A luta por melhorias no ensino superior em 2015 tem tido a importante contribuição de estudantes de todo o país. Universidades federais como a Fluminense, a do Rio de Janeiro e a da Bahia também registram greve estudantil, além da docente e dos técnicos. Há mobilização de apoio em várias outras universidades. A relação histórica entre movimento estudantil e trabalhadores, embora tenha sofrido algumas mudanças nos últimos anos, não se rompeu.
Em Mato Grosso, estudantes da Universidade Federal no Campus do Araguaia, localizado nos municípios de Barra do Garças e Pontal do Araguaia, deliberaram greve poucos dias depois dos professores. Eles reclamam autonomia para o Campus e maior investimento na seleção e qualificação dos professores. “A grande maioria do nosso quadro docente é só graduada”, afirma o vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Matusalém do Carmo de Oliveira, estudante do 7º semestre de Engenharia Civil.
Organizados em 2 ônibus, cerca de 60 estudantes do Araguaia foram até Brasília no último dia 07, para participar do Ato em Defesa da Educação. Nos cartazes, indícios de que a pauta estudantil não é muito diferente da pauta dos trabalhadores. No fim, professores, estudantes e técnicos reivindicam respeito e atenção à educação pública, fundamental na formação de cidadãos e profissionais de qualquer área. “A luta é, essencialmente, contra os cortes de recursos para a educação, que reduziu em cerca de 40% o número de bolsas monitoria e as aulas de campo na universidade”, lembra Matusalém.
No ato, frases do tipo “assim não dá, sem assistência não tem como estudar!”; “o jeito é reduzir a maioridade penal mesmo, já que estamos sem Educação”; “é lutando que se faz um novo Brasil” e até mesmo o simbólico “quem sabe faz a hora”, de Geraldo Vandré, foram estampadas nos cartazes feitos pelos discentes.
A infraestrutura é ponto chave da greve no Campus do Araguaia, mas também é pautada pelos estudantes de todas as universidades em que a Reestruturação Universitária (Reuni) foi implementada. De acordo com Matusalém, com a adoção do programa, em pouco tempo o número de cursos na UFMT – Araguaia saltou de 5 para 16. Com isso, aumentou muito o número de estudantes, mas a estrutura continuou a mesma e já não suporta a demanda.
O estudante conta que, recentemente, o pró-reitor do Campus teve de retirar o ar condicionado da sua própria sala e cedê-lo para um professor conseguir realizar as atividades com os estudantes.
Acadêmica do terceiro semestre de Biologia e mobilizadora dos estudantes, Luciana Zacardi, utiliza outro caso para exemplificar o problema: “nós temos um projeto lindo, o MuHNA [Museu de História Natural do Araguaia]. Ele já foi aprovado, mas não pode ser efetivado por falta de espaço. Para o curso de Biologia é um projeto extremamente importante. Nós poderíamos estagiar e realizar atividades de extensão, aproximar a sociedade da universidade, atrair mais pessoas para a universidade”, comenta.
Resumidamente, os discentes enumeram como eixos principais a descentralização administrativa da universidade (mais autonomia), contratação de professores, agilidade no acesso a materiais, como livros e investimento na infraestrutura, em especial, de laboratórios.
Para o estudante do sétimo semestre de Ciências da Computação, Wirlei Cândido de Lima, há uma movimentação política interessante na universidade. “A última eleição para o DCE mostrou que os estudantes têm sede de mudança e estão bastante envolvidos”, afirmou. Ele explica que a deflagração da greve surgiu de maneira espontânea, por decisão dos próprios estudantes, e espera que os colegas desenvolvam cada vez mais consciência e se organizem para reivindicar seus direitos.
A terceira gestão do DCE local, fundado há pouco mais de 2 anos, ainda não assumiu oficialmente o posto, mas os estudantes garantem que é possível prosseguir com a greve estudantil, mesmo que os professores decidam suspender a greve docente. “Nós queremos que o nosso Campus seja notado; nós queremos mais recursos, mais investimento”, afirma Luciana, que é membro da gestão eleita do DCE.
Os estudantes seguem realizando atividades de greve duas vezes por semana, com debates sobre temas políticos e “polêmicos”, como a própria a greve, eventos culturais, roda de dança circular, zumba e exibição de filmes, seguido de debates.
No Campus de Cuiabá também há mobilização. Houve deflagração de greve estudantil nos cursos de Engenharia Florestal, Comunicação Social e Educação Física. Estudantes do Instituto de Ciências Sociais e Humanas (ICHS) ocuparam o prédio durante duas semanas reivindicando, principalmente, a manutenção de espaços, como cantinas e fotocopiadoras, além da democratização das decisões tomadas nas instancias deliberativas da UFMT. O Diretório Central dos Estudantes tem participado de reuniões com os Comandos Locais de Greve dos docentes e técnicos, e realizado atividades de greve na universidade.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa do Comando Local de Greve