Pintura, fotografia, literatura, arquitetura, cinema, liberdade e censura. O último dia do Seminário 100 anos da Revolução Russa, organizado pela Adufmat-Seção Sindical do ANDES-SN, abordou diversas expressões das artes desenvolvidas na União Soviética antes, durante e depois da revolução que mudou o mundo.
No período da manhã do dia 27/10, a mesa de debate "Arte na Revolução Russa: Rússia e México", ministrada pelo professor do Departamento de História da UFMT, Pablo Diener, apresentou esculturas, pinturas, fotografias e elementos da arquitetura de artistas como Alexander Rodchenko, Liubov Popova, Gustav Klutsis, Kazimir Malevich, entre outros.
“Uma das maiores expressões desse período foi Kazimir Malevich. Ele acreditava que a arte deveria reproduzir o espírito da revolução, e desenvolveu o movimento conhecido como construtivismo”, explicou o docente.
Diener trabalhou as proximidades e diferenças das artes políticas russas e mexicanas, pois o México também viveu uma situação revolucionária em 1910. Entre os mexicanos que representam o período, o docente destacou José Orozco, David Siqueiros e, entre os mais emblemáticos, Diego Rivera, companheiro de Frida Kahlo.
Durante a tarde, a professora Patrícia Acs falou sobre a literatura russa desenvolvida por Maksim Górki. Mestre em Literatura e Arte Russa pela Universidade de São Paulo (USP), Acs partiu do filme “A mãe”, inspirado numa obra de Górki, para demonstrar a visão do autor de que a literatura deveria retratar a realidade operária, inspirando o movimento artístico chamado Realismo Socialista.
“A mãe é uma obra pedagógica, inclusive para nós. Ela nasceu de uma necessidade do artista expressar as injustiças, fazendo também a crítica ao processo revolucionário. Ele demonstra que a revolução verdadeira não vem de cima para baixo e é assim também na arte. Dessa forma, A mãe, além de uma obra artística bastante rica, também é considerada a matriz do Realismo Socialista”, afirmou a professora.
No início de sua exposição, Acs lamentou que a literatura russa seja tão pouco estudada no Brasil, e falou das dificuldades para encontrar obras traduzidas, evidenciando um pré-conceito da academia com a arte revolucionária.
Para finalizar, o professor de História do campus de Rondonópolis da UFMT, Flávio Trovão, falou sobre a história do cinema russo a partir das obras de Sergei Eisenstein, conhecido pela obra Encouraçado Potemkin.
O docente iniciou a apresentação provocando os participantes sobre a possibilidade de o artista ser considerado um historiador, por ter retratado tão bem a Revolução Russa em suas tramas. “Essa é uma polêmica dentro da academia”, disse Trovão.
No cinema, o construtivismo citado na mesa de debate com Diener reapareceu, confirmando o diálogo com as artes plásticas e a intenção dos artistas ligados ao movimento de eliminar a alienação. “A ideia que eles pretendem passar é de que, se tudo é construção, tudo pode ser diferente”, explicou Trovão.
Num exercício de comparação, o professor afirmou que o cinema russo era exatamente o contrário do cinema americano. “O cinema russo desnaturaliza, enquanto o norte-americano naturaliza”, garantiu. Por fim, respondendo a polêmica que iniciou no início do debate, afirmou que Sergei Eisenstein pode, na sua leitura, ser considerado um grande historiador, pelas ricas informações que suas obras trouxeram da Revolução Russa.
Nos próximos dias, a Adufmat-Ssind disponibilizará, no canal do sindicato no youtube, os vídeos dos debates realizados nos três dias de evento.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind