Mortes ocorreram dez dias antes dos 20 anos do massacre de Eldorado dos Carajás
No dia 7 de abril, dez dias antes de completar 20 anos de um dos maiores extermínios ocorrido no país contra camponeses brasileiros, dois integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram assassinados no Acampamento Dom Tomas Balduíno, no município de Quedas do Iguaçu, região central do Paraná, após uma emboscada realizada pela Polícia Militar e por seguranças contratados pela Araupel. As vítimas: Vilmar Bordim, de 44 anos, casado, pai de três filhos, e Leomar Bhorbak, de 25 anos, que deixa a esposa grávida de nove meses. Também foram feridos mais sete trabalhadores e dois foram detidos para depor.
O acampamento Dom Tomas Balduíno, cuja ocupação teve início em maio de 2015, possui aproximadamente 1,5 mil famílias e está localizado no imóvel rural Rio das Cobras, que foi grilado pela empresa Araupel, que atua com reflorestamento e exportação de madeiras. A empresa alega ser proprietária da área ocupada, no entanto, a Justiça Federal já reconheceu que o terreno pertence à União e, portanto, deve ser destinado para a reforma agrária. No último sábado (9), o MST fez um ato na praça central da cidade contra a violência, em solidariedade as famílias dos mortos, e pela Reforma Agrária.
Em nota publicada, o MST exige a imediata investigação e prisão dos policias e seguranças e, também, dos mandantes do crime cometido; além do afastamento imediato da PM e a retirada da segurança privada contratada pela Araupel; a garantia de segurança e proteção das vidas de todos os trabalhadores do MST acampados na região; e que todas as áreas invadidas pela empresa Araupel sejam destinadas para a Reforma Agrária, assentando as famílias acampadas.
Walcyr de Oliveira Barros, 3° tesoureiro do ANDES-SN e um dos coordenadores do Grupo de Trabalho de Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPAUA) do Sindicato Nacional, afirma que infelizmente, após 20 anos do massacre de Eldorado, a história da violência e impunidade no campo se repete. “Essa é uma situação que não é nova e continua a causar grande preocupação, porque a violência no campo tem se intensificado. A impunidade tem sido demonstrativa do que vem marcando esse conflito agrário, entre o direito à terra e a política de remuneração do Capital a partir do agronegócio”, ressalta.
Massacre de Eldorado dos Carajás
O dia 17 de abril de 2016 marca os 20 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, quando 21 integrantes do Movimento Sem Terra (MST) foram assassinados após a polícia militar paraense tentar impedir uma marcha em protesto contra a demora da desapropriação de terras na rodovia PA-150. Outros 69 trabalhadores rurais foram mutilados com facões e foices. A chacina ocorreu no ano de 1996, no município de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, e ganhou repercussão nacional e internacional, ao lado do Massacre do Carandiru (1992) e da Chacina da Candelária (1993). Porém, duas décadas após a chacina, a certeza da impunidade para centenas de policiais militares executores diretos do massacre ainda põem em risco o direito pela luta por reforma agrária. Apenas o coronel Mario Colares Pantoja e o major José Maria Pereira, que comandaram o massacre, foram presos depois de 16 anos, em maio de 2012.
O diretor do ANDES-SN explica que as disputas mais recentes pela reforma agrária, resultando na morte daqueles que defendem o direito à terra (agricultores, indígenas e quilombolas) têm origem no período da ditadura empresarial-militar no Brasil. “Durante a ditadura empresarial-civil-militar, muitos camponeses foram expulsos de suas terras, perseguidos e duramente reprimidos. E os conflitos no campo têm feito baixas desde essa época, não somente de agricultores, como também de povos originários da terra - etnias indígenas e quilombolas. Com o ‘fim’ da ditadura, essa violência no campo não cessou, pois vimos a vinculação dos sucessivos governos com o setor latifundiário, colocando, inclusive, à frente da pasta da Agricultura, ministros ligados diretamente ao agronegócio, tem sido demonstrativo de suas contradições e violências”, disse.
Com informações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Fonte: ANDES-SN