ou virtuais a melhor possível.


Respeite a natureza, não destrua a biodiversidade, não contribua para que a degradação ambiental e as mudanças climáticas coloquem em risco a vida no planeta e a sobrevivência da humanidade. Não desperdice, respeite os ecossistemas, seja ambientalmente mais responsável.


Só assim, viveremos em PAZ E ALEGRIA VERDADEIRAS, bases para construirmos a civilização do amor e a SOCIEDADE DO BEM VIVER, onde o egoísmo, o desperdício, a injustiça, a CORRUPÇÃO, o sofrimento, a violência e a ganância não irão florescer jamais!


Pense um pouco mais, reflita sobre seu papel, sua missão neste planeta e como juntos poderemos transformar o mundo, a partir de nossos lares, nossas comunidades, nossos locais de trabalho, nossas igrejas, nossas cidades e nossos países!


O futuro é uma construção coletiva, jamais fruto de semideuses, salvadores da pátria ou iluminados, muito menos por quem vive de privilégios `as custas do trabalho de milhões que praticamente só vegetam ou meramente conseguem sobreviver na miséria e na pobreza.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Twitter@profjuacy Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com

 

Quinta, 13 Junho 2019 11:49

  

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Para as reflexões de hoje, trago a transcrição, quase ipsis litteris, do discurso de Claudio Lorenzo, pronunciado em 07/06, na Sessão Solene em Defesa da Universidade de Brasília e do Instituto Federal de Brasília. Lorenzo é professor e diretor sindical na UnB.

O título que dei a essas reflexões, extraído do Hino Nacional, é para deixar claro que o real patriotismo pertence aos progressistas de nosso país.

Partindo desse campo discursivo, Lorenzo disse que falaria “em nome de sociais democratas, socialistas reformistas, anarquistas, comunistas modernos e ortodoxos, e liberais que acreditam ser possível um Estado liberal socialmente responsável, democrático e de direito”;que também falaria “em nome dos que não se definem politicamente e que não acham que isso importa”; só não falaria “em nome dos que flertam com o fascismo, pois quem fala em nome deles é o atual governo”.

Lorenzo afirma que representa os acima listados por conta da partilha de “sentimentos e emoções que só a carreira de professor oferece e que estabelece em nós marcas de identidade, como o amor pelo conhecimento, a excitação de seguir o rastro de uma ideia, conforme dizia Teobaldo (penso que seria Riobaldo de Grande Sertão: veredas) de Guimarães Rosa.

Assim, Lorenzo elenca coisas que só, nós, professores, vivenciamos, como:

  1. a partilha do orgulho em poder sentir tão próximo de nós a potência do saber para o crescimento humano, a satisfação em perceber que a sala de aula pode se tornar um novo espaço de respeito e acolhimento a uma transexual, que só teve, até então, uma vida marcada pelo sofrimento da culpa e da recusa;
  2. a excitação intelectual em ver um doutorando, encontrar, sob sua orientação, solução para um antigo problema;
  3. a ternura que vem do abraço de uma mãe em dia de formatura, quando te agradece e te conta que sua filha é a primeira da família a alcançar o nível superior;
  4. a alegria de visitar uma terra indígena na companhia de um aluno de Medicina, filho daquele povo, que, enquanto caminha entre a pobreza material de sua gente, te enriquece com histórias de seu povo, de seus ancestrais, de seus deuses...”.

Na sequência, Lorenzo, após afirmar que o atual governo usa a máquina para “destruir as universidades federais sob a justificativa de necessidade econômica”, aponta que “o obscurantismo (do governo) é:

  1. próprio da brutalidade e subserviência dos que se dizem patriotas, mas tramam contra a soberania nacional,
  2. bater continência à bandeira alheia;
  3. acabar com as normas de proteção às nossas florestas;
  4. fechar os olhos ao extermínio de nossas comunidades tradicionais e de nossa juventude negra nas periferias;
  5. vender barato nossos minérios;
  6. permitir que envenenem nosso solo;
  7. fomentar as condições sociais para a exploração de nossa gente;
  8. estimular o ódio racial, a misoginia, a homofobia;
  9. deixar a educação de nossa juventude entregue à própria sorte;
  10. abrigar-se sob o guarda-chuva do cinismo, e dali desdenhar dos direitos humano”.

Por tudo isso, Lorenzo adianta ao “Sr. Ministro da Educação e ao Sr. Capitão, Presidente da República”, que “A resistência contra o fim da educação pública e gratuita será grande, desgastando-os”; e afirma:

"Vocês nos prendem vivos, nós escapamos mortos", pois, “pairam sobre nossas cabeças os espíritos de Darcy Ribeiro, de Nise da Silveira, de Milton Santos, de Sérgio Arouca, de Bertha Lutz, de Anísio Teixeira, de Laudelina Campos de Melo, e, sim, de Paulo Freire”.

Mais: que “Estão conosco todos os ancestrais da multiplicidade de povos que construíram a nação brasileira, os deuses indígenas, santos e orixás, Tupã, Ceuci, Ainhaderu, São Francisco, Santa Rita, Jesus Cristo, Oxalá, Yansã e Ogum”.

A mensagem de Lorenzo foi encerrada com um recado direto:

Nós vamos à luta, Sr. Ministro e Sr. Capitão. EPA BABÁ! EH PARRÊ! OGUN YÊ!”

 

 
 
 
 
Quarta, 12 Junho 2019 18:00

 

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Paulo Wescley M. Pinheiro

Professor da UFMT

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    O obscurantismo vai costurando sua perversidade por todos os âmbitos e a desesperança fortifica o medo social no tempo histórico da barbárie. Se a vida pede coragem, envoltos na atmosfera temerosa e fatalista é preciso lembrar a famosa frase do Bispo Pedro Casaldáliga de que “o problema é o medo de ter medo”. Se no momento atual de incertezas há muito o que temer é também importante que esse medo impulsione o enfrentamento dos monstros reais e a dissolução das formas fantasmagóricas.

    Na guerra de narrativas, na peleja simbólica e na batalha das ideias muito tem se escondido da retroalimentação da luta de classes. Perdidos entre encruzilhadas e facas de dois gumes estamos carentes de direção, de lideranças e de predileções, buscando soluções mágicas em convicções frágeis e apostas desesperadas numa banca falida.

    Há que se superar quimeras, cultivar a coragem do cotidiano e encarar a necessidade da paciência histórica diante das determinações do mundo como ele está. Uma famosa frase de outro lutador das causas sociais diz que “a prática é o critério da verdade”, assim é crucial que voltemos nossos olhos e lentes mais profundas para aquilo que se esconde na reprodução corriqueira dos desvalores sociais e para os exemplos de luta naquilo que se efetiva na vida do povo.

    Por isso tenho insistido em olhar para essas questões com atenção especial e me repetido que não basta criticar o conservadorismo, que não adianta apenas apresentar as incoerências, muito menos tripudiar em cima dos fatos que jorram dos escândalos oriundos das práticas dos hipócritas e oportunistas. A disputa real está em potencializar cotidianamente a afirmação que nenhum espaço da vida do povo é propriedade da direita, dos protofascistas e dos setores das milícias reais e virtuais. Para isso é preciso relembrar e fortalecer quem sempre buscou demonstrar possibilidades em todos os espaços, inclusive, na religião.

    Em tempos de cruzes laminadas e da sacralização das espadas se perpetua o mito de que a espiritualidade cristã caminha necessariamente com a intolerância, com a arrogância e com o comprometimento político com o fundamentalismo religioso e a ideologia ultraliberal da economia. No apogeu do protofascismo brasileiro as facções que catalisaram um “cristianismo de ódio” cresceram, caminharam pelos rincões do país e pelas vielas da periferia, ocupando o vácuo do Estado e a ausência de políticas sociais universais, o distanciamento dos movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda, além do enfraquecimento da formação política popular com sentido emancipatório em todos os espaços.

    Obviamente, não é novidade que a história do Ocidente tem a cultura judaico-cristã e a estrutura religiosa como um importante pilar cultural do ethos moderno, burguês, branco, machista e eurocêntrico e que o processo de colonização impetrou particularidades históricas que fermentam as características da formação sócio-histórica do Brasil. No entanto, essa constatação em vez de enterrar os religiosos numa vala comum revela ainda mais a importância dos sujeitos individuais e coletivos que se expressaram na contracorrente desse processo.

    Nesse percurso, a ação orquestrada na Igreja Católica, a partir dos anos 1980, de dilapidar o humanismo cristão latino-americano da Teologia da Libertação casou com o fortalecimento dos setores neopentecostais do protestantismo, onde foi ganhando espaço uma lógica ampla que unificava a forma modernizada da indústria cultural com um conteúdo reacionário nos valores morais, articulando a potencialização da lógica neoliberal individualista e consumista com questões tradicionais.

    Esse processo se solidifica com o crescimento da ocupação da política formal por indivíduos e grupos fundamentalistas e reverbera a construção histórica do patrimonialismo brasileiro, da dificuldade de efetivação de um Estado laico, questão também fortalecida pelos recuos constantes dos governos ditos progressistas e sua ampliação dos conchavos políticos para alimentar os demônios que, tão logo se aprofundasse as expressões de crise do capital, viriam os engolir.

    No ano de 2013, enquanto pulsavam nas ruas as famigeradas grandes manifestações, tão discutidas e tão pouco compreendidas em sua complexidade, eu, como mestrando, finalizava uma pesquisa que buscava compreender a questão dos valores religiosos, do crescimento do fundamentalismo e do choque dessa questão dentro da formação acadêmica do curso de serviço social.

    Naquele estudo já era visível como havia um crescimento das tensões, de um revisionismo histórico e ideológico que vilipendiava no cotidiano possibilidades pedagógicas de debater o princípio da laicidade, da tolerância, do respeito e da diversidade e isso ocorria principalmente por esse fenômeno mais amplo do papel religioso na cena política, mas também apareciam os problemas de efetividade de disputa presente no debate contra-hegemônico. A despeito do crescimento na esfera pública de debates importantes sobre direitos de setores historicamente oprimidos ocorria, concomitantemente e paulatinamente, uma desconexão com a capacidade de enraizamento desses debates nos setores populares.

    Nesse sentido, pensando a atual conjuntura é preciso pontuar como foi (e tem sido) ineficaz o contraponto centrado apenas no apontamento dos equívocos de quem reproduz os discursos de opressão e menos no combate de quem articula e estrutura esse fortalecimento. Assim, a “hegemonia da contra-hegemonia” tem circulado no pragmatismo eleitoral, na naturalização das (im)possibilidades conjunturais e, quando busca sair disso, caminha apenas na esteira dos discursos em-si-mesmados, sucumbindo às particularidades em particularismos, potencializando falas apenas entre aqueles que já se tem identidade e convencimento.

    A atuação política performática instrumentaliza condições, reza para convertidos e joga no inferno a principal parcela dos sujeitos que sofrem as opressões. O não-diálogo é o princípio do espírito do tempo histórico da barbárie não somente entre os conservadores. O resultado são os gritos sem direção, as guerras meméticas, divertidas mas estéreis e a incapacidade de descer do céu dos discursos e símbolos e pisar no chão da realidade concreta das pessoas que sofrem, vivem e reproduzem os valores que temperam sua própria exploração e o conjunto de complexos que os oprimem.

    Pensando tudo isso e angustiado por menos ilusões de atalhos e muito menos escapismos pós-modernos, eu que sou um crítico ferrenho dos limites da estratégia democrático-popular e que estou convencido que seus problemas não foram somente táticos nos últimos anos, penso que é fundamental reconhecer suas práticas e experiências de mobilização e atuação na segunda metade do século XX e tudo que se construiu na luta por democracia, pelos direitos humanos e na construção de possibilidades de enfrentamento do conservadorismo brasileiro dentro da realidade das pessoas, partindo do cotidiano, formulando teoricamente, mas sem perder de vista o diálogo efetivo com a concretude da vida.

    Na seara das disputas dentro das religiões cristãs poderíamos citar muita gente na atualidade, poderíamos nominar pessoas como o Pastor Ricardo Gondim, poderíamos citar coletivos como as Católicas pelo Direitos de Decidir, poderíamos relembrar fatos recentes como a posição importante da CNBB em abril de 2017 contra a contrarreforma da previdência de Temer. Nesse sentido, se exemplos não faltam, nesse momento de desesperança, rememorar práticas inspiradoras é fundamental, por isso, é preciso reavivar um daqueles que marcam com sua vida a história e fazem de sua existência a materialização de que vale a pena lutar.

    Dois dias antes de uma greve geral, em tempos de sobrevivência ameaçada da universidade pública, da criminalização do pensamento livre e da demonização da ciência, da ética e da política a vida de um religioso marcada pela resistência, pela ruptura de cercas e pelo enfrentamento dos cercos terá sua biografia lançada. No dia 12/06/2019, no Instituto de Linguagem do campus de Cuiabá da UFMT, em evento organizado pela Pós-Graduação em Estudos de Linguagem (PPGEL), a vida de um homem necessário será lembrada no lançamento do livro intitulado “Um bispo contra todas as cercas: a vida e as causas de Pedro Casaldáliga”, escrito pela jornalista Ana Helena Tavares.

    Rememorar os caminhos e descaminhos de Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, nos coloca a certeza de que o ser humano, imperfeito, mas criativo, individual, mas coletivo, historicamente determinado, mas um ser da práxis, pode muito, pode sempre mais, pode lutar nas condições mais adversas e nas instituições mais difíceis.

    Pedro é pedra, é padre, é poeta, é político e é povo. É o bispo das colisões linguísticas, políticas e ideológicas. Ousou mais que falar, viver, vivenciar o que se acredita. O bispo que reverberou uma verdade pujante, tão firme que foi capaz de se comunicar por todo o mundo e com todo mundo, falando com cristãos e ateus, com acadêmicos e analfabetos, com doutores das letras e doutores da terra, com o universo de todos aqueles que buscam uma vida com sentido.

    Não é preciso comungar da cosmovisão teológica do Bispo, mas é fundamental perceber que sua história resguarda uma contra-hegemonia que nos falta na batalha das ideias da atual conjuntura. Unir o pessimismo da razão com o otimismo da vontade é algo que esse e tantos outros sujeitos que construíram com o povo uma resistência coletiva transcende os limites táticos e estratégicos do campo majoritário da esquerda das últimas décadas.    

    Se queremos enfrentar as duras batalhas pelos direitos das pessoas da classe trabalhadora precisaremos romper as cercas e os muros para se comunicar organicamente, para escutar e se fazer ouvir, para pensar coerência mesmo na contradição, para ter menos fé no além e ter mais convicção, como Pedro, de que se pode ir além.

 

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Atenciosamente,

Paulo Wescley Maia Pinheiro

Professor do Departamento de Serviço Social da UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso.

Coordenador do Grupo ETOS - Grupo de Estudos  e açõessobre Trabalho, Opressões e Ontologia do Ser Social. 

 

 
Terça, 11 Junho 2019 16:40

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Roberto de Barros Freire*
 

Kant na sua pequena grande obra “A paz perpétua” afirma que todos sabemos quando se age com justiça e quando não; todos sabem o que é certo e o que é errado. Se não se pode colocar em público o que pretende realizar ou dizer, é porque é injusto, pois escondemos nossos vícios e deixamos público apenas nossas virtudes. Se uma conversa não pode se tornar pública é porque ela não é honesta, nem visa a justiça.


Ou seja, em público todos se mostram republicanos, mas quando se adentra na vida privada das autoridades públicas, normalmente de forma ilícita, mesmo porque todos fazem questão de a manterem clandestina (e não apenas privada), a vida dos mesmos são bem pouco republicanas.
Todas as conversas gravadas pelos Batistas revelam isso; se as gravações foram desonestas, muito mais desonesto é o que está gravado. Grandes autoridades da república chafurdando no pântano da clandestinidade seus interesses não privados, mas clandestinos. Ou seja, são personagens interpretados na frente das câmeras da televisão, enquanto que longe delas ocorrem toda sorte de negociatas e a defesa de interesses pouco honestos, ou mesmo prejudicial aos demais.


O que ocorreu com a publicização das conversas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol, ainda que criminoso, revela um crime ainda pior cometido pelos agentes públicos. Se os supostos hackers agiram de má-fé, mais má-fé se avista na troca de mensagens entre procurador e juiz. Juiz e procurador podem vir a público e mostrar suas indignações diante do ocorrido, o roubo de suas falas, porém mais indigno foi o que realizaram e o que falaram.
Um juiz não pode instruir uma das partes da contenda. Um procurador não pode solicitar tratamento privilegiado de um juiz. Quando um juiz instrui um procurador e o procurador procura argumentos no juiz para vencer no tribunal, a república foi ultrajada, pois que antes de atender ao interesse público, atendeu aos interesses privados de juiz e procurador. 


Com isso, não estou afirmando a inocência do Lula, mesmo porque ele foi condenado em outras instâncias, estou afirmando que seus condenadores de primeira instância são tão bandidos quanto ele. Nem melhor, nem pior, apenas que todos são não republicanos, e que se utilizam das leis para benefício próprio e em prejuízo de todos nós.


O fato é que, se formos realizar um julgamento realmente honesto nesse país, as autoridades judiciárias, juízes e procuradores, assim como nossos políticos e governantes, estarão no banco dos réus.
 

*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Quinta, 06 Junho 2019 09:42

 

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Por Roberto de Barros Freire*

 

Não vi o ministro da educação tão inflamado contra as manifestações educacionais, ter sugerido que fossem denunciados pais ou pessoas que participassem da manifestação a favor do governo no domingo dia 26/05. Dois pesos e duas medidas, pois quando os estudantes, professores, servidores e cidadãos vão às ruas no dia 30/05, o que é um direito de todos, o Ministério da Educação desautoriza, através de nota nitidamente inconstitucional, pais, alunos e professoresa estimularem e divulgarem protestos contra sua política. Além de inócuo, o texto mostrou o delírio totalitário de governantes que gostariam de ter controle não só sobre professores e estudantes, mas até sobre as famílias dos estudantes.


O MPF acertadamente quer que o MEC se abstenha de cercear a liberdade de manifestação e a divulgação do pensamento de professores, servidores, estudantes, pais e responsáveis em unidades de ensino, sejam elas públicas ou privadas. O MPF vai mais longe, pede ainda uma retratação do MEC em relação à nota divulgada ontem. Nada mais justo diante das ameaças a professores e estudantes que o ministro realizou. 


Essa atitude, como disseram alguns, “tresloucada” e “autoritária”, do ministro Abraham Weintraub é claramente um abuso de poder, uma improbidade administrativa e crime de responsabilidade. O MEC viola o artigo 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que trata das garantias inerentes ao direito de liberdade. Não cabe ao Estado interferir na relação entre pais e filhos. O ministro da Educação decidiu aplicar a lógica da intimidação para reagir aos protestos contra a política do governo para o setor. Abraham Weintraub pediu ilegalmente, para não dizer imoralmente, que a população denuncie quem incentivar manifestações e ameaçou demitir professores que anunciarem esses atos.


O fato é que sem resposta para educação, Weintraub insiste em guerra constante contra ideologia. O governo insiste na visão de que os manifestantes são “idiotas úteis” e só saíram às ruas porque foram manipulados por professores. Weintraub, em especial, aposta numa guerra constante contra a doutrinação ideológica. Aparentemente, ele não tem nenhuma outra resposta a oferecer para melhorar a educação.


Creio que para Bolsonaro, o pré-requisito para ser ministros da Educação é que se desconheça o ECA, que pouco entenda dos problemas educacionais, mas que tenha a cara de pau de provocar professores e estudantes, considerando-os coisas abjetas e que suporta por obrigação governamental, e porque a lei não permite demiti-los ou prendê-los. A sensação que se tem do governo Bolsonaro, é que a educação é apenas um problema que deve ser extinto, não algo a ser desenvolvido pelo bem do país. Para nossos governantes, a ciência, a cultura, as humanidades, são tudo lixo comunista, nada mais ignorante e atrasado.


Esse foi o primeiro ministro de educação que ao invés de lutar para aumentar as verbas educacionais, aconselha o presidente a cortar verbas da educação, para reduzir as atividades universitárias. O Brasil que já é um dos países mais atrasados na educação, retrocederá ainda mais.
 

*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Quinta, 06 Junho 2019 09:38

 

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P. Wescley M. Pinheiro 

Professor da UFMT

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É corriqueiro o discurso de que é preciso acabar com a violência nos estádios para que eles sejam ocupados pelas famílias. No entanto, quais famílias são essas? Que tipo de arranjo familiar tem condições de ir ao estádio? Nessa direção discursiva se escolhe um modelo específico de família, sendo ele idealizado, conservador e considerado como o normal, ou seja, o formato aceitável onde tudo que existe fora dele faz parte do problema. A forma como tem se constituído esse discurso e as ações promovidas se revelam como parte do processo de elitização do futebol

 

Assim, o discurso do direito das crianças no estádio sucumbe em falas de responsabilização individual, questões mercadológicas ou somente argumento para firmar políticas de segurança pública repressiva, caminhando longe de outras questões fundamentais. 

 

O exercício de desnaturalizar o estado de coisas em nosso cotidiano é desconfortável. Afinal, as coisas estão nos seus devidos lugares até momento que ousamos perceber que essa organização representa não-lugares de tantas outras coisas. O Estádio de futebol, espaço reproduzido como democrático, onde todos se vestem da mesma paixão e apagam divergências para unir as mesmas cores, sempre distanciou sujeitos historicamente oprimidos, estes, incluídos apenas sob condição de se fantasiarem de iguais, ainda que suas diferenças continuem como palco para desigualdade material e reprodução de preconceitos. 

 

O discurso familista vazio é apenas um argumento moralista para obscurecer o alavancamento do abismo social no esporte que, em vez de pensar a violência estrutural da sociedade e suas refrações no futebol, passa a ter a expressão imediata como problema central. Se não fosse assim, as medidas para se incluir as famílias no estádios estariam voltadas para a construção de uma cultura que absorvesse a diversidade dos arranjos familiares, que pensasse a estrutura das praças esportivas para a inclusão desses setores e que construísse possibilidades de ambientes menos hostis para mulheres e crianças. 

 

Afinal, não é somente a violência entre as torcidas que limita esse espaço. Ir ao estádio é uma saga: horário dos jogos, valores absurdos, amostra grátis da forma como a polícia age nas periferias e, por fim, toda uma estrutura física e de serviços que envolve a reprodução do patriarcado e do adultocentrismo. 

 

Por isso, nesse debate, a dificuldade de acessibilidade, a repressão policial, o preço dos ingressos, além de, obviamente, a reprodução machista de responsabilização das mulheres são elementos importantes a serem refletidos. Quantas mães deixam de ir ao estádio para ficar com as crianças em casa enquanto seus companheiros e/ou pais de seus/suas filhos/as estão nas arquibancadas exercendo seu direito de lazer? Muitos homens adoram idealizar a passagem para seus filhos (a flexão de gênero aqui não é mera conversão linguística) pelo seu clube, mas poucos estão dispostos a compartilhar o processo de cuidado efetivo no espaço público e privado.

 

A arquibancada quer mesmo acolher as crianças? Quem tem filhos/as sabe que sair com elas é um trampo: exige tempo, bagagem, dinheiro e paciência dos adultos, seja dos responsáveis seja de quem está em volta. Quantas arenas/estádios tem "banheiros família"? Quantos banheiros têm trocadores de fralda, inclusive nos masculinos? Quantos clubes pensam, além da lei da gratuidade, ações de acolhimento e serviços durante os jogos para crianças de todas as idades? Quantas torcidas pensam em não tornar aquele lugar um espaço de aprendizado para os meninos serem machões e para as meninas serem objetificadas? 

 

Se o discurso de incluir as crianças nos estádios quiser se estabelecer na realidade será necessário pensar a questão da paternidade responsável e crítica, num ambiente que ainda é hegemonicamente masculino, será fundamental pensar como incluir as mulheres mães (inclusive parando de romantizar agressões verbais de cunho machista e lgbtfóbico como provocações aceitáveis), além de exercer a tolerância com a diversidade, afinal, famílias existem de todas cores, credos, formas e amores e não somente aquela do comercial de margarina. 

 

Assim, há um longo caminho a ser percorrido para esse seja um ambiente de todas as pessoas, para que as crianças possam exercer seu direito e possam existir nesses lugares sem riscos diversos, com menos custo e com mais potencialidade lúdica, pedagógica, de entretenimento e cidadania, para cultivar uma paixão tão bonita que, por vezes, atravessa as gerações familiares. 

 

Até lá, nós torcedores/as precisaremos assumir a responsabilidade paterna, desnaturalizar a responsabilização exclusiva da mulher, além de desenvolver ações coletivas de redes de solidariedade com as famílias que vão ao estádio, possibilitando cuidado e proteção aos/às pequenos/as torcedores/as que aprenderão a curtir o futebol sem precisar excluir e violentar o outro.


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Atenciosamente,

Paulo Wescley Maia Pinheiro

Professor do Departamento de Serviço Social da UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso.