A OMS decretou, no último sábado (23), surto da doença como "estado de emergência global", o que exige ações dos governos
Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil possui 813 casos confirmados de varíola dos macacos, doença que foi decretada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), no último sábado (23), como “estado de emergência global”.
Os casos estão registrados em 13 estados e no Distrito Federal, sendo São Paulo a região com o maior número de infectados: 595. No país, até a semana passada, as autoridades de saúde também investigavam outros 336 casos suspeitos.
Em todo o mundo, na quinta-feira (21), havia o registro de 15.510 casos em 72 países. No dia 6 de julho, a OMS contabilizava cerca de seis mil casos em 58 países. “Se espalhou pelo mundo rapidamente através de novos modos de transmissão”, disse o diretor-geral Tedros Adhanom.
O Brasil é o oitavo país do mundo com mais casos diagnosticados, segundo dados divulgados ontem pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA). Até o momento, os Estados Unidos lideram a lista com 3.846 casos confirmados, seguido da Espanha com 3.125, e a Alemanha em terceiro com 2.352.
Governos devem agir
Essa classificação de emergência internacional definida pela OMS, na prática, significa que os países devem agir de forma cooperada para evitar a disseminação da doença. Segundo a OMS, é um “evento extraordinário” que apresenta risco através da propagação internacional e exige uma resposta global de forma coordenada.
Isso inclui que os governos definam ações de vigilância epidemiológica, investimento em pesquisas e treinamento de pessoal e colaboração para diagnósticos, tratamentos e aplicação de vacinas.
Hoje (26), a líder técnica da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a doença, Rosamund Lewis, disse que a situação no Brasil “é muito preocupante” e que os casos podem estar subnotificados por não haver testes suficientes à disposição.
Segundo o Ministério da Saúde, os laboratórios prontos para o diagnóstico da doença no Brasil, estão no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo; na Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Minas Gerais; na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro; e no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Para o médico sanitarista Nésio Fernandes, presidente do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), "o Brasil corre o risco de repetir os erros cometidos no começo da pandemia de covid-19". Em entrevista à BBC, ele disse que "por ora, cada Estado está agindo de forma independente e tem critérios próprios de testagem e acompanhamento de casos". "Precisamos de uma coordenação nacional para atualizar e padronizar a estratégia em todo o território e não permitir que o monkeypox se torne uma ameaça ainda maior", alertou.
Doença
A varíola do macaco - detectada pela primeira vez em humanos em 1970 - é menos perigosa e contagiosa do que a varíola, erradicada em 1980.
O patógeno foi nomeado como Monkeypox em 1958, quando a infecção foi descoberta em macacos exportados da África para a Dinamarca. O nome une os termos ‘monkey’ – macaco em inglês – e ‘pox’ – que indica o pertencimento à família de vírus Poxviridae. Outros Poxvírus são, por exemplo, o vírus da varíola humana, já erradicada graças a um esforço global de vacinação, e o vírus da varíola bovina.
Posteriormente, foi verificado que os primatas não eram os hospedeiros preferenciais do Monkeypox, mas poderiam ser infectados, assim como as pessoas. Atualmente, não se sabe qual animal mantém o vírus na natureza. Acredita-se que roedores tenham um papel na disseminação da doença na África, onde o vírus é endêmico, isto é, com circulação regular.
Sintomas
Os sintomas da doença podem incluir lesões na pele, febre, dor no corpo e dor de cabeça, entre outros. A letalidade é estimada entre 1% e 10%, com quadros mais graves em crianças e pessoas com imunidade reduzida.
O paciente pode ter febre, dor no corpo e apresentar manchas, pápulas [pequenas lesões sólidas que aparecem na pele] que evoluem para vesículas [bolha contendo líquido no interior] até formar pústulas [bolinhas com pus] e crostas [formação a partir de líquido seroso, pus ou sangue seco], que secam e caem após duas a quatro semanas.
Há muitas vezes exantemas (feridas ou úlceras) na boca e as lesões podem afetar os olhos e/ou área genital. Gânglios linfáticos inchados são típicos. No entanto, as lesões podem ser hemorrágicas ou fundir-se em grandes bolhas.
A transmissão do vírus de animais para pessoas pode ocorrer através da mordida ou arranhadura de um animal infectado, pelo manuseio de caça selvagem ou pelo uso de produtos feitos de animais infectados.
A transmissão do vírus entre pessoas ocorre principalmente através do contato direto, seja por meio do beijo ou abraço, por feridas infecciosas, crostas ou fluidos corporais. Também pode haver transmissão por secreções respiratórias durante o contato pessoal prolongado e por contato com objetos, tecidos (roupas, roupas de cama ou toalhas) e superfícies que foram utilizadas pelo infectado.
Fonte: CSP-Conlutas (com informações de Agência Brasil, Fiocruz e UOL)