A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) recebeu, pela segunda vez este ano, entre os dias 27 e 29/05, a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA). Em outros estados, o evento já é realizado há mais de dez anos.
Foram três dias de intensos debates sobre a questão Agrária em âmbito local, regional, nacional e global, com trabalhadores rurais sem terra, indígenas, quilombolas e movimentos sociais diversos ligados diretamente ou não ao campo.
A programação contemplou atividades como palestras, curso, rodas de conversa, oficinas, vivências, mostra de fotografias, cinema e outras atividades culturais. A feirinha de produtos da agricultura familiar, localizada no saguão do Centro Cultural, apresentou dezenas de alimentos que resultam da Reforma Agrária. Muitos produtos orgânicos e também veganos, todos cuidadosamente preparados para alimentar com saúde.
Durante os debates, destaque para a discussão sobre a Agroecologia. Na mesa “Colapso ambiental e alternativas à capitalização no campo”, realizada no primeiro dia do evento, na Adufmat-Ssind, o pesquisador Luis Gabriel Nunes, militante do PSOL e do Núcleo Teresa de Benguela, apontou as principais diferenças entre a Agroecologia e a Agricultura Convencional.
Há muito se sabe que a produção de alimento no mundo é mais do que suficiente para toda a população. No entanto, a partir da segunda metade do século XX, a chamada “Revolução Verde” é introduzida na América Latina pelos ideais capitalistas, aumentando a produção em números, sem preocupações com a diversidade de alimentos, saúde da população ou do meio ambiente. Pelo contrário, a Revolução Verde estabelece a monocultura a custas do uso de agrotóxicos e outras intervenções químicas, pautadas pela indústria.
“A Agroecologia não é só produzir sem veneno. Ela é a vida, é diversidade, é a saúde social e mental dos seres humanos. Ela considera todas as dimensões da vida humana em seu conjunto de elementos. Então, nós precisamos avançar da produção orgânica para a agroecológica. Essa é a nossa Revolução”, disse Nunes.
O palestrante destacou, ainda, uma série de vantagens da Agroecologia, como a produtividade, que no modelo convencional está muito sujeita às intempéries, enquanto o modelo agroecológico - que produz muitos produtos ao mesmo tempo - tem maior estabilidade, oscilando menos a produtividade em decorrência das questões climáticas.
A militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Devanir Araújo, afirmou que a sociedade está num momento definitivo de reflexão. “Não é possível continuar sem fazer uma autocrítica, sem repensar as nossas práticas de fazer agricultura. Nós precisamos construir um ambiente sustentável mais agradável, construir a Agroecologia. Enxergar o solo como organismo vivo, não apenas um suporte onde se coloca a planta”, disse Araújo.
Os dados que apontam a diminuição da rentabilidade da terra devido ao mau uso, a destruição crescente de solo e as perdas de terras agricultáveis, resultado das grandes monoculturas, foram apontados como principais motivos para essa necessária mudança.
“Nosso sistema já entrou em colapso. A sociedade está doente, porque nós estamos comendo, não nos alimentando. Cerca de 70% das doenças são causadas pela alimentação ou falta de nutrientes. Então, nós temos de desenvolver outro sistema produtivo pensando na vida. Nós temos responsabilidade com a vida, enquanto seres humanos”, concluiu a palestrante.
Para que essa transformação seja possível, os dois debatedores foram enfáticos: não há como desenvolver a Agroecologia sem Reforma Agrária e sem políticas públicas. A preocupação com insumos, com a criação de sementes crioulas - quase extintas pelas indústrias de sementes -, a formação de profissionais qualificados para trabalhar com a técnica, considerada a mais avançada nos dias de hoje, são alguns dos desafios.
Por fim, os palestrantes afirmaram que a Agroecologia é um projeto político de sociedade e que esse debate precisa adentrar as periferias, considerados espaços estratégicos para que essa proposta se torne realidade.
Apresentações culturais
Além dos debates, a JURA proporcionou uma série de atividades culturais, como a exibição de filmes. Uma dessas atividades, também realizada no auditório da Adufmat-Ssind, foi a apresentação da peça “Mulheres da Terra”, na noite de terça-feira, dia 28/05.
A arena lotada assistiu, emocionada, a homenagem do grupo mato-grossense Cena Onze a mulheres que dedicaram suas vidas à defesa do direito à dignidade, do direito à terra. Veja algumas fotos do espetáculo na GALERIA abaixo, e assista aqui a íntegra, disponível no canal do Cena Onze no Youtube.
Confira aqui a programação completa da JURA 2019 e não perca a edição do próximo ano!
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind