FLÁVIA FOREQUE AGUIRRE TALENTO
DE BRASÍLIA
06/07/2015 | 02h00
Após longa batalha com os congressistas para aprovar medidas de ajuste fiscal, a presidente Dilma Rousseff começa a enfrentar um novo combate. Servidores de diferentes categorias já iniciam greves e protestos por aumento salarial e mudanças na carreira.
A aprovação, no Senado, do reajuste para servidores do Judiciário, na semana passada, deu fôlego para as reivindicações, embora o governo já tenha informado que vetará a medida.
"Traz certo otimismo [a aprovação], porque você enxerga que existe boa vontade. O Legislativo está atento a isso", diz Daro Piffer, presidente do sindicato dos funcionários do Banco Central.
O funcionalismo público pede um reajuste de 27,3% em 2016. Diz que o percentual foi definido a partir das perdas salariais com a inflação de anos recentes. O último aumento foi de 15,8%, diluído em três anos. A última parcela foi paga em 2015.
Para o governo, o pleito é "inviável". O Ministério do Planejamento sugeriu um aumento escalonado de 21,3%, nos próximos quatro anos.
Neste ano, a folha de pagamento do Executivo civil, entre ativos e aposentados, é da ordem de R$ 150 bilhões.
"Na medida em que o governo aposta na intransigência, com uma proposta que chega a ser quase ofensiva, temos que apostar na força da greve", diz Rogério Marzola, coordenador do sindicato dos técnico-administrativos nas universidades federais.
A paralisação já afeta 60 das 63 instituições no país. A expectativa é que o movimento seja seguido por funcionários dos institutos federais, além de servidores da Anvisa e INSS, entre outros.
Os servidores da Justiça Federal também estão em greve desde 10 de junho, segundo o Fenajufe (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União), que estima entre 80 mil e 90 mil trabalhadores parados.
Apesar da aprovação do reajuste no Senado, a categoria decidiu manter a greve. Promete só voltar a trabalhar se Dilma sancionar a medida.
Advogados e procuradores federais da Advocacia-Geral da União pressionam o Congresso pela aprovação de duas Propostas de Emenda à Constituição: uma que equipara o salário da categoria ao de magistrados e outra que dá autonomia ao órgão.
Com a resistência do governo, eles passaram a pedir exoneração dos cargos de confiança que ocupam. Com isso, os departamentos jurídicos dos ministérios estão ficando sem coordenadores. Ministros já enviaram ofícios à AGU manifestando preocupação com a situação.
Na Receita Federal, auditores prometem cruzar os braços semanalmente a partir de agora –e com isso, reduzir o ritmo de autos de infração e análise de declarações de imposto de renda.
MARTE
O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, diz acreditar que governo e servidores podem entrar em acordo até agosto, prazo para o projeto de lei orçamentária ser enviado ao Congresso.
"O servidor público não não está vivendo em Marte. Infelizmente, estamos passando por uma conjuntura muito desfavorável, de aumento de desemprego, queda dos salários no setor privado, e o servidor público tem estabilidade no emprego."
Fonte: Folha de S. Paulo