Os docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), reunidos em assembleia geral realizada nessa quinta-feira, 07/06, debateram a conjuntura política que envolve o ensino público superior, ressaltando as principais dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores da educação, entre outras categorias. As diversas manifestações populares pelo país e no exterior, as greves e o impasse dentro da UFMT na luta em defesa do Restaurante Universitário a um real e universal foram alguns dos pontos que marcaram a discussão.
Já no início, professores de Sinop registraram a participação do deputado Nilson Leitão (PSDB/MT) num programa de rádio local, em que o parlamentar ataca os docentes do ensino superior, dizendo que não trabalham e ganham “fábulas de dinheiro”. A categoria se mostrou indignada, mas lembrou que o deputado tem cumprido um papel de defesa dos interesses de mercado, em especial do latifúndio, contra todos os interesses da população. Além disso, o histórico do deputado envolve acusações por improbidade administrativa, propostas absurdas do tipo rebaixar o trabalho à troca de moradia e alimentação, além de ataques sistemáticos aos direitos sociais e aos povos originários.
“Esse tipo de comentário tem o objetivo de ferir a autonomia da universidade. Além dos nossos recursos naturais, eles querem o capital intelectual atrelado aos interesses de mercado, do agronegócio, da mineração e do setor de serviços”, avaliou o professor Maelison Neves, vice-presidente da Adufmat-Seção Sindical do ANDES.
Para o professor Carlos Sanches, os ataques de Leitão são bem mais amplos. “Hoje ele ofendeu os professores, mas já ofende a sociedade há muito tempo”, afirmou o docente. Durante as suas contribuições à discussão sobre a análise de conjuntura, o professor destacou ainda que é preciso desvelar o que realmente foi a ditadura militar brasileira, diante dos recentes e inacreditáveis apelos de alguns grupos defendendo a política intervencionista.
O professor José Domingues afirmou que a discussão não deve se resumir à terrível atuação do deputado citado, e que é preciso agir de forma enérgica contra as imposições das políticas neoliberais que estão destruindo os direitos sociais e trabalhistas há anos. “Todos eles falam a mesma coisa, de maneiras diferentes. A conjuntura não permite que o debate seja pequeno. É preciso mostrar a diferença e a defesa do sindicato na sua concepção, com campanhas que, por exemplo, dificultem a reeleição desses partidos. Precisamos mostrar isso para a população”, disse o docente.
Sobre a situação da UFMT, em que os estudantes estão em greve há mais de um mês em alguns campi em defesa da principal política de assistência estudantil, o Restaurante Universitário a um real e universal, os docentes debateram longamente. Contextualizaram a luta e lamentaram a postura da Reitoria de se retirar dos espaços de discussão, desrespeitando o Comando de Greve de Cuiabá.
A categoria destacou também outras dificuldades no trato com a Reitoria, como a suspensão das discussões sobre a Resolução 158 (atribuições docentes) no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), que já estava avançada quando a reitora voltou de licença para cuidar da saúde, a ideia de universidade empreendedora que a administração tem sustentado, e a retirada em tempo recorde dos 28,86%.
Nesse sentido, a professora Adriana Nascimento, do Araguaia, leu uma nota de repúdio, questionando outra ação recente da administração. Docentes do campus do Araguaia foram convidados para a reunião do Fórum de Licenciatura que será realizado nos próximos dias em Cuiabá, mas o convite foi desfeito em seguida. A nota, com os detalhes do caso, será publicada no site da Adufmat-Ssind.
Já nos encaminhamentos, o campus de Cuiabá ficou sem energia elétrica, e a plenária decidiu suspender a assembleia. As deliberações sobre a análise de conjuntura, bem como os pontos de pauta que não foram debatidos – escolha de delegados para o 63º CONAD e pesquisa de opinião sobre o sindicato – serão submetidos à nova assembleia geral.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind