O Primeiro de Maio voltou a ser dia de ocupar as ruas em Cuiabá. Desde a pandemia de Covid-19, entidades de trabalhadores não organizavam ato unificado em defesa dos direitos no dia em que o mundo tem a tarefa de parar e pensar nos rumos da engrenagem que move as sociedades, como ficou bem evidenciado, inclusive na pandemia: o trabalho. Em 2025, a pauta voltou a ser apresentada publicamente na capital mato-grossense.
A Associação dos Docentes da Universidade Federa de Mato Grosso (Adufmat-Ssind) foi uma das entidades organizadoras, assim como o Unidade Popular pelo Socialismo (UP), a Organização Socialista Libertária (OSL) e o coletivo Cuiabá contra Escala 6x1 – que significa uma semana com seis dias seguidos de trabalho e apenas um dia de folga.
Segundo a diretora geral adjunta da Adufmat-Ssind, Lélica Lacerda, a pauta da redução da jornada de trabalho sem redução dos salários é imprescindível para o tempo presente. “Desde a pandemia nós não tínhamos um Primeiro de Maio nas ruas. E ele é um dia internacional de lutas fundamental para a classe trabalhadora estar nas ruas pautando o avanço dos direitos. No contexto em que estamos na berlinda, perdendo direitos, e lutando para resistir, esse ano nós tivemos uma novidade no cenário, que é a luta contra a escala 6x1. Essa reivindicação tem conseguido unificar a classe trabalhadora, porque ela é fundamental, diz respeito a questões materiais e concretas bastante eminentes. Ela é uma pauta antirracista, na medida em que são as pessoas negras, indígenas, pardas é que são a maioria nos piores postos de trabalho; é uma pauta feminista, porque são mulheres que estão nas terceirizadas, nos empregos mais precários - além de terem a escala 7x0 em relação aos trabalhos domésticos e de cuidados; é antilgbtfóbica, porque são também os LGBTs que acabam assumindo os piores postos de trabalho; e, por fim, é uma pauta ambiental, porque hoje a gente vive um colapso ambiental, fruto da extração sem limites da natureza, como se ela fosse um galpão de recursos, quando, na verdade, ela é um ente vivo, e como um ente vivo precisa ter necessidades repostas, para que possa seguir existindo e repor também as nossas necessidades”, explicou a professora.
Fotos concedidas pelos manifestantes
Além de defender o fim da escala de trabalho 6x1, os manifestantes fizeram intervenções em defesa dos direitos da população em situação de rua. “O Abílio Brunini assumiu a Prefeitura, proibindo entrega de marmitas e com um discurso perseguindo esse seguimento da nossa classe. E recentemente, num curto espaço de um mês, três pessoas em situação de rua foram assassinadas em Cuiabá. Então a gente também ocupou as ruas para falar que todas as vidas importam”, acrescentou Lacerda.
Para Edzar Allen, membro da OSL, a ideia de conciliação de classes é a grande responsável pela redução da capacidade de mobilização dos movimentos sociais de trabalhadores no Brasil. “Nós vivemos uma conjuntura nacional e internacional na qual os governos vêm avançando nas políticas de extermínio do povo. O povo palestino está sendo massacrado, e outras regiões e continentes também têm guerras por conta dos interesses privados do capitalismo. Quando a gente fala em Brasil, é extremamente importante remeter a muitos anos atrás, a necessidade de retomarmos a luta unificada dos trabalhadores contra a conciliação de classes que imperou no Brasil e veio destruindo todo o processo de organização e luta sindical. No próximo ano tem eleição, e mais uma vez a gente corre o risco dessa luta tão importante, sobre a escala 6x1, ser tomada como balanço para palanque. A gente não pode cair nesta falácia. A 6x1 tem de ser processo da luta, da pressão e da cobrança dos governantes diuturnos. Caso contrário, vai passar mais um projeto que não trará nenhuma melhoria para nós. Corremos o risco de cairmos na mesma demanda, e beneficiar o patrão com a redução salarial. E é somente nesse processo, cada vez mais constante, de ocupar os espaços de organização, que nós avançaremos”, observou.
Após as falas de representantes das entidades, os manifestantes percorreram algumas das principais avenidas do centro de Cuiabá, como a Getúlio Vargas e Isaac Póvoas, dialogando com a população que estava trabalhando ou transitando pela regão.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind