É com grande pesar que a Adufmat informa o falecimento do professor Tomás de Aquino Silveira Boaventura,
A Diretoria da Adufmat-Ssind, no uso de suas atribuições regimentais,
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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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EM NOME DA BÍBLIA
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciências da Comunicação/USP
Professor de Literatura; aposentado da UFMT
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De matérias que li há alguns dias em Carta Capital, duas me motivaram a escrever este artigo: uma é do dia 16; a outra é do dia 18 deste mês, embora o Intercept Brasil tenha sido a fonte para as publicações da Carta.
Pela cronologia desses trabalhos, ficamos sabendo, primeiro, que o pastor estadunidense Douglas Wilson virá ao Brasil para o Congresso Evangélico Consciência Cristã, a ser realizado durante o feriado de carnaval em Campina Grande - PB; depois, que a organização do referido evento cancelou aquele convite, sob a justificativa de haver “riscos de ‘crimes de ódio’ contra os participantes e o palestrante convidado”.
Mas por quais motivos existiriam tais riscos?
Em resposta direta, o referido pastor é expoente da extrema direita nos EUA; ou seja, aquém tem noção do que isso significa, a informação se basta. Do contrário, nenhum argumento parece que poderia reverter a visão limitada de tantos seres contemporâneos. Seja como for, avalio ser necessário reproduzir o cerne do pensamento daquele “religioso”, para, depois, considerar sobre a centralidade de seu desconvite.
A bem dos créditos, as afirmações que aqui trago sobre o pastor Wilson são transcrições da denúncia de Ronilso Pacheco (teólogo e pesquisador do tema “religiões”) ao já menciona do Intercept Brasil (https://www.intercept.com.br/2024/01/18/pastor-evangelico-que-defende-a-escravidao-cancela-vinda-ao-brasil-apos-denuncia-do-intercept/), acerca da atuação político/religiosa de Douglas Wilson. Em suma, Pacheco afirma que Wilson “é defensor de grupos supremacistas”, como a KuKluxKlan; logo, não se constrange em usar a Bíblia para apoiar a escravidão em nome da absurda ideia de superioridade branca.
Ao saber disso, como cidadão, fui contemplado pelo desconvite que a organização do evento evangélicos e viu forçada a fazer, embora eu duvidasse de que qualquer tipo de “crime de ódio” pudesse ser materializado, caso o convite tivesse sido mantido.
Mas, independentemente de tudo, por mais incômodo que seja, saibamos que esse pastor não é o primeiro a usar a Bíblia para justificar barbáries, como a escravidão. Muita gente “boa” ainda faz isso. Por aqui, no período colonial, jesuítas trilharam por tortuosas e parecidas veredas.
Dada a relevância da questão, não é justo – e é limitador – que apenas poucos de nossos intelectuais façam o trabalho de relembrar tais posicionamentos ocorridos em nossa história. Em minha opinião, a pouca abrangência e/ou adesão do enfrentamento de tópicos que tocam questões religiosas (ou seus “legítimos” representantes), por mais absurdo que pareça, se dá muito por conta daquele “medo de ir para o inferno”, tão bem traduzido e sintetizado em versos do poema “O padre passa na rua” de Drummond.
Dos poucos intelectuais que até agora enfrentaram essa questão, com a elegância acadêmica que sempre lhe foi marca, cito o magistral trabalho Dialética da Colonização de Alfredo Bosi, em especial o capítulo “Vieira ou a Cruz da Desigualdade”.
Do Padre Antônio Vieira, muito se pode dizer; e o que dele for dito deve partir de tópicos de seu contexto histórico (séc. XVII), tão mercantil quanto escravocrata. A isso se devem juntar dados de sua biografia, como a de ter sido conselheiro de reis, confessor de rainhas, preceptor de príncipes, diplomata e defensor de cristãos-novos.
Essa “salada” de atividades sociais –nada compatível com o sacerdócio – tem reflexo direto em sua produção literária, com destaque aos seus sermões.
Por isso, mesmo não ignorando a crueldade da escravidão, aliás, com um pensamento que chegou a antecipar palavras deveras pertinentes de Marx sobre a crueza do trabalho escravo, Vieira, em uma de suas contradições, “reproduz”, no Sermão XXVII do Rosário, com base em Lucas 12: 37, que “Bem-aventurados (são)aqueles escravos a quem o Senhor no fim da vida achar que foram vigilantes em fazer a sua obrigação”.
Pior. Dessa transcrição, Bosi chama a atenção do leitor ao frisar que, no original bíblico, o versículo é encerrado na palavra “vigilantes”. Logo, de minha parte, pondero que o que vem após – “em fazer a sua obrigação” – pode estar revelando uma compreensão própria do orador católico dos setecentos; e essa manipulação no texto bíblico é desconcertante. Não seria isso um tipo de pecado mortal, na visão religiosa?
Outro desconcerto refere-se à escravidão dos indígenas. Se sobre a dos africanos, a Igreja Católica se silenciou, ou falou muito baixo, ela não se omitiu acercada servidão dos indígenas. Na Bula “Sublimis Deus”, emitida por Paulo III, em 1537, de amplo conhecimento do meio eclesiástico, a Igreja foi enfática em proibir aquela prática.
Dessa bula papal, resumo o que Bosi transcreveu no capítulo já citado:“...decretamos e declaramos com nossa autoridade apostólica que os referidos índios e os demais povos que daqui por diante venham ao conhecimento dos cristãos... são dotados de liberdade e não devem ser privados dela, nem do domínio de suas cousas... que podem usar, possuir e gozar livremente dessa liberdade e deste domínio, nem devem ser reduzidos à escravidão...”
Contudo, como lembra o mesmo professor Bosi, “esse ideal fora abandonado pelo compromisso político dos padres de ‘descer’ com os portugueses ao sertão, domesticar e reduzir os indígenas à obediência...”, fazendo-os “trabalharem a metade do ano nas roças dos colonos” de Belém do Pará e de São Luís do Maranhão.
Após essas considerações, que sequer levaram em conta o peso da escravidão do plano ideológico de africanos e indígenas, não sem lamentar por tudo, o fato é que a respeito do pastor Wilson se pode comprovar seu pensamento como o de um supremacista; contudo, jamais se poderá dizer o mesmo de Vieira. No limite, por mais comprometedoras (e constrangedoras) que sejam, resta-nos apontar as contradições internas em alguns de seus sermões, paradoxalmente, todos brilhantes. Desses apontamentos, outras e profundas reflexões/revisões históricas podem e devem ser feitas.
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JUACY DA SILVA*
“Cada dia é-nos oferecida uma nova oportunidade, uma etapa nova. Não devemos esperar tudo daqueles que nos governam; seria infantil. Gozamos dum espaço de corresponsabilidade capaz de iniciar e gerar novos processos e transformações. Sejamos parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas. Hoje temos à nossa frente a grande ocasião de expressar o nosso ser irmãos, de ser outros bons samaritanos que tomam sobre si a dor dos fracassos, em vez de fomentar ódios e ressentimentos. Como o viandante ocasional da nossa história, é preciso apenas o desejo gratuito, puro e simples de ser povo, de ser constantes e incansáveis no compromisso de incluir, integrar, levantar quem está caído; embora muitas vezes nos vejamos imersos e condenados a repetir a lógica dos violentos, de quantos nutrem ambições só para si mesmos, espalhando confusão e mentira. Deixemos que outros continuem a pensar na política ou na economia para os seus jogos de poder. Alimentemos o que é bom, e coloquemo-nos ao serviço do bem. É possível começar por baixo e caso a caso, lutar pelo mais concreto e local, até ao último ângulo da pátria e do mundo, com o mesmo cuidado que o viandante da Samaria teve por cada chaga do ferido. Procuremos os outros e ocupemo-nos da realidade que nos compete, sem temer a dor nem a impotência, porque naquela está todo o bem que Deus semeou no coração do ser humano. As dificuldades que parecem enormes são a oportunidade para crescer, e não a desculpa para a tristeza inerte que favorece a sujeição. Mas não o façamos sozinhos, individualmente”. Papa Francisco, Encíclica Fratelli Tuttii (Somos todos irmãos), 03/10/2020
A história humana pode ser observada a partir de uma violência constante e de todas as formas, conflitos armados, guerras, terrorismo, violência urbana, violência doméstica, violência de gênero, violência racial, tráfico humano, escravidão, trabalho “análogo” `a escravidão e tantos atos que provocam dor, sofrimento e morte.
Ao lado desta violência contra as pessoas e grupos humanos e também contra a natureza, o meio ambiente, não podemos nos esquecer de outras formas de violência psicológica, financeira e patrimonial, bem como a violência provocada pela fome, pela miséria, pela pobreza, pela exclusão, pelas doenças, pelo abandono e pelas diferentes formas de desigualdades.
Inspirada tanto nesta Encíclica do Papa Francisco quanto na realidade brasileira e mundial, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, refletindo sobre as comemorações dos 60 anos da existência da Campanha da Fraternidade escolheu para 2024 exatamente o o Tema FRATERNIDADE E AMIZADE SOCIAL e o Lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”, citação do Evangelho de São Mateus, 23:8. Esses foram o tema e o lema escolhidos pelo Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em novembro de 2022.
De acordo com o Pe. Jean Paul, coordenador do Setor de Campanhas da CNBB, desde 1964, portanto há 60 anos, a CF vem mobilizando todo o Brasil num verdadeiro mutirão de evangelização e de conversão e, em minha opinião, estimulando os fiéis a uma reflexão crítica e criadora sobre os principais desafios que nos afligem, que são os temas e lemas escolhidos para essas Campanhas anualmente.
A Campanha da Fraternidade, anualmente, desde 1964, escolhe um tema e um lema para serem objeto de uma reflexão mais profunda por parte tanto dos fiéis católicos e também a cada cinco anos de forma ecumênica quando Igrejas evangélicas participam dessas campanhas.
“De acordo com o bispo auxiliar da arquidiocese de Brasília e secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers, o tema e o lema da Campanha da Fraternidade 2024 refletem a preocupação do episcopado brasileiro em aprofundar a fraternidade como contraponto ao processo de divisão, ódio, guerras e indiferença que tem marcado a sociedade brasileira e o mundo”, CNBB,Novembro, 2022.
Normalmente a Campanha da Fraternidade acontece durante o período da Quaresma, que é um tempo de arrependimento, de orações e de conversão e, também, de reflexão sobre a realidade brasileira, de cada Estado e de cada município/localidade ou seja, como resultado buscamos uma transformação profunda desta realidade cruel que nos cerca.
Neste ano de 2024 a referida Campanha terá início na quarta feira de cinzas, dia 14 de Fevereiro próximo e no dia 24 de Março de 2024, quando do encerramento da Campanha da Fraternidade ocorrerá uma coleta especial, destinada aos fundos diocesanos e também ao fundo nacional de solidariedade, administrado pela Cáritas Brasileira, para financiarem projetos de natureza sociotransformadora no Brasil inteiro.
O objetivo Geral da Campanha da Fraternidade é “despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos”.
Importante também é destacar os nove Objetivos específicos da referida Campanha da Fraternidade deste ano: 1) Analisar as diversas formas de mentalidade de indiferença, divisão e confronto em nossos dias e suas consequências para toda a humanidade, inclusive na dimensão religiosa; 2) Compreender as principais causas da atual mentalidade de oposição e conflito, geradora da incapacidade de ver nas outras pessoas um irmão ou uma irmã; 3) Identificar iniciativas de comunhão, reconciliação e fraternidade, capazes de estimular a cultura do encontro; 4) Redescobrir, a partir da Palavra de Deus, a fraternidade, a amizade social e a comunhão como elementos constitutivos do ser humano; 5) Acolher o magistério da Igreja sobre a fraternidade universal, como ajuda ao discernimento nas inúmeras situações de conflito e divisão; 6) Aprofundar a compreensão da comunhão e da fraternidade como caminho para a realização pessoal e para a paz em todas as situações da vida; 7) Conscientizar sobre a necessidade de construir a unidade em meio à pluralidade, superando divisões e polarizações; 8) Estimular a espiritualidade, os processos, os hábitos e as estruturas de comunhão na Igreja e na sociedade; 9) Incentivar e promover iniciativas de reconciliação entre pessoas, famílias, comunidade, grupos e povos.
A realização da Campanha da Fraternidade tem uma Coordenação Nacional e Coordenações em todos os Regionais da CNBB, nos diversos Estados Brasileiros e, também, as Coordenações Arquidiocesanas, diocesanas e nas paróquias, `as quais promovem desde o final de 2023 e em 2024, nos meses de Janeiro e Fevereiro, cursos de formações de agentes da Campanha e da Cáritas, visando refletir e buscar uma unidade de entendimento e de ação, tendo como fundamentos os subsídios produzidos pela CNBB (Manual Básico, Documento Base, Documentos específicos voltados para os diversos públicos que se pretende atingir; o cartaz, o hino e a oração).
Em Mato Grosso, a Coordenação da Campanha da Fraternidade do Regional Oeste 2 da CNBB, já coordenou esta formação nas Dioceses de Sinop, Cáceres e está em curso também da Arquidiocese de Cuiabá e no período que antecede o lançamento da Campanha (início da Quaresma) todas as demais Dioceses e inúmeras paróquias terão oportunidade de promoverem esta formação.
Para finalizar, cabe ressaltar que todo este trabalho é realizado de forma totalmente voluntária, dentro do espírito da Cáritas Brasileiras, que sempre tem reafirmado a importância das diferentes formas de caridade: a Assistencial (dar o peixe/comida, agasalho a quem precisa de forma imediata); a Promocional (ensinar a pescar, oferecendo cursos de formação, estimulando iniciativas de economia solidária, cooperativismo, visando criar oportunidade para emprego e renda) e, finalmente, a CARIDADE LIBERTADORA (pescar juntos, promover a MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, tanto para denunciar as injustiças e outras formas de desrespeito `a dignidade das pessoas quanto, atuar junto aos poderes públicos para que definam e implementem políticas públicas visando enfrentar os desafios da realidade que nos cerca).
Esses são o sentido, o significado, o alcance, a dimensão, a finalidade e os objetivos da Campanha da Fraternidade, coerente com uma Igreja que faz a opção preferencial pelos pobres, Sinodal, Samaritana, em Saída e, também, PROFÉTICA, como tanto tem enfatizado e nos exortado o Papa Francisco!
Vale a pena participar desta cruzada evangelizadora e sociotransformadora!
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da universidade Federal de Mato Grosso, Sociólogo, Mestre em Sociologia, Ambientalista, Articulador da organização da Caritas Arquidiocesana de Cuiabá no final dos anos 90; Articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
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O aumento no consumo individual de energia – Dos primitivos ao Sapiens 4.0
O agravamento do aquecimento global tornou-se pauta necessária para o estabelecimento de relações sociais e econômicas na atualidade. A geração de eletricidade para atender a nossa crescente demanda por energia e a do setor de transportes é o principal responsável por esse agravamento. Cerca de 80% da eletricidade gerada em todo o mundo se dá pela queima de combustíveis fósseis, enquanto no Brasil é de apenas 17%. Esse processo emite gases de efeito estufa (GEE), que são os principais causadores do aquecimento do globo. Mas, como chegamos até aqui e qual é a tendência para os próximos anos? Para responder a esta pergunta, faz-se necessária uma breve viagem no tempo.
A figura, que apresenta um indivíduo de classe média, representa vários estágios do apetite da espécie humana por energia, que ocorreram devido às mudanças no modo de produção e reprodução da vida material (da existência). Os recursos não são distribuídos uniformemente na biosfera, e a sua apropriação é ainda mais desigual que a distribuição.
Observa-se na figura a estimativa de alguns estágios de consumo energético do homo sapiens, em Giga Joules por pessoa por ano. Esse consumo representa a projeção da alimentação, responsável pelo funcionamento da máquina biológica, como também o consumo externo ao corpo, no transporte, e nos processos necessários para produzir os bens utilizados disponíveis aos homens na modernidade.
O homem primitivo, há um milhão de anos, era apenas um coletor de vegetais. Alimentava-se diariamente de vegetais produzidos a partir da luz solar, água e dióxido de carbono (CO2), liberando o oxigênio e a glicose fundamental para alimentação dos músculos humanos.
Há cem mil anos, continuávamos a usar a energia basicamente sob a forma de alimento. Como caçadora coletora, nossa espécie passou a consumir também energia armazenada nos tecidos dos animais e logo intensificou seu uso energético quando começou a fazer a cocção dos alimentamos. O domínio do fogo representou um processo extraordinário para os avanços da espécie.
Cerca de sete mil anos atrás: o terceiro estágio é representado pelos agricultores e pastores primitivos, na transição dos caçadores coletores, que não tinham uma moradia determinada, para a vida mais sedentária, na qual nossa espécie passou a realizar alterações mais intensas no espaço onde ocupou, começou a se aglomerar e desenvolver comunidades maiores, demandando, assim, uso energético mais intenso que nos estágios anteriores. A biomassa foi o recurso energético dominante desta era.
Há aproximadamente 600 anos, no quarto estágio, os homens aumentaram seu consumo por energia e o transporte surgiu como necessidade energética para levar produtos e pessoas até os centros de consumo. Nesse período já se realizava o aproveitamento da força do vento pelos moinhos, da força das águas pelas rodas d’agua. Também se começou a empregar o carvão mineral, sendo esta uma das primeiras migrações do homo sapiens da energia de fluxo para a utilização dos estoques energéticos.
Há mais ou menos 150 anos, o segundo estágio da grande revolução industrial estava em curso. Com a entrada da eletricidade nos processos produtivos, a iluminação artificial e o desenvolvimento do motor elétrico foram fundamentais para o aumento da produtividade e impulsionaram uma elevada demanda energética às atividades humanas. O consumo energético nas edificações também cresceu exponencialmente, proporcionando maior conforto ambiental. Mas o grande marcador desta era energética foi a apropriação do petróleo nos processos produtivos. Este recurso energético representou a saída do sapiens da dependência do fluxo para o controle dos estoques de energia.
Na metade do século passado o homem já se transportava em massa entre os países e continentes. A indústria experimentou ganhos de produtividade elevados devido à automação dos meios de transformação dos produtos. A alimentação tornou-se cada vez mais variada, sendo movimentada por quilômetros até seu uso final. O acesso ao gás e à água foi universalizado em muitas cidades e o uso energético praticamente triplicou quando comparado com a etapa anterior.
Alguns dizem que esta espécie já atingiu a denominada quarta revolução industrial, na qual processos de fabricação possuem uma menor interferência humana. A comunicação é cada vez maior, o que amplifica a necessidade de eletrônica embarcada em todos os equipamentos e processos. Todos possuem um Smartphone conectado à internet 24 horas por dia, com um imenso tráfego de informações alimentado por milhares de GWh/ano. As edificações estão cada vez mais tecnológicas e comunicativas, com o fornecimento do serviço de energia (eletricidade, gás, internet) sempre mais crítico para manter todo este processo. Nesse contexto, já foi anunciada a quarta etapa da revolução industrial, que pode ser denominada de Sapiens 4.0.
Assim, de forma individual, mas vivendo e atuando em comunidade/sociedade, o homem tecnológico depende de energia como em nenhum outro estágio da sua existência. Mas, analisando coletivamente, esta espécie passou por aumento populacional sem precedentes nos últimos anos. Em 1922 éramos dois bilhões de pessoas no mundo, com uma expectativa de vida média de 40 anos, e em 2023 somos aproximadamente oito bilhões, com uma perspectiva de vida média de 71 anos.
Considerando que o setor de energia é o principal contribuinte para o aumento do aquecimento global; que o número de pessoas está crescendo; e que a cada novo estágio do “desenvolvimento” as pessoas estão consumindo mais energia, então faz-se imperativo discutir cada vez mais as possibilidades do setor de energia, desde a produção, transporte e distribuição, até seu uso final, objetivando sua eficiência, otimização e racionalidade.
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Juacy da Silva*
O Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos foi instituído pelo Decreto Federal nº 98.816, de 11 de janeiro de 1990, (há 34 anos), contemplando a primeira regulamentação da Lei dos Agrotóxicos: Lei 7.802, de 11 de Julho de 1989, regulamentada 13 anos depois, pelo Decreto 4.074, de 04 de janeiro de 2002.
A data visa à elucidação dos riscos ocasionados pelo uso indiscriminado de substâncias agroquímicas, pesticidas e praguicidas. Com efeito, esses elementos podem comprometer o meio ambiente e a saúde, tanto daqueles que estão em contato direto com o solo quanto dos que consomem os produtos derivados da terra. Nesse sentido, o dia objetiva fomentar a conscientização acerca da necessidade do uso sustentável e ecológico desses defensivos químicos.
Em 28 de novembro do ano passado (2023) o Senado aprovou o projeto de Lei que estava tramitando no Congresso Nacional desde 1999, sobre os agrotóxicos no Brasil, tendo o mesmo sido sancionado pelo Presidente Lula em 28 de Dezembro último, com 14 vetos.
Vejamos a nota da Agência Brasil sobre o assunto: “Em tramitação desde 1999, o PL estabelece regras para controle, inspeção e fiscalização desses produtos, com potencial de prejudicar a saúde humana e animal, bem como o meio ambiente, mas largamente utilizados pelo setor agrícola com o intuito de proteger e aumentar suas produções. De acordo com o Planalto, a decisão pelo veto dos dispositivos foi motivada “pelo propósito de garantir a adequada integração entre necessidades produtivas, a tutela da saúde e o equilíbrio ambiental”. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Entre 2019 e 2022, foram liberados 2.181 novos registros, o que corresponde a 545 por ano. Em 2023 (Governo Lula), o país aprovou 505 novos registros de pesticidas, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”.
De acordo com publicação da Embrapa, em 2022 o Brasil utilizou 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos, um aumento de 700% nos últimos 40 anos, cujas consequências tem sido o aumento da poluição, do ar, das águas, do solo, afetando a saúde dos trabalhadores, moradores das proximidades das áreas utilizadas para produção de alimentos, contaminação de 25% das frutas, legumes e verduras, e um aumento de doenças de pele, respiratórias, câncer e outras mais, decorrentes desses agrotóxicos, “O Brasil é campeão mundial no consumo de agrotóxicos e o Instituto Nacional de Câncer (INCA) alerta para o risco que os brasileiros correm. De acordo com relatório divulgado pelo INCA, o Brasil despeja mais de um milhão de toneladas de agrotóxicos nas lavouras por ano. O que daria, em média, cinco quilos de veneno agrícola por pessoa. O documento explica que pessoas que trabalham diretamente nas lavouras estão mais suscetíveis a intoxicações. Porém, a exposição a resíduos de agrotóxicos nos alimentos e no ambiente, geralmente em doses baixas, pode afetar toda a população. O INCA cita como potencias problemas: infertilidade, impotência, abortos, malformações, efeitos no sistema imunológico e câncer. Além disso, o INCA também critica a permissão do uso no Brasil de agrotóxicos já banidos em outros países. Como é o caso do glifosato, um dos herbicidas mais comuns nas lavouras brasileiras, classificado como provável causador de câncer”. Fonte: INCA, 20/12/2023
O Papa Francisco, fazendo coro com estudiosos, ambientalistas e cientistas, quando escreveu e publicou, em 24 de Maio de 2015 a Encíclica Laudato Si, antes mesmo de a ONU ter estabelecido os Objetivos Sustentáveis do Desenvolvimento e, também, antes do Protocolo/Acordo de Paris ter sido aprovado e firmado por quase duas centenas de países e territórios, destacou, além de tantas outras verdades, dois fatos que precisamos refletir mais profundamente.
Francisco ao publicar a citada Encíclica que passa a ser um marco significativo no pensamento social e ambiental da Igreja, afirmou categóricamente: a) na raiz dos problemas e desafios sócioambientais, incluindo a terrivel crise climática, estão as ações, nada racionais, mas sim altamente predatórias e egoistas dos seres humanos; b) o Planeta Terra, chamado pelo Papa Francisco de “nossa casa comum”, a nossa mãe terra, é um todo integrado, pessoas, biomas, biodiversidade, nações e ecossistemas não existem isoladamente; diante disso, “tudo está interligado, nesta casa comum”.
Isto significa que para os problemas socioambientais não vale a ideia de soberania nacional, de propriedade privada, de apenas uma geração, pois, afinal antes desta geração outras tiveram lugar e depois de nossa geração, muitas outras, por séculos e milênios no futuro a humanidade terá que conviver com a natureza.
Se depredarmos, degradarmos, destruirmos a natureza de uma forma irracional e gananciosa, visando apenas lucros imediatos e imediatistas, com certeza tanto as atuais quanto as futuras gerações sofrerão as consquências, ou seja, “pagarão o pato”. Como conclusão neste sentido, precisamos nos preocupar e respeitar o direito das futuras gerações e terem um meio ambiente saudável, sustentável e não um planeta doente e destruido, como tudo levar a crer que seja esta a herança que os atuais destruidores da natureza e do planeta irão deixar para seus filhos, netos, bisnetos ou tretanetos.
Quando Francisco fala que “tudo está interligado, nesta casa comum”, ele se refere a todas as nossas ações, nossos pecados ecológicos e nossos crimes ambientais, tanto no que concerne ao âmbito geográfico, ecossistemas e biomas, quanto setorialmente, como é o caso do uso e abuso em relação aos agrotóxicos que degradam a natureza: o solo, o subsolo, as águas, o ar, os alimentos e, em decorrência a saúde animal e saúde humana, aumentando as doenças, o sofrimento e a morte de milhões de pessoas ao redor do mundo em poucas décadas.
Em sua origem o surgimento dos agrotóxicos (pesticidas, herbicidas, fungicidas) foi saudado como um grande avanço nas práticas agrícolas e pecuária, no contexto da chamada revolução verde, ao lado de inúmeras outras tecnologias que facilitaram tanto o aumento da produção quanto da produtividade, aumentando inclusive as áreas a serem utilizadas para a produção de alimentos, áreas essas, como o cerrado brasileiro, que até então eram consideradas regiões não propícias `a agricultura.
No entanto, se de um lado ocorreram grandes progressos em relação ao volume de alimentos produzidos (grãos e proteínas animais), de outro lado, pouco se cuidou dos exageros ou das consequências que essas práticas poderiam ter para a natureza (animais e vegetais, biomas) e para os seres humanos, a curto, médio e longo prazos.
Este é o debate que está sendo travado no mundo todo, principalmente em países como os EUA, Brasil, Austrália, União Europeia, na África e na Ásia, onde estão os maiores produtores de alimentos/agropecuária do mundo.
No caso do Brasil, que, em termos globais está entre os quatro ou cinco maiores produtores de alimentos do planeta, ocupando o primeiro lugar em relação a alguns tipos/produtos como proteína animal, soja, milho e algodão, principalmente este debate tem sido acalorado.
De um lado alguns grupos industriais que produzem esses agrotóxicos e também sementes e outros insumos, que tem entre seus aliados boa parte do agronegócio que teima em defender que para “alimentar o mundo” vale tudo, incluindo o desmatamento e queimadas que estão destruindo todos os biomas brasileiros, principalmente os três “mais importantes”, tanto pela dimensão territorial quanto riqueza da biodiversidade: Pantanal, Cerrado e Amazônia, tendo como consequência direta a degradação e poluição do ar, dos solos, da água e dos alimentos pelo uso exagerado e, em certos casos, até criminoso, de agrotóxicos já banidos em diversos outros países e que deveriam também ser no Brasil.
Esta discussão está centrada em quatro aspectos: a) quantidade total de agrotóxicos usada, em que o Brasil é campeão entre os países e Mato Grosso é o campeão nacional, seguido de perto por outros Estados da Amazônia e do Centro Oeste; b) quantidade de agrotóxicos por área ocupada com lavouras, onde são produzidos grãos; e, c) quantidade de agrotóxico por tonelada de grãos produzidos e, d) quantidade de agrotóxico utilizado per capita.
Cientistas e ambientalistas insistem dizendo que mesmo que o Brasil tenha “avançado” na “redução” do uso de agrotóxicos em relação tanto à área ocupada (toneladas de agrotóxicos por ha plantado) ou em relação `a produção de grãos ( toneladas de agrotóxico por toneladas de produção), o que também não é verdade, `a medida que tem havido uma expansão meteórica tanto em termos de área ocupada, como a que tem acontecido na região conhecida por MATOPIBA e em outras regiões do cerrado e da Amazônia a consequência natural é cristalina, ano após ano a quantidade de agrotóxico utilizada vem aumentado, para euforia dos grandes grupos internacionais, vários dos quais tem suas unidades produtoras de agrotóxicos na Europa, nos Estados Unidos, na China e na Índia, cujos lucros, `as custas da contaminação/poluição continuam crescendo celeremente.
Em estudo, relativamente recente, do IPEA, em 2019, considerado um texto para discussão o pesquisador Rodrigo Fracalossi de Moraes, aponta que “Embora a aplicação de agrotóxicos aumente a produtividade agrícola, o seu uso intensivo frequentemente gera um conjunto de externalidades negativas, bastante documentadas na literatura especializada. Impactos sobre seres humanos vão desde simples náuseas, dores de cabeça e irritações na pele até problemas crônicos, como diabetes, malformações congênitas e vários tipos de câncer. Impactos ambientais também são vários, incluindo contaminação da água, plantas e solo, diminuição no número de organismos vivos e aumento da resistência de pestes”.
Dados desta publicação do IPEA, que é considerado como uma Instituição pública séria e que goza de grande credibilidade, demonstram que tanto em relação `a quantidade total de agrotóxicos usada no Brasil, quanto `a quantidade de por área (ha) cultivada e também quanto `a quantidade por habitante e do volume de produção, este crescimento tem sido bem acima da média mundial, considerando os 14 países que mais usam agrotóxico quanto produzem alimentos.
O período analisado é de 1991 até 2015, cabendo ressaltar que esta corrida louca em relação uso de agrotóxicos que se revela tanto nesses dados quanto na autorização pelas autoridades sanitárias animal, vegetal e humana tem sido realmente vertiginosa, inclusive nos governos petistas (Lula/Dilma) entre 2003 até 2016 quanto atual (terceiro mandato). Neste aspecto, existe uma grande polêmica, um grande debate em relação `a regulação quanto ao uso dos agrotóxicos, indicando a necessidade de uma maior participação tanto da comunidade científica quanto dos movimentos que representam a sociedade e os consumidores, evitando deixar apenas entre regulados (produtores e comercializadores dos agrotóxicos) e reguladores (organismos públicos que regulam e “controlam”), mas que sofrem pressões e ingerências da política, onde estão também presentes os grandes “lobbies” desses grandes grupos econômicos, incluindo a poderosa bancada do boi.
Em 1991 o Brasil ocupava a 11ª posição entre 14 países que mais utilizavam agrotóxicos no mundo, passado para a 6ª posição em 2015, saltando de 58 mil toneladas em 1991 para 375 mil ton em 2015, um aumento de 643%, enquanto a média mundial cresceu apenas 179% no mesmo período.
Em relação `a quantidade por área cultivada (toneladas de agrotóxico por ha), em 1991 o Brasil usava 1,0 ton/ha e em 2015 passou para 4,3 ton/ha, um aumento de 427%, enquanto o mundo passou de 1,5 ton/ha em 1991 para 2,6 ton/ha, um aumento de “apenas” 72% ou seja, praticamente seis vezes menos do que o Brasil no mesmo período. Em 1991 o Brasil ocupava a 12ª posição entre os 14 países que mais usavam e ainda usam agrotóxicos, passando a ocupar a 7ª posição em 2015 e, segundo algumas análises em 2023 deverá ocupar a quarta ou quinta posição, o que demonstrra a escalada vertiginosa do uso de agrotóxicos no Brasil.
Outro dado interessante é a questão da quantidade de agrotóxicos por habitantes ou como se diz, quanto cada brasileiro, inclusive recém nascidos consome de agrotóxicos (muitos afetados dentro do ventre materno), como o pesquisador da UFMT Dr. Wanderlei Antônio Pignati e associados encontraram em seus estudos recentemente, também confirmados pelo Atlas do Agrotóxico, publicação da FIOCRUZ em 05 de Dezembro último, que vale a pena e merece ser consultado, onde existem dados mais atualizados.
Em 1991 o Brasil utilizava 0,4kg de agrotóxico por habitante e em 2015 usava 1,8 kg per capita, um aumento de 475%; enquanto a média mundial por habitante era de 0,4 kg por habitante em 1911, passando para 0,6 kg por habitante em 2015, um aumento de apenas 37%.
Esses três parâmetros demonstram a velocidade e a volúpia no uso dos agrotóxicos no Brasil. Fica claro que esta prática e altamente lucrativa para produtores e grandes usuários do agrotóxico (agronegócio) enquanto os prejuízos são custeados pelos contribuintes (via políticas públicas e subsídios para diversos setores que participam desta cadeia) e os malefícios para a saúde, para a alimentação fica nas costas dos consumidores e da população em geral.
Vejamos, de forma breve o que o documento do IPEA nos diz sobre a questão da regulamentação do uso dos agrotóxicos e as principais sugestões do mesmo.
“Com base na literatura teórica e empírica, este texto propõe cinco medidas para equilibrar, ainda que parcialmente, a influência de regulados sobre o processo regulatório, prevenindo assim o problema da captura regulatória: i) manter a separação de poderes no registro de agrotóxicos, divididos desde 1989 entre as áreas de estímulo à agricultura, à saúde pública e ao meio ambiente, a fim de reduzir riscos de conluio entre regulados e reguladores; ii) enfraquecer o mecanismo conhecido como porta giratória; iii) ampliar a presença de grupos da sociedade civil e experts em discussões, comitês e processos decisórios, especialmente das áreas de direito do consumidor, meio ambiente, saúde pública e de trabalhadores rurais; iv) treinar agentes públicos nas áreas de relações com o setor privado, política da regulação e captura regulatória, a fim de identificarem situações de potencial captura e prevenir o que a literatura denomina de captura cognitiva ou cultural; e v) manter garantias para a liberdade de expressão, de forma que setores mais frágeis e a mídia possam apontar eventuais conluios entre regulados e reguladores”.
Para finalizar, vejamos o que nos diz a FIOCRUZ no lançamento da Publicação “ATLAS DOS AGROTÓXICOS”, em 05 de dezembro de 2023:“O Atlas faz um raio-x sobre a questão dos agrotóxicos no Brasil a partir de um conjunto de artigos - traduzidos e outros originais - e reforça que vestígios de agrotóxicos usados na agricultura estão sendo encontrados em frutas, nos vegetais, no leite materno, no ar e até mesmo nos solos de territórios protegidos. A morte massiva de abelhas causada por agrotóxicos à base de fipronil em diferentes partes do planeta e a contaminação de escolas por produtos aplicados via pulverização aérea são dois exemplos que ilustram os riscos do uso dessas substâncias. Todos os textos apresentam dados e fatos sobre o uso e o impacto dos agrotóxicos na agricultura e na saúde humana”.
Esses são apenas alguns dos aspectos e das razões que precisamos refletir neste 11 de Janeiro quando destacamos este como o DIA DO CONTROLE DA POLUIÇÃO POR AGROTÓXICO, no Brasil e no mundo. Ignorar este problema e suas consequências é uma forma de nos omitirmos sobre um grave desafio socioambiental em nosso país.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
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para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
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Texto enviado pelo Prof. Danilo de Souza.
A eficiência energética pode aumentar o consumo de energia?
A ação de eficiência energética estabeleceu-se como um mecanismo para a redução da emissão de gases de efeito estufa. A ideia é simples – ao implementar tecnologias ou ações que reduzem o consumo de energia elétrica, poupa-se energia e consequentemente a emissão é menor. A Agência Internacional de Energia (IEA) enfatiza que a eficiência energética tem potencial de representar 40% das reduções globais nas emissões de gases de efeito estufa necessárias até 2040 para atingir os objetivos climáticos globais delineados no Acordo de Paris.
No caso brasileiro, as diretrizes caminham na mesma linha da IEA. O Plano Nacional de Eficiência Energética, publicado pelo Ministério de Minas e Energia, em suas premissas e diretrizes básicas, também atua no sentido da aplicação dos mecanismos de eficiência energética como estratégia para reduzir a emissão de CO2.
Entretanto, um fenômeno já observado há mais de 150 anos traz uma série de dúvidas sobre essa simples, lógica e até intuitiva descrição. No século XIX, William Stanley Jevons, famoso economista inglês, registrou em seu livro A Questão do Carvão, de 1865, que as melhorias de eficiência no uso de carvão na Escócia entre 1830 e 1863 levaram a um aumento em sua demanda, não a uma diminuição, como poderia ser inferido. Nas palavras de Jevons (1865):
A redução do consumo de carvão, por tonelada de ferro, para menos de um terço do seu valor anterior, foi seguida, na Escócia, por um consumo total dez vezes superior, para não falar do efeito indireto do ferro barato na aceleração de outros ramos da indústria que consomem carvão.
Nessa perspectiva, Jevons apresenta um caso extremo do que hoje conhecemos como “efeito rebote”. A ideia do economista se desenvolve da seguinte forma: uma melhoria da eficiência energética na utilização de um recurso (por exemplo, gasolina com carros mais eficientes energeticamente) conduz a uma redução do custo de um serviço energético prestado por esse recurso (como o transporte individual). Esse serviço de energia “agora mais barato” impulsiona sua própria demanda, aumentando ainda mais o uso do recurso em questão, caracterizado como efeito rebote direto.
Outros bens ou serviços que precisam de energia para serem produzidos.
Outra possibilidade é o efeito rebote indireto, o qual é provavelmente muito mais importante nos médio e longo prazos. Esse fenômeno ocorre quando não há demanda adicional por esse serviço de energia, a economia monetária pode ser utilizada para consumir
Para tornar mais didática nossa discussão, podemos realizar um experimento mental. Imaginemos a situação em que os carros se tornem muito mais eficientes em termos de combustível. Como consequência, iremos usá-los mais ou até mesmo comprar outros maiores. Isso também nos possibilitaria mudarmos para outra cidade, pois utilizaríamos a mesma quantidade de combustível morando mais longe e deslocando-nos.
Estudos realizados desde a década de 1980 mostraram que há efeito rebote em muitas áreas, podendo variar entre “rebotes leves”, e até mesmo casos extremos em que o tiro saiu pela culatra. Podemos afirmar, assim, que há consenso sobre sua existência, mas ainda não sobre sua extensão. Nesse sentido, no campo da pesquisa, já é bastante aceito que as tecnologias de propósito geral (eletricidade, automóveis, internet, dentre outras) tendem a reproduzir o Paradoxo de Jevons.
Dito isso, uma questão central surge neste debate: “Devemos parar de incentivar a eficiência energética e as políticas de conservação de energia? Estamos gerando mais impactos e afastando-nos da sustentabilidade ou da mitigação das mudanças climáticas?”.
Faz-se imperioso, então, não só defender, mas aplicar fortemente a eficiência energética. Isso, menos por sua capacidade de reduzir as emissões, e mais por seus efeitos sobre a produtividade global do sistema econômico, e para aumento do conforto das famílias. Desde a Revolução Industrial, a tecnologia tem sido bem-sucedida em ampliar a eficiência no uso da energia. No entanto, tais avanços não têm levado ao recuo no consumo per capita de energia. Aliás, se assim fosse, com as tecnologias e a eficiência atuais, deveríamos observar menos problemas ambientais, não o aumento deles. Afinal, somos hoje muito mais eficientes que há 150 anos, mesmo sendo mais pessoas.
Da análise cuidadosa das afirmações de Jevons, podemos concluir que não existe uma solução mágica para reduzir o consumo de energia e enfrentar as mudanças climáticas nos dias de hoje. O paradoxo de Jevons, que destaca o potencial impacto negativo nos esforços relacionados à energia e ao clima, também nos obriga a adotar uma abordagem multidisciplinar que reconheça a complexidade inerente à formulação de políticas e leve em consideração plenamente as forças econômicas, sociais e comportamentais envolvidas nesse processo.
Danilo de Souza é professor na FAET/UFMT e pesquisador no NIEPE/FE/UFMT e no Instituto de Energia e Ambiente IEE/USP.
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Juacy da Silva*
Teoricamente vivemos em um país democrático ou como os donos do poder e os marajás da República tanto gostam de enfatizar, sob um “estado democrático de direito e republicano”, mas na realidade é vivemos em um país onde a Justiça social, a Justiça Ambiental e a Justiça intergeracional e a equidade estão muito distantes de serem realidades palpáveis na vida da grande maioria da população, onde 1% ou no máximo 5% das camadas mais abastadas abocanham mais de 50% da renda, da riqueza e das propriedades e mais de 50% da população vivem na miséria, enfrentando a fome, a insegurança alimentar, a violência, sem acesso a serviços públicos de qualidade, principalmente a saúde pública e a educação.
Para mim, isto não é democracia e nem pode continuar sendo defendida, precisamos de transformações mais profundas que incluam e não excluam as grandes massas na partilha da riqueza e do PIB brasileiro.
Hoje está fazendo um ano que uma turba ensandecida, objeto de manipulação ideológica, que para alguns analistas ao longo de quatro anos de Governo Bolsonaro, passou por uma verdadeira lavagem cerebral, destilando ódio e criticas mordazes, quase sempre através de ameaças e palavras chulas, ao Poder Judiciário, principalmente o STF e o TSE, bem como contra todos os partidos de esquerda, a quem, indistintamente eram considerados e vilipendiados como comunistas, inimigos do Brasil e do cristianismo, repetindo, faz um ano que aquela multidão avançou pela Praça dos Três Poderes em Brasília e promoveu uma grande baderna, destruindo o Patrimônio Público na sede do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF.
Se o clima em que ocorreu as eleições gerais, principalmente para Presidente da República, foi de um confronto não apenas eleitoral, mas fundamentalmente ideológico, místico-religioso, o mesmo, passado mais de um ano do segundo turno das eleições em que sagrou Lula como novo Presidente, ainda hoje este radicalismo está presente, com efeitos bastante nefastos na vida nacional.
Na semana passada Lula completou um ano, deste seu terceiro mandato e já está ensaiando a reeleição para a conquista de um quarto mandato nas eleições gerais de 2026, o que, se reeleito, lhe dará o título de mandatário mais longevo e também com mais mandatos conseguidos através de pleitos eleitorais democráticos e não pela via de Golpe de Estado como aconteceu com Getúlio Vargas e com os generais presidentes, cujo governo ditatorial durou mais de 20 anos.
Por iniciativa de Lula e com a anuência da cúpula do STF e de forma tênue por parte da Direção do Congresso Nacional, hoje haverá uma Sessão solene, um ATO PÚBLICO em Brasília e em diversos Estados, para celebrar a vitória da democracia ante a tentativa de golpe para destituir Lula da Presidência e praticamente dissolver o STF e também o TSE, alvos prediletos dos ataques diuturnos por Bolsonaro e seus fanáticos seguidores, muitos dos quais o consideravam e ainda o consideram um MITO, alguém enviado por Deus para salvar o Brasil das garras do comunismo, do satanismo e de tantas outras maluquices e besteiras que assacavam.
O ATO EM DEFESA DA DEMOCRACIA, parece que não vai contar com o apoio de boa parte dos governadores e parlamentares que, mesmo formalmente convidados pelo Presidente da República não irão a Brasília, alguns por serem ainda hoje fiéis seguidores de Bolsonaro e alinharem-se na extrema direita brasileira, e alguns outros que, mesmo pertencentes a vários partidos que integram a “base” do Governo Lula no Congresso, que tem milhares de cargos no primeiro, segundo e terceiro escalões do governo, estão temerosos de que suas presenças venham a contribuir para “engrossar” o caldo da narrativa da esquerda e influenciar nas eleições municipais deste ano, e, indiretamente, nas eleições gerais de 2026.
Esses governadores e outros políticos, como ou sem mandato, pertencem ao grupo dos “CAMALEÕES” da politica, agem de forma oportunista, ficam em cima do muro e estão sempre tirando proveito das polarizações, quando vendem seu apoio a preço de ouro.
Esses partidos estiveram ou estão no poder há praticamente 30 anos, direta ou indiretamente, e apoiaram os Governos FHC I e II; Lula I e Lula II; Dilma I e Dilma II, até que conseguiram derruba-la e continuaram aboletados na alta cúpula do país com o Governo Temer, depois com Bolsonaro e hoje estão novamente com Lula, sem o menor pejo ou vergonha de terem “servido” governos de esquerda, de centro ou de extrema direita.
Da mesma forma que a Baderna ou a Tentativa de Golpe de 08 de Janeiro de 2023 representam um desrespeito `a democracia, enfraquecendo-a, também este oportunismo político, que tem em sua base, as famosas emendas parlamentares, o Orçamento Secreto, a transformação da política em um enorme balcão de negócios, a falta de transparência, a corrupção institucionalizada também destroem a democracia brasileira perante o povo e também perante os demais países.
As celebrações de hoje, 08 de Janeiro de 2024, demonstram que o Brasil continua tão divido quanto há um ano, quando da “tentativa de golpe” e a tendência é assim continuar a polarização ideológica que impossibilita a viabilidade de uma “terceira via”, beneficiando os extremos da política, do “nós contra eles”, tão nefastos a qualquer democracia, regime político ou forma de governo.
Neste contexto vale perguntarmos “qual a democracia que estamos defendendo”?
No caso brasileiro, uma democracia que facilita e perpetua a exclusão das grandes massas? A perpetuação da fome, do racismo estrutural, do desrespeito `as culturas tradicionais, o machismo, da violência em geral e todas as formas de violência e marginalização contra grupos específicos como os afrodescendentes, as mulheres, as pessoas deficientes, as crianças, adolescentes e idosos; um pais em que os Marajás da República, os donos do poder e seus apoiadores gozam de privilégios, mutretas, benesses e regalias, enquanto os trabalhadores recebem um salario mínimo de fome, e milhões vivem de migalhas distribuídas por políticas assistencialistas que apenas perpetuam a pobreza, a fome e a miséria e serem fundamentalmente como mecanismo de manipulação política e eleitoral?
Será que o povo, o povão entende o que é defesa da democracia? ou melhor, o que é democracia e qual ou quis as razões que deveriam defende-la?
Não podemos transformar a Defesa da Democracia em mero slogan, que se apaga diante da realidade que exclui milhões de pessoas, a grande maioria da população brasileira e deixar essas massas sendo manipuladas para a perpetuação das mesmas mazelas que há décadas, séculos tanto nos envergonham.
Defender a democracia para mim é definir e implementar políticas públicas que promovam transformações profundas nas estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais do Brasil, reduzir as desigualdades sociais, as desigualdades regionais, as desigualdades setoriais, promover reparação histórica `as populações que ao longo de séculos, como os afrodescendentes, os povos indígenas e outros grupos que sempre foram e continuam marginalizados.
Defender a democracia é acabar com os privilégios e benesses que favorecem uma parcela pequena dos integrantes da cúpula dos três poderes, tanto a nível nacional quanto nos Estados e Municípios e não apenas com discursos pomposos em gabinetes luxuosos, enquanto milhões de trabalhadores não tem renda e nem salário dignos, nem previdência, nem proteção social, enquanto os grandes grupos econômicos recebem bilhões e trilhões de dólares ou reais a título de renúncia fiscal, incentivos fiscais, sonegação consentida, facilitando cada vez mais a acumulação do capital em poucas mãos, em detrimento dos trabalhadores e das grandes massas despossuídas.
Defender a democracia é promover uma política ambiental/ecológica que garante de verdade a sustentabilidade e acabem com o desmatamento, a destruição da biodiversidade e a degradação dos rios e dos biomas brasileiros.
Enfim, creio que precisamos fazer uma reflexão mais profunda, mais crítica sobre que DEMOCRACIA TEMOS e qual a VERDADEIRA DEMOCRACIA QUE QUEREMOS, slogans não transformam a realidade, não revolucionam as estruturas e apenas atendem interesses momentâneos.
*Juacy da Silva, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral., Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy
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Texto enviado pela. Profa. Dra. Liliane Capilé Charbel Novais
Caros/as Docentes da UFMT
A Chapa 01 - UFMT QUE QUEREMOS deseja-lhes um FELIZ NATAL e um ANO NOVO com saúde e muitas realizações.
Com estes votos reafirmamos nosso compromisso de implementar uma gestão ativa e propositiva, pois ainda que pese sobre a UFMT diversos experimentos de excelência e boas iniciativas por parte dos servidores/as, a universidade tem revelado muitos problemas que englobam tanto a gestão de pessoas como a precariedade dos espaços físicos e, por consequência, a suspensão de aulas, reuniões cansativas, pesquisas sendo prorrogadas, insatisfações, conflitos entre colegas, indignação, assédio e desencanto com o nosso trabalho.
Mas vamos reagir.
Logo de início combateremos os empecilhos do cotidiano e colocaremos a caminho uma política de ensino, pesquisa e extensão que eleve a nossa estima.
Vale enfatizar, que pela própria experiência junto à Editora da Universidade, nós estaremos garantindo, de imediato, apoio às publicações, aos periódicos editados por nós, que mesmo sem recursos institucionais, se tornaram publicações de excelência.
Vamos propor e fortalecer os caminhos para garantir o engajamento dos/as nossos/as pesquisadores/as no alto extrato da pesquisa e com isso valorizar os nossos Programas de Pós-Graduação. Muito em breve ultrapassaremos os 40 PQ, pois acreditamos que há espaço para concorrer mais fortemente no CNPq.
Vamos criar na página da PROPeq, o Observatório de Pesquisa da UFMT para divulgar o que fazemos e prospectar o que temos no Estado, no País e no exterior, que seja de interesse para nossas pesquisas.
Estamos trabalhando para garantir muitos ANOS NOVOS de boas práticas no ensino, na pesquisa e na extensão. Vamos SER o que potencialmente já somos, mas com valorização e reconhecimento institucional.
Um grande abraço de Marluce e Silvano.
Chapa 01
UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso
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Profa. Dra. Liliane Capilé Charbel Novais
Departamento de Serviço Social - ICHS - UFMT
PPGHIS - IGHD/UFMT
A Adufmat-Ssind informa que entrará em recesso de final de ano a partir desta sexta-feira, 22/12/23 retomando as atividades em 08/01/24 (segunda-feira). Não haverá, portanto, atendimento ao público neste período na sede, em Cuiabá, e nas subsedes de Sinop e Araguaia.