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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Por Paulo Wescley Maia Pinheiro*
Décadas atrás, versando sobre um Brasil dividido de fato, Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova fizeram o poema "Nordeste Independente" como um protesto contra a desigualdade e o preconceito regional.
Como esse é um fenômeno tão atual e fortalecido nesses tempos de intolerância, eu fiz um caminho diferente, imaginando quebrar as cercas e construir "um Brasil não dividido com o povo liberto das correntes".
Veja o vídeo; Poema Povo Independente (imagine o Brasil NÃO dividido...) - YouTube
Povo Independente**
https://www.youtube.com/watch?v=tS6ke_1p0jg&lc=Ugxex0xdt3oyVYoAQpV4AaABAg
Wescley Pinheiro
Já que há no país o preconceito
Mascarado de meritocracia
Espalhando cruel xenofobia
É preciso quebrar esse preceito
O Nordeste exige mais respeito
Contra o abismo criado e tão presente
Provocando a barbárie contundente
Pra deixar nosso povo enfraquecido
Imagine o Brasil não dividido
E o Nordeste liberto das correntes
Mesmo com o poder dessa quadrilha
Que comanda a nação pela discórdia
Vou trazer união nesta paródia
E mostrar toda a farsa desta trilha
Quando os ricos fizeram armadilha
Para o povo odiar o diferente
Propagando essas dores tão ardentes
Contra todo explorado e oprimido
Imagine o Brasil não dividido
E o Nordeste liberto das correntes
Perderemos talvez só os grilhões
Nossos pés andarão tão livremente
Se os elos de nós forem somente
Nossos ritmos, sotaques e canções
Quando unirmos peoas e peões
Nosso olhar será tão clarividente
Viveremos emancipadamente
Todo o povo será nosso partido
Imagine o Brasil não dividido
E o Nordeste liberto das correntes
É do povo a cultura nordestina
É orgulho, é disputa, é resistência
É história e é experiência
Pra viver superando essa sina
De um Brasil que até hoje discrimina
Para fazer do seu povo indigente
E viver um racismo tão potente
E o machismo que tem prevalecido
Imagine o Brasil não dividido
E o Nordeste liberto das correntes
Eu não quero aqui dizer que não
Pois tem hora que raiva, nojo e ânsia
Prevalecem contra a intolerância
E aí nós queremos divisão
Mas sabendo que quem sofre de antemão
É aquele que trabalha até os dentes
E a elite desse nosso continente
Não tem pena e só tem nos espremido
Imagine o Brasil não dividido
E o Nordeste liberto das correntes
É mulher, nordestino, preto e pobre
Que até hoje ainda são discriminados
Já o rico acumula o seu legado
De burguês que se assume como nobre
Acumula suor, sangue e cobre
Todo ouro, criação, planta e semente
Vai secando e cercando enquanto mente
Nos chamando de burros e bandidos
Imagine o Brasil não dividido
E o Nordeste liberto das correntes
O Brasil é bem mais que capital
É bem mais que o eixo soberano
O conceito sul-metropolitano
Tem herança na história desigual
E com essa questão estrutural
Que é tão viva e está em nossa frente
Que o Sudeste parece independente
E que o Sul aparece tão cindido
Imagine o Brasil não dividido
E o Nordeste liberto das correntes
Para haver abundância lá embaixo
Foi preciso a pobreza aqui do norte
Esquecer o país à própria sorte
E montar na ganância e no esculacho
Explorando pessoas por escracho
De um jeito combinado e dependente
Não deixando ficar tão consciente
Tudo aquilo que o povo tem sofrido
Imagine o Brasil não dividido
E o Nordeste liberto das correntes
Quando a gente viver em união
Periférico então será o meio
Quando margens virarem o recheio
Do poder decisório da Nação
Lutaremos contra a exploração
As barreiras serão tão decadentes
Nossa arte será incandescente
Com o mote do poema enlarguecido
Imagine o Brasil todo unido
Com seu povo liberto das correntes
Imagine as distintas regiões
Com justiça, direito e igualdade
Norte a sul, leste a oeste, de verdade
Convivendo com iguais condições
Abraçando migrantes e anfitriões
E vivendo de forma que acalente
Onde a discriminação seja ausente
E o que nos é comum seja acolhido
Imagine o Brasil todo unido
Com seu povo liberto das correntes
O vaqueiro, a lavadeira, o agricultor
O Operário, a enfermeira e a artista
Estudante, ambulante, jornalista
A docente, o gari e o entregador
Todo povo que é trabalhador
Tem a força de quem pega no batente
Com sotaques que tão diversamente
Fazem deste um país mais colorido
Imagine o Brasil todo unido
Com seu povo liberto das correntes
Imagine união por todo lado
Com o país só vivendo à partilhar
Com um Centro e um Oeste popular
Nosso Norte sendo bem preservado
Com o Sul e sertão articulados
O Sudeste não mais tão excludente
Um Nordeste também suficiente
Para nós o direito garantido
Imagine o Brasil todo unido
Com seu povo liberto das correntes
Um lugar que acabe as besteiras
Que definem a nossa sociedade
Onde pulse toda diversidade
E não seja cercado por fronteiras
Que a vida do povo seja inteira
Com projeto diverso e coerente
Onde o ser que trabalha viva rente
Com aquilo que ele tem produzido
Imagine o Brasil todo unido
Com seu povo liberto das correntes
Imagine o trabalho dividido
E o produto sempre compartilhado
O amor para sempre espalhado
Sem haver um sujeito suprimido
Imagine um país reconhecido
Tão plural, corajoso e combatente
Regiões convivendo tão contentes
E não mais desiguais como tem sido
Imagine o Brasil todo unido
Com seu povo liberto das correntes
*Wescley Pinheiro é professor, assistente social e poeta popular, autor de ebooks como “A Chegada do Pastor Mala e da Cachorra Laica no Além” e “Curral da Conjuntura e outros cordéis" (kindle/amazon). Contato: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
**Esse poema é uma versão que dialoga com “Nordeste Independente” de Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova