Presidente também defende liberação de garimpo em terras indígenas
O governo Bolsonaro tem demonstrado disposição escancarada para levar adiante um verdadeiro projeto genocida contra os povos originários no país.
Sem ordem judicial, policiais tentaram despejar 200 indígenas do povo Kinikinau na última quinta-feira (1) na fazenda Água Branca, em Aquidauana (MS), território indígena reconhecido.
Com dura repressão, utilizando gás lacrimogêneo e balas de borracha, conforme informações da Secretaria de Segurança Pública, 80 policiais e um helicóptero foram utilizados na operação.
Uma liderança Kinikinau foi atingida e ferida na cabeça por um cilindro de gás lacrimogêneo.
Este não é o único ataque ocorrido recentemente contra povos indígenas.
Há cerca de quinze dias, indígenas da etnia Wajãpi, no Amapá, denunciaram o assassinato do cacique Emyra Waiãpi após invasão de garimpeiros no local.
No final do mês de julho, a CSP-Conlutas e Cimi denunciaram ao MPF (Ministério Público Federal) a situação a que indígenas Tremembé de São José do Ribamar, no Maranhão, são submetidos. Como meio de ameaçar a etnia, os que se dizem proprietários da terra derrubaram árvores do terreno e seguem em processo de coação constante contra os indígenas.
Carta branca para expropriar e matar – Em pouco mais de 8 meses de governo, essa escalada de violência promovida contra indígenas pode ser facilmente creditada a Bolsonaro, Ricardo Salles e outros ministros de seu mandato, como da Agricultura, Tereza Cristina, e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.
Isso porque desde o início do mandato de Bolsonaro as instituições responsáveis por monitoramento e proteção ambiental têm sido desconsideradas ou censuradas pelo governo, com até mesmo a exoneração do diretor de longo histórico do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Ricardo Galvão, e os direitos dos povos originários escanteados, de modo a sempre beneficiar os interesses de madeireiros, garimpeiros e ruralistas.
A relatora das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, afirmou à imprensa que Bolsonaro “estimula a exploração econômica das terras indígenas em seu discurso”, abrindo caminho “aos interesses econômicos e políticos que querem explorá-las”.
O lucro acima da vida – No ataque aos Wajãpi, a liderança local foi morta cruelmente a golpes de faca. Essa etnia é autorizada a explorar ouro da região de modo artesanal e a suspeita é de que os assassinos do cacique sejam garimpeiros.
A ambição de corporações madeireiras, mineradoras e do agronegócio nacional e internacional ganha ainda mais força com a defesa incondicional e insistente do governo Bolsonaropara a liberação do garimpo em terras indígenas.
Especialistas e lideranças indígenas afirmam que essa regulamentação, hoje proibida, impulsionará o extermínio de povos indígenas, de suas culturas e do meio ambiente.
Medida impopular – Tais medidas de descaso com os povos originários e o meio ambiente não têm sido bem vistas pela população. Pesquisa Datafolha encomendada pelo ISA (Instituto Socioambiental) aponta que 86% dos brasileiros não concordam com a permissão de exploração mineral que afetaria cerca de 1/3 das terras indígenas no país.
A liberação do garimpo nesses locais teria ainda pouco controle do Estado. Estudo da Raisg (Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georrefenrenciada) de 2018 aponta a existência de 2.312 pontos de garimpo ilegal em seis dos nove países da Amazônia Legal. Com relação às terras indígenas com garimpo ilegal dentro de seus limites, o Brasil lidera o ranking com 18 casos entre os 37 identificados.
A CSP-Conlutas repudia as ações do governo Bolsonaro que têm significado um verdadeiro genocídio sistemático dos indígenas. É necessário seguir em solidariedade, denunciando os discursos de ódio e o descaso com políticas fundamentais como a demarcação de terras e os direitos dos povos originários, bem como avançarmos na organização e mobilização para dar uma basta a esse governo de ultradireita e seus ataques.
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Fonte: CSP-Conlutas