No dia seguinte ao processo que objetivou legitimar uma intervenção política na Reitoria da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), um resultado que as entidades que representam a comunidade acadêmica já esperavam: pelo menos uma dezena de processos protocolados solicitando a impugnação da chamada consulta prévia para formação da lista tríplice.
Embora os questionamentos sejam basicamente sobre problemas do sistema de votação, os pedidos de impugnação revelam muito mais do que isso: revelam que a Associação dos Docentes (Adufmat-Ssind), o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos (Sintuf-MT) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) estavam certos ao questionarem o processo como um todo. Acertaram ao não reconhecerem legalidade e muito menos legitimidade da consulta imposta em meados de junho.
Desde a forma como foi estabelecida a realização da consulta ficou evidente que a demanda pela escolha de uma Reitoria - de forma apressada e não democrática, desrespeitando a paridade dos votos - vem de fora da universidade, para atender interesses externos, especialmente da presidência da República e dos parlamentares mato-grossenses que se alinham ao discurso autoritário. A condução da reunião do dia 17/06 e das posteriores explicitou a injustificável pressa para formação de uma lista tríplice.
Assim, não causa nenhuma surpresa o fato de os candidatos que se dispuseram a participar desse modelo de consulta, concordando antes com o constrangimento histórico de escantear os direitos à paridade e ao voto universal presencial – para representar os mesmos interesses externos já mencionados –, questionem parte do processo somente depois de anunciado um resultado que não lhe agradem.
“A leitura que a Adufmat e sua base fazem desse processo, como já expressamos em outros documentos, é de que os candidatos não eram candidatos a reitores, mas a interventores. As duas candidaturas que perderam o pleito decidem agora, de forma oportunista, solicitar a impugnação, indicando, inclusive, fragilidades que as entidades já aviam destacado. Isso demonstra o puro oportunismo, porque se fosse de princípios esses candidatos teriam retirado suas candidaturas e teriam reconhecido, desde o início, que esse processo é ilegítimo, como nós sinalizamos e outros dois pré candidatos também sinalizaram. Recorrer depois de perder, via administrativo ou judicial, representa o oportunismo desses candidatos que, na verdade, não querem construir um consenso e conduzir a universidade com lisura, querem impor interesses pessoais e, para isso, buscam qualquer caminho”, avaliou a diretora do sindicato, Lélica Lacerda.
Vale destacar ainda que alguns desses candidatos não só aceitaram disputar nesses moldes como participaram diretamente da organização da consulta, como membros do mesmo conselho que impôs a sua realização.
As falhas do sistema de votação são só alguns detalhes da farsa denunciada pelas entidades. Cabe lembrar, ainda, que a indicação da próxima administração será feita por aqueles que encomendaram a “consulta”, e que já deixaram claro que não se consideram obrigados a indicar o primeiro da lista. Portanto, a farsa ainda não acabou.
Por isso a Adufmat-Ssind reafirma seu compromisso com a defesa intransigente da autonomia universitária, dos processos democráticos construídos pela instituição e, mais uma vez, destaca a importância de realizar o processo para escolha da Reitoria nos moldes tradicionais, democráticos e paritários, assim que for seguro para toda a comunidade acadêmica retomar as atividades presenciais na UFMT.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind