Diante de tantos ataques aos direitos da população brasileira, em meio a um conturbado cenário político e econômico, a Adufmat-Ssind foi convidada para contribuir com a análise de conjuntura durante a reunião da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na última sexta-feira, 17/05.
A parceria entre o sindicato dos docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e MST é histórica, tanto pela defesa do direito constitucional à terra, por meio da Reforma Agrária, quanto pela luta pelos direitos fundamentais, sociais e trabalhistas de todos os trabalhadores.
Na mesa, além do dirigente nacional do MST, João Paulo Rodrigues, e do professor Aldi Nestor de Souza, que representou a Adufmat-Ssind na ocasião, os professores da UFMT, Paulo Wescley (Departamento de Serviço Social) e Paulo Rocha (Faculdade de Comunicação e Artes), dividiram suas leituras e experiências para tentar desvendar a atual conjuntura.
“A análise de conjuntura é central, porque ajuda a organizar as ações seguintes, além de ser uma experiência coletiva, porque não há saber iluminado”, afirmou Rodrigues, abrindo os trabalhos.
O dirigente pontuou, de forma bastante didática, quais influências internacionais e nacionais foram decisivas para derrocada do governo Dilma Rousseff e a eleição de Bolsonaro, um processo de golpe que teve início nas manifestações de junho de 2013 e, na sua avaliação, ainda não está completo. A questão central nos interesses econômicos resvala agora no empobrecimento gradativo da população, no aumento da exploração e também opressão, repressão e criminalização dos movimentos sociais organizados que lutam para resguardar os direitos atacados.
Para o diretor geral da Adufmat-Ssind, Aldi Nestor de Souza, é preciso refletir sobre a palavra da onda do moralismo no Brasil: “corrupção”. “Eu tenho interesse de encarar essa palavra. Ela carece de tratamento, porque parece absoluta, mas não diz nada, não explica nada. A corrupção é inerente às relações capitalistas”, afirmou o docente, citando inúmeros casos de escândalos de corrupção praticados por governos e empresas.
Numa análise mais local, o professor utilizou o termo “ninguendade”, conceito de Darcy Ribeiro cunhado na obra “O povo Brasileiro”, para descrever as relações estabelecidas na universidade. “A UFMT é formada por pessoas que vieram de outros lugares em busca do seu próprio garimpo e aqui não se identificam com nada. É uma relação muito parecida com a do estado de Mato Grosso, para onde muitas pessoas, de diversas regiões, vieram atrás de um pedaço de terra. Ou seja, a universidade está muito alinhada com esse projeto de estado”, concluiu.
O professor Paulo Wescley elencou diversos desafios para que os trabalhadores consigam superar o que considera uma crise estrutural de sociabilidade, mas ao final de sua exposição, garantiu: “Minha fala não é pessimista. Nós temos de saber que o desafio é muito grande, mas não é impossível. A Reforma da Previdência, por exemplo, é algo que não conseguem fazer desde o governo FHC, passando por Lula, Dilma e agora Bolsonaro. As contradições vão se ampliar, mas é preciso disputar consciências, aprofundar as discussões sobre projeto de sociedade e as táticas para unir as pessoas e as pautas”, afirmou o docente.
Já o professor Paulo Rocha compartilhou suas experiências nas periferias de Cuiabá, de outros estados e países, afirmando que os pobres foram abandonados pela chamada esquerda nos últimos anos. “É preciso refazer as relações, diminuir essa distância”, indicou o jornalista.
Para Rocha, o espírito do tempo atual é de um conservadorismo sem precedentes. “Há um negacionismo político absurdo, às vezes até para quem é de esquerda. Um preconceito tão cego, capaz de superar até mesmo a autoridade de Deus”.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind