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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Roberto Boaventura da Silva Sá
Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP
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Querendo ou não, vivemos uma “enxurrada” de novidades tecnológicas; por isso, a cada instante, vamos incorporando palavras até então inexistentes.
Nesse contexto, independentemente da razão ou não de Platão, no diálogo “Crátilo”, sobre o fato de os nomes espelharem a natureza das coisas, obviamente contestado pelo linguista Saussure, para o qual o signo é arbitrário, temos de nomear as novidades que vão surgindo.
Diante dessa demanda, um exemplo bem comum talvez seja o verbo “deletar”, ou seja, apagar.
Esse verbo não é dicionarizado, por ex., nem mesmo pelo Novo Dicionário Aurélio, 1ª ed., 12ª impressão. Ali, o termo mais próximo disso é “deleitar”, que corresponde a “causar prazer”; ou seja, em geral, situação bem diferente daquilo que se quer anular ao olhar do outro.
Dessa forma, vamos nos cercando de muitos termos novos. Todavia, nem todas as palavras que estão “na moda” são novas. O verbo “seguir” é um exemplo.
Hoje, “seguir” é tão utilizado que, suponho, ele possa ter mais vigência e força do que o velho verbo “amar”, que, para Mário de Andrade, era o “verbo intransitivo” por excelência.
Aliás, neste momento de divisão política entre nós, brasileiros, o verbo “seguir”, em muitos casos, tem sido acionado pelo que catalisa a semântica de “odiar”. Há muita gente seguindo os passos em espaços alheios – principalmente nos virtuais – movida por ódio.
Logo, quando o verbo “seguir” atinge o patamar do “odiar”, ele pode passar ao grau semântico do verbo “perseguir”, que parece estar degraus acima do ato de “seguir”, que, em geral, é salutar entre os seres, afinal, “seguir alguém” pode até pontencializar experiências democráticas no campo dos debates sadios entre os humanos.
Mas por que estou tratando disso?
Por conta do quarto e-mail (todos arquivados) que recebi da leitora LMA. Cada correspondência, essa leitora exala ódio contra minha pessoa. Motivo: as opiniões que exponho em meus artigos. Seu ódio é tamanho que, às vezes, exala esse sentimento menor até contra pessoas que, por um motivo ou outro, elogio publicamente.
Isso acabou de ocorrer, pois, no recente artigo “Assim nasce um escritor”, parabenizo o jovem Márcio Felipe Holloway, que foi anunciado como vencedor do prêmio nacional Sesc/Literatura, com o romance “O legado de nossa miséria”. Holloway foi um brilhante estudante dos quadros de estudantes de Letras da UFMT; agora, ele cursa o mestrado conosco.
Pois bem. Sob o título “O novo comuna no pedaço”, a leitora LMA, em seu último e-mail a mim dirigido, diz:
“Para receber tantos afagos o tal Marcio Felipe Holloway, (sic.) deve ser um COMUNISTA DE CARTEIRINHA. Como professor deverá exercer a tarefa de doutrinação ideológica do partido e repassar aos seus alunos fazer lavagem cerebral (sic.) a que foi submetido no meio dos comunas na UFMT...”.
O ódio de LMA é tamanho que, sem a certeza de nada do que diz, odeia por tabela; logo, por suposição. Assim, supõe que Holloway seja “um comunista de carteirinha”. Supõe que, “como professor”, ele deverá ser um doutrinador. Antes, erradamente, supõe que eu seja um comunista; que eu seja um petista. Bizarramente, a criatura supõe a existência de “comunas na UFMT”.
Enfim, os seres que se movem pelo ódio, como LMA, são incapazes de enfrentar debates democráticos; são entulhos do autoritarismo; são perigosos, socialmente falando; são parecidos com aquela drummondiana “pedra no meio do caminho”, que em nada contribui para a edificação dos seres humanos, como verdadeiramente humanos.