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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Hoje é 15 de outubro!
É o primeiro 15 de outubro da falsa “Pátria Educadora”. É o primeiro da mais longa greve das universidades federais; greve que tende a terminar sem obter sequer uma audiência com o ministro da Educação. “Nunca antes...”, os professores foram tão maltratados por um governo civil tão desdenhoso quanto autoritário.
Por conta do contexto que envolve esta data, neste ano, eu deveria contribuir, no plano do discurso, para o massacre político a esse governo, que merece toda punição que venha do povo brasileiro; por consequência, eu deveria prestar homenagens a todos os professores, muitas vezes, vistos, equivocadamente, como missionários, e não como profissionais.
Não farei isso. Minhas homenagens serão no varejo. No atacado, elas poderiam abranger gente demais. Honrarias indevidas (des)educam.
E minhas seletivas homenagens surgem por conta das considerações de uma leitora sobre meu último artigo – “Gatos pingados na história” –, no qual ressalto a força de pequenos grupos de sujeitos organizados ao longo de nossa história. Culmino aquelas reflexões falando da greve das federias, conduzida por “meia dúzia de (resistentes) gatos pingados”.
A leitora – entremeando acertos e erros – chamou minha atenção, afirmando que a maioria das universidades federais apoiou o PT nas últimas eleições, e que “grande parte dos professores dessas universidades é esquerdista, assim como o atual governo”.
Começo pedindo licença para trocar o termo “esquerdista”, que é pejorativo, pela expressão “de esquerda”, que é respeitosa aos que verdadeiramente se opõem à lógica do capital.
E assim, afirmo: o governo petista não é de esquerda que, em tese, deveria optar pela classe trabalhadora, de onde veio. O PT no poder – negando suas origens – é tão neoliberal quanto o PSDB e outros. O PT engrossa a ala dos que contemplam os interesses do capital, adversos aos trabalhadores. O pacotaço do “ajuste fiscal” (de 14/09) escancarou, de vez, a triste verdade.
A metamorfose petista atingiu, sim, grande parte de meus colegas das federais, país afora. Muitos, principalmente os gestores, mas não apenas, passaram a seguir cegamente as determinações neoliberais. Isso fê-los defenestrar princípios e práticas. Hoje, até identificá-los como “esquerditas”, que é pejorativo, já seria homenagem indevida.
Esse grupo, que não é pequeno nas federais, de fato, ainda dá apoio político ao governo de coalizão do PT. Na reeleição de Dilma, houve quem posasse para uma foto de propaganda política. À época, condenei a cena no artigo “Seguradores de pirulitos” (02/10/14).
Portanto, pela condenação pública feita àquele apoio político dado pelos reitores das federais à reeleição de Roussef, a leitora com quem ora dialogo precisa reconhecer que nem todos os professores das federais estão no mesmo saco de farinha estragada.
Ainda que sejamos “meia dúzia de gatos pingados”, mantivemos nossos princípios. Por isso, lutamos bravamente para ver as universidades públicas realmente públicas, gratuitas, laicas e socialmente referenciadas. Longe de nos preocuparmos em primeiro lugar com nossos interesses particulares, e mesmo corporativistas, pensamos no futuro de nossas gerações, prestes a receber uma herança de condenados sociais. Pena que nossos discursos não cheguem a todos da mesma forma como chegam os de nossos adversários, tantos os internos quanto os externos.
Diante do exposto, homenageio apenas os professores que, com autonomia, pensam e lutam por um porvir digno para as nossas novas gerações.
A rotina da vida foi-se instituindo de forma radicalmente fundamentada no “trabalho”, mas não no sentido ontológico marxiano, e sim no sentido capitalista que elevou essa ontologia à máxima potência matemática, e em contradição nos despotencializou subjetiva, coletivamente e, por fim, humanamente.
Temos nossa casa, nossos horários, nossas relações permeadas pela rotina da atividade laboral; e a consequência disso?
Perdemos a capacidade para lidar com o extraordinário no sentido estrito do termo, como aquilo que está fora da ordem, sem programação, aquilo que não é o trivial, rotineiro, ou seja, ordinário. E quando os eventos extraordinários acontecem nos deslumbramos e paralisamos, depois buscamos encaixá-los na ordem, racionalizamos e nos incomodamos com sua existência, não sabemos lidar com os “estados de exceção” que tais eventos proporcionam. É assim quando nos apaixonamos, por exemplo, quando somos tomados de um sentimento que nos inunda a vida e que não faz sentido algum, a não ser o de tornar-se o sentido próprio da vida, até que transformemos esse sentimento em ordinário e, então, o encaixamos na rotina.
Este é também, o incômodo que nos causa o rompimento com a rotina laboral que uma greve nos provoca. Assim, vamos racionalizando sua função, seu objetivo, criticando a paralisação que ela causa, em última instância, em nossas vidas, afinal, em nossa sociedade, instituiu-se a máxima de que “somos aquilo que fazemos” enquanto atividade produtiva para o capital, ou seja, enquanto capacidade de produzir riqueza para o capital. Quantas vezes nos apresentamos às pessoas nos referindo a nossa atividade laboral? (Oi prazer, sou fulana, sou professora, psicóloga etc.). E quantas vezes, muitos de nós, julgamos como “vagabundos” aqueles que não produzem essa riqueza? FHC e seu discurso sobre os aposentados ilustra bem esse juízo de valores, que remunera mais às profissões que melhor servem ao capital.
Somos tão colonizados que transportamos para nossa vida íntima as metas produtivas que nos impõem o capital, num estado de competição eterno competimos com nossos pares, instauramos a competição em nossas relações cotidianas afetivas (sejam elas de amizade, de amor ou de trabalho). Quem cumpre melhor a meta ideal para ter uma vida perfeita e feliz?! Entre “ser feliz ou ter razão”, não há escolhas quando se faz da própria felicidade uma competição mascarada! Uma eterna busca do cumprimento da meta “felicidade”. Para tanto, aceitamos sem questionar que devemos ter isso, fazer aquilo e as eternas listas com receitas de como conseguir aquilo que não se tem ainda.
Na lógica social que nos damos e que nos é dada, de modo muito superficial, devemos ter uma boa casa, uma profissão em que sejamos socialmente reconhecidas e competimos com nossos colegas para sermos melhores, lógica absurda em que “melhor” se resume em ser “mais” (mais artigos, mais citações de seu nome, mais metas alcançadas, mais... mais... sempre mais!). Vivemos uma época das quantidades! E de “mais” em “mais” vamos nos tornando subjetivamente “menos” humanos, “mais” máquinas!
E seguimos na ilusão “máquina” de não sentir; o império da razão se sobrepôs à emoção e se instituiu (desde os gregos) que a razão coincide com pensamento e, em nossa sociedade atual, institui-se que pensar/razão é o que nos faz fortes e “melhores”. Aos sentimentos é relegada a fraqueza, a instabilidade, a insanidade. Não descumpra, não questione as regras, seja policamente correto! Controle-se! Não seja LOUCO! Não chores, não ria, não se irrite, não “perca a cabeça”, pois é nela, por herança de Platão, onde mora a razão.
Somos tão máquinas, que não aprendemos a lidar com a humanidade e a transformamos em superstição, transcendência, já dizia Espinosa: “(...) os homens são dominados pela superstição enquanto dura o temor (...)”. E seguimos cumprindo as metas das provas, das datas de formatura, dos prazos que nos impomos, em suma, aprisionamos a vida pública e privada, nossa razão e emoção à meta das quantidades.
Fomos colonizados, emoldurados, formatados para seguir o absurdo das conquistas imediatistas (a tão almejada meta). Agimos em prol dos resultados. E que resultados têm uma intensa atividade política que ultrapassou longos quatro meses?
Acúmulo histórico, político e resistente. It´s bullshit! Qual foi a meta, o resultado concreto, real e imediato alcançado?
Em tempos de imediatismo, “cagamos” para o acúmulo histórico, para as conquistas que não nos são palpáveis. Esquecemos que a política é parte de nosso “fazer ser” seres humanos. Deixamos o estágio abstrato e nos fixamos no concreto. Pobre Piaget, que entendia como natural, a partir da interação com o meio, essa passagem; talvez se sentisse perdido com a capacidade humana de não apenas aceitar, como “lutar” por permanecer na mediocridade concreta e imediatista.
Pois bem, na contramão dessa lógica dos absurdos (eu invoco como um mantra) nosso saudoso poeta-menino Manoel de Barros e lhes digo: “Perdoai eu preciso ser outros!”.
Profa. Vanessa C. Furtado
Professora do Departamento de Psicologia
Instituto de Educação/ UFMT
De repente, fiquei sabendo que você se despediu de nós. Nem tempo de dizer adeus tivemos. Até entendo: você foi poetar noutros recantos.
Jamais me esqueço daquilo que, um dia, você me disse: A vida é uma festa. Merece ser bem vivida. Estou convencido de que você não queria ir tão cedo, preocupado sempre com suas duas princesas. Deus é o dono da vida. Que sua vontade prevaleça!
Sabe, Rômulo, não de hoje acredito que, quando a gente nasce, nasce à semelhança de uma estrela. Brilha com grande intensidade. Aos poucos, essa luz vai se apagando com a sequência de nossas primaveras. Vão minguando seus lampejos. Até que chega um dia em que, de novo, somos convidados a luzir noutro palco, brilhando na companhia do Pai, por tempos que não morrem.
Isto nos conforta: em cada um de nós repousa um poderoso Deus. Este, sim, eterno!
Há bem pouco, você me assegurava que velho tem todo o direito a rabugice. Mas a sua, meu compadre, era carga pesada. Agora sei por quê: também os poetas são rabugentos. Aí a explicação da dose dupla...
Nisto eu acredito: fomos criados para viver. Afinal, se é verdade que Deus é vida, o fato de sermos seus filhos nos garante – por si só – que nosso ciclo não se encerra. O Pai nos convoca à vida sem fim!
Não lastimamos sua partida, apenas choramos sua ausência. Como sua falta nos faz falta! Amigo, você foi presenteado pelo destino com uma alma grande. Some a isso a sorte de ter tido a seu lado o companheirismo e o amor da Beth. Açucarou-lhe a existência.
Defeitos você tinha, mas quem não os tem. Nem de longe chegaram a deslustrar suas extraordinárias qualidades. Dou meu testemunho: você foi um escritor de mão-cheia. Sua adega mental esteve sempre abastecida de vinhos do mais erguido conhecimento.
Em nossos encontros, uma coisa me chamava a atenção: você sempre desdenhou os bens deste mundo. Esperto, aspirava continuamente a bens que jamais findam. Agora, tem todo o direito de curti-los.
Receba meu muito-obrigado. Valeu, Rômulo! O bem que você espalhou é obra que tempo nenhum consome. O Pai – estamos certos disto – já o acolheu, abrindo- lhe os braços.
Quem vive no coração dos que o amam de verdade, não morre nunca. Você vive! Com Deus!
Lúcia Helena e Germano, amigos para sempre.
Por Roberto Boaventura
Dr. Jornalismo/USP; Prof. Literatura/UFMT
Hoje falo da expressão “gatos pingados”, que, geralmente, vem acompanhada de outra expressão: “meia dúzia”. Juntas, tem-se a duplicidade de uma carga semântica que aponta para um grau fabuloso da depreciação de um grupo de pessoas. Quando se quer desqualificar o trabalho coletivo exercido por poucos cidadãos, basta afirmar tratar-se de algo feito por “meia dúzia de gatos pingados”. Paradoxalmente, na história do Brasil, a força dos gatos pingados é constante, é vibrante.
Os estudiosos de nossa cultura não têm acordo sobre as origens da expressão. Por si, o termo “gato” traz uma gama de informações, dais quais destaco alguns tópicos. De chofre, lembro da suposta dificuldade que se diz ter para matar gatos, prática cruel entre diversos povos. Disso decorre a fama de que esses felinos têm sete vidas; logo, por natureza, são resistentes.
Resistente também é o couro de seus corpos. Daí que do couro dos gatos, faziam-se os tamborins e as cuícas que, juntos, na passagem do século XIX para o XX, ajudavam a dar os melhores sons de percussão entre os escravos recém libertos.
Já uma das acepções do verbo “pingar”, de onde vem o complemento da expressão, refere-se aos suplícios que pingos de líquidos ferventes, como a água e o óleo, causavam nos seres em que eram “pingados”. No Brasil, pingavam-se os escravos, os gatos e outros animais, a depender do sadismo do algoz.
Há algumas décadas, Henfil criou a personagem “Gato Pingado” para representar os pouquíssimos torcedores do América Futebol Clube.
Em agosto deste ano, um vereador de Jacarezinho-PR depreciou um grupo de moradores da cidade – chamando-os de “gatos pingados” – que se revoltaram com as mordomias dos políticos locais. Os gatos pingados procriaram-se e algumas das mordomias foram cortadas.
Mas por que estou falando disso?
Porque ajudo na construção de uma greve – que agora já se aproxima do término – de resistência contra a destruição das federais. E nossa greve tem sido conduzida por “meia dúzia de gatos pingados”, como dizem alguns colegas que sempre se opõem às lutas; por isso, nunca resistem a nada.
Mas como é possível um professor universitário se opor a uma greve necessária, num panorama de humilhação a uma das profissões mais importantes a uma nação?
Por vários motivos. Com a imersão do programa neoliberal nas universidades, elas vêm sendo privatizadas aos poucos. Esse processo só ganha espaço porque muitos docentes parecem ter mentes colonizadas. Com a abundância desse tipo de mentalidade, tem sido fácil aos governos imporem a lógica do mercado entre nós.
Logo, por bem pouco e sempre com algo circunstancial (bolsas de projetos de pesquisa, participação em cargos administrações etc), muita gente tem esquecido de olhar para o futuro.
Aliás, o olhar de muitos é turvo, politicamente falando. Há pouco dias, uma colega dizia sobre seu horror de estar em uma greve, coordenada por meia dúzia de gatos pingados, por mais de 120 dias.
De fato, uma greve longa é um horror, pois demonstra a falta de disposição do governo ao diálogo; no mais, os prejuízos são enormes, principalmente aos estudantes. Todavia, horror bem maior do que isso foi o anúncio do pacote de ajuste do governo, lançado no dia 14/09.
Portanto, é desse pacote, que corta orçamento para todas as políticas públicas, incluindo as verbas para as universidades, que todos os cidadãos deveriam ter horror. Perante os “ajustes fiscais”, tudo é fichinha em termos de tragédia coletiva, inclusive uma greve de resistência como a que estamos vivendo.
Marcos Macedo Caron. Doutor em Educação/UnB. Prof. do IE/ UFMT
Com mais de 125 dias de greve e toda tensão dela advinda, talvez seja até desnecessário realimentar uma polêmica aqui no Espaço Aberto. Poderia “gastar” minhas linhas contribuindo com análises sobre o movimento e expondo as razões que, mesmo diante do cenário adverso, nos levaram a propor, nas assembleias de 17/09 e 01/10, a suspensão negociada da greve, proposta esta sobre a qual não nos furtamos em hipótese alguma a debater.
Porém, vejo necessário responder às críticas que um colunista aqui do EA fez ao meu último artigo, desde que, num compromisso sincero comigo mesmo, me obrigue a fazer desta resposta uma análise política que contribua para reflexões significativas no estudo do movimento social e sindical, ainda que em poucas linhas. E reafirmo aqui, como antes, que não me oponho exatamente às criticas políticas que o colunista me faz, porque fundamentais e necessárias à vida democrática, mas sim à forma e ao método que ele adota – e insiste em adotar – ao fazê-las.
Inicialmente, que fique bem claro: não fomos nós que começamos esta polêmica, mas nos defendemos nela. Não preciso de muito esforço para comprovar isto: convido o leitor a passar os olhos nas linhas do primeiro artigo do meu oponente (“Tensões da Greve”), bem como no seu segundo texto (e peço o mesmo em relação a mim), para perceber o que digo. As diferenças de estilo, postura, intenção e crítica são evidentes e falam por si.
Dito isso, vamos direto ao ponto. O que diz o colunista na sua segunda crítica a nós, particularmente a mim? Em primeiro lugar, ele tenta me imputar a imagem de um “derrotado politicamente” pelo simples fato de que, até agora, perdi algumas, que sejam muitas, das votações nas assembleias em relação à questão da greve. Posteriormente, além da repetição de velhos chavões (sobre os quais me debruçarei mais adiante), ele afirma que, além de eu ter tomado “as dores de outro colega”, eu estaria sendo incoerente quando me propus a um “debate de alto nível político de alma e coração aberto,” (como eu disse literalmente em meu primeiro texto), visto que o próprio título do meu artigo já iniciava de forma bastante ofensiva e nada disposta ao debate, bem como “ofendia” diretamente os companheiros que compõem o atual GLG (Comando Local de Greve).
Ledo engano, em todos os aspectos levantados, e vamos explicar pontualmente as razões.
Quanto ao primeiro argumento, o colunista comete o erro de concentrar toda a polêmica do fato à dimensão unicamente eleitoral, e ainda assim bastante limitada no tempo e no espaço. Trata-se de um posicionamento falseador. Primeiro porque, em que pese a legitimidade do espaço e das decisões das assembleias (por mim reconhecida e jamais questionada, independentemente do contexto favorável ou não a mim nesta ou naquela votação), eleições se ganham e se perdem, mas convicções ficam. Seria um “derrotado” se não as mantivesse. Além disto, vejo-me obrigado a lembrá-lo de que a chapa vitoriosa nas últimas eleições da Adufmat, além do meu firme apoio na campanha dentro ou fora do IE, foi constituída sobre um programa no qual grande parte do seu conteúdo, após amplo debate com os apoiadores, foi escrito e elaborado por mim. Poderia dar vários outros exemplos nos quais fui “vitorioso eleitoralmente”, mas limito-me a este aqui por razões de espaço.
Quanto às “dores tomadas por mim a outro colega”, nada tem de sentimentalismo estéril ou vulgar. Simplesmente agi em defesa de um colega que, a despeito do seu posicionamento politico bastante diverso do meu, debateu comigo e concordou, em linhas gerais, com as diretrizes impressas no “Manifesto à Razão” (chamado primariamente pelo colunista de “irracional”, sem ao menos debater uma linha sequer do conteúdo ali proposto). E o fiz não por causa da concordância pontual, mas porque não posso aceitar a forma de crítica descortês e desproporcional ao fato utilizada pelo colunista (convido o leitor a examiná-la novamente, nos dois textos. Não há outra interpretação possível que não seja um pedido sincero de desculpas ao colega criticado). A minha ação origina-se em alguns significados que, talvez pela forma de embate que até pouco tempo predominou hegemonicamente na Adufmat, andaram um tanto esquecidos: solidariedade, pluralidade e democracia.
Quanto ao título do nosso texto (um “texto-resposta”, repetimos, portanto, um texto de defesa), de fato o iniciamos de forma firme e contundente, não me furto em dizê-lo, mas necessário em razão do nível das críticas a nós desferidas. Porém – e aqui está a diferença capital, facilmente comprovada pelo leitor -, minhas críticas, mesmo “duras”, são calcadas unicamente em caracterizações políticas, jamais em desqualificações pessoais.
Já para o colunista, quem não concorda com a condução da greve e sua excessiva extensão (ou mesmo com a própria deflagração da greve), é, nas suas próprias palavras, “irracional”, “lunático”, “odiento” (sim, porque exerce o “ódio”, está lá escrito no seu texto), além de induzir de forma falseadora que a nossa missão, particularmente a minha, ao participar do sindicato e das assembleias, é “facilitar a vida do governo que nos arrocha e nos oprime”.
Em outras palavras, meu oponente tenta nos imprimir, a mim e a todo um contingente significativo de professores, dentro e fora das assembleias, a pecha de que estamos “a serviço do governo” e, nesse sentido, automaticamente “coniventes” com todos os erros que o atual governo e o partido que o sustenta venham a praticar. Qualquer comentário nosso sobre o movimento, qualquer defesa, qualquer crítica e, principalmente, qualquer proposta nossa aberta ao debate público de forma sincera e impressa em documento (ainda que o colunista as tenha elogiado como forma de método e organização, ato louvável, reconheço), sofre sempre a insinuação de que foi produzida nos “soturnos gabinetes do governo e da reitoria”, cujo objetivo é unicamente “enfraquecer a categoria por dentro”, “minando-a através de golpes cometidos a mando partidário”. Quando analisamos os seus dois últimos textos, não há outra hipótese (reducionista e absurda!) além desta, na qual são “acusados” indistintamente professores “petistas”, não petistas e antipetistas, favoráveis eleitoralmente ao governo ou abertamente de oposição, como é o perfil da categoria na sua variedade política real.
Na perspectiva metodológica, os equívocos do colunista são ainda mais graves, quais sejam: a) entende a nossa análise da realidade como concordância com a realidade analisada; b) confunde as razões (justas) da luta com as possibilidades de luta e, principalmente, destas ao longo da luta. É assim que tenta nos denunciar o anátema de que, “se somos pela suspensão da greve em algum momento” (ou a não deflagração em dado momento), logo, “somos a favor do pacote fiscal e da transferência dos nossos potenciais reajustes salariais e das verbas públicas para os banqueiros”.
É primário demais! Não há sentido nesta postura! Ela é irreal e, além de tudo, equivocada politicamente! Ela não soma, mas subtrai; ela não multiplica, mas divide. O referido autor insiste em desconhecer que a tônica desta sua crítica volta-se contra professores da base do sindicato que frequentam legitimamente as assembleias e, ação fundamental, fazem a greve (e não “furam” a greve, sejam contra ou favor dela), além de se submeterem às mesmas condições de todos ali presentes, isto é, ao corte do pagamento (caso haja) e à reposição das aulas ao término da greve e tudo mais que houver de sacrifício e penoso no movimento.
Diante disto, que outros nomes há para esta postura do colunista que não seja a “Intolerância”, o “Sectarismo” e o “Dogmatismo”? Creio que, para o seu nível intelectual e da categoria (alto, ambos, sem dúvida), não preciso recorrer aos dicionários para explicar melhor.
Assim, não bastasse o exposto, a essência de minhas caracterizações políticas se comprova numa das partes mais “surpreendentes” do segundo texto do meu interlocutor. Ao se autoquestionar “até quando vai a greve?”, o colunista diz: “até onde for possível”. Então perguntamos: o que é este possível? Ele responde: “estamos resistindo bravamente, e sem nenhum receio de ser DERROTADO” (grifo nosso, mas palavras dele, acredite o leitor). Com essa afirmação, temos que realmente concordar com ao menos um aspecto frequentemente levantado nas assembleias pelo colunista e alguns de seus aliados. De fato, “o Andes-SN é”, como dizem, “um sindicato diferenciado de todos os demais” (não sei se do país ou do mundo, pois ainda não entramos em detalhes sobre este aspecto), pois “não se entrega aos acordos com o governo em troca de trair os seus princípios”.
Bem, talvez deva ser mesmo o primeiro sindicato, desde os primórdios da Revolução Industrial, que busca a derrota como um dos objetivos (visto não ter “nenhum receio”), e não a ‘vitória’, ou uma ‘pequena vitória’, ou a ‘vitória possível’, ou, ao menos, a ‘menor das derrotas’. Vê-se bem porque, enquanto a maioria dos sindicatos dos SPFs filiados às mais diversas centrais sindicais do país, inclusive a “Conlutas” (à qual o Andes-SN é filiado), encaminha-se para a aceitação dos acordos com o governo este ano e prepara as baterias para 2017 (além de várias outras formas de resistência e luta), a direção do Andes-SN se prepara, mais uma vez, para a “autoderrota”, tal como a que se impôs na greve de 2012, quando o comando nacional se “autodissolveu” em Brasília deixando algumas teimosas seções ao léu, entre elas a nossa (vide documentos e boletim do Andes da época)
No mais, esclareço que a defesa no meu primeiro texto nada teve de ofensa pessoal a qualquer membro do CLG, até porque nem o citei no artigo. Nele refiro-me unicamente ao colunista, e que este não ponha na minha fala termos e sujeitos que não disse e aos quais não me referi. Minha crítica é essencialmente voltada ao discurso de se fazer como política central a tática da “greve pela greve”, isto é, transformando a greve, principalmente a presente greve, num “valor ético” de “comportamento universal”, o qual separa os “justos e bons” dos “pelegos e vendidos”. Para quem insiste com este discurso, deveria assumir as caracterizações políticas que fiz na minha primeira resposta e novamente aqui. Porém, caso queira um diálogo qualitativamente diferente, poderei sempre reavaliar minha posição publicamente, revendo possíveis erros e abusos da minha parte. Dada a minha formação militante, não terei nenhum receio em fazê-lo, e espero que o meu oponente, ou quem com ele se identifica, também o faça.
Por fim, que não entenda o colunista que o meu persistente convite ao diálogo seja entendido, no dizer de suas palavras, como um gesto de “bandeira branca” que eu estaria levantando sem muita convicção. Pelo contrário, sugiro ao meu oponente que saiamos deste embate um tanto “particularizado” em prol de análises mais fecundas e promissoras ao avanço do movimento sindical, inclusive para aprofundarmos melhor a qualificação das nossas próprias divergências, isto é, debatê-las no sentido “histórico/político maior”, e não como aparente “rusga” que ocultaria um suposto “antagonismo a priori” para o leitor menos avisado. E que tais debates sejam, se possíveis, com os nomes às claras, sem disfarces constrangedores, até porque se trata de reflexões entre, talvez, “adversários”, jamais entre “inimigos”, mas sobretudo entre companheiros de luta (e aqui sem aspas), divergentes ou não.
PS: em tempo: o Lenin no qual me apoio não é o “Lenin dos Pântanos”, expressão usada pelo autor da crítica, até porque desconheço esta “vertente” que, faço crer, inexiste politica e academicamente. É certo que há pântanos em várias regiões da gigantesca Rússia, embora frios e de natureza diversa dos nossos pantanais nos trópicos. Mesmo assim, o Lenin ao qual me refiro é o “Lenin Revolucionário”, objeto cotidiano de meus estudos, com os quais posso contribuir em debates politicamente formadores que venham a ser promovidos pela nossa respeitosa ADUFMAT.
Fernando Nogueira de Lima
Em outro tempo, em outra greve, tive a oportunidade de manifestar-me em relação à pertinência das reivindicações do movimento, na perspectiva de contribuir para possíveis avanços nas negociações entre grevistas e o governo, com vistas ao término da paralisação com um mínimo de dignidade para os docentes e técnicos administrativos das IFES. Nesse sentido, recordo-me da decisão do CONSUNI, sob minha presidência, de encampar aquelas reivindicações e de lutar pela autonomia das universidades na expectativa de contribuir para a minimização das razões que justificavam a deflagração e a continuidade daquela greve.
No que concerne à defesa do caráter público dessas instituições, recordo-me de quando convoquei, nos termos do Estatuto da UFMT, uma Assembleia Universitária, que é a reunião da Comunidade Universitária (docentes, estudantes e técnico-administrativos) para discutir e deliberar sobre Projeto de Lei formulado pelo MEC, que tratava de Autonomia Universitária. Essa ação se deu no Ginásio de Esportes, resultando em um posicionamento - contrário àquele projeto de Autonomia, que foi divulgado na imprensa local e protocolizado no MEC com um pedido de retirada do mesmo, do Congresso Nacional.
Outras vezes, manifestei-me por meio de crônicas em jornais de circulação regional, tratando do caráter público das IFES, das greves e da necessidade de se adotar também outros instrumentos de luta e não apenas e repetidamente a greve. Durante uma greve que ultrapassou 100 dias, na condição de docente e ex-reitor, posicionei-me em revista de circulação nacional nos seguintes termos: “Uma greve que ultrapasse 100 dias mostra que a prática de governo é inconsistente, no que tange aos destinos da educação no país. As greves são consequências. As causas que as ensejam são as políticas de governos. A César o que é de César”.
Essas atitudes e posicionamentos se apoiaram na convicção de que é necessário respeitar a profissão docente para se ter uma educação libertadora que propicie a cidadania e o avanço do conhecimento, contribuindo para o desenvolvimento tecnológico, científico e econômico e, simultaneamente, assegurando o bem comum. Igualmente, também se devem ao entendimento de que greves prolongadas, que evidenciam o menosprezo dos governos para com a educação, impõem significativo empecilho para a consecução do compromisso social das universidades públicas e submetem os estudantes de graduação a enorme sacrifício e prejuízos irreparáveis, e que, por essas razões, deveriam ser a exceção, e não a regra.
Nesta altura desta reflexão é imprescindível ressaltar e registrar que essas ações tiveram sua importância relativa naquele tempo, todavia o maior mérito para que as universidades públicas, apesar dos pesares, ainda vivenciem autonomia, democracia e o caráter público deve-se sim aos professores, técnicos administrativos e alunos que se submeteram e ainda se submetem - à contra gosto - a repetidas greves, ao longo das três últimas décadas.
Por ser pertinente, reafirmo: é dever da sociedade contribuir para que a educação seja um sentimento nacional. Nesse sentido, para que isso se torne realidade as ações não podem se restringir aos períodos de greves, devendo alcançar a grande mídia, os poderes constituídos, o cidadão comum e o exercício do voto sem cores ou preferências partidárias, quando se tratar da defesa da educação em todos os seus níveis.
Neste instante, indago: quem são os nossos atuais parceiros e o que eles estão fazendo neste momento em que a paralisação em curso, sem entendimentos entre as partes, a passos largos e firmes já ultrapassou quatro meses?
Urge, pois, encontrar alternativas para a superação do atual impasse nas negociações. No atual contexto, interromper o trânsito, parar a pós-graduação, perpetuar os embates costumeiros nas assembléias, sejam elas esvaziadas ou concorridas, com todo respeito aos que pensam diferente, não assegurará, a meu ver, a adesão de parceiros que possam contribuir para a superação do impasse ora estabelecido.
Em não havendo a construção de alternativas outras, ainda que continuemos, em nossas assembleias, dissecando as palavras guerra e razão, assim como a situação dos formandos, daqui a pouco, sem ineditismo, ocorrerá uma assembleia das mais concorridas na qual maioria que permanecerá silente se posicionará, por ocasião da votação, favorável ao retorno das atividades.
Se a escolha para encerrar esta greve for essa, denotará que a atual construção da greve não contempla o desejo da maioria dos associados e em nada contribuirá para o atendimento das reivindicações em defesa da universidade pública, gratuita e socialmente referenciada. Além disso, fará com que a greve, que é um dos componentes da estrutura da liberdade sindical, seja desacreditada como instrumento de luta da classe trabalhadora, no espaço universitário.
A propósito de guerra e de razão, palavras utilizadas por diferentes oradores em recente Assembleia da categoria docente, me veio à mente Neoptólemo, jovem guerreiro, filho de Aquiles e conhecido por Pirro. O seu nome tornou-se famoso pela expressão "Vitória Pírrica", pois quando lhe deram os parabéns pela vitória na Batalha de Ásculo, conseguida a alto custo em que seu exército havia sofrido perdas irreparáveis após derrotar os romanos, em 279 a.C, diz-se que respondeu com estas palavras: "Mais uma vitória como esta, e estou perdido."
Desde então, a expressão “Vitória de Pirro" ou “Vitória pírrica” é usada para expressar uma conquista cujo esforço tenha sido penoso demais ou para classificar uma vitória obtida a alto custo, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis. Dito de outra forma, é uma metáfora para descrever uma vitória que de tão sacrificada, de tão desgastante, de tão violentamente conquistada, praticamente não valeu a pena alcançar, ou seja, o custo foi mais alto do que as vantagens obtidas.
Nessa linha de raciocínio, mesmo tendo, até aqui, me posicionado favorável à greve como instrumento de pressão para assegurar a abertura das negociações e o atendimento adequado das nossas reivindicações, estou, cada vez mais, desejoso de retornar às atividades na graduação. Não descarto, na atual conjuntura, a possibilidade de uma “Vitória pírrica”. Em vez disso, prefiro o estado de greve e a deflagração de uma campanha nacional financiada com as contribuições regulares dos associados para divulgar em períodos estratégicos, na grande mídia em horário nobre, a importância da educação e denunciar o descaso das políticas de governos que se sucedem, em relação às nossas reivindicações históricas.
No mais, doravante, ficarei atento aos versos da canção Aroeira de Geraldo Vandré: “Vim de longe vou mais longe. Quem tem fé vai me esperar. Escrevendo numa conta. Pra junto a gente cobrar. No dia que já vem vindo. Que esse mundo vai virar.”
Fernando Nogueira de Lima é professor da Engenharia Elétrica e foi reitor da UFMT.
Cruel imaginar que, enquanto a União Europeia discute se são “imigrantes” ou “refugiados” os milhares de indivíduos que tentam abandonar seus países devido às guerras, a pobreza, repressão religiosa ou política, entre outros motivos, morram sem que ninguém se comova.
Os últimos acordos datam de 1970, quando a Europa fechou as suas portas para os expatriados, salvo em condições especiais – se eles fossem importantes para os países que os recebessem.
De lá para cá, o mundo se tornou mais violento e mais pobre. Alguns países da África e do Oriente Médio foram se tornando inviáveis para as suas populações.
O que nos apavora é que o resto do mundo, mergulhado nas suas perspectivas capitalistas desumanas, não se sensibiliza, aparentemente, com esse verdadeiro genocídio.
As perdas de vidas são diárias nessa fuga desesperada. Famílias inteiras desafiam a morte através de caminhos marítimos ou terrestres.
A rota preferida por essas pessoas é: chegar à Itália ou à Grécia por meio de embarcações precárias, atingir, por via terrestre a Macedônia, daí para a fronteira com a Sérvia e, finalmente, para a Hungria, país que seria a porta de entrada final para a Alemanha e para os outros países ricos da Europa.
A Macedônia já se declarou em estado de emergência. A Hungria vem construindo uma imensa cerca de arame farpado para impedir a entrada desses imigrantes.
Acontece que as fronteiras de todos esses países já se transformaram em imensos campos de refugiados, com todos os problemas que isso acarreta para as suas devidas organizações.
A Organização Internacional para Migração (OIMpublicou um relatório mostrando que mais de 4.000 pessoas morreram em 2014 tentando migrar para outros países.
Em 2015 quase 1.000 pessoas já morreram em busca de uma vida melhor – segundo dados do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados)
A mais recente e chocante foi a morte de uma família síria em sua tentativa de fuga desesperada para o Canadá.
A imagem do corpo do menino sírio, de apenas três anos de idade, encontrado em uma praia da Turquia parece que, finalmente, acordou o mundo para este sério problema. Ele morreu juntamente com seu irmão de cinco anos e sua mãe. O pai foi o único sobrevivente dessa desgraça.
O Jornal britânico The Independent estampou em sua página: “Se essa imagem extraordinariamente poderosa de uma criança síria morta em uma praia não mudar a atitude da Europa com os refugiados, o que irá?”.
O jornal português também publicou a imagem chocante e justificou: “Vamos de forma paternalista proteger o leitor de quê? De ver uma criança morta à borda da água, com a cara na areia? Não sabemos se esta fotografia vai mudar mentalidades e ajudar a encontrar soluções. Mas hoje, no momento de decidir, acreditamos que sim”.
Eu também quero acreditar que sim. Quero crer que aquela imagem brutal e bestial do resgate do menino sírio Aylan Kurdi seja o início de tentativas sérias para se resolver esse grande problema.
Aquela imagem que chocou o mundo, já se tonou o símbolo da terrível crise migratória que hoje presenciamos.
Gabriel Novis Neves
20/09/2015