Quarta, 02 Dezembro 2015 08:39

Ô abre alas que as mulheres vão passar...

Escrito por 
Avalie este item
(0 votos)


No último sábado, 28/11, mulheres de Cuiabá somaram mais um capítulo à história de luta e resistência feminista e libertária do país. Organizadas em campanha nacional contra o Projeto de Lei 5069/13 (que restringe o acesso ao atendimento às mulheres vítimas de abuso sexual), do deputado Eduardo Cunha (PMDB), levaram à região central da capital mato-grossense uma forte manifestação, com mensagens capazes de “empoderar” (ou dar poder) as companheiras.  
 

As faixas e o zine (informativo) entregue às pessoas que passaram pela Praça Ipiranga despertaram curiosidade. “Pela vida das mulheres”, dizia a faixa pendurada no alto do coreto. Ao saber do conteúdo do PL 5069/13, que “tipifica como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo e prevê penas específicas para quem induz a gestante à prática de aborto” (inclusive em situações previstas em Lei), até o pastor evangélico que pregava na mesma praça admitiu apoiar a causa quando há abuso. “Na igreja temos casos. Muitas dessas mães rejeitam os filhos e eles podem nascer com problemas”, declarou o pastor a um jornal. 

As organizadoras do ato destacaram que o projeto, de caráter machista e influência religiosa, é mais uma investida no sentido de legislar sobre corpo da mulher. A discussão, portanto, não está restrita à referida lei. Envolve relações históricas de patriarcado, dentre outras contradições que configuram o modo como a nossa sociedade está organizada.       

Uma das pessoas que uniu-se aos manifestantes durante o ato foi a camareira Joelma Pereira, de 34 anos. “Eu me aproximei porque vi as mulheres gritando por seus direitos. Eu já sofri agressão e sei o quanto a gente encontra barreiras pra denunciar”, afirmou. A partir de agora, Joelma, o marido e a filha vão participar ativamente do debate e das atividades organizadas pelo grupo. 

De fato, o assunto mobilizou mulheres e também homens em todos os espaços percorridos. A violência contra mulher ainda é uma realidade muito presente em nosso dia-a-dia. Em Cuiabá, somente em março desse ano, foram registrados 479 casos de abusos (estupros, maus tratos, lesão corporal e tentativa de homicídio), de acordo com dados divulgados pela Delegacia da Mulher no inicio de 2015. Uma média superior a 15 ocorrências por dia. Outros inúmeros casos não são registrados por medo ou vergonha das vítimas. 

Em frente a Delegacia da Mulher, por onde passaram os manifestantes (mulheres e homens), uma das organizadoras do ato, a jornalista Priscila Mendes, questionou: “aqui em Cuiabá nós temos delegacia da mulher, e nos interiores, como ela vai ser tratada? O que é estupro? O que é violência sexual? Esse projeto está reduzindo a interpretação do que é violência sexual. Quem vai decidir o que gera dano físico e psicológico à uma mulher que sofre esse tipo de violência? Esse projeto está minimizando nossos direitos, está querendo tirar nossa voz”. 

Na avenida da Prainha, muitas mulheres ouviram e demonstraram apoio ao discurso da militante Patrícia Acs. “Resistam mulheres! Quando nós estamos no ônibus lotado e algum homem encosta na gente, nós temos de saber que não somos obrigadas a passar por isso! Não devemos nos calar. Quando seu companheiro quer te proibir de fazer alguma coisa, você tem de saber que não é ele quem decide, a escolha é sua!”, disse. 

Os discursos e cartazes ressaltaram, ainda, que muitas das vítimas dessas imposições que dificultam discussões sobre o aborto como questão de saúde pública são mulheres pobres. “Sem hipocrisia! As ricas abortam, as pobres morrem!”, lia-se. 

Em março desse ano, o governo federal declarou à Organização das Nações Unidas (ONU) que o aborto clandestino é a quinta maior causa de morte materna no país, configurando um significativo caso de saúde pública. 

O ato, que teve ainda intervenções artísticas como grafites e declamação de poesia, terminou na Praça Alencastro e fez parte de uma série de atividades desenvolvidas pelo coletivo (formado por diversas entidades) para pautar o tema “violência contra mulheres”. 

Clique aqui e assista a ciranda do abre alas, um dos vídeos do ato. 

Veja Fotos:

Luana Soutos

Assessoria de Imprensa da Adufmat-Ssind

Ler 909 vezes Última modificação em Terça, 20 Setembro 2016 18:52