Segunda, 18 Dezembro 2023 10:14

ELEIÇÕES UFMT/2024: A ‘PÓS-VERDADE’ DOS PÓS-MODERNOS – Prof.ª Alair

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Eleições UFMT/2024: A ‘pós-verdade’ dos pós-modernos 

Professora e pesquisadora do Departamento de Sociologia e Ciência Política (SOCIP) e do Programa de Pós-Graduação em Política Social (PPGPS) da UFMT.
Membro do Núcleo de Pesquisa MERQO/CNPq e do GTPFS/ADUFMAT/ANDES-SN. O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. 

           
            Todo processo eleitoral é bastante intenso. Às vezes, tenso. A intensidade e as tensões eleitorais, entretanto, não justificam o jogo do “vale tudo”. Até porque, se tudo vale, efetivamente, de nada vale!

            Desta forma, o jogo eleitoral não representa ausência de regras e de ética eleitoral. Consequentemente, compactuar ou fazer uso de métodos e recursos eleitorais que desrespeitem as bases elementares da disputa não é tolerável, pois os processos eleitorais não desvelam apenas os programas e os compromissos públicos assumidos, mas, também, a forma e o método dos concorrentes; e, por conseguinte, como aqueles que pleiteiam o poder se comportarão no exercício do cargo. Neste sentido, as eleições para a Reitoria da UFMT têm revelado muitas coisas.
            Lamentavelmente, temos assistido a um ex-diretor da ADUFMAT (que, inclusive, explorou essa condição para angariar votos em eleições anteriores), usar de declarações inverídicas contra o Sindicato para justificar suas próprias ações. Assim tem sido a postura do Reitor-candidato no processo eleitoral 2023. Em duas frentes de acusações, atribui à ADUFMAT tanto a paralisação da discussão sobre a Resolução 158/2010 nos Conselhos Superiores quanto o processo eleitoral ilegítimo que o elegeu em 2020.
            O problema dos adeptos da pós-verdade é que as tais ‘narrativas’ acabam tendo que enfrentar os fatos e os registros da história. Por mais que seus promotores continuem a acreditar que uma mentira, diversas vezes repetida, possa converter-se em verdade. Entretanto, apesar do esforço para gerar “narrativas”, os fatos podem ser documentalmente checados.
            Primeiramente, importa registrar que a relação dos trabalhadores com seus respectivos sindicatos (independente da categoria profissional) deve ser, no mínimo, de respeito à entidade sindical. No caso da ADUFMAT, esta construiu uma história de mais de 40 anos que a credencia como um Sindicato comprometido, combativo e dedicado aos interesses da categoria docente.
            Desta maneira, causa tristeza e revolta que um colega (que, circunstancialmente, exerce o cargo de Reitor) faça acusações infundadas ao Sindicato do qual faz parte e, inclusive, atuou como Diretor.
            Assim, não bastassem as tentativas (iniciadas por Maria Lúcia Cavalli e continuadas por todas as Reitorias) de banir as sedes das entidades sindicais(ADUFMAT e SINTUF) dos campi da UFMT, ede promover parlamentares (e promover-se através deles), cuja atuação é dedicada ao desmonte da Universidade que diz defender, o Reitor-candidato tem repetido que a ADUFMAT, judicialmente, impediu a discussão da Resolução 158, causando prejuízo aos professores.
            Ora, a judicializaçãodos encargos docentes foi provocada pela dupla ação das Reitorias que o Reitor-candidato fez parte (seja como Vice, seja como Reitor interino, seja como Reitor empossado): a primeira, na Administração deMiriam Serra/Evandro Silva (2016/2020), quando de forma arbitrária, a discussão foi paralisada dentro do CONSEPE, apesar dos apelos de conselheiros para sua retomada. O que implicou em vários anos na modalidade stand by.
            A segunda, já sob a gestão de Evandro Silva/RosalineLunardi (2020/2024) -e repetindo a arbitrariedade como método -, a apreciação da Resolução foi repassada para outro Conselho (CONSUNI). E, apesar de todas as tentativas de devolver ao CONSEPE a discussão que lhe é de competência, a Reitoria fez ouvidos moucos, insistindo em prosseguir com a discussão no Conselho Administrativo, desrespeitando a própria legislação.Por isto, a ADUFMAT entrou com pedido de liminar. E tanto tinha razão quanto ao Conselho competente para analisar, propor e deliberar sobre os encargos docentes, que a Liminar foi concedida.
            A outra acusação desprovida de qualquer base fática é aquela que atribui às entidades a responsabilidade pelo processo eleitoral de 2020, no qual sagrou-se Reitor. Processo aquele eivado de problemas que, com absoluta certeza, não foram provocados pela ADUFMAT, pelo SINTUF e/ou pelo DCE. Afinal, alguém esqueceu a fatídica Reunião dos Conselhos[1], realizada no dia 17 de junho de 2020, sob a coordenação pouco democrática do Conselheiro-Diretor Luiz Scaloppe? Esta Reunião não foi apenas traumática pela forma e pelo método, mas, fundamentalmente, pelo conteúdo. Nela, a história do voto paritário entre as categorias que compõem o Colégio Eleitoral da UFMT, há anos respeitada, foi colocada no chão. Registre-se, portanto, que a Lei n. 9.192/1995 estava vigente há anos. E, assim como era decisão política o voto paritário entre as categorias, também foi política a decisão de, em nome da Lei, realizar uma eleição em que o voto docente equivale a 70% e os votos de servidores técnicos e estudantes, equivalem a 15% cada categoria. Por isso, as Entidades não organizaram o processo eleitoral e, inclusive, denunciaram o processo eleitoral de 2020 como ilegítimo.
            Para além das ‘narrativas’ pós-verdade tão ao gosto da cultura pós-moderna, em que os fragmentos parecem revelar a totalidade dos fatos, assim, também, a campanha eleitoral do Reitor-candidato tem feito uso de fragmentos de imagens e discursos para tentar justificar suas ações, fazendo uso da difusão ‘narrativas’ nas quais o que efetivamente fez - e   faz- pretende transformar-se no seu contrário; ao mesmo tempo em que tenta promover o apagamento da coerência histórica de seus adversários.
            Concluindo, os debates são momentos excelentes para que as propostas (programa) sejam apresentadas e conhecidas, mas, também, para que a trajetória dos/as candidatos/as seja exposta. Afinal, coerência é uma qualidade fundamental. E a melhor forma de se inferir qual o grau de confiabilidade dos/as candidatos/as é analisando a história que construíram à frente dos cargos que ocuparam.
            Virar as costas ao próprio passado, transformando seu sindicato em adversário, através de narrativas construídas na base da pós-verdade, com certeza, não é uma boa alternativa para quem disputa ou para quem vota.

 

Ler 260 vezes Última modificação em Segunda, 18 Dezembro 2023 10:17