A greve, como forte instrumento de luta, educa, politiza e conscientiza o trabalhador
No momento em que várias categorias realizam greves no país, servidores federais de Mato Grosso aproveitaram a oportunidade para refletir, em conjunto, o papel do Sindicato na organização dos trabalhadores. A mesa “Sindicalismo e seus desafios”, realizada na sede do INSS na última quinta-feira (30), foi o segundo debate organizado por membros dos comandos de greve da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) e Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Composta pelo membro do Comando Local de Greve da Associação dos Docentes da UFMT, Maelisson Neves, e o diretor do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios, Alexandre Aragão, a mesa manteve o tom de crítica à burocratização das estruturas sindicais, defesa da autonomia e independência, além da visão da greve como forte instrumento para conquistas e politização dos trabalhadores.
O representante dos Correios apresentou, em sua análise, a instituição “sindicato” como um instrumento de fortalecimento da luta dos trabalhadores; como uma ferramenta para igualar a correlação de forças com o patronato. Além disso, lembrou que, mesmo antes dela existir, os trabalhadores já se organizavam para discutir sobre sua realidade de trabalho.
A eleição do presidente Lula, em 2002, foi um ponto destacado por Aragão, dentre outros que marcam a história do sindicalismo. De acordo com ele, a proximidade entre a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Partido dos Trabalhadores (PT) foi perversa. “Após 2002, a CUT começa a frear a luta dos trabalhadores, porque quem estava nos sindicatos até então, migra para o governo. E isso mina a luta dos trabalhadores, porque eles sabem como nos organizamos e como se dá o enfrentamento”, pontuou.
Em sua exposição, o professor Maelisson Neves ressaltou que um sindicato não tem razão de existir por si só; criticou a burocratização e defendeu a horizontalização da tomada de decisão. Para ele, esse modelo se daria a partir da força de sua base e não da entidade representativa. “A categoria ‘trabalhadores’ precisa, sempre, ser maior do que a entidade que a representa”, avaliou.
O professor recuperou momentos históricos da luta sindical no Brasil, em especial as décadas de 1930 e 1980 em que, devido à efervescência dos trabalhadores, os governos iniciaram movimentos de aproximação e cooptação das instituições trabalhistas. Ressaltou que a influência do PT sob os movimentos sociais tem sido nefasta. No entanto, defendeu que os partidos políticos caminhem próximos aos movimentos sociais, desde que sem a intervenção ou “aparelhamento”.
“Quando você volta ao trabalho depois de uma greve, você não é mais a mesma pessoa. A greve é um momento de reflexão sobre o trabalho; é educadora, produz consciência política. Por isso o patrão tem tanto medo dela”, concluiu o professor.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa do Comando Local de Greve da Adufmat-Ssind.