Quarta, 26 Abril 2017 14:30

O LARGO DO ROSÁRIO - Benedito Pedro Dorileo

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A companhia era certa. Nas madrugadas das terças-feiras estava garantido o toque-toque da bengala na porta, a anunciar a hora da missa semanal de São Benedito. Alto, cabelos brancos, Frederico London era devoto piedoso do santo negro. Ourives, trabalhava em casa, na Rua Nova, ou a Avenida Dom Aquino, em sua varanda silenciosa com portas abertas. Dali saiu a coroa de ouro e pedras, artisticamente trabalhada para a imagem da Virgem do Rosário.


      A caminhada seguia a margem do Córrego da Prainha, passando pelo sobrado do Comendador Henrique José Vieira, depois Palácio das Águias, e o Bar Colorido. Subida íngreme do morro, contornávamos as picadas na argila rosa até adentrarmos à Capela, levantada em 1823, como anexo à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, cuja edificação primeira vem de 1727, quando o Arraial passa à condição de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. O paisagismo de pedras cangas surgiu com o governador Pedro Pedrossian que ainda vive em Campo Grande, com os seus 88 anos de idade.


      Comovente é a história dos festejos da Virgem do Rosário e de São Benedito, com origem portuguesa e suor e lágrimas dos negros escravos. A veneração a São Benedito avançou célere com milagres comprovados. Não se adora, venera-se. Bendita hora em que a memoração dos festejos tornou-se popular na Casa de dona Bembém; e, depois, na rua com o povo. Admiro profundamente a Companhia de Jesus. Os jesuítas são práticos na ação, missionários por excelência, atualizam-se tal como o jesuíta, o Papa Francisco.


       Há 20 anos, nem se falava em Copa do Mundo em Cuiabá (a do vexame dos 7x1) e já se ouvia ao final da Celebração Eucarística festiva: ‘no ano que vem, teremos o Largo do Rosário’. Um fiel abusado (corajoso) aludiu: ... ‘ e de São Benedito’. O País é tomado de euforia, obras nos Estados-Membros, dinheiro sendo desviado, levantaram-se tantas construções – como Cuiabá que ganhou as de grandes estruturas, nunca vistas. Até VLT, que se arrasta nas investigações e na incompetência. Pois bem: o casario existente em frente à Colina tem motivação para ser sacrificado em favor do Largo do Rosário e de São Benedito, muito antes desejado. Nele deverá existir uma das estações do veículo sobre trilhos.


      Verdade é que valeu a arrancada esportiva e mudanças ocorreram. Desde março de 2016, há autorização para a demolição do aglomerado de moradias desapropriadas, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Mato Grosso. A desocupação dos moradores já ocorreu, restando uns renitentes a serem motivados à mudança a favor do bem comum, com ação judicial em andamento. E bem sabemos o que seja amor telúrico fincado no espaço onde nasceu Cuiabá.


      O lado perverso é a ocupação das casas esvaziadas e semidestruídas por usuários de drogas – infelizes vítimas de um sistema capitalista desumano. Perambulam, assustam, amedrontam dia e noite. Pedestres, fiéis, turistas afastam-se. É voz uníssona: urgentíssimo
desalojar o casario em escombro, antes mesmo da final demolição. É muito doloroso, como presenciei, jovens que lá estão sob efeito químico das drogas, abandonados e doentes. Considera-se também o fator segurança da população. A responsabilidade é do poder público constituído; bem como da UFMT em serviços de Extensão.


       – O Largo será um espaço de lazer e de cultura com pisos de mosaicos e paisagismo compatível com a pedra canga e o barroco da Igreja.
      – Quem não se recorda, na antiga Capital da República, Rio de Janeiro, do bairro boêmio da Lapa que, mutilado, cedeu maior espaço e projeção dos Arcos. Ou o Morro de Santo Antônio transportado para fazer surgir o Aterro do Flamengo.  Entre nós, onde ficou o Beco Quente? Temos obrigação de preservar; todavia formosear Cuiabá é necessário, ademais para os 300 anos, em cuja soleira de 2019 já pisamos.  – Que haja encontro do Ministério Público com o Prefeito, com o Pároco, com os Festeiros, em diálogos diretos, em busca de solução imediata e justa – a conciliação.


        Participar da reunião da Paróquia faz estufar o peito de religiosidade e civismo. Muitos desejam e o jornalista Fernando Baracat imagina romper fronteiras tacanhas e nacionalizar os festejos, tais como o Círio de Nazaré, o Bom Jesus da Lapa, os festejos de Goiás, da Bahia e mais.  – Por que tudo é demorado para Cuiabá, como estrada de ferro (século XVIII), energia elétrica? Projetos ambiciosos existem para os festejos de São Benedito em julho próximo. Vamos ao Largo do Rosário e de São Benedito – com chão de barro batido, provisoriamente, para o cururu e siriri, e espetáculos nacionais.
 

 

                                                                               Benedito Pedro Dorileo, advogado.
                                                                          Membro do Ministério Público aposentado
                                                                          e foi reitor da UFMT

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